A conspiração escarlate escrita por Drafter


Capítulo 12
Um novo ataque




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Ele virou a esquina e imediatamente sentiu a energia maligna atrás dele, mas no segundo seguinte estava sendo arremessado para a frente, batendo violentamente a cabeça na parede. O ato inesperado deixou Yusuke sem ação por alguns segundos, e ele se endireitou no chão enquanto tentava focalizar o autor do golpe. Viu um homem musculoso vindo em sua direção, os cabelos pretos despenteados escondendo três protuberâncias na testa, o rosto vermelho e contorcido em uma fúria assassina.

Yusuke reagiu rápido, levantando do chão e esquivando do investida por um triz. Sem pensar, devolveu o soco, acertando o rosto do homem, que perdeu o equilíbrio. Antes que ele pudesse se recompor, foi atingido novamente no rosto, caindo de vez no chão, o sangue escorrendo do nariz.

— Se-seu maldito... — ele gaguejou, enfraquecido. Pelo forte cheio de álcool e a facilidade com que foi derrubado, Yusuke logo percebeu que ele não estava sóbrio.

— Que diabos foi isso? Quem é você e porque está me atacando desse jeito?

— Eu sei que foi você que acabou com o Ishida! — ele gritou.

Yusuke franziu o cenho, sem entender.

— Eu vi você e seu amiguinho bisbilhotando por aqui, e no dia seguinte, ele desaparece! — o homem balbuciou — Ele era meu parceiro, cara.... e você ainda tem a cara de pau de voltar aqui... mas agora eu acabo com você!

Ele levantou, ainda cambaleante, e com um impulso se jogou para frente, derrubando Yusuke novamente. Prendeu o corpo do jovem no chão e começou uma série de golpes, deixando o garoto atordoado. O peso do corpo do homem fazia pressão nas costelas de Yusuke, que tentava achar um meio de se desvencilhar daquela situação. Esticando o braço, sua mão encontrou uma garrafa vazia caída no chão; não pensou duas vezes e com força, arrebentou o vidro na cabeça do sujeito. A surpresa foi o suficiente para ele interromper a sequência de socos e, com um empurrão, ser atirado para o lado, deixando Yusuke livre para se levantar. O garoto acertou um chute nas costas do agressor e mirou o dedo, pronto para disparar um Leigan. 

Ao invés disso, caiu desacordado no chão.

Atrás dele, outro homem estava de pé, olhando a cena. Cabelos loiros penteados para trás e terno bem cortado, o sujeito ainda mantinha em riste a mão usada no ataque que nocauteou o garoto à sua frente. Sem abaixar o braço, ele olhou com desdém para o outro sujeito, que agora tinha um olhar petrificado, e lentamente fechou os dedos, como se apertasse algo invisível.

— Imbecil... — foi a última palavra que que o homem atordoado ouviu antes de ter os batimentos cardíacos interrompidos sob o olhar frio do seu novo algoz.

(...)

Em algum lugar, um pequeno ser alado azul subitamente se agitou, sentindo um distúrbio na sua energia. Batendo as asas com vigor, ele levantou voo em direção a cidade, na maior velocidade que conseguiu alcançar.

(...)

Ela comia com vontade o udon à sua frente, sob o olhar paciente de Kurama, que calmamente sorvia uma misoshiro. A garota não estava brincando quando disse que estava com fome, e Kurama deixou que terminasse a refeição antes de retomarem a conversa. Talvez de estômago cheio ela ficasse mais propensa a colaborar.

— E então, pronta para falar? — ele por fim perguntou, depois da última garfada dela no macarrão.

— Ah, muito melhor agora! — ela respondeu, visivelmente mais animada — É o seguinte: há uns dois anos atrás eu conheci esse cara, tal de Akira, e, bem, a gente acabou ficando muito próximo — ela explicou rapidamente — Nessa época eu acabei tendo um probleminha e pedi ajuda a ele. Ele me deu um cartão com seu nome e disse para eu procurar um sujeito, que me ajudaria.

