Begin Again - Em edição escrita por Hese, Theleader


Capítulo 3
Fearless - Você pega minha mão e me joga de cabeça


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Vocês não fazem ideia de como ficamos felizes com os novos favoritos e comentários tão amorosos do capítulo anterior ♥
Na minha opinião, esse foi o melhor capítulo que postamos até agora. Terminamos pouco antes da meia noite, e como dissemos que tem capítulo novo sábado, não aguentamos e postamos agora mesmo.
PS: Thamires e eu estamos apaixonadas por esse banner ^^



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Nunca gostei muito de adormecer durante alguma coisa, mas naquela manhã me pareceu gratificante acordar com o notebook em meu colo e uma leve dormência nas pernas.

Pela porta da varanda - que esqueci aberta na noite anterior - vi que o tempo lá fora ainda era um pouco nublado, então julguei que não tinha muito tempo desde o amanhecer.

Puxei a manga do meu pijama, me protegendo do vento frio que percorria meu apartamento, e segui até a cozinha, levando o notebook junto a mim.

Com uma xícara de café fumegante em mãos, revi tudo o que tinha escrito na noite anterior. Tive uma sensação estranha de conforto ao perceber que não existia mais nenhum tipo de frase relacionada a Cato. Não fazia ideia de por quanto tempo escrevi durante a noite, mas ao ler certa frases, me lembrei dos meus momentos às duas da manhã me perguntando à quem Peeta amava.

Talvez fosse apenas devaneios causados pelo sono, mas, ali, bem acordada e com uma grande xícara de café em mãos, eu não encontrava nenhuma justificativa para quere-lo batendo a minha porta para que eu pudesse dizer tudo o que senti no dia anterior. E por mais que já soubesse disso, estava incomodada por não tirá-lo da cabeça.

Caminhei novamente até o quarto e me acomodei confortavelmente em minha poltrona com o notebook apoiado em meu colo. Ao meu lado estava minha escrivaninha, com alguns livros antigos e revistas sobre diversos assuntos.

Foi impossível não pensar em como ela parecia maior e mais vazia sem os livros de Cato preenchendo maior parte do espaço. Mas aquilo também me fez perceber que talvez eu finalmente pudesse preencher aquele espaço vazio com algo que fosse melhor para mim.

E acho que não era só em relação a estante que eu me sentia assim.

***

Escorreguei para fora da cama e rastejei em direção a porta. Agarrei meu celular quando cheguei à cozinha, mas estava mudo e apagado. Completamente sem chamadas ou mensagem interessantes.

Eu não tinha muito o que fazer, mas não sentia vontade de deixar meu apartamento, que pela primeira vez em meses desde que Cato o deixou, parecia aconchegante.

Depois de acabar com o conteúdo de minha xícara, segui até a sala. Liguei a televisão, mas não dei muita importância no que se passava, batendo minhas unhas sobre o teclado no notebook.

Passei longos minutos relendo o que tinha escrito, orgulhosa de mim mesma. Não precisava de falsa modéstia. Aquilo estava bom e era gratificante admitir.

Só percebi que meu celular tocava quando o senti vibrar ao meu lado. O nome de Annie apareceu na tela, e eu não tardei em atender.

***

Observei algumas crianças adoráveis se divertindo com brinquedos dispostos só para distraí-las. Quando Annie me convidou dias atrás, não imaginei que seria assim.

— Isso é fantástico, não? - Ela disse ao se aproximar com Henri nos braços. - Aposto que Finnick vai adorar.

— Eu concordo com você, mas não acho que devia guardar segredo. - Estendi os braços em direção ao bebê, que logo se inclinou para que eu o pegasse. - Afinal, são apenas fotos. - Completei ao acariciar os fios claros na cabeça de Henri, enquanto o mesmo se divertia com o laço de minha blusa.

— É como um presente, perderia a graça se não fosse surpresa.

— Citando seu marido - falei, fazendo aspas com a mão livre - "eu passei a ter mais medo de você depois que virou mãe". Por isso não vou discordar.

Annie revirou os olhos. A recepcionista nos chamou, encerrando o assunto.

