Naquele domingo eu acordei tarde junto com uma dor de cabeça. Eu sabia que estava sozinho em casa, quer dizer, Eva estava, mas naquele domingo ela iria visitar uma amiga. Jenny iria dormir na casa da amiga. Então eu sabia que o dia eu estaria sozinho. Me levantei e fui logo tomar um banho. Assim que sai do banheiro, me arrumei e desci para comer algo. Era mais de duas da tarde. Fui até a cozinha e tomei um copo de leite e alguns biscoitos. Logo depois fui andar um pouco pelo jardim. De repente a lembrança da conversa tensa entre eu e eu pai voltou a minha mente. Tentei não me importar, mas as palavras dele realmente me afetaram. Suspirei e fui me sentar no banco de pedra no jardim. Fiquei ali sem saber ao certo por quanto tempo.

Uma lembrança me trouxe de volta a mais de um ano atrás. Esse era o banco favorito de Tina quando ela vinha para o jardim. Era aqui que ela gostava de ficar. Fechei os olhos com força. Me lembrar dela era um pouco doloroso, mas agora era mais suportável. Aquela menina me salvou. Me amou e acreditou em mim. Obrigado Tina! Esteja onde estiver. Abri meus olhos e me senti bem. Eu prometi a mim mesmo que não iria me afetar por causa dele. E não vou. Vou viver minha vida.

Me levantei e fui até meu quarto. Peguei meu telefone e liguei para o Davis. Três toques depois, ele atendeu.

— E aí Billy?

— Oi Davis! Esta em casa?

— Não, estou na casa da Sarah! Pois daqui a pouco vamos nos encontrar no centro. A galera toda vai pra praça!

— Parece legal.

— Quer ir com a gente? A Hannah vai!

Ele me conhecia bem. Ele sabia que eu iria perguntar por ela.

— Tudo bem! A que horas?

— Umas quatro horas?

— Ok, eu estarei lá.

Esperei até a hora de sair na sala de casa. Jenny ligou avisando que iria ficar na casa da amiga no domingo também e que nos viríamos na escola no outro dia. Eu sabia que ela iria ver o namorado. Mesmo estando um pouco incomodado com essa realidade, eu concordei. Jenny ainda não sabia sobre o que aconteceu na prisão, mas eu teria tempo de conversar com ela.

Olhei no relógio e era vinte pras quatro. Decidi ir mais cedo e esperar o pessoal por lá. Mandei uma mensagem pra Eva avisando que eu iria sair e não tinha hora pra voltar. Peguei meu carro e fui para o centro.

O centro da cidade era todo envolta de uma grande praça. O comercio era bem sortido e mesmo no domingo, alguns lugares estavam abertos. Assim que estacionei, percebi como a praça estava cheia. Tinha uma grande extensão de gramado e caminhos de pedra. O famoso chafariz como sempre era a atração do lugar. As pessoas sentavam ao redor dele para conversar, namorar, tomar sorvete ou simplesmente admirar.  

Fui em direção a um banco e ali me sentei até a hora que o pessoal chegasse. Fiquei observando tudo. Carrinhos de doces e vendedores de sorvete andavam pra lá e pra cá. As pessoas pareciam felizes fazendo piqueniques e aproveitando o sol. De repente também me senti feliz e confortável. Aquela era a minha cidade. Minha casa.

Senti uma mão pousar no meu ombro. Quando me virei, eu não esperava.

— Mona?

— Oi gatinho! – ela se sentou ao meu lado me dando um beijo no rosto. Ela estava com um vestido colado rosa e usando óculos de sol.

— Oi. – disse um pouco decepcionado.

— Por que esta sozinho?

— Estou esperando meus amigos.

Mona balançou a cabeça concordando. Me dei conta de algo. Ela parecia diferente. Quando ficamos em silencio, ela ajeitou os cabelos que estavam soltos eu vi um roxo no seu pescoço. Balancei a cabeça. Essa menina não tinha vergonha.

Ela percebeu que eu olhei para seu pescoço. E de um jeito que eu nunca tinha visto, ela ficou nervosa e colocou o cabelo pra cobrir.

— Qual é Mona! Não se faça de santa comigo agora. – disse.

Ela me olhou de boca aberta.

— Você achou que... – parece que algo acendeu em sua cabeça – Ah sim! – ela gargalhou – São coisas que não podemos evitar não é?

Eu a observei. Ela engoliu a seco. Achei estranho.

— Posso ficar um pouco aqui? – queria dizer que não, mas o jeito que ela me perguntou me surpreendeu. Parece que ela estava implorando! Como se quisesse fugir de algo.

— Err...pode. Mas se comporte.

Ela riu.

— Vou me comportar. – disse ela enganchando o braço no meu. Ela encostou a cabeça no meu ombro.

Balancei a cabeça.

— Você não aprende não é Mona?

Ela riu.

— Gosto da sua companhia. – disse ela.

Olhei para o lado e vi que o pessoal estava chegando. Ótimo! O que a Hannah vai pensar? Me arrumei melhor no banco fazendo Mona tirar a cabeça do meu ombro. Ela olhou para onde eu estava olhando.

— Chegou à galera! – disse ela irônica.

— Preciso ir Mona. – me levantei e a olhei. – Tchau!

Ela me olhou por alguns segundos até dar de ombros. Se levantou e me deu um beijo no rosto.