— Deixa eu ver se adivinho: o cartão dele era igual aos dois outros que vimos hoje.

— Bingo — ela respondeu despreocupada, tomando um gole de água.

— E que probleminha foi esse que precisou do cartão dele para resolver?

— Isso não vem ao caso! — ela respondeu irritada — o fato é que eram pessoas aparentemente comuns: Akira era advogado; o amigo, médico... eu passei um ano da minha vida perto dele e nunca desconfiei que ele estivesse envolvido em qualquer coisa desse tipo, está entendendo?

— E você ainda tem contato com ele?

— Não, nunca mais o vi depois disso – ela encolheu os ombros – ele sumiu depois que me deu o cartão – disse, tentando esconder o fato de que seu argumento de que ainda tinha contatos que poderiam ajuda-la não passava de um blefe.

Kurama ficou pensativo. Se os relatos de Kiki estivessem corretos, a quadrilha já operava há anos no país. Para piorar, seus membros pareciam infiltrados na sociedade sem levantar suspeitas. Isso tornava a tarefa de acabar com o grupo mais trabalhosa do que ele já previa.

Seus pensamentos foram interrompidos por um barulho na janela ao lado. Ambos olharam ao mesmo tempo, sobressaltados, quando viram uma criatura azul batendo as asas e olhando para Kurama. Ele reconheceu o ser na mesma hora:

— Piu!

Ele levantou correndo, apressado demais para dar explicações. Sabia que o aparecimento inesperado de Piu só podia significar que Yusuke estava em perigo. Concentrado em procurar o amigo, nem percebeu que Kiki fez o mesmo, tentando não perdê-lo de vista.

Kurama seguiu Piu pela cidade, até chegarem numa rua estreita e pouco movimentada, cercada por prédios antigos e com fachadas mal-conservadas. Não demorou para ele logo avistar Yusuke desacordado, próximo a cacos de vidro de uma garrafa quebrada. Ele abaixou até o corpo do rapaz e sentiu com alívio os batimentos cardíacos fortes do amigo. Kiki, que finalmente tinha alcançado Kurama, olhava a cena sem entender, apoiando as mãos no joelho, cansada pela correria imprevista.

— O que está acontecendo? — ela conseguiu falar, ainda arquejando.

— Ele está desmaiado apenas, deve ter levado uma pancada violenta — ele sabia que Yusuke não caia com facilidade, e se o estado do amigo havia deixado Piu preocupado, Kurama sabia que algo muito errado devia ter acontecido.

Ele levantou o corpo de Yusuke, segurando-o nos braços, e olhou para a criatura azul que pairava acima deles. Acenou em agradecimento e seguiu para casa, com Kiki ainda na sua cola.

(...)

Yusuke acordou ainda zonzo e olhou em volta, tentando entender onde estava. Viu Kurama de pé próximo a ele, e mais ao fundo uma garota encostada na janela. Seu rosto era familiar, mas ele não perdeu muito tempo pensando nisso. Ao invés, olhou para Kurama interrogativo.

— Você está bem? Se lembra de alguma coisa?

Ele franziu a sobrancelha, quando de repente o ataque voltou a sua memória. Lembrava de ter sido derrubado, mas também de conseguir reverter a situação e contra-atacar. Tinha inclusive disparado o Leigan — ou será que não chegou a disparar? Lembrou dos socos, daquele homem pesado sobre ele, e da garrafa que usou para quebrar a cabeça do sujeito. Ele conseguiu atirar o cara para longe, concentrou toda sua energia na ponta dos dedos e... branco total. Não lembrava de mais nada depois disso. Nem sabia como tinha ido parar ali.

— O que aconteceu, Kurama?

— Encontramos você desacordado a rua — ou melhor, Piu nos levou até você. Você tem muita sorte de ainda contar com ele!

— "Nós"? — ele olhou interrogativo para a menina, que só observava a cena. Subitamente, lembrou onde vira aquele rosto antes — O que ela está fazendo aqui?

