O Retorno dos Antigos escrita por João Victor Costa


Capítulo 5
Mundo de Dois Lados




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A rotina de Katy parecia ser digna de um clipe de música triste e depressiva.

Ela estava sentada em uma poltrona, de frente para uma grande janela onde podia ver a água da chuva pingando e escorrendo pelo vidro. Sua vida havia acabado de mudar de forma drástica ou, pelo menos, sua vida sempre fora aquela na qual estava condenada desde o momento em que havia nascido e que só agora ela havia descoberto isso.

O que Katy estava fazendo exatamente? Aquela era como uma overdose de pensamentos. Era como uma doença psicológica que costumava atacar os hospedeiros, quando pensavam em tantas coisas ao mesmo tempo em que parecia que a cabeça iria explodir. Katy estava tendo uma naquele momento, mas, ao contrário dos sintomas comuns, sua cabeça não estava doendo.

Ficou imaginando seus pais verdadeiros. Como seriam eles? Imaginou que tipo de vida eles levavam e também ficou pensando no momento em que eles tiveram que deixar a própria filha, para protegê-la. Ela não se lembrava muito bem daquela época, é claro. Era muito pequena.

Ficou imaginando a idosa que se chamava Naomi. Ela havia se matado para que alguém nascesse com o seu poder e pudesse fazer a diferença no futuro. Esse alguém era Katy. Ela só tinha seus dons porque alguém havia se matado para aquilo. Uma pobre e gentil senhora.

Apesar da situação complicada, ela compreendia o motivo deles terem feito aquilo. Apenas não compreendia os sentimentos que levaram tais pessoas a tomarem aquelas decisões. Esperança, talvez? Esperança de que Katy pudesse acabar com aquela incansável caçada contra aqueles de sua espécie?

Ela estava com medo de quando esse dia chegasse. Dia em que teria que fazer coisas que decidiriam o futuro de todos. Ao mesmo tempo estava ansiosa. Ansiosa por fazer algo diferente Ansiosa por algo que pudesse melhorar o mundo.

E esse dia não estava muito longe de chegar.

— Oi.

Minerva passou pelo cômodo e ficou de pé em frente a janela. Ela era morena e tinha longos cabelos enrolados e volumosos. Usava sua típica jaqueta bege com diversos botões escuros.

Katy não disse nada enquanto a mulher observava a garota pelo canto do olho.

— Sei que não deve ser muito fácil para você. - afirmou a mulher. - Não é fácil quando descobrimos sobre a verdade.

— Não, não é. - concordou Katy. - Acho que eu preferiria continuar presa a essa casa a ver de perto os horrores Mundo do lado de fora.

Minerva avaliou a garota.

— Não diga isso. Você ainda é jovem e também não viu muita coisa. Principalmente as coisas boas do mundo, quero dizer. É por elas que todo o sofrimento se faz valer a pena. É a esperança. O problema é que pessoas como nós não tem o direito dessa liberdade. Por isso temos de lutar. Somos uma minoria e isso não deveria significar que