Nossa Primeira Série escrita por Matthew McCarty


Capítulo 26
Preço


Notas iniciais do capítulo

Eu vou terminar de escrever esta fic ainda este ano. Agradeço muito por lerem. Espero que gostem.



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Os dedos ágeis do arquiteto se erguiam, uma vez mais, enrolando-se nos próprios fios pretos de cabelo. Já não conseguia chorar, apenas olhar para a escuridão daquele quarto, encolhido junto à cabeceira da cama. Seu corpo tremia, e nada tinha a ver com sentir frio: havia emagrecido, seu corpo coberto de hematomas e cortes pouco profundos. Suas mãos estavam livres, mas seus dois pés estavam tão bem amarrados àquela pesada cama de madeira que já havia desistido de tentar se soltar. 

 

Fora um tolo. 

 

As pessoas mudam, ele sabia disso, mas era tão ingênuo que se esquecera que nem todas as mudanças são para melhor. Tanto disse "Não acredito que existem pessoas assim", que acabou acreditando que elas realmente não existiam. E sua ingenuidade custou-lhe muito caro. Mais caro que sua própria integridade física. 

 

Seitarou. Seu pequeno menino. Há quanto tempo não o via? Tinha parado de contar no décimo dia, quando parou de ouvir a voz dele chorando... Não sabia nem sequer há quanto tempo estavam trancados ali. Não sabia sequer se ele estava bem ou se ainda estava naquele apartamento! Era um apartamento numa área pouco movimentada, então ninguém perceberia se alguém sumisse de repente. Seu raptor dizia para ele se comportar se queria que seu pequeno ficasse bem. Mas quem lhe garantia que aquilo era verdade? 

 

Embora soubesse que não tinha controle sobre a maldade alheia, não conseguia deixar de se culpar por ter confiado naquele homem. Mais de uma pessoa tinha se aproximado para avisá-lo, mas ele escolheu confiar num desconhecido. E o preço cobrado era muito pior que apenas ficar preso. 

 

Negou fraco com a cabeça, arrancando mais alguns fios de cabelo. Não queria pensar mais no assunto ou acabaria chegando num dos pontos mais dolorosos de tudo aquilo.

 

Midorima Shintarou.

 

Seu marido, o homem que amava. Agora percebia como fora manipulado. Como pode desconfiar do amor e companheirismo dele? Céus, o tinha acusado tanto sem sequer prestar atenção de fato ao que ele sentia e falava... Sempre tinham resolvido tudo conversando, ele já deveria ter aprendido que essa era a melhor maneira de resolver as coisas. Onde estava com a cabeça ao assinar o divórcio? 

 

Ah, essa resposta ele sabia. E era amarga, sufocando-o tanto quanto as amarras em seus pés. Nunca se perdoaria.

 

Ouviu vozes vindas da sala, mas as ignorou. Às vezes, seu raptor trazia alguns amigos para beber. Havia aprendido da pior maneira a manter-se calado nessas situações. Mas, de repente, a voz de seu filho soou alta.

 

Seitarou estava chorando.

 

— Desgraçado - tirando forças de algum lugar, Takao se ergueu, sentando na cama e começando a forçar os pés para fora daquelas amarras. Seus dedos e tornozelos começaram a ficar em carne viva enquanto ele tentava, desesperado, se soltar. Ele pagar o preço por sua tolice era justo, mas seu filho amado não merecia aquilo. 

 

Enquanto isso, o sorriso na boca de Miyaji se desmanchava enquanto um dente dele se soltava de sua mandíbula e o sangue enchesse seu paladar. E Midorima não ia parar. Um atrás do outro, os socos acertavam o rosto de Miyaji, até que este caísse no chão. Não se importava, se agachando para continuar descendo o punho no rosto do mesmo. Teria continuado até afundar o crânio daquele maldito se braços fortes não o tivessem segurado, o afastando do corpo desacordado de Miyaji. 

 

Assim era melhor. O maldito tinha tido a coragem de sorrir diante dele ao abrir a porta e, ainda por cima, falar "meu Kazunari". Havia perdido a linha e todo controle ao ouvir aquilo. O nome de seu esposo era precioso demais para que um lixo como aquele o pronunciasse. E, então, ouviu o choro baixo de seu pequeno filho. Ah, Seitarou não merecia viver com um pai preso por homicídio. Aquele verme no chão não valia tanto assim. 

 

Aomine não precisou usar muita força, Midorima se deixou afastar, parecendo voltar à razão.

 

— Seitarou.

 

O nome dito em sussurro fez Aomine soltá-lo, se virando para dar ordens aos oficiais. O esverdeado não se demorou em sair estourando as portas da casa com um chute, o choro de seu pequeno o guiando. Num quartinho escuro, viu a silhueta de seu pequenino. Seitarou estava parcialmente escondido embaixo da cama, e por um momento pareceu querer se esconder mais, pelo menos até reconhecer o homem na porta. 

