O Desfastio de Mara Dyer escrita por Layla Magalhães


Capítulo 20
20




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MARA


ANTES

— QUE MÚSICA VOCÊ ESCOLHEU PARA TOCAR QUANDO VOCÊ FOR EM DIREÇÃO A NOAH? — Mamãe pergunta enquanto arruma o véu sobre a minha cabeça, prendendo-o sob uma tiara cheia das mais diversas flores.

— Eu não sei.

— Como assim, não sabe?

— Eu não escolhi música alguma; isso ficou à cargo do Noah.

Ai meu Deus. Ele vai cantar?

— Provavelmente.

Ela põe as mãos sobre o coração.

Ai meu Deus.

Viro os olhos e ponho a rasteirinha feita artesanalmente, também com flores, nos pés.

Ai meu Deus o que, mãe?

— Você não vê o quanto tudo isso é romântico? — Mamãe levanta as mãos, indicando o lugar a nossa volta. — Você vai se casar em uma cachoeira e, ainda por cima, seu noivo vai cantar para você.

— Não sei se ele vai cantar. E você está se precipitando muito. Noah pode escolher ragatanga para cantar.

Mamãe me olha horrorizada.

— Ele não faria isso.

— Não? Você põe a mão no fogo? — Caçoo.

Ela não me responde. Esperta.

Katie surge com sua maleta de maquiagem para dar os toques finais, já que estou totalmente vestida. Meu vestido de noiva é longo; sua cor creme dá um tom suave e natural à peça, e algumas partes na saia são de um salmão claro, deixando-o mais feminino; ele é cheio, dando-me a sensação de que se eu rodopiar, ele se abrirá todinho à minha volta; tem um toque delicado, pois o decote é feito de renda e as alças se apoiam nos ombros. 

— É bem hippie. — Minha cunhada observa.

— Noah gosta de usar a palavra alternativo.

— Quem usa maconha também gosta de usar alternativo ao se referir ao cigarrinho. — Katie brinca.

Dou de ombros, rindo com ela.

— Nós dois decidimos que não queríamos um casamento na igreja. Discorremos por vários ambientes até decidir uma cachoeira.

— Você a viu?

— A cachoeira? — Katie concorda. — Ainda não.

— Você não vai se arrepender. É linda.

— Assim espero.

Ela ajusta os cílios postiços e reaplica o batom levemente rosado em meus lábios. Optamos por uma maquiagem mais natural e radiante, a sombra branca se misturando com a nude e a bronze, finalizada com um fino traço de delineador nas pálpebras.

— Você está fantástica.

Olho o resultado final no espelho. Pareço realmente ter uma beleza natural extraordinária. Meus lábios parecem maiores e mais cheios, meus olhos cintilam levemente sob a luz ambiente. O vestido fica justo nas partes certas, destacando minha silhueta. Fico feliz por não ter esperado tanto, pois no futuro, posso não ter mais esse corpo — pelo tempo, pelo estresse, talvez até mesmo por futuros filhos. As minhas unhas estão pintadas com um esmalte claro. Pulseiras douradas pendem de meu braço e uma tornozeleira simples sobre o pé. Não há nada de especial em mim, nada exuberante ou caro. Há apenas a exaltação do que é factual, do que existe, do que é concreto e certo para mim e Noah. E faz sentido, já que hoje é o dia em que consumamos nosso amor.

Nós planejamos tudo isso. 

Esperamos até nos tornarmos profissionais nas áreas que escolhemos. 

Depois viajamos pelo mundo, estudando, conhecendo e escrevendo, literalmente, nossas histórias. 

Agora nada mais nos impede. Está tudo pronto. Nós estamos prontos.

— Filha?

Desvio-me dos meus pensamentos e olho para mamãe. Ela me encara com uma expressão que não sei definir, que não sei denominar além de realizada. Como se tudo o que ela sonhara para mim um dia estivesse se tornando realidade.

— Seu pai está esperando.

Isso quer dizer que é hora de ir.

