Friend Or Foe? escrita por SafiraSaff


Capítulo 6
Bad Memories




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— Hum? “Coisa”? – Murmurei, sinceramente, eu nem estava prestando atenção.


— Uhum. – Ela assentiu e estalou os dedos em frente a minha face, o que me fez acordar. – Você tem que ver!


— Por favor, senhorita Natalie. – Mordi meu lábio inferior ao pronunciar a palavra “senhorita”. – Estou um pouco cansada, tudo bem?


— Sei o quanto odeia me chamar deste jeito, então não chame. – Ela suspirou, segurando o meu pulso direito. – Somos amigas, não é?


       Tirando o fato de que você surtou quando me viu pela a primeira vez, que você mal fala comigo e que sou sua serva, sim, somos amigas.

— Claro, Natalie. – Suspirei.

       Ela sorriu docemente e me puxou. Eu não estava nem um pouco entusiasmada, mas ela já tinha me acordado e provavelmente não iria desistir até que eu fosse com ela. Fomos até o seu quarto, que era um pouco... Exagerado. Ela trancou a porta assim que entrei, pegando uma caixa de cima da sua mesa.

— Eu acho que é para você. – Ela me entregou. – Veio junto de... Uma raposa. – Ela viu que eu estava um pouco desconfiada – Não, não é uma brincadeira. É sério, a raposa estava bem aqui! Deve ter ido para debaixo da cama. De qualquer jeito, é sua também. Vou convencer Annie para deixa-la ficar com o bicho.

— Como tem tanta certeza que é para mim? – Indaguei.

       Ela me entregou uma folha que estava presa em um tipo de coleira. Foi um pouco difícil de entender, mas tinha algo como “Lindsay Dragomir” e mais alguma letras que não entendi bem.
 
       Não aguentei a curiosidade e abri a caixa. Tinha um lindo colar dentro do recipiente e mais um bilhete, desta vez, legível: “Para dar sorte.”.

— Mas quem...? – Perguntei, recolhendo o colar.

— Nem me pergunte! – Natalie levantou as mãos. – Mas é mesmo um colar muito bonito. Deveria usá-lo.

— Eu não sei, não.

— Se você não usar, eu uso!

       Soltei um suspiro e coloquei o colar. Natalie fez um sinal para que eu me aproximasse do espelho que fica atrás da porta. O colar era incrível, tinha um lindo cristal de quartzo como pingente. Natalie sorriu e falou:

— Você ficou linda.

— Obrigada. – Respondi.

       Ela tinha pegado uma xícara de chá de cima da mesinha e me entregou. Eu queria voltar para a minha cama, mas Natalie não iria se contentar com um não. Apenas recolhi a xícara e bebi o líquido, que por algum motivo se tornou avermelhado. Arregalei os olhos ao perceber e soltei a xícara, ao me olhar no espelho novamente, percebi que agora o cristal estava brilhando. Fiquei tonta e cai na cama de Natalie. Eu escutei um “me desculpe” antes de apagar por completo.
      
=...=

Ao me acordar, já não estava no quarto de Natalie. Eu estava em uma rua, que me era familiar. Era a rua onde eu morava. Mas eu tinha certeza de que já não tinha tantas árvores e certas casas não eram daquele modo.
       Por alguma razão, senti que deveria descer a rua e ir ao centro. Foi o que eu fiz. Estava ensolarado, mas eu não sentia calor e nem transpirava, o que eu achei estranho.
       Ao chegar ao centro, fui até o velho parquinho. Mas ele ainda parecia novo e tinha crianças no local. Ninguém mais ia nele atualmente, pois estava todo quebrado e sujo. Aproximei-me lentamente do local e arregalei os meus olhos ao ver minha mãe e a mãe de Thomas conversando. Mas nenhuma delas era assim, elas pareciam mais jovens.

— Mãe? – Falei, me aproximando.
 
       Ela não me ouviu.

— Mãe? – Repeti.

       Nada. Aquilo era estranho, dei alguns passos para trás e senti um vento esquisito. Olhe para baixo e percebi que uma pessoa tinha me atravessado. Tapei minha boca para não gritar. Olhei bem para a pessoa e percebi que era uma criança de aparentemente cinco anos... Era Thomas.

       Uma garota correu em direção dele e o puxou, deveria ter a mesma idade que ele. Era eu.