Seguimos pelo corredor, pintando em um tom claro, o que fazia com ele parecesse mais iluminado do que realmente era.

O estúdio era bem alegre, feito perfeitamente para combinar com uma criança. Annie se aproximou, analisando tudo.

— Quando você disse que iríamos nos encontrar de novo admito que não imaginei isso.

Me virei surpresa, e encontrei Peeta. Ele estava vestido formalmente, mas os primeiros botões de sua camiseta estavam abertos, deixando sua aparência menos séria.

Ele deu alguns passos para a frente, se aproximando de forma segura. Prendi a respiração por um breve segundo ao sentir seu perfume.

— Você não voltou durante esses dias. - sua voz saiu como um sussurro direto para mim, e agradeci mentalmente por Annie estar um pouco distraída.

Ele não parecia estar chateado, e expressava um sorriso contido, mas percebi um fio de decepção em sua voz

Eu pensei em dizer algo, mas fiquei completamente sem palavras. Annie tocou meu ombro após sentar Henri na cadeirinha, e agradeci mentalmente por ela me salvar daquela situação.

— Olá. Peeta, certo? - ela esboçou um sorriso para ele, que retribuiu ao concordar. - Sou Annie, e essa é minha...

— Katniss.. - Ele murmurou. - Eu já tive o prazer de conhece-la. - Annie me encarou com uma curiosidade no olhar. Sorri de forma sem graça enquanto ajeitava alguns fios rebeldes de minha franja. Peeta caminhou em direção à pequena cadeira e se abaixou, ficando na altura de Henri. - E esse campeão?

Peeta e Annie iniciaram uma conversa sobre Henri, enquanto eu permaneci no mesmo lugar, observando os dois.

Annie obviamente me perguntaria mais tarde sobre o que aconteceu, mas no momento eu não me importava com aquilo. Eu não sabia dizer se Peeta era indiferente ao que dissera antes, ou se só estava sendo profissional quando mudou de assunto tão sutilmente daquela forma.

Durante a sessão de fotos, eu foquei em Henri, e Annie fez o mesmo - mas obviamente por motivos diferentes - se derretendo por cada pose que o pequeno fazia.

Desviei meu olhar para Peeta vez ou outra e me encantei com a intensidade que se formava em seu olhar.

Era curioso vê-lo fotografando crianças, pois a atmosfera era completamente diferente das fotos que vi em sua câmera durante nosso primeiro encontro.

Antes que eu pudesse me dar conta, a sessão acabou. Annie bateu palmas animada, seguindo até Peeta para ver as fotos.

Eu me aproximei para pegar Henri, e quando me virei rapidamente, vi Peeta me seguindo com o olhar. Baixei a cabeça, não queria que ninguém me visse ruborizando.

— Katniss, você pode trocá-lo? - Annie me encarou sorrindo enquanto caminhava ao lado de Peeta para o computador.

Ajeitei o pequeno chapéu na cabeça de Henri e o deitei no sofá que havia ali perto. Também queria ver as fotos, mas me concentrei em minha tarefa, vestindo Henri em seu macacão azul sem mangas antes de me juntar a eles.

Annie soltava uma pequena risada a cada troca de imagem e o elogiava pelo trabalho, mas Peeta apenas discordava, dando todos os méritos ao bebê, da mesma forma gentil que havia usado comigo há alguns dias.

— Acha que Finnick vai gostar? - Me inclinei com cuidado para ver melhor e sorri com a cena. Henri estava deitado e gargalhava alegremente em direção a câmera. Me afastei, o ajeitando em meus braços e concordei.

— Sem dúvidas! Aposto que ele vai querer uma moldura disso - afirmei repleta de certeza. Levantei a cabeça discretamente, olhando para Peeta - E eu também, afinal elas ficaram muito boas.

Ele sorriu. Eu desviei o olhar e me concentrei em Annie, quando ela se afastou para resolver mais alguns detalhes sobre as fotos.

Não é como se Peeta me deixasse desconfortável, mas eu senti uma vontade inexplicável de correr atrás de dela como uma criança assustada.