Fecho os olhos e respiro fundo, avaliando-me. Algumas noivas costumam ficar nervosas com seus casamentos. Eu não estou nervosa, apenas ansiosa. Ansiosa para tornar-me oficialmente a mulher de Noah. Ansiosa para começar uma família com ele. Ansiosa para ser dele de todos os meios possíveis.

Começo uma contagem regressiva. Os últimos minutos de Mara Dyer, os últimos momentos da pessoa que fui durante toda minha vida. Ao cessar da contagem, não serei mais Mara Amitra Dyer, e sim Mara Amitra Shaw. Soltando o ar que estava preso em meus pulmões, digo a minha mãe que estou pronta. 

Momento dez.

Como era o desejo de Noah, permaneço de olhos fechados. Mamãe guia-me até onde meu pai me espera, fora da barraca em que estivéramos abrigados. Na hora, ouço o som da queda d'água, o impacto dela contra as rochas. O ar é tão limpo que quero respirá-lo para sempre. Sinto-me caminhar por sobre a grama, e sei que chegamos aonde os convidados nos esperam pois subitamente ouço exclamações gerais, vozes diferentes em um só lugar. Após uns quatro passos, ouço uma voz. A voz de Noah. Ele está cantando, e para minha sorte, não é ragatanga. Ele pede para que eu abra os olhos e sou tomada por uma profusão de cores, luzes, sons. 

Momento nove.

A cachoeira é realmente linda; sua água cristalina não parece bater nas pedras e sim dançar sobre elas; estamos no meio de uma clareira, com cadeiras posicionadas em colunas de frente para a cachoeira. No meio delas há um corredor feito com flores rosas. O perfume delas flui pelo ambiente, suavemente, inebriando o momento, deixando-o como um sonho.

Mas a realidade é que o verdadeiro sonho se apresenta à minha frente, no final do corredor, cantando A Beautiful Mess, do Jason Mraz. Ele despeja elogios, críticas, virtudes e defeitos em notas musicais, sua voz brincando com nossa audição, enamorando-a, hipnotizando-a. Daqui posso ver muitos convidados chorando: minha mãe, Ruth, Katie, Jamie... e, para minha surpresa, o pessoal do Setor 45 também está presente— Juliette chora com Leila em seus braços, Amaya está com os olhos marejados e sussurra um este homem é perfeito para mim, e posso jurar que vi Kenji secar uma lágrima em sua bochecha.

Estou imóvel no corredor, observando o homem que amo. Não tenho reação. Estou empacada e presa, a total surpresa e o amor tão condensados que paralisando meu corpo. Noah nota e começa a caminhar em minha direção. 

Momento oito.

Meus olhos só estão fixos nele, agora. Em seu trajeto lento até mim, nos seus lábios cheios emoldurando as palavras melodiosas que fluem por sua boca, o sorriso discreto e brilhante direcionado unicamente a mim. Só percebo que estou chorando porque papai limpa uma lágrima que já chegara na altura de meu queixo antes de beijar-me a testa. Ele me entrega a Noah de bom grado, feliz, e enxergo a realização nele também. Não tenho tempo de analisá-la por muito tempo, pois agora estou nas mãos de meu noivo — meu futuro marido. 

Momento sete.

Noah canta só para mim. Sua voz baixou o tom, fazendo-o mudo para todo o resto dos convidados e audível apenas para meus ouvidos. Seus lábios roçam meu véu. Ele ergue meu queixo, seu contato quente fortificando a ligação que sentimos, e somos absorvidos pelos cinco sentidos um do outro. Levantando meu véu, sua visão se enriquece com a minha; sinto nele o mesmo cheiro de rosas que há em mim; ouço sua voz batendo em significados enquanto ele escuta meu coração cantando para ele, cada vez mais alto, cada vez mais amplo, cada vez mais dele; tocamo-nos, juntando nossas mãos, completando todo o ciclo beijando a palma um do outro. Todos os sentidos estão em sincronia, todos focados e absortos em nosso amor, todos enriquecidos por ele. 

Momento seis.

Os versos correm para o final da música, e ele os sussurra em minha orelha.

