Segundos depois de entrar no prédio da escola, Seika virou para o muro que Castiel havia pulado, faltavam alguns minutos para a aula começar, e a loja de animais era duas quadras dali, se a garota guardasse o lugar na fila enquanto o amigo comprava a guia, podia ser que chegassem na hora. Pulou o muro e correu até o garoto, que já estava praticamente na porta da loja.

— E-Espera! - exclamou, segurando o ombro do mesmo. - Não achou que eu deixaria você se ferrar sozinho, né?

— Você pulou o muro com o braço quebrado?! - encarou a amiga, espantado.

— Tenho meus truques. - soltou um sorrisinho de lado.

— Louca!

— De qualquer maneira, vamos logo, eu guardo lugar na fila e você pega a corrente, ok?

— Ok... - suspirou, entediado. - Se não der certo, a primeira aula é Artes, de qualquer jeito.

— Ei, eu gosto de Artes! - rebateu.

O plano acabou dando certo, eles compraram e logo estavam no portão da escola, Seika fez menção de pular, mas Castiel segurou seu braço, levemente.

— Nanica, preciso te fazer uma pergunta, ok?

— Claro, pode falar.

— Naquele dia... quando você foi embora. - fez uma pausa, Seika sabia exatamente o que o ruivo ia perguntar.  - Por que você me beijou?

— Emoção do momento? -= encolheu os ombros, dando um sorriso amarelo.

— Seika, eu não acredito em "emoção do momento". - fez aspas com os dedos.

— Então não é problema meu, porque eu já dei minha resposta. - pulou o muro, deixando o amigo para trás.

*/-*

Dois meses depois...

Seika se jogou na cama, entediada, já estava de pijama, e não tinha nada para fazer, afinal, as provas terminaram no dia anterior. Suspirou, sentando-se, olhou para o computador e teve uma ideia, poderia chamar July para jogar algum jogo. Entrou no Skype, encontrando a amiga online, e mandou uma solicitação de chamada por vídeo.

— Oie! - sorriu July, atendendo na hora.

— Hey, July, quer jogar algum jogo?

— Pode ser Minecraft? É que eu estou jogando com um amigo... - soltou um risinho nervoso.

— Claro, mas... que amigo?

— Ah, é um amigo virtual, GamerAR. - sorriu, digitando algo no teclado. - Ah, ele disse que pode ser, eu vou colocar você no mundo assim que entrar no jogo.

— Certo... - respondeu, desconfiada. - Espera! GamerAR?! O jogador que está empatado com você no Ranking Mundial de League Of Legends?

— É... ele mesmo... - coçou a nuca. - Mas, ah, entra logo! Vou colocar você no grupo do Skype, daí a gente conversa por voz.

— Tudo bem... mas olha com quem você anda conversando, July, pode ser perigoso! - comentou.

— Ah, eu sei, mas o Gamer é meu amigo, ele disse ter nossa idade, e, além disso, a gente combinou de só conversar por voz, ou por texto, nada de videochamada. - respondeu. - Bem, tenho que desligar, tchau!

— Tchau!

Minutos depois, Seika estava jogando, enquanto conversava com July e o Gamer, lembrou mentalmente de não chamar July pelo nome, e torceu para que July também lembrasse, a skin do garoto era personalizada, um garoto de pele clara, com olhos azuis, usava um moletom azul escuro, e um pouco da franja preta aparecia, a ruiva se perguntou se o garoto era assim na vida real, também.

— Gamer, essa é minha parceira no crime, Fúria Vermelha. - apresentou July, e Seika quase pode vera amiga sorrir. - Nós somos responsáveis por 98,3% dos assaltos a vilas e minas abandonadas.

— Certo, certo. - o garoto riu. - Prazer, eu sou o GamerAR, como você deve ter percebido.

— Bem, vamos parar de enrolar e jogar logo! Já fizeram alguma coisa interessante?

— Amiga, a gente criou esse mundo em janeiro de 2013, tem MUITA coisa aqui, tipo, o forte na árvore mais alta que a gente achou, e o túnel na Montanha do Sul, os estábulos, nós temos o mapa de todas as minas daqui, e...

— Entendi! - exclamou. - Mas, ah, aonde eu posso fazer a minha casa?

— Você pode morar com a gente!

— Vocês moram juntos com todo esse espaço.

— É-É que quando a gente construiu a casa, a gente tinha pouco material, então fizemos só uma cabana pra economizar madeira.

— E vocês não fizeram outras casas depois? - riu do desconforto da amiga.

— Acho que a gente se acostumou.  - o amigo respondeu. - Mas, se não quiser morar com a gente, pode fazer uma casa. Se bem que seria mais divertido se ficar todo mundo na mesma casa.

— É!

— Okay, vou conseguir material pra fazer uma cama. - começou, andando para uma floresta perto de lá.

— Você não acha que ela vai... - começou o Gamer, falando com July.