Percebi que Peeta olhava sorridente para Henri em meu colo, mordi os lábios.

— Quer pega-lo?.

Ele pareceu surpreso com minha pergunta, e respondeu que sim, um pouco receoso.

Nos aproximamos e passei Henri para seus braços.

Ele o balançou lentamente em seu colo e sorriu de forma serena quando Henri o encarou.

— Hum... - murmurei automaticamente, observando à cena.

— O que foi? - Peeta perguntou, sem tirar os olhos do bebê.

— Isso parece mais adorável do que deveria.

Peeta gargalhou e Henri se agitou em seu colo por conta disso.

— O que isso quer dizer?

— Não sei - sorri - falei sem pensar.

— Então você poderia pensar um pouco e me dizer porque não te vi mais na cafeteria.

Abaixei a cabeça. Todas as minhas esperanças de não tocar nesse assunto foram jogadas pela janela.

— Você não sabe o que dizer? - ele murmurou, e me odiei por não conseguir admitir o óbvio.

Não parecia certo dizer que não estava pronta, que tinha medo de todas as sensações e do conforto que senti aquele dia. Mas Peeta esperava algo, e eu me odiaria mais ainda se não o respondesse.

— Eu não pude voltar por...

— Katniss, você precisa ver isso! - Annie chamou nossa atenção e suspirei aliviada. Ela se aproximou com um pequeno panfleto colorido, onde algumas molduras estavam destacadas e sorriu para Peeta ao vê-lo com Henri nos braços.

Annie me olhou, e eu olhei para a porta, considerando por quanto tempo eu teria de correr para chegar até ela.

Henri se agitou no colo de Peeta, com uma expressão chorosa. Annie rapidamente esticou os braços para pegá-lo, e Peeta o entregou com um cuidado extremo, como se Henri fosse quebrar.

— Ei, não chore. - ela sussurrou ao bebê enquanto se afastava, nos deixando sozinhos novamente.

Peeta sorriu de uma maneira encantadora e piscou os olhos em minha direção. Suspirei imaginando que ele ainda desejava ouvir minha resposta.

— Imagino que esteja pensando.. - ele murmurou. Mordi os lábios em resposta. - Espero que possa fazer isso durante o caminho para um café.

— Está me convidando para sair? - não pude evitar o tom de voz elevado, mas Peeta pareceu se divertir com o meu susto.

— É o que se faz quando gostamos de alguém, não é? - ele perguntou como se fosse óbvio.

Eu precisei de alguns momentos para retomar a fala.

— Só estou surpresa porque achei que estaria chateado.

— Acredito que você tenha um bom motivo, mesmo não sabendo explicá-lo. - Peeta balançou a cabeça levemente e forcei um sorriso. Seus olhos focaram nos meus, me deixando totalmente sem graça. - Mas você ainda não aceitou o convite.

— Eu adoraria.

***

Eu já olhava minha imagem no espelho há minutos. Cobri o rosto com as mãos, quase desejando não ter aceitado o convite para jantar que Peeta me fizera pouco antes de nos despedirmos mais cedo, logo após um breve café.

Não havia nada de errado no meu vestido azul - pelo menos não a ponto de me incomodar - nem no meu cabelo preso em um rabo de cavalo elaborado. Minha maquiagem era simples, só ousando mais no batom vermelho.

Meu olhar voltava para meus pés, calçados por saltos pretos. Cato nunca gostou que eu usasse sapatos assim, e mesmo que eu ainda o fizesse por teimosia às vezes, eu comecei a pensar que era errado.

Meu celular acendeu, indicando uma nova mensagem. Sorri ao ver o nome de Peeta na tela, e me apressei ao ler que já estava me esperando.

Encarei meu reflexo novamente antes de deixar o apartamento. Me sentia completamente insegura com aquilo, mas tudo mudou ao cruzar a portaria e ver Peeta escorado no carro, sorrindo.

— Não precisa dizer nada.. - murmurei ao me aproximar. Ele soltou uma risada e ajeitou as mangas da camisa social, as dobrando para cima.