 

— Pai? 

 

Ao perceber que era mesmo seu pai ali, o pequeno saiu correndo de onde estava, se jogando nos braços abertos de Midorima. O médico o pegou no colo, enquanto Seitarou chorava contra seu pescoço. 

 

— Shhh, estou aqui. Está tudo bem agora, meu amor.

 

— Pai... Pai... Estou com medo... - as palavras do menor soavam abafadas, perdidas entre os soluços. Ter seu pequenino nos braços aliviava a dor no peito de Midorima.

 

— Me perdoe... Eu devia ter vindo antes - céus, Seitarou tremia, apavorado, se segurando ao pai com tanta força que seus nós dos dedos ficavam brancos. - Está seguro agora. Iremos pra casa e ficará tudo bem. Seus amigos estão com saudades de você. Quer vê-los, não é?

 

— Mamãe. Eu quero ver mamãe - o pequeno se separou um pouco do pai, para conseguir olhar para ele, os olhos vermelhos e inchados. Midorima beijou seu rostinho, secando suas lágrimas. 

 

— Sim, vamos procurá-lo agora - assentiu o maior, enquanto se virava para ir buscar Kazunari.

 

Não foi preciso ir longe. 

 

No corredor, Takao cambaleava, empurrando para longe dele qualquer policial que tentasse segurá-lo. Midorima rangeu os dentes ao ver o estado dele, as mãos e os pés sangrando, apenas uma camisa grande e suja a cobrir seu corpo magro e machucado. Tinha vontade de despedaçar Miyaji, mas a criança em seu colo fez com que se mantivesse controlado. 

 

Kazunari se guiava pela parede, tentando não cair ao chão. Não, não queria ajuda, queria... 

 

— Mamãe. 

 

A voz de seu filho o fez erguer a cabeça. Quando seus olhos viram uma silhueta grande e conhecida, suas lágrimas silenciosas se tornaram soluços baixos. E, então, se viu envolto pelo cheiro e corpo de seu marido.

 

— Shhh, está tudo bem. Estamos aqui, Kazunari - com o braço livre Midorima abraçou seu esposo, beijando o topo de sua cabeça. Seitarou percebeu que sua mãe não estava em condições de segurá-lo, então apenas acariciou o cabelo preto dele, chorando também.

 

Ao outro lado do corredor, Aomine se deteve a observar aquela cena. Não era bonita em si, mas cada um dos três integrantes daquela família estavam onde deveriam estar: juntos. Midorima ergueu o olhar e os dois se encararam por um momento. O moreno assentiu e forçou os olhos para outro lugar, se focando em seu trabalho. 

 

Não merecia a gratidão de alguém por ter reunido uma família, quando estava destruindo a própria.

 

Os policiais começaram a entrar e sair do local então Aomine avisou que era melhor que Midorima saísse com sua família, afinal, os dois reféns precisavam passar por cuidados médicos. O esverdeado assentiu e deixou que seus companheiros médicos colocassem seu menino e esposo em macas e os levassem para fora. Devagar, os acompanhou até que estivessem dentro das ambulâncias.

 

Não teve tempo de pedir para ir junto à eles, uma mão pequena segurou sua calça. Ao olhar para baixo, o olhos díspares de Masaki olhavam precupados para ele.

 

— Suas mãos. Estão sangrando - Shintarou sorriu, se agachando e pegando o menor no colo. 

 

— Não precisa mais se preocupar, pequeno anjo. Venha conosco, quero você perto de nós - sem mais, entrou na ambulância e esta deu partida. 

 

Ao longe, Furihata e Akashi observavam a ambulância ir em direção ao hospital.

 

— Me alegra que tudo tenha terminado bem para eles. 

 

— Espero que saiba... 

 

— Eu sei, Kouki - o castanho olhou para ele por um momento e então suspirou, se aproximando para beijar sua bochecha. 

 

— Fale com Masaki. Se for sincero, ele o entenderá e perdoará.

 

— Você viu o estado de Kazunari? Masaki não vai me perdoar tão cedo - havia estragado tudo, de novo. Quando ia aprender a ser pai? 

 

— Eu conheço nosso filho, Sei-kun - com um sorriso, o castanho abriu a porta do carro. - Vá. Midorima precisa de apoio também. Himuro me disse que iria até a casa de Kasamatsu avisar sobre a situação. Acredito que logo chegarão ao hospital. Eu ficarei aqui e verei se Aomine precisa de testemunhas ou algo assim. Não quero deixá-lo sozinho.

 

— Está bem - Akashi entrou no carro e fechou a porta. Quando o carro começou a se mexer, ele sentiu o peito afundar. Ele precisava dizer agora ou jamais seria capaz de ser sincero. Abriu a janela e colocou a cabeça para fora, vendo um surpreendido Furihata ali. - Kouki! Eu amo você! Nunca deixei de amar! 


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