— Então tchau! – disse ela se virando e saindo pelo gramado chamando a atenção dos garotos.

Balancei a cabeça. Me virei e vi que o pessoal havia sumido. Mal tive tempo de prestar atenção em quem veio. Sai a procura deles. Quando os vi, eles estavam no gramado sentados. Eles trouxeram comida. Me aproximei do grupo.

— E aí pessoal? – disse quando me aproximei.

Todos ao me verem me cumprimentaram. Corri meus olhos pelo pessoal, mas não vi Hannah. Davis se levantou e me abraçou pelos ombros. Incrivelmente ele era da minha altura. Não daria pra imaginar como ele iria ficar se lembrasse dele quando era criança.

— Senta aí com a gente primo! – disse Davis me mostrando um lugar. Ele disse mais perto do meu ouvido. – Ela logo vem! Foi buscar os amigos pra ficar com a gente.

Sorri pra ele balançando a cabeça. Ele levantou as sobrancelhas de um jeito brincalhão.

— Ok. – disse me sentando ao lado de Lory.

Conversamos mais alguns minutos até avistar Hannah e seus amigos chegando. Eles se aproximaram e cumprimentaram todos. Passamos a tarde inteira conversando. Foi um momento muito agradável. Me sentia bem com meus amigos.

Depois que todos decidiram ir embora, cada um começou a pegar seu caminho pra casa. No outro dia já começava mais uma semana de aula.

— A gente se vê amanhã no teste para o time Billy! – disse Liam.

— É claro! Vou estar lá.

Ele me deu um abraço e saiu com Oliver que me despedi também. Lory e Wesley foram com eles seguidos de Amber e Mike. Só ficou eu, Davis, Sarah, Hannah e seus amigos.

— Bem... eu acho que já esta na hora não é Davis? – disse Sarah.

Davis olhou para ela alguns segundos.

— Claro! Temos que ir!

Davis e Sarah foram embora, agora me deixando com Hannah e seus amigos.

— Também temos que ir não é Sá? – disse J.

A garota parece ter saído do transe. Pois ela me olhava de um jeito estranho.

— Sim! Vamos! – disse ela puxando J. – Nos vemos amanhã no jornal da escola Hannah! Eu não vejo a hora de conhecer o cara novo dos esportes! – disse ela com uma risada histérica.

Olhei para Hannah. Cara novo no jornal? Ela ficou um pouco corada. J puxou Sasha e saíram pela praça.

Hannah olhou para mim e sorriu sem jeito.

— Err... que cara novo é esse? – perguntei meio incomodado.

Ela pensou um pouco.

— Ele é um aluno novo que vai começar amanhã. Ele vai trabalhar no jornal.

— Humm.

— Só isso!

— A Sasha parecia doida pra que o dia de amanha chegasse.

— A Sasha é assim mesmo! Ansiosa!

— Ok. – disse. Não queria demonstrar que já estava me sentindo estranho com o fato de um garoto novo estar na escola. E justamente no jornal com Hannah. Me senti um pouco enciumado por ele poder estar quase sempre perto dela e eu não. Nem conheço o cara e já não gosto dele.

— Billy!

Hannah me chamava e eu nem prestava atenção.

— O que?

— Estava falando com você!

— Desculpe!

Ela sorriu e abaixou a cabeça.

— Bem... é melhor eu ir.

— Eu lhe dou uma carona.

Ela me olhou e sorriu.

— Ok.

No caminho para a casa de Hannah eu estava em silencio. Sentia que ela às vezes me olhava, mas também não dizia nada. Não sei por que! Mas essa história de um garoto novo estava de um jeito estranho e me incomodando. Senão Sasha não iria reagir daquele modo! Parecia que o garoto era uma celebridade chegando.

Assim que estacionei em frente a casa de Hannah, ela se virou para mim.

— Esta tudo bem Billy?

Eu a olhei. Ela parecia na expectativa do que eu responderia.

— Não! Não é nada! – disse tentando parecer tranquilo.

Ela balançou a cabeça concordando.

— Ok! Então...boa noite. – ela se virou para abrir a porta.

Eu sabia que estava sendo ridículo. Tinha que fazer alguma coisa para demonstrar que eu ainda me importo com ela.

Segurei seu braço antes dela sair do carro. Ela se virou e me olhou surpresa.

Ela se arrumou novamente no banco e me encarou. Não saiu nenhuma palavra da minha boca no momento. Segurei sua mão.

— Billy...

Me inclinei e lhe di um beijo na boca. O beijo durou só alguns segundos. Mas foi bom. Assim que me afastei, ela me olhava surpresa.

— Boa noite Hannah!

Ela me encarou por alguns segundos e acabou suspirando.

— B-Boa noite Billy! – ela deu um sorriso tímido, se virou e saiu do carro.

Esperei que ela entrasse e logo fui embora. No caminho eu pensei, por que fiz aquilo? É claro que eu sempre tive vontade de beijá-la, isso é obvio! Pensei mais um pouco. Tudo isso começou a ficar forte no momento da conversa “novo aluno”. De repente me senti um pouco enciumado e protetor do que poderia ser meu algum dia.

Estava sentindo um frio na barriga. Não sei por que, mas esse novo garoto já estava começando a me dar dor de cabeça. Tinha que ficar de olho. Nem sabia seu nome, mas já pressentia que teria que ser cuidadoso.