— Não gosta de ouvir sobre o quanto é bonita? - Ele se aproximou, dando alguns passos para a frente. Senti minhas bochechas queimarem e abaixei o olhar. - Assim fica ainda mais.

— Não precisa me deixar sem graça o tempo todo. - O encarei, esboçando um sorriso. - Você também está bonito...

— E com fome. - Ele disse, me fazendo gargalhar. - Espero que goste de massa. - Concordei ao vê-lo abrir a porta do carro.

Caminhei em sua direção e agradeci antes de entrar. Peeta deu a volta e em poucos minutos já estávamos indo em direção ao restaurante.

O rádio estava ligado em uma estação qualquer, e confesso não estar prestando tanta atenção pelo nervosismo. Estava tentando a todo custo não ser pega olhando para Peeta, mas eu não conseguia desviar o olhar.

Como ele não podia perceber que ficava tão lindo daquela forma, concentrado na estrada e movendo os lábios ao som de uma música que eu não me preocupei em prestar atenção.

— Você está muito quieta.

— Ah, desculpe por isso - olhei para as mãos cruzadas em meu colo, que começaram a suar - Mas é bem mais fácil ficar quieta do que falar uma bobagem.

— Você não me parece o tipo de pessoa que fala besteiras, Katniss. - ele bateu os dedos no volante, de acordo com a música e me olhou por um breve momento antes de voltar a atenção para a estrada. - Vou adorar ouvir qualquer coisa de você, não fique se fachando.

— Eu não estou fazendo isso. - Sussurrei para mim mesma e fechei os olhos desejando que ele não tivesse escutado - Só não sei onde colocaria minha cara se admitisse que estava te olhando e pensando que você estava lindo.

Peeta gargalhou. E aquilo fez com que eu não me arrependesse de ter sido tão direta.

— É bom saber que eu não sou o único tentando não ser pego observando.

Peeta me olhou tão intensamente, que senti minhas bochechas arderem com tamanho rubor. Mas não desviei o olhar.

Uma nova canção se iniciou na rádio e Peeta bateu os dedos no volante ao ritmo da música. Balancei levemente a cabeça ao me concentrar no som de violão que ecoava pelo carro.

Falamos sobre banalidades até que estacionamos em frente à um restaurante de estilo rústico.

Ele desceu do carro, dando a volta rapidamente para abrir a porta para mim. Segurei em seu braço automaticamente, e me senti envergonhada por fazê-lo. Pensei em soltá-lo, mas Peeta apertou levemente nossos braços juntos a seu corpo, me deixando mais confortável com aquilo.

Sorri maravilhada com a aparência do lugar escolhido por Peeta.

Seguindo um caminho feito por árvores de pequeno porte, chegamos a uma varanda, onde algumas mesas circulares estavam dispostas, decoradas apenas com velas coloridas e pequenas flores.

Passamos pela entrada, e foquei mais ao fundo, onde um bar de madeira escura como as mesas estava repleto de prateleiras com bebidas, que pareciam mais enfeitar o lugar.

A simplicidade trazia um ar romântico e confortável e me alegrei com o barulho da movimentação e o cheiro de comida.

— Então, o que achou? - Peeta perguntou, quando nos sentamos na mesa de dois lugares ao lado de fora. Indicada pelo maitre.

Sorri ao ver traços de ansiedade em seu olhar e naquele momento, não me arrependi de ter aceitado o convite.

— Eu amei.

Notei as pequenas luzes douradas penduradas nas árvores bem às costas de Peeta, e suspirei.

— Fico feliz – ele falou – Achei que esse lugar fosse simples demais.

—Está brincando, não é? Eu achei simplesmente perfeito.

Peeta sorriu, e eu fiz o mesmo.

Cruzei as pernas, e deitei a cabeça, observando enquanto ele analisava o menu. Mordi os lábios, me perguntando se aquele homem não tinha um limite para ser encantador.

Quando ele me pegou olhando, com a sobrancelhas franzidas e um sorriso travesso, peguei meu cardápio a procura de algo que me interessasse.

— Está em dúvida? - Ele disse divertido, provavelmente por ter me visto espiar.