And through timeless words in priceless pictures

We'll fly like birds not of this earth

And tides they turn and hearts disfigure

But that's no concern when we're wounded together

And we tore our dresses and stained our shirts

But it's nice today, oh the wait was so worth it

Como se cantando diretamente em meu ouvido as palavras entrassem mais rapidamente em meu cérebro e fossem enviadas direto para o coração, minha respiração se acelera e choro ouvindo a letra. 

E através de palavras eternas em fotografias inestimáveis

Nós vamos voar como os pássaros desta terra

E marés voltam e corações se desfiguram

Mas isso não é preocupação quando estamos feridos juntos

E nós rasgamos nossas roupas e manchamos nossas camisas

Mas está tudo bem hoje, oh a espera valeu a pena

Sinto-me extasiada. Sinto-me viva e completa.

E aqui estamos nós — ele repete.

Ainda estamos aqui.

E isto é uma bela bagunça, é sim.

E, se pudesse focar em outra coisa além de sua voz e seu lindo rosto, notaria que acabara de me apaixonar ainda mais por ele, por adorar ainda mais esta bagunça linda e maravilhosa e tão unicamente nossa.

Momento cinco.

Começamos a fazer a travessia para o fim que nos trará o mais belo começo.

Noah me beija os lábios, o que faz metade dos convidados rirem e a outra metade suspirar. Alguém — que tenho quase certeza que é Amaya — gritou um quero!, o que causou mais risos ainda, inclusive o meu e de Noah.

Percorremos o corredor até o pequeno altar, possibilitando que eu desse uma observada mais atenta em meus convidados. Visualizo daqui a palhaça da Amaya, e parece que ela está grávida, da onde posso ver. Aaron acena para nós com bebês— gêmeos— nos braços, Ruth manda beijos e Joseph faz uma careta. Sorrio para todos enquanto nos postamos de frente à cachoeira e aos convidados.

No altar há quatro vasilhas de vidro, como o planejado. Decidimos fazer algo diferente de votos e até que a morte nos separe. Não há palavras de amor e carinho que ainda não foram ditas entre nós, e a morte fora superada há muito tempo.

Queríamos algo novo, algo diferente e significativo.

Noah pega a primeira vasilha. O elemento fogo.

Momento quatro.

— A Terra, lugar que nos cedeu a vida, é feita de quatro elementos. Nós, como os filhos dela, temos os mesmos quatro elementos dentro de nós. Eles nos dão aspectos físicos e mentais, definindo nossos temperamentos e comportamentos. E é com eles que quero que nossa união seja pavimentada.

Repito tudo o que ele dissera, meus olhos fixos nos dele como estavam outrora nos meus.

Molho a ponta dos dedos nas cinzas alaranjadas do pote, o pó grosso virando um líquido colorido ao entrar em contato com a pele. Ergo a mão até meus lábios, umedecendo-os com o mesmo material que está em meus dedos, e prossigo com o pequeno ritual. Encosto dois dedos na têmpora direita de Noah, entoando as palavras que são mais do que frases elaboradas ao léu — são orações, preces, pedidos e bênçãos.

— Que este elemento transmita à nossa relação os artifícios que possui como característica. Que sejamos vigorosos, que saibamos ser zelosos, tenhamos entusiasmo e coragem para todos os contratempos — toco a outra têmpora —, que a determinação e a ousadia nunca nos abandone e que saibamos ser persistentes e esforçados para que nenhum desafio nos derrube e amedontre.

Noah também molha os dedos e os lábios com as cinzas e toca as minhas têmporas.

— Que aprendamos, com o fogo, a não sermos tão suscetíveis à brigas, não irritarmo-nos com frequência, e nem destruir tudo à nossa volta. Que este elemento impulsione nossa paixão, embora sem deixá-la violenta, ciumenta, vingativa e raivosa. Que, com este elemento, cresçamos em virtudes e administremos nossos defeitos.

Pegando a vasilha com os dentes-de-leão e trazendo apenas um aos lábios e beijando, Noah prossegue.

