O Retorno dos Antigos escrita por João Victor Costa


Capítulo 8
Mundo de Respostas - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Vou postar novos capítulos agora todas as segundas, o que vai me dar um pouco mais de tempo para revisá-los e não atrasar. o

Boa leitura!



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Chris trancou-se em seu quarto e procurou pelo pequeno baú branco e empoeirado escondido dentro do colchão de sua cama. Ele o pegou e o abriu, tirando alguns pequenos objetos de cima para alcançar o que havia no fundo. Um livro com a capa e as páginas desgastadas pelo tempo.

Histórias de Teceu. Esse era o nome. Um dos poucos livros que foram salvos, antes de serem queimados em uma grande fogueira. Um livro proibido na sociedade na qual vivia.

Chris estava mesmo procurando por uma história específica. Ele sabia um pouco sobre ela. Já havia passado o olho por palavras e frases que a descreviam, mas não havia parado muito bem para acompanhá-la. A história daquela magia.

Atmaya Patray…

Enquanto Chris a procurava, o leopardo Alex saiu da mochila jogada na cama, na forma de sua densa fumaça preta e branca, e se materializou ao seu lado. Era estranho como um leopardo poderia caber ali. Dentro de sua mochila. Não fazia peso, nem volume. Se alguém a abrisse, não veria nada demais a não ser que procurasse por algo especificamente considerado sobrenatural. O espírito vinha de dentro das palavras.

Era estranho. Era magia.

— Hey. - disse Chris. - Você sabe onde está a sua história?

Sim. Chris não ouviu, mas sentiu. Sentiu como se fosse uma mensagem enviada diretamente à ele através de telepatia. Como se a mente do humano e do espírito estivessem compartilhadas.

— Hã?

Com sua grande pata de felino, o espírito passou as páginas com tanto cuidado quanto Chris poderia fazer, até parar no capítulo que queria.

— Obrigado. - disse Chris acariciando seu pescoço. - Hm. Vamos ver o que temos aqui.

Ele já havia dado uma breve olhada naquele capítulo antes, mas nunca havia parado para entendê-lo muito bem. Era um livro cheio de histórias impressionantes e aquela fora uma das quais nunca prestara muita atenção.

Max Ruberth. Um dos melhores hospedeiros da escrita, que vivera a cerca de três mil anos atrás. Na época também havia sido o líder da Décima Capital e presidente do Conselho da Magia…

Chris não se lembrava direito, mas agora tinha certeza. Aquela tinha sido mesmo uma das palavras escritas por ele. O livro afirmava que Max havia criado um dicionário inteiro de palavras que ele mesmo inventara. Cada uma com um poder específico.

Por um momento, Chris pensou que Katy tivesse esse dicionário de três mil anos, mas é claro que não tinha. Aquela palavra em sua mochila era a única que estava ali, sendo usada como um exemplo de todas que ele escrevera. O livro original, completo com todas elas, mesmo se estivesse inteiro depois de todo esse tempo ou. pelo menos, ainda houvesse alguma cópia, deveria no mínimo ter sido queimado sessenta anos atrás, junto com todos os outros documentos e obras relacionadas.

Katy escrevera aquelas palavras baseada naquilo. Ali mostrava exatamente o seu significado.

Atmaya Patray: Convidar ou obrigar um espírito para seguir e servir ao seu dono enquanto usa algum compartimento como receptáculo…

Ele se sentiu mal pela palavra “obrigar”, mas quando olhou para Alex ao seu lado, notou que ele realmente estava ali por livre e espontânea vontade, como um voluntário ao convite de ajudá-lo.

Havia uma breve história também, quando Max havia usado essa mesma magia para ajudar um amigo, o hospedeiro da Morte da época, para guardar uma parte de seu espírito patrono - a parte da Morte que o perseguia e lhe dava poderes - em sua mochila.

Chris sentiu um tamanho desconforto por saber disso. Será que pela palavra ter sido usada para aprisionar uma parte do espírito da Morte, ele também poderia estar amaldiçoado ou algo assim?

Sentiu que não. A diferença era que Chris não estava com um espírito maligno guardado ali, contra a sua vontade. Estava com um espírito que poderia chamar de amigo, que ouvira o chamado de Katy e se permitira acompanhar o garoto em sua mochila para onde eles fossem.

Porém, seus bons primeiros momentos ao lado dos espíritos teriam de esperar. Seu quarto estava trancado, mas ele ouviu, de forma abafada, alguém tocando a campainha do portão do apartamento.