— Um pouco... - murmurei passando os olhos pelo cardápio pela primeira vez. A especialidade era massa, e me surpreendi com a quantidade de pratos que não conhecia. - Já comeu um Tetrazzini de galinha? - Perguntei o encarando. - Isso é bom?

Peeta soltou uma leve risada e concordou com um aceno. - Ele é ótimo, mas não posso dizer se vai gostar.

Encarei o cardápio novamente e suspirei ao reler o nome.

— Acho que vou aceitar esse desafio. - Arqueei as sobrancelhas ao dizer, o fazendo rir novamente.

O garçom se aproximou para a busca de nossos pedidos. Peeta ajeitou a postura ao respondê-lo:

— Um Tetrazzini de galinha e a massa especial. - Ele sorriu gentilmente para o homem ao finalizar. - Uma garrafa de Pinot Noir.

O homem se retirou e foquei em Peeta. Ele se inclinou para frente com um belo sorriso nos lábios e fiz o mesmo.

— Pinot Noir? - Perguntei, imaginando o gosto que teria. Ele piscou em minha direção ao concordar.

— Vinhos brancos são ótimos para acompanhar massas com molhos cremosos.

— Isso foi bem observador. - Comentei ao devolver o cardápio para seu devido lugar. - Talvez eu possa dizer algo interessante quando formos comer hot-dog na rua.

— Você vai ter a oportunidade. - Peeta gargalhou ao dizer, e bateu os dedos sobre a mesa. - Hot-dog com toda certeza é minha ideia de segundo encontro.

Sorri com o pensamento e o imitei, batendo meus dedos sobre a mesa.

— Pensei que esse era o segundo. Tomamos um café há alguns dias.

— Bom, - Ele sussurrou. - assim parece mais oficial.

Sorri com suas palavras e me ajeitei na cadeira ao ver o garçom se aproximar com nossos pedidos.

Agradecemos antes dele se retirar e desenrolei o guardanapo que envolvia os talheres.

O cheiro era maravilhoso e minha barriga roncou quando encarei o prato. Arregalei levemente os olhos e toquei minha barriga, desejando que Peeta não tivesse ouvido. Mas ele gargalhou e foquei em seus olhos, envergonhada.

— Isso não foi nada charmoso, certo? - sussurrei segurando uma risada.

— Achei encantador. - Ele respirou fundo, desenrolando seus talheres. - Espero que você goste.

Abaixei o olhar para seu prato. A massa parecia saborosa e sua aparência era tão bonita quanto a minha.

Toquei o Tetrazzini com o garfo, e seu cheiro pareceu melhorar ainda mais. O levei até os lábios enquanto Peeta nos servia de vinho branco, e fechei os olhos para apreciar o gosto melhor.

— Hum... - murmurei, tentando demonstrar minha satisfação. - Isso está incrível!

Peeta apenas balançou a cabeça por estar com a boca cheia, mas seu olhar também demostrava satisfação.

Segurei a taça com delicadeza e a levei até os lábios, provando o gosto suave entrar em sintonia com o molho cremoso. Peeta tinha razão.

— Sabe, eu percebi que sabe mais coisas sobre mim do que eu de você. - Ele disse interrompendo meus pensamentos.

— Isso não é verdade...

— Você sabe sobre parte de meu trabalho, tradição natalina e agora um pouco sobre meu amor por gastronomia.

— Não é o suficiente. - eu disse, o fazendo sorrir.

— Pergunte o que quiser. - Peeta se inclinou para frente de forma divertida. - Mas terá que responder também.

— Conte-me sobre seu trabalho. Você disse "parte".

— Fotografar crianças é interessante mas eu prefiro outro tipo de estilo. É uma área diversa. - Ele pareceu pensar. - Você vai descobrir melhor..

Sorri com suas palavras. Ele inclinou a cabeça indicando ser a minha vez.

— Estou escrevendo um livro. - Me limitei a dizer. - Você também vai descobrir melhor sobre isso.