— Que sejamos vigilantes e livres, sempre cordiais e confiáveis, trazendo clareza e luminosidade para nós e para nossa família. Que sejamos otimistas e perspicazes nas horas difíceis, para que possamos assim viver em alegria.

Fecho os olhos enquanto Noah sopra delicadamente a planta, o que faz suas pequenas pétalas voarem sobre minha cabeça, tórax e braços, dançando acompanhada do vento junto de nossos espíritos em comemoração à nós.

— Aprendamos com o vento a evitar a instabilidade, a não sermos desonestos nem conosco, nem com outras pessoas.

Beijo uma das flores brancas e sopro em Noah, fazendo girar as pétalas em seu entorno, como uma bolha de magia e simplicidade.

O terceiro e penúltimo pote é de água. Molho as pontas dos dedos e levo-as novamente aos lábios, dando um beijo em forma de bênção. Toco as bochechas e o pescoço de Noah, umedecendo-o levemente.

— Que toda essa água — indico a dos meus dedos e também da cachoeira —, nos doe suas virtudes, tornando-nos compreensivos e serenos, devotos à nós, à nossa alegria, à nossa família e amigos. Que sejamos modestos — um sorriso desponta de meu rosto quando digo isso a ele, a pessoa menos modesta que conheço —, e que meditemos sobre os aspectos da vida, sobre as realidades e os sonhos, sobre o que é ou não possível quando se crê.

Uma mecha de cabelo faz cócegas em meu rosto e Noah a coloca atrás da orelha, seus dedos molhados com água e delicadeza. Fecho os olhos, apreciando o toque, compartilhando com ele a energia que sinto. Noah não tira a mão do meu rosto quando começa a falar.

— Não pratiquemos a indiferença nem a insensibilidade. Que tenhamos para nós apenas os opostos da rigidez e do desânimo, não nos retraindo nunca, e sim nos estimulando sempre.

Momento três.

Ponho minha mão sobre a dele e respiro fundo o ar pleno, respiro fundo Noah e todas as sensações particulares que chegam até nós. Quando abro os olhos e fito meu futuro marido, sei que ele sente também, sei que este enxoval de maravilhamento está correndo no sangue dele do mesmo modo que está no meu.

Sem desligar nosso contato, Noah pega o último pote — o quarto elemento, a terra fresca e marrom contrastando com o brilho do vidro.

Ele me sorri antes de tirar a mão do meu rosto e levá-la diretamente até a terra. Noah cheira o pequeno punhado que pega. Seus dedos espalham-o pelo chão à minha frente.

— Que este último elemento nos transmita sua consistência; que nos mantenhamos conscientes e resistentes aos fardos da vida, sempre sóbrios e realistas, mas sem jamais deixar de sonhar. Que sejamos respeitosos um com o outro e que respeitemos a vida e as escolhas que tomarmos durante ela.

Faço o mesmo que ele, a terra deixando minha mão em pequenas quantidades de cada vez conforme as palavras vibram por meus lábios e ganham vida no vento.

— Não sejamos materialistas, superficiais e tímidos, nem desdenhemos das coisas que não conhecemos. A terra mudou diversas vezes, e em todas a humanidade conseguiu se adaptar. Que, com essa ligação, consigamos lidar com qualquer adversidade e situação. Que a terra, a água, o ar e o fogo guiem o seu corpo e espírito enquanto somos tomados por nosso amor.

Beijo sua testa e bochechas, finalizando a cerimônia.

— Que a terra, a água, o ar e o fogo guiem o seu corpo e espírito enquanto somos tomados por nosso amor.

Seus lábios encontram os mesmos lugares que outrora beijei nele. Noah sorri , travesso, segurando-me nos braços dele e erguendo-me do chão. No lugar do arroz, os convidados fazem uma chuva com pétalas de rosa. Por estáticos segundos, ficamos apenas nos encarando, como se admirando quão bem ficamos aqui, rodeados de natureza e amor, um nos braços do outro.

— Te amo mais ardentemente que o fogo. Te desejo com mais firmeza que a terra. Contigo, meu coração fica mais leve que o vento e mais puro que a água. Você, Mara Shaw, é o elemento mais certo e presente de todo o universo, e é o único que é caro para mim. Hidrogênio, sódio, ferro... posso ficar sem qualquer um deles e sobreviver. Você é a exceção. 

