A Sociedade Rubi escrita por Mari e Léo


Capítulo 8
Borboletas de fogo


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Primeiro agradeço a todos que estão lendo e comentando, vocês são demais! E aos novos leitores, olá! Bom, nosso Hooper vai se tornar um invocador hoje, espero que gostem!



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Descemos as escadas e passamos da toca para fora da casa. Na floresta onde abrimos um portal para um vampiro real. Na escuridão da noite arrastávamos nossas capas pelo chão. Seis cores, seis mistérios. Em completo silêncio. Completa tortura e ansiedade.

As árvores pareciam esconder coisas por de atrás. Coisas que eu não sabia responder o que era, mas sabia que deveria temer, assim como o que me aconteceria naquele dia. Fechei os punhos e continuei andando. Só podia fazer isso.

Estávamos em fila indiana, sendo os iniciados os últimos da fila, eu era o primeiro da fila de cores. Vermelho como o sangue. Branco como a neve. Azul como o mar. Verde como as árvores. Roxo como hematomas.

Meus joelhos começaram a doer e de relance senti como se algo tocasse meu ombro. Algo que sussurrou.

Estamos de olho.

Olhei para os lados. Nada. Apenas árvores e escuridão. Apenas minha nova vida cheia de mistérios.

– Chegamos invocadores. – disse Rhodes com uma alegria na voz.

A clareira era mesmo uma clareira, nela havia um lago com cinco rochas, envolta do lago havia os lugares para abrir portais. A grama era escura e lua brilhava forte no céu, refletindo no lago. Os invocadores se dispersaram em volta do lago, se misturando. Yves de longe sorriu e eu soube que aquilo era uma forma de apoio, por mais que ela parecesse temer algo.

Os senhores de cada sociedade se aproximaram de seus iniciados. Rhodes tinha o contorno em volta da íris avermelhadas por veias pequenas. Ele parecia nervoso e eu não sabia como deveria me sentir.

– Fique calmo Hooper. – disse Rhodes.

– Digo o mesmo senhor. – respondi.

– É sério. – ele parecia falar sério, mas eu também estava. – Não demonstre medo nenhum instante, você pode ser morto se isso acontecer. Por favor Hooper, fique calmo e faça o que o seu instinto lhe disser. A verdade vai começar a ficar exposta a você a partir do momento em que eu der seis passos pra trás. Hooper, me escute. – Rhodes estava olhando nos meus olhos. – Tudo o que deve fazer hoje é seguir seus instintos. Apenas isso. Faça o que sua mente dizer para fazer. Apenas faça Hooper.

Assenti e Rhodes fez o mesmo. Eu havia compreendido. Não devíamos sentir medo, eu deveria despertar uma criatura. Afinal, o rubi tinha essa função. Eu só não fazia ideia de como seria.

Foi então Rhodes deu o primeiro passo para trás. E juntos todos os invocadores começaram a falar.

– A terra em que pisamos. – e em seguida o segundo passo. – O ar que respiramos. – o terceiro passo. – A água que bebemos. – o quarto passo. – Os raios que caem. – o quinto passo. – O fogo que queima. – e o sexto passo foi dado num grito em conjunto. – A verdade que trás luz a escuridão.

Rapidamente olhei para a lua, como se não fosse eu. E a lua havia desaparecido, mas na água estava seu reflexo, no centro do lago. Olhei para trás quando um brilho vermelho se intensificou. E lá estava o portal. Fechei os punhos, eu estava preparado.

Corri contra o portal e senti meu coração batendo forte. Era o movimento que mudaria a minha vida e eu estava determinado. Eu havia nascido só para ter aquele momento.

Quando cruzei o portal tudo ficou vermelho, a energia circundava o local. Era um espaço que cheirava queimado. Era outra dimensão, a dos vampiros. Eles estavam em volta de mim, me observando com olhos que queimavam. Ali não eram pálidos e nem monstruosos. Pareciam com humanos com asas, não estavam nus, mas sim com capas rubras. Caminhei em meio da multidão dos vampiros até meus olhos se ajustarem. Lá estava eu, num mundo de céu vermelho e uma lua prateada. A terra seca e rosas cheias de espinhos, com suas pétalas negras como se estivessem mortas. E eu estava no jardim de um castelo negro e no alto de uma escada estava algo que para mim era mais que lenda.

– Jovem Hopper. – a voz era do vampiro.

Caminhei até o vampiro. E ele estava com uma coroa na cabeça, vestido com um manto negro e usando um terno sob medida. Era mais alto que os outros vampiros e era extremamente forte. Aquele vampiro era o que mais se parecia com um humano e seus olhos eram negros. E assim que fiquei frente a frente com ele soube quem era. Drácula.

– Nesta noite um novo invocador nascerá. – disse Drácula. – Seu monstro real surgirá. Hooper, você poderá se transformar num vampiro. Hoje receberá o cristal da invocação. Seu monstro e você serão um só. Para preservar a ordem e manter a verdade escondida. Proteja seus semelhantes. Porque você é um invocador.

No local começaram a surgir borboletas pegando fogo. Suas asas eram de fogo e por onde passavam pequenas fagulhas iluminavam. Eram lindas e era o motivo por eu estar ali, eram as assassinas de meus pais. Era o meu nascimento. Elas começaram a se unir numa pedra que Drácula segurava, uma corrente se formou com as fagulhas e a cada borboleta que se unia a pedra, mais vermelha ela ficava.

– Porque você Hooper, é tocado pelas chamas.

O medalhão estava pronto e o próprio Drácula colocou em meu pescoço. E a transformação começou. As borboletas de fogo se uniram ao meu corpo e senti que estava pegando fogo. Meu instinto deixava um único recado e eu corri de volta para o portal.

Eu já não era eu. Havia assumido o monstro, meu vampiro interior. As asas haviam rasgado a capa vermelha e a camisa que eu vestia. Meus dedos estavam compridos e as unhas afiadas. Estava pálido me sentia bem. Muito bem.

Aterrissei numa das pedras que estava no lago. Continuava naquela forma vampírica, invocado. Minha visão ali era muito boa, conseguia enxergar muito bem. Os invocadores estavam nos encarando, mas dessa vez sibilavam.

A garota da Sociedade Diamante agora era uma criatura alta e esquelética, de tórax largo e pelos acinzentados por todo corpo. Os braços eram mais longos e os dedos maiores, ela também possuía garras. A cabeça era um pouco maior do que a original, suas orelhas eram grandes e pontudas, seus olhos brilhavam como raios e a boca larga estava repleta de dentes. Ela estava em cima da outra pedra, ao meu lado. E a criatura que havia se tornado era um lobisomem.

Ao lado dela estava a garota da Sociedade Safira. Ela estava sentada na rocha e com uma longa cauda escamosa de sereia. Em cada braço duas barbatanas azuis esverdeadas surgiram. Seus peitos eram cobertos por duas grandes conchas azuladas, eram como casco na pele, faziam parte dela. Sua pele havia ficado pálida e seus cabelos ainda mais compridos e negros, com as pontas azuis. No pescoço estavam as brânquias. Seu rosto estava idêntico o de antes, com pequenas diferenças, os olhos eram azuis como a água e a cor da íris moviam como ondas. As orelhas também haviam mudado, eram como barbatanas. Mas não havia como negar, mesmo como um monstro, ainda era bonita.

Do lado da garota estava o garoto da Sociedade Esmeralda. E não era mais um garoto, era um monstro, um híbrido de dragão e humano. Estava mais alto e as pernas estavam mais fortes e maiores. A capa verde estava na altura do joelho. Sua pele havia se tornado couro verde e amarelado. Garras enormes estavam em seus dedos longos e grossos. Havia ganhado uma cauda de dragão em formato de seta. Sua boca era a mais cheia de dentes dali, seus olhos eram extremamente verdes, porém pálidos, como se guardasse ar dentro deles.

Do meu outro lado estava o garoto da Sociedade Ametista. Era um pouco mais baixo que o garoto da Sociedade Esmeralda. Mas era mais grotesco. Seus braços estavam cheios de músculos extremamente definidos, as pernas também. A capa roxa estava intacta, como se fosse feita para aquela situação, e era. As mãos do homem eram grotescas, grandes e com pequenas garras, porém excessivamente afiadas. A boca era grande e estava fechada, escondendo os dentes de ogro. Os olhos brilhavam arroxeados, porém pareciam conter terra. Agora ele havia assumido sua forma de ogro.

No pescoço de cada novo invocador estava o medalhão ofertado por suas entidades, pelas lendas reais. As borboletas de fogo que se uniram no meu medalhão, para tornar uma pedra rubi, para tornar um humano um invocador.