— Tenho certeza de que vou adorar fazer isso. - Abaixei o olhar para meu prato e senti nossos dedos se tocarem. Ele sorriu quando o olhei e os afastou, voltando a segurar seu talher. - Não fique sem graça, você já suspeitava sobre isso.

Balancei a cabeça. Não sabia bem o que dizer, pois estava concentrada na sensação de seu rápido toque. Seu dedo estava gelado, mas eu gostei de senti-lo.

— Realmente gostou do prato? - Ele perguntou, me despertando novamente. Só assim percebi que estava parada sem tocar na comida.

— É incrível, Peeta. Estou orgulhosa de minha escolha duvidosa. - Tentei brincar para mudarmos o rumo, ele riu, mas pareceu perceber. - O seu também parece ótimo.

— Você quer experimentar?

— Não me parece muito educado roubar comida de seu prato durante nosso primeiro encontro...

Peeta empurrou seu prato com delicadeza em minha direção, e levantou as sobrancelhas fazendo uma careta engraçada.

— Não estou vendo nada. - Ele brincou, me incentivando a comer.

Levantei o garfo e o levei em direção ao seu prato, me servindo com uma porção leve de massa. Ela continha salmão, manjericão e creme, e o sabor era maravilhoso.

— Gosta?

— Vou confiar em você para escolher meus pratos agora.

Ele pareceu satisfeito com minha observação, e começamos uma conversa gostosa e ininterrupta durante o resto do jantar.

Ele perguntou sobre meu relacionamento com Annie, e ouviu atentamente fazendo algumas perguntas de vez em quando.

Eu não via motivos para privá-lo de algo sobre isso, e em resposta me contou sobre seu amigo da cafeteira.

— Ele está quase conseguindo. - Peeta comentou quando perguntei sobre a garçonete e ri com suas palavras. - Eu estava voltando com ele, com a esperança de encontrá-la novamente.

Suspirei envergonhada.

— Eu vou compensar isso.

— Já está fazendo. -Peeta sorriu gentilmente e aceitou o novo cardápio que lhe foi entregue pelo garçom. - Sobremesa. - Ele disse.

— O que acha de escolher?

— É uma honra. - Ele brincou. Em seguida indicou algo no cardápio para o garçom que saiu apressado. - Não me olhe assim. Não vou contar o que é.

— Eu não ia perguntar. - menti descaradamente, segurando a risada. - Que má impressão tem de mim!

— Somente verdades, Everdeen. - Ele disse meu nome em um sussurro, e me repreendi por achar extremamente sexy.

O casal de senhores que estava ao nosso lado se levantou, e olhei em volta para me certificar do movimento. Ainda havia música, e a maioria das pessoas ainda apreciavam seus pratos de entrada.

Acima de nós, algumas nuvens espalhavam-se entre as estrelas. Peeta também as observava e imaginei se desejaria tirar uma foto disso.

— Tem fotografias do céu a noite? - Perguntei voltando a olhar para cima.

— Você se espantaria com a quantidade. - Ele comentou, e senti seus olhos sobre mim. - Queria tirar uma foto sua agora.

Abaixei o olhar e foquei em seus olhos azuis. Ele mantinha o mesmo brilho que vi na volta da cafeteira, ao falar sobre sua família.

— Eu permito. - eu disse, passando meu celular para ele sobre a mesa.

Peeta gargalhou e o aceitou de bom grado, fingindo uma pose completamente exagerada para bater a foto.

— Não é o mesmo, mas vai ficar bonita. - Ele disse antes de tirá-la, e me entregou após fazê-la. - O que acha?

Sorri para a tela ao ver minha imagem. Ela estava realmente bonita, e a iluminação não estava tão pavorosa. O que era bom, considerando o fato de estarmos sem uma câmera profissional.

— Minha vez. - Virei o celular em sua direção e ele sorriu para mim, com uma intensidade no olhar. Sem dúvida é uma das melhores fotos que já tirei.

— Deixe-me ver!

O garçom retornou quando passei o celular para suas mãos. Peeta o apoiou sobre a mesa e agradeceu quando fomos servidos.

Sorri para meu prato e o encarei.

— Mousse?