Beijo-o nos lábios e sussurro que ele também é a exceção. Sinto-me sem forças, completa e alegremente entregue a ele.

Momento dois.

— Pronta para a parte divertida?— Caminha ele até a cachoeira com os convidados em nosso percalço.

— Claro, apesar de discordar de você quanto a parte da diversão.

A sobrancelha dele se arqueia, em dúvida.

— A parte verdadeiramente divertida será bem longe daqui. Na lua-de-mel, para ser mais precisa.

Ele gargalha agora, seus dentes brancos reluzindo.

— Você está linda, Mara Shaw. — Seus dedos penteiam-me os cabelos quando suas pernas estão completamente submersas.

— Vamos ver se continuarei assim depois que a maquiagem borrar.

— Ninguém vai reparar no seu rosto depois que estiver sem vestido.

— Ah, claro— descarrego o comentário em ironia—, assim é bem melhor.

Noah me segura a centímetros da água. 

— É agora, Mara. Depois desse mergulho não há volta. Você terá de ser minha até o fim da humanidade.

Bufo para seu argumento. Como se o que sinto por ele tivesse como ser regredido desde o dia em que nos conhecemos, desde que ele sonhara comigo.

— Se você não nos levar pro fundo logo, Noah, eu mergulho sem você.

Ele acena com a cabeça.

— Entendido.

Seguro o rosto dele, meu aperto firme o bastante em seu queixo para fazer suas bochechas  comprimirem os lábios e formar um pequeno bico.

— Nos vemos lá embaixo.

Noah concorda mais uma vez antes de ceder os braços e deixar que eu afunde. Mergulho mais fundo, meu vestido creme tremeluzindo e flutuando atrás de mim como se eu fosse uma sereia. Noah chega ao fundo mais rápido que eu e ergue uma mão para mim, querendo puxar-me em direção a ele, o que eu permito. Quando nossos corpos colidem, olhamo-nos profundamente. A camisa branca emoldura seu tórax e abdômen e ele traz meu rosto para junto do seu, descansando os lábios nos meus por uns instantes.

Ao abrir os olhos, sinto a pressão de meus pulmões, embora não apenas isso. É uma resplandecência, um calor que aquece minhas juntas e comprime meus órgãos. Mesmo submersa pela água fria me sinto febril. Meu corpo está reagindo a algo novo em seu sistema, quase como uma infecção benigna, algo bem-vindo que merece toda a atenção de cada célula existente.

Meu corpo está reconhecendo que sou de Noah.

Da raiz dos cabelos até as unhas dos pés, da carteira de identidade até o epitáfio de meu caixão— eu sou dele.

Momento um. O último e primeiro.

À partir dele sou Mara Shaw— a esposa, amante, amiga, confidente e futura mãe dos filhos de Noah Elliot Simon Shaw.

Há uma festa dentro de mim. E há outra festa na superfície também. Ao emergirmos, Noah está tão feliz que tenho medo de seu maxilar esteja fraturado, mas é compreensível — estou assim também.

 — Você já está com as roupas de banho, senhora Shaw?— Ele fica absolutamente delicioso a cada vez que diz isso.

— Com certeza.

— Então tire este lindo vestido. Vamos comemorar.

E assim fizemos. 

Fizemos durante a festa.

Na lua-de-mel.

Na volta para casa e nos dias seguintes.

No nascimento de Ani e em cada mês de vida dela.

Quando Syrena nasceu.

Quando nossas filhas aprenderam a falar e andar.

No dia em que trouxeram para casa o primeiro namorado bobo.

No dia em que elas terminaram com o primeiro namorado bobo porque viram que não o amavam.

Quando encontraram o homem certo para elas.

E finalmente no dia em que anunciaram o noivado e então casaram —e todos os dias entre as datas marcantes. 

Porque, quando se é feliz, não apenas passamos os anos vivendo um dia por viver. Nós celebramos a vida, fazemos com que ela valha a pena.