Foram três batidas. Fortes e únicas, como se as pessoas que a faziam tivessem bastante experiência naquilo.

Quando viu seu leopardo se desmaterializando e voltando para a mochila quase que imediatamente, Chris soube que havia alguma coisa de errado.

— Já vai! - gritou Rose

Seu irmão estava trabalhando, mas sua mãe ainda estava em casa. Chris pegou a mochila, destrancou desesperadamente a porta do quarto e correu para a entrada da frente, no exato momento em que a mãe a abria.

Chris arregalou os olhos ao perceber os homens parados diante deles.

— Não...

Andrea finalmente conseguira tirar uma razoável noite de sono desde que ela e os amigos voltaram para a biblioteca

Depois da revelação sobre o incidente, a cidade estava completamente em estado de alerta. De vez em quando, ouviam alguns helicópteros passando e, constantemente, carros e patrulhas policiais para todos os lados, revistando as ruas e as casas, procurando pelas duas pessoas que foram identificadas como executores do ataque, com suas respectivas fotografias em mãos, de qualidade razoável capturadas pelas câmeras de segurança.

Igor sabia dos riscos e quando concordara com o plano, tinha quase certeza de que sua identidade ficaria comprometida e seria revelada. Renata, entretanto, lamentou o fato de também não ter se passado completamente despercebida aos olhos das câmeras. Xingou por ter sido detectada no momento em que usaram a magia do Espírito Mensageiro, mesmo que estivesse invisível no momento.

Apenas Andrea permanecia incógnita, enquanto, através dos olhos de Aquila, observava toda a movimentação do lado de fora, pensando no plano de invadir uma poderosa prisão no coração da ilha que era a antiga capital da Lua, ao mesmo tempo em que ajudava os amigos a arrumarem todas as coisas e se livrarem de quaisquer vestígios de que estiveram por ali.

Sua habilidade de observadora era bastante útil para essas coisas. Enxergar tudo nos mínimos detalhes. Observava em poucos segundos o que uma pessoa normal levaria até horas. Andrea sabia que em breve aquele lugar seria invadido e inspecionado. Odiaria deixar qualquer tipo de pista. A Cavalaria se preocupava em vigiar o céu e as estradas, mas nunca imaginariam que eles sairiam por uma das portas de Dáo Shigar. O hospedeiro dele havia feito um ótimo trabalho.

Andrea se considerava a líder do pequeno grupo, embora soubesse que não seria muita coisa sem o hospedeiro da Mente ou a hospedeira da Serpente. Sentia como se sua responsabilidade fosse a maior dos três, mas sabia que não era verdade. Sabia que a responsabilidade estava dividida. Não somente entre eles, mas em todos os outros. Entre todos os rebeldes.

Responsabilidade. Essa palavra lhe lembrava de quando era mais nova, quando o dever de cuidar do irmão mais novo caíra sobre ela.

Sua mãe trabalhava em um restaurante enquanto o pai era o dono de uma empresa alimentícia. Andrea nunca havia morado com ele e sempre o desprezara pelo que fizera com sua mãe, deixando-a sozinha para continuar trabalhando enquanto a obrigação de criar o irmão caía sobre ela e sua vizinha na época.

Ah, como Andrea o odiava.

Mas, depois de um tempo, tivera sua vingança.

Era uma pena que não pudera ajudar a mãe quando esta estava com tais problemas. Lamentava por aquilo. Por ser pequena demais para entender das coisas.

Agora ela estava cansada e mentalmente exausta enquanto bolava o seu plano e pensava em estratégias possíveis e ideias aleatórias. Com suas pálpebras pesando, sabia que nada de útil poderia sair de sua mente que correspondesse aos seus interesses no momento.

Ela se permitiu deitar no conjunto de travesseiros jogados ordenadamente no chão, que já poderiam ser chamados de cama, pelos tantos dias que dormira ali, e se deixou dormir.

Como se não bastasse, lembranças de seu passado vieram à tona

Lembranças da época em que ela matara uma mulher inocente a mando de uma poderosa senhora

O trabalho era simples e o pagamento era a proteção. A mulher que lhe oferecera o trabalho era rica e influente o suficiente para proteger Andrea e sua família da Cavalaria.

Ela o fez, mas não antes de observar aqueles olhos, se arrependendo imediatamente de tê-la matado. Sua habilidade de observadora a permitia observar além, e foi isso que aconteceu.