Kiki ergueu a sobrancelha, surpresa, e olhou para Kurama.

— É uma longa história... que tal nos contar primeiro o que aconteceu com você? — e como Yusuke ainda olhava desconfiado para a presença da menina, ele completou — Ela já sabe o que está havendo, Yusuke, pode falar na frente dela.

Ele então relatou seu encontro inusitado, as acusações e a luta que se seguiu. Só não conseguiu explicar seu desmaio.

— Eu estava de pé, olhando para ele. Cheguei a mirar o Leigan... e não lembro de mais nada — ele concluiu, desanimado.

— Alguém te acertou por trás, talvez?

— Não sei, não vi ninguém se aproximando... aliás, e o sujeito que me atacou? Ele ainda estava lá?

Kurama balançou a cabeça, em sinal negativo, enquanto Kiki acompanhava a conversa em silêncio. Ela estava ficando impressionada com a história, e mais ainda por nunca ter se dado ao trabalho de procurar saber nada a respeito daquele grupo antes. A ideia de eles aparecerem de novo na vida dela a deixava no mínimo intrigada.

De repente, seu cérebro enfim fez a conexão entre os fatos. Parando para pensar, tudo parecia se encaixar: se eles se tratavam mesmo de uma quadrilha de tráfico de pessoas — especialmente crianças — o homem que matou sua mãe muito provavelmente pretendia fazer dela uma das vítimas. Aquilo era tão evidente que ela não entendeu como não compreendeu tudo desde quando Kurama lhe contou sobre suas suspeitas. Arregalou os olhos ao pensar que, se sua mãe não tivesse aparecido naquela casa, ela talvez até estivesse viva hoje, mas com certeza Kiki não estaria ali. O pensamento a fez se sentir desalentada e sentiu como se seu mundo tivesse caído.

— Ei, você está bem? — Yusuke perguntou, ao ver o rosto pálido da menina.

— Eu preciso ir ao banheiro — ela respondeu, saindo do quarto às pressas assim que ouviu a indicação de Kurama.

Trancou a porta esbaforida e abriu a torneira, molhando o rosto. A ideia de ser responsável pela morte da sua mãe já era ruim o suficiente, e aquela nova perspectiva das coisas a deixou com um mal estar ainda maior. Aquilo não era justo. Ela que tivesse sido levada, então, se isso bastasse para manter a mãe viva. Fechou os olhos e inspirou fundo. Aquela não era hora nem lugar para ter uma crise de pânico. Tentou controlar a respiração, se concentrando no ar entrando e saindo das narinas, até começar a se sentir melhor. Lavou o rosto mais uma vez e voltou ao quarto, tentando aparentar normalidade. Imediatamente, sua chegada atraiu o olhar dos dois rapazes, que a encararam.

— O que foi? — ela falou rispidamente.

— O Kurama estava me contando sobre você. Quer dizer que esses canalhas já estão na ativa há anos?

— É o que parece...

— Por que só agora chamaram a atenção do Koenma, então? — Yusuke perguntou, inconformado.

— Talvez só agora eles estejam recebendo apoio do Mundo Espiritual e do Mundo dos Demônios — Kurama ponderou.

— Que diferença isso faz? — ela respondeu — O importante é conseguir chegar até eles!

— Isso aí, menina, assim que se fala! — Yusuke comemorou — Há, gostei de você, viu?

— Vamos com calma! Vocês já viram que o buraco é mais embaixo. Além do mais, ainda sabemos muito pouco sobre eles.

O trio continuou a conversa por mais algum tempo, especulando sobre o assunto. Teceram todo o tipo de teoria possível, mas decidiram parar quando viram, desanimados, que estavam andando em círculos com as poucas informações que tinham.

Kiki foi a primeira a sair. Se despediu dos garotos e já estava a meio caminho da porta da rua quando ouviu Kurama a chamando.

— Amanhã, duas horas, na clareira daquele parque perto da sua casa.

Ela se virou, sem entender.

— Do que você está falando?

— Seu primeiro treino. Não falte.


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