E isso nós fizemos bem.

Como Noah, hoje com sessenta e quatro anos, gosta de dizer: "Não podemos dizer que fizemos só coisas boas durante nossas vidas, mas há duas coisas que posso afirmar, com toda a certeza, que fiz bem. A primeira é levar mulheres para a cama, porque nisso sempre fui mestre; e a segunda é viver plena e ardentemente a vida. E não, não olhe assim para mim, Mara, porque você está presente nas duas situações. Você foi a única mulher que amei, tanto na cama quanto na vida, e fora por você que vivi uma vida tão boa."

E preciso terminar o livro agora mesmo, já que ele está me chamando.

Noah quer uma massagem nas pernas, e está usando o reumatismo como desculpa novamente.

Eu sei que massagem nas pernas é um código para reler kamasutra do jeito certo, e esta tarefa não é feita com os olhos. Ele sabe que sei. Provavelmente é por isso que acha tanta graça em repetir "Preciso de uma massagem nas pernas!" sem parar.

Vocês sabem o que dizem. O tempo passa, o mundo muda, mas há coisas que simplesmente continuam iguais.

Noah continua o mesmo de sempre. Talvez um pouco mais grisalho. E, se possível, mais safado.

Acho que nós nos mantivemos os mesmos depois que as meninas nasceram. Crescemos muito nessa época.

Olhando para tudo, posso dizer que só uma coisa mudara ao longo dos anos, e não fora nenhuma surpresa para nós dois. Nos amamos cada vez mais enquanto as décadas se passavam.

Vocês, talvez, já encontraram alguém que fez com que você o ame cada dia mais. E se não encontraram ainda, fiquem atentos. Ele poderá ser um escroto-mor. O maior de todos os escrotos que já existiram. O zênite na hierarquia dos escrotos.

Mas ele te pegará de jeito.

Por experiência própria, o meu escroto-mor me pegou. E não largou nunca mais.

 


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Notas finais do capítulo

Essas são, literalmente, as notas finais. Quero realçar que tentei retratar a cena em que eles estavam submersos como está na capa da história. O vestido de Mara é o mesmo da imagem. A frase do escroto-mor, para quem não lembra, foi dita de verdade por Mara na Desconstrução.

Terminei o capítulo com lágrimas nos olhos por este ser o último. Sou o tipo de escritora que nunca acha que o que escrevi está bom o bastante, mas tentei não ouvir este pensamento hoje. O casamento deles foi antes de David, antes de Lieben. Muito aconteceu nesse período.

A parte dos elementos pareceu pagã até diante de meus olhos, mas o trecho sobre temperamentos é real. O fogo, a terra, o ar e a água correspondem a cada tipo de temperamento que temos em nós. Há testes disponíveis em vários sites, caso vocês sintam curiosidade em descobrir qual se predomina em vocês.

E preciso agradecer a algumas pessoas. Ester, por ter me incentivado antes mesmo de começar esta história e ter ajudado em tantos capítulos que me é impossível recordar de todos. Ana por ter aguentado horas intermináveis de conversas e lamentações. Amanda, tanto por ter me apoiado quanto por escrever uma história do Sebby— porque Sebby é vida, Amanda, e você sabe. E um obrigada muito especial a cada leitor que deu uma chance à essa fanfic— vocês não sabem o quanto os comentários, mais do que os votos, cooperam e levantam meu humor e inspiração. Tudo o que escrevo é, não só para mim, mas para vocês também. E vocês são incríveis. Obrigada.

Há um crossover de Mara Dyer em andamento chamado A Evolução dos Estilhaços, que retrata como Mara encontrou o rapaz que a leva para outros mundos e acabou parando no Setor 45 (onde se passa a história da autora Tahereh Mafi, escritora de Estilhaça-me), lugar em que conheceu pessoas que se tornaram mais que professores que a ensinaram a dominar seu poder— viraram amigos.

E, como um último suspiro do Desfastio, deixo uma cena extra.

Espero que tenham gostado.

Um forte abraço,

Layla.



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