       Acho que Natalie me drogou. Mas era tudo tão real. E então eu comecei a perceber algumas coisas: Aquilo tinha acontecido. Eu lembro que Thomas e eu infernizamos nossas mães para nos levar ao parque no dia de sua inauguração e que estava muito lotado. Lembro de que eu encontrei um cachorro abandonado e que eu pedi para ficar com ele, mas minha mãe negou. Eu chorei por horas, mas Thomas ficou fazendo gracinhas para mim e me fez rir. Era uma lembrança boa, que na época era ruim.

       Tudo ficou turvo e minha cabeça voltou a doer. Caí no solo, mas ninguém me notou. Fechei os olhos com força, passando alguns minutos assim. A dor passou e a tontura também. Escutei risadas e abri os olhos. Agora eu estava em uma classe de aula. Me sentei, confusa e olhei ao redor. Alguns alunos riam e apontavam em direção de um garoto: Jacob. Ele deveria ter na época uns sete anos. Ao lado da janela, uma garota mordia os lábios para não rir, era eu. Thomas e Rebecca estavam ao meu lado, mas Thomas não se segurava. Percebi que era ele quem estava fazendo toda aquela baderna. E lembrei o porquê: Thomas empurrou Jacob na hora do intervalo e fez com que suco de maracujá caísse em suas calças, molhando-o. Thomas no tempo era adorado e Jacob era somente um novato. Thomas fez com que todos acreditassem que aquilo era xixi e não suco, todos inclusive eu. Eu se quer lembrava daquele dia. Vi Jacob sair correndo e o eu do passado foi atrás, Rebecca me chamava e eu pude ver que Thomas fuzilava o meu eu do passado com o olhar.
 
       Acompanhei Jacob e a mim mesma.

— Jake, espera! – Eu continuei correndo, e gritando com aquela minha voz fina que eu tinha na época.

       Jacob me obedeceu – Eu não lembrava mesmo daquele dia.

— Linds... – Jacob falou enquanto chorava. – O-o que foi?

— Não ligue para o Thomy, ele apenas gosta de chamar atenção.

       Ele não pareceu acreditar.

— Quer que eu fale para a professora? – O meu eu do passado falou.

       Quando foi que eu ajudei o mimadinho do Jacob e fiquei contra meu melhor amigo?! Eu estava mesmo drogada.

— N-não. – Ele murmurou. – C-consegue limpar isso?

       Meu eu do passado assentiu.

— Claro. – “Eu” fechei os olhos e em alguns segundos, Jacob estava limpo.

       É, definitivamente drogada.

Vi uma sombra no fim do corredor se aproximar de nós. Por algum motivo, não consegui enxergar quem era. Ela murmurou algo como “esqueça”. Jacob e o meu eu do passado começaram a andar, cada um para um lado, como se nada tivesse acontecido. Olhei para as minhas próprias mãos.

— Consigo mesmo fazer isso? – Murmurei para mim mesma.

    Tudo retornou a ficar turvo. Eu já estava me acostumando, mas a dor continuava forte. Fechei os olhos com força e voltei a abri-los. Eu estava em um jardim muito grande. Jacob estava sentado, junto do meu eu, agora deveriam ter doze anos.

    Se isso foi há três anos, por que não consigo me lembrar direito?

— Faça de novo, Linds! – Jacob falou, animado.

    O meu eu sorriu, e um tipo de névoa vermelha encobriu o meu palmo.

— Incrível. – Jacob sorriu.

    Eu lembrei daquilo. Mas eu não fiz exatamente aquilo. Eu deveria ter feito o velho truque da moeda.

    E eu sabia o que aconteceria depois daquilo. Fechei os olhos, lágrimas saíram instantaneamente de meus olhos: Ele me beijou.

    No tempo, eu não sabia o quão idiota Jacob se tornaria. Ele ficou assim após a viagem para um acampamento. Eu fiquei bastante chateada, mas não podia contar para ninguém. Era um tipo de relacionamento secreto, já que Jacob e Thomas já se odiavam na época. Eu não consegui esconder de Rebecca por muito tempo, mas ela prometeu não contar nada para ninguém.