— Ser atacada pelos esqueletos? Com certeza. - riu, enquanto a ruiva voltava, fugindo de um bando de monstros. - Hey S... Fúria, a gente tem camas prontas, além disso, parece que você vai precisar de um mapa do lugar, ou de um tour muito bem feito.

— O-Okay.

Jogaram por mais algum tempo, até que Seika resolveu ir dormir, se despediu dos dois, deslogando, e voltou para a cama, sonolenta, olhou para o céu, não conseguia ver tantas estrelas, mas enxergava duas ou três do seu teto de vidro.

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July terminou a construção da sala secreta, localizada embaixo de uma das montanhas, dentro dela estavam dois baús, cheios de comida, algumas armas, armaduras, e madeira. Chamou pelo amigo, que trabalhava em uma das casas dos villagers.

— O que foi? - o gamer perguntou.

— Terminei! - exclamou, mostrando a passagem para o mesmo.

— Pra que isso?

— Vou me esconder da Fúria aqui algum dia desses.

— Mas ela pode dar TP até você. - respondeu. - Ei, posso me esconder também?

— Não se preocupe, eu que ensinei tudo de Minecraft pra ela, mas... bem, eu não expliquei sobre o TP com outros jogadores. - riu, travessa. - Se você quiser, pode se esconder, senão, pra que eu te mostraria o esconderijo?

 - Ok. - riu junto com a amiga.

— Ei, Gamer... - suspirou, entrando no esconderijo. - A Fúria estava preocupada, ela falou que não era bom eu falar com estranhos, muito menos passar meu Skype pra eles, ela falou que podia ser perigoso.

— Mas isso é perigoso, Player. - ele respondeu. - Você deu sorte de eu não estar tentando te enganar ou algo do tipo...

— Eu sei, você é o único amigo virtual que eu tenho que tem meu Skype. - concordou. - Mas ela acha você perigoso.

— Eu nunca faria mal pra você. - o garoto falou, sério. - Afinal, você é minha única amiga.

— A gente se conhece há quanto tempo? Onze meses?

— Dez meses e meio. - o amigo corrigiu.

— Como você consegue decorar tão fácil?

— Três de Dezembro de 2012, o dia em que alguém me tirou do abismo.

July sentiu os olhos marejarem, realmente se importava com o garoto, e, naquele momento, pensou que nunca antes na vida teve tanta vontade de atravessar a tela de um computador. Ficou em silêncio por alguns segundos, tentando segurar o choro, realmente não queria chorar.

— Você ainda tá aí, Player? - perguntou, preocupado.

— Sim... - fungou, baixinho, na esperança que o outro não ouvisse.

— Você tá chorando? - o amigo perguntou, cauteloso.

— N-Não é nada. - secou as lágrimas.

— Não chora, ok? Eu estou feliz por poder conversar com você, e queria que você soubesse que é importante pra mim. - pediu. - Não queria que você se magoasse.

A garota abriu um pequeno sorriso, mesmo sabendo que ELE não veria, e era isso que mais irritava a player, não poder falar direito com o amigo, não poder abraçá-lo, nada do tipo, suspirou, voltando a jogar normalmente.

— Já estou melhor... obrigada. - comentou, tentando manter a voz animada.

— Eu que deveria agradecer...

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*/-*

No dia seguinte, Seika chegou na escola um pouco mais cedo, foi falar com July, a única que já estava na escadaria, e pode ver a amiga conversando pelo whatsapp com alguém.

— Com quem falas, July? - perguntou, brincalhona.

— Com o Gamer... - respondeu, bloqueando o celular, depois de Seika ler algumas das mensagens dos dois. - Ele disse que estava indo para a escola agora.

— Você deu seu número pra ele?!

— Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo!

— Vou confiar em você, então. - suspirou, olhando para os gêmeos, que chegaram na escadaria na hora em que a garota disse aquilo. - Ohayo, humanos!

— Ahn... oi? - riu Alexy, enquanto Armin digitava algo no celular. - Okay, eu não entendi, mas vou levar como algo bom!

— Ohayo é bom dia em japonês. - murmurou o moreno, concentrado. - Ohayo, minna-san...

— Ohayo... - July parecia distraída, e Seika pode perceber que a amiga também mexia no celular.

Armin se afastou, indo para a sala de aula, Seika percebeu que também precisava entrar, e acabou seguindo o garoto, que acabou nem percebendo. Olhou de relance para a conversa no celular do moreno, mas acabou fixando seu olhar em uma mensagem levemente familiar. Foi então que a ruiva percebeu, era a mesma que July havia mandado para o Gamer, então... o AR no final era de Armin?

Resolveu não se intrometer, e passou pelo moreno, entrando na classe, assim que sentou no seu lugar, percebeu que os dois eram os únicos na sala, então, simplesmente largou a mochila no seu assento e voltou para o pátio, passando pelo garoto novamente.

— Boa sorte, gamer. - sorriu, saindo antes que o garoto pudesse pará-la.