Agora era tarde para voltar atrás. O arrependimento e a culpa a consumiam lentamente por dentro. Mesmo tentando seguir em frente, ela não conseguia. Aqueles pensamentos sempre voltavam.

No fim das contas, o resultando até que fora imprevisto.

Andrea matara a mulher que era o seu alvo e posteriormente a mulher que a contratara. Sua mãe morrera de câncer e seu irmão resolveu seguir para a capital da Lua, para trabalhar como marinheiro. Entretanto, seu navio desaparecera em alto mar e nenhum sobrevivente fora encontrado. Além disso, um hospedeiro furioso por sua inocente mãe ter sido assassinada injustamente estava caçando Andrea por vingança, como se não bastasse todas as preocupações que tinha que lidar.

Apesar de tudo, naquela noite, Andrea não sonhara com os eventos catastróficos ocasionados pelo seu passado. Em vez disso, sonhara com o presente. Sonhara com o que estava acontecendo naquele momento, assim como na vez em que sonhara com o navio de seu irmão naufragando para o fundo do mar. Ainda tinha esperança de que ele estivesse vivo e de que em algum de seus sonhos de observadora pudesse vê-lo novamente. Porém, até então isso não acontecera. Só poderia ver o que seu espírito estelar da constelação de águia também via e seu irmão, vivo ou morto, não estava incluso.

Imagens confusas começaram a aparecer.

Embora Andrea não soubesse exatamente quem era, teve uma visão de Chris e sua família sendo levados por homens da Cavalaria. Viu de Henry apressado, passando o telefone para outra pessoa. Observou Daniel e a cidade de Lahmar. Viu os vultos encapuzados que seriam os servos da noite, entrando sorrateiramente pelas janelas de uma casa descuidadamente abertas. Ela viu Annie, sentada na cama junto com o irmão Kurt, que cuidava dela. Viu Minerva em seu pequeno apartamento que também servia como seu escritório de psicologia. E também viu Katy, a hospedeira da Escrita na qual tanto falavam.

Todos eles e muitos outros, compartilhando a responsabilidade do mundo.

Fora a coisa certa a fazer. A lei era clara. Quaisquer suspeitos na teoria ou na prática de atividades ligadas aos espíritos deveriam ser imediatamente denunciados para os órgãos competentes.

Anésio, o velho ao lado da mansão dos Bruhmar, havia denunciado absolutamente todos. Seus vizinhos, a garota e o outro menino que por ali aparecera. Mal conseguia conter a ansiedade de ver tudo pegar fogo, literalmente.

Mas é claro, isso tinha que esperar.

Ele era um velho esperto. Sabia como funcionava. Primeiro, os investigadores descobririam onde o garoto morava, levando em consideração as informações de Anésio de que Chris não era um hospedeiro (Ele havia falado sobre Katy ser a grande preocupação.). Àquela altura, já deveriam estar prendendo ele e sua família em sua própria casa.

Queria até estar lá para ver, mas precisava se poupar o esforço.

Enquanto isso, outros agentes ficariam de olho na mansão por algum tempo, relatando as coisas e tentando descobrir o máximo de informações que conseguissem sobre a hospedeira que possivelmente estaria lá, para então partir para o ataque.

Tinham que ser cuidadosos. Era uma adolescente, apenas, mas isso não queria dizer nada. O velho sabia que ela poderia ficar invisível e os detetives já ficaram cientes desse detalhe.

Se não soubessem exatamente com qual hospedeiro estavam lidando, não poderiam se prevenir de seus poderes usando os símbolos de proteção contra a força do espírito que era a fonte de sua força, o que poderia deixar um batalhão inteiro ser derrotado com considerável facilidade, como acontecera com o ataque a um dos mais importantes centros de inteligência do antiterrorismo, na qual constataram aquele roubo de informações importantes. A televisão não havia divulgado isso para não causar pânico na população, apenas o suficiente para estimular a raiva e o ódio e aumentar a pressão sobre os hospedeiros, além das imagens dos dois identificados no ataque. Tudo havia acontecido em Ghral, a capital vizinha, mas Anésio tinha quase certeza, como um instinto, de que aquele evento e a sua recente descoberta tinham algum tipo de conexão. Estava tudo conectado.


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Notas finais do capítulo

Hei, o que acharam? Comenta aí!

Qual animal espiritual vocês gostariam de ter, como o do Chris? Eu queria ter um gato ninja assassino. (Se bem que eu acho que todo gato tem esse lado ninja assassino) ~Andrea só observa.~ Até mais!



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