— Vamos ter tempo para comer algo exagerado. Você vai adorar esse. Confia.

Peguei a colher de sobremesa e segurei o potinho redondo, tocando sua decoração de frutas e retirando uma boa quantidade para experimentar.

Peeta pegou meu celular e o desbloqueou para ver a foto, mas ainda mantinha seus olhos em mim.

Revirei os olhos para ele e recebi o mesmo em resposta. Toquei a ponta da colher nos lábios antes de come-lo, e me surpreendi com o gosto novamente.

Me parecia um mousse comum, mas seu gosto era forte por causa das frutas.

— Eu sei que você gostou. - Ele tinha razão. Comi novamente e repeti o movimento pela terceira vez quando continuou. - Essa foto ficou incrível, mas prefiro a sua.

— Não precisa ser galante o tempo todo. - aceitei o celular de volta, e ele fingiu estar ofendido. - Seu bobo.

Ele riu e focou em sua sobremesa. Observei seus movimentos e reparei o quanto gostava de ficar sozinha com ele. Nosso jantar estava acabando, e me senti ansiosa pois queria fazê-lo por mais tempo.

Peeta pediu licença e foi pagar a conta, apesar de alguns protestos meus sobre sua insistência em fazê-lo sozinho.

Me levantei, ajeitando o vestido. Segui em passos curtos até a entrada, me escorando na porta à espera dele. Sorri quando ele se virou, vindo em minha direção.

— Vou me sentir culpada por não ter ajudado na conta.

— Não se preocupe - Peeta riu - eu deixo você pagar o hot-dog na próxima vez.

O som de um raio caindo não muito longe de nós me assustou, e eu segurei em seu braço por instinto. Peeta mordeu os lábios, controlando uma risada.

— Acho melhor irmos se não quisermos ficar encharcados.

Da mesma forma que fiz quando chegamos, passei minha mão por seu braço, porém me sentindo muito mais confortável com o feito daquela vez.

Olhei para cima, vendo que grande parte das estrelas foram encobertas por nuvens de chuva.

— Que bom que já temos uma recordação - Peeta comentou, quando me pegou olhando. Ele provavelmente se referia as fotos que tiramos antes, que felizmente capturam um pouco do céu naquela noite - O que me lembra, vou querer essas fotos mais tarde.

Eu responderia que sim, mas fui pega de surpresa por uma gota de chuva que caiu bem no meio da minha cabeça.

— Tarde demais - brinquei, pondo as mãos para cima, sentindo-a ficar cada vez mais molhada.

Peeta riu, mexendo nos cabelos que começavam a cair por sua testa detalhada por pequenas sardas claras.

— Acho melhor apressar o passo.

Como num passe de mágica, a chuva ficou mais forte, quase a ponto de encharcar à ambos.

— Concordo.

Peeta passou o braço pela minha cintura, me puxando para perto, poucos antes de começarmos a correr. Durante todo o percurso até o carro, não conseguimos controlar a risada, trocando olhares divertidos a todo momento.

Ele abriu a porta para mim, só me soltando quando estava sentando corretamente. Segundos depois que ele o fez, senti o frio me atingir, e meu corpo reclamar da falta do dele próximo a mim. Nem percebi quando ele entrou no carro, ligando-o em seguida.

Peeta e eu ainda ríamos, quando ele ligou o rádio. Alguma música suave tocada somente com um piano começou, e eu olhei pela janela; tinha algo no jeito que a rua ficava quando estava chovendo, havia um brilho no asfalto.

A força das gotas aumentou, causando barulhos altos dentro do carro.

Percebendo isso, Peeta aumentou o volume da música, balançando a cabeça. Mesmo usando o meu melhor vestido, minha vontade era descer do carro ali mesmo, e dançar com ele na chuva torrencial.

— Eu devo estar horrível – comentei, limpando cegamente abaixo dos meus olhos, provavelmente repletos de minha maquiagem borrada.

— Eu acho que isso é uma coisa impossível – Peeta comentou, dando de ombros.