    Abri os olhos novamente e já não estava lá. Eu estava em um rinque de patinação no gelo. Percebi que meu eu do passado estava com Jacob, rindo. Continuavam com doze anos, patinando de mãos dadas. Era um lugar luxuoso, Jacob tinha pagado nossa entrada. Mas tinha algo errado. O lugar por onde passávamos, tornava-se verde esmeralda e Jacob parecia se divertir com aquilo, olhando para os locais onde ficavam daquela coloração. Nós não deveríamos estar rindo daquilo, e sim porquê estávamos formando diversas figuras esquisitas.

         Tinha alguma coisa errada com as minhas memórias.
        
         Voltei a ficar tonta, o que já estava me irritando. Desta vez, eu estava com Thomas e já deveria ter treze ou quatorze anos. Estávamos assistindo a alguns filmes de comédia, eu me lembro disso. Ficamos entediados durante as férias e como a Rebecca estava viajando – Foi visitar sua tia, em Paris. –, Thomas e eu resolvemos fazer uma maratona de filmes de comédia, aquele dia foi bastante divertido. Inclusive pelo o fato de que ele tentou cozinhar, minha mãe quase nos matou ao ver o estado da cozinha quando chegou em casa. De qualquer forma, foi divertido.

         Percebi novamente que tinha algo errado. Enquanto meu eu do passado e Thomas estavam na cozinha, pude jurar que vi alguns raios vermelhos saindo de minha mão e indo em direção da panela onde Thomas tentava fazer um brigadeiro, que em alguns minutos explodiu em seu rosto. Mas eu não fiz aquilo, aconteceu do nada, acho que Thomas pode ter derrubado refrigerante, e o mentos caiu quando começamos uma guerra de comida. Mas não foi culpa minha, não totalmente, só a parte do mentos. Eu precisava sair daqueles pensamentos e falar com Natalie. Com toda a certeza, ela deveria ter me drogado. Eu tinha muitas coisas para conversar com a madame cor-de-rosa.

         Mas não agora. Nesse momento, eu queria ver aquilo. Encostei-me na parede da cozinha e sorri ao me ver “zoando” Thomas. Mesmo que não tenha acontecido exatamente daquele jeito, foi divertido. Thomas e eu sempre fomos muito próximos. Revendo aquela cena, pude perceber que ele sempre esteve comigo, mesmo com todas as nossas brigas. Desde o momento em que minha mãe não quis me dar o cachorro, ao momento em que ele me falou que estava apaixonado. Foi engraçado o jeito que ele me falou:

— Meu Deus, Lindsay, tem alguma coisa muito errado com meu corpo. – Thomas falou rapidamente. – É só eu me aproximar de uma garota específica que eu quase desmaio. Que droga eu tenho que fazer?

         Eu ri muito naquele dia, pois ele me contou tudo o que sentia pela a garota. Só não me disse quem era o que de certo modo, no tempo, me irritou bastante. Mas eu não podia culpa-lo, eu também não contei sobre Jacob.

         Em meio aos meus pensamentos, retornei a sentir tontura. Dessa vez, não voltei a me ver no passado. Tudo ficou escuro.

[...]

         Eu acordei em meu quarto. Já era 05h30min.

         Como de costume, fiz todas as obrigações. Já não falava com Thomas, Rebecca ou Jacob. De vez em quando, Mel falava comigo, mas era só por alguns minutos. Aquilo estava me matando. Já estava de tarde quando escutei uma conversa no quarto de Natalie.

— Não é ela. – Natalie falou – Eu vi todas as suas memórias, ela fez coisas estranhas, sim, mas não é ela.

— Como é possível?! – Uma outra voz falou, estava abafada e não deu para definir de quem era.

— Eu não sei. – Natalie suspirou – Não me sinto bem fazendo essas coisas, você sabe. Não quero machuca-la, gosto mesmo de Lindsay e dos outros.

— Não estou pedindo para machuca-los! – A outra voz respondeu grosseiramente.

— Acho que pode ser a outra. A amiga dela, pude vê-la diversas vezes em suas memórias. Mas também é possível que seja Thomas.

— Descubra imediatamente!

— Me recuso a mata-la!

— Como quiser, apenas descubra... E me fale, que eu o farei com minhas próprias mãos.

— Certo, Annie... – Natalie murmurou e veio em direção da porta.

         Corri, saindo de seu caminho e desci as escadas, esbarrei-me com Rebecca.

— Hum? Lindsay? Está tudo bem? – Rebecca perguntou.

— Não. – Respondi. – Preciso falar com você e com Thomas.


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