Os invocadores caminharam até a beira do lago e nos olhos dos invocadores de vampiros vi minha sombra. Eles se viram nos meus olhos. E em seguida todos se transformaram no que eram. Borboletas de fogo saíram dos rubis e transformaram os invocadores de vampiros em vampiros. Besouros de terra saíram das ametistas e transformaram os invocadores de ogros em ogros. Grilos de vento saíram das esmeraldas e transformaram os invocadores de dragões em dragões. Libélulas de água saíram das safiras e transformaram os invocadores de sereias em sereias, mas sem cauda por estarem sob a terra. Joaninhas de raio saíram dos diamantes e transformaram invocadores de lobisomens em lobisomens.

A lua brilhou em cinco tons diferentes, dessa vez no alto do céu. E o fogo brilhou por cima do lago, a terra tremeu, o vento uivou, a água gerou ondas e do céu os raios mostraram que estavam ali, como seus trovões. Éramos verdadeiramente, a partir daquele momento, invocadores de criaturas. E o meu dever era proteger os vampiros e os humanos, cada um em seu mundo. Naquele momento eu soube que era mesmo preciso manter a verdade oculta e que era um privilégio ser um invocador. Pois eu nunca havia me sentido tão bem.

Aos poucos os insetos saíram do corpo dos invocadores e se uniram novamente aos medalhões. As criaturas voltaram a ser humanos. E as borboletas que me transformaram em vampiro também.

Minha visão se embaçou e fechei meus olhos, quando os abri novamente, eu estava fora do lago e os portais estavam fechados. Todos haviam ido, menos uma pessoa.

O rubi brilhava no meu pescoço e eu soube o que ele guardava. O meu monstro interior, meu eu vampiro.

Levantei a cabeça e sorri lateralmente. Pois eu soube quem eu era e qual era o meu papel. Meu destino. E se um fim do mundo estava chegando, se forças maiores estavam vindo, eu estava preparado, tínhamos um exército de criaturas fantásticas prontas para agir.

A pessoa sorriu para mim, do mesmo jeito que eu. E ela sabia o mesmo que eu. De braços cruzados ela caminhou até mim, apenas ela.

– Parabéns, invocador. – disse Yves.

– Acha mesmo que a palavra certa é parabéns? – perguntei.

Ela ficou séria. Frente a frente para mim. Seus olhos vermelhos eram iluminados pela lua. E eu tinha a sabedoria de um invocador para saber o que fazer.

– Tenho uma coisa pra te contar Hooper.

Fiquei em silêncio, esperando. E ela olhou para o lado, como se não soubesse como contar, mas ela sabia que tinha.

– Eu não tive uma visão sobre a sua invocação. – disse Yves. – Uma borboleta de fogo saiu do meu rubi na noite anterior e ela se desmanchou na parede no meu quarto. Com o choque ela virou cinzas e as cinzas deixaram uma frase.

Yves pausou e fraquejou. Abaixou a cabeça. Era difícil me contar, mas ela faria isso.

– Não fuja do seu destino. – disse Yves. – Era essa a frase. Hooper faça um esforço, veja a verdade. Nós nos conhecemos há dois anos. Eu fiz primeiro ano do ensino médio com você, depois no segundo eu sumi. Mas é claro que você nunca se lembrou disso, nenhum humano lembrou mais. Mas agora Hooper, você pode se lembrar.

Ela começou a andar para trás e sorriu.

– Lembre Hooper. – disse Yves. – Eu sou a garota com a mochila de couro, de crucifixo negro, cabelo cacheado e mecha vermelha, a garota que te mostrou um universo místico sem saber se era real. Sou a garota que fugiu pela floresta quando ia te contar algo que você nunca ouviu, a garota que sumiu naquele dia.

Yves se virou de costas e parou logo em seguida, quase sumindo na escuridão.

– Hooper, eu estava com você todos esses dias. – disse Yves. – E toda vez que me via você se esquecia.

Aos poucos comecei a lembrar e sumindo na escuridão ela falou:

– Você vai lembrar Hooper e tudo irá mudar mais uma vez. Depende de você sobre como vai ser.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? E o Drácula? E as transformações? Mande sua crítica e me ajude a melhorar a história ^_^.
E quanto aos leitores fantasmas, se manifestem e ajude também! Seu comentário me deixará alegre!