Ele passou as mãos pelos cabelos um pouco úmidos, sem noção do quanto aquilo me fazia quere-lo. Eu sorria, observado atentamente cada detalhe nele. Eu poderia passar a noite toda fazendo aquilo, mas nunca seria capaz de me cansar.

— Espero que apesar disso, a noite tenha sido divertida.

— Na verdade, eu diria que essa foi a cereja do bolo – comentei, rindo em seguida.

O caminho até minha casa foi mais rápido do que eu desejava. Eu tive vontade de pedir para que Peeta dirigisse mais devagar, para que a estrada acabasse aos pouco, e para que eu pudesse ficar mais tempo no banco do passageiro, aproveitando a conversa suave.

— Esse é o mais próximo que eu consigo chegar da entrada – ele falou, olhando emburrado para os carros.

— Não tem problema - falei sinceramente - Obrigada pela noite.

Peeta se esticou, me impedindo de abrir a porta.

— Não tem que se despedir. A noite só acaba quando eu te deixar na porta do seu prédio.

Concordei com a cabeça, sem capacidade de dizer nada. Ele desceu do carro, dando a volta rapidamente até chegar à mim.

Quando abri a porta, vi que Peeta tinha tirado o casaco, estendendo para que eu me abrigasse debaixo. Por já estar mais seca, agradeci, movendo os lábios silenciosamente.

Desci do carro o mais rápido que pude, e agarrei sua cintura, senti o calor do seu corpo espantar quando tipo de frio que a chuva poderia trazer.

Atravessamos a rua, desviando dos carros mal estacionados pelo caminho. Subi as escadas escorregadias com um pouco de dificuldade por conta dos saltos, mas obtive um pouco de firmeza segurando Peeta um pouco mais forte.

Ele abaixou o casaco encharcado quando estávamos em segurança sob a varanda. Ele estava um degrau abaixo de mim, quase igualando nossas alturas.

— Posso agradecer agora? - brinquei.

— Bom, seria bom ouvir sua voz uma última vez essa noite - ele sorriu.

— Gracinhas a parte, eu realmente adorei essa noite - pus alguns fios de cabelo molhados atrás da orelha, olhando em seus olhos - Foi praticamente perfeita.

— Digo o mesmo.

Quando Peeta sorriu, imaginei que aquela deveria ser a nossa despedida, mas eu não seria capaz de deixá-lo ir daquele forma.

Depois de todos aqueles meses, ele me pegou pela mão, me fazendo mergulhar de cabeça. Não faria mal me aprofundar um pouco mais.

— Peeta... - murmurei, segurando seu braço quando ele seguiu para ir embora.

Ele se virou, e eu dei alguns passos para frente, sentindo sua respiração se misturar com a minha.

Ignorei o fato de que cada um tinha descido um degrau, e agora a chuva nos molhava. Estiquei os pés, firmando minhas mãos seus braços, que logo apertaram minha cintura de uma forma delicada. Fechei os olhos, só sentindo seu perfume cítrico, que pela chuva parecia mais evidente.

Rocei nossos lábios, sentindo meu coração se apertar em meu peito, de uma forma muito boa. Nem mesmo a água gelada que nos banhava poderia acabar com o calor que irradiava de nós dois.

Não aguentei por muito tempo, e juntei meus lábios febris no de Peeta.

Me senti extremamente feliz quando ele correspondeu. Minhas mãos passearam inseguras por seus braços, raspando as unhas sem querer, mas isso só pareceu incita-lo mais. Senti minha cintura ser erguida, e por pouco meus pés não se afastaram do chão.

Sua língua macia delicadamente tocou a minha, e espalhou arrepios por todo meu corpo.

Sua camisa molhada se grudou ao seu corpo, e imaginei que meu vestido estava da mesma forma.

Segurei em sua nuca, buscando desesperada por mais contato. Uma das mãos de Peeta soltou-se de minha cintura, e passou a explorar minhas costas. Ela ia desde a minha nuca, até a base da minha coluna, fazendo com que eu me esforçasse para não derreter em seus braços.

Sem fôlego, nos separamos.

— Agora posso dizer que foi perfeita - falei, próxima aos seus lábios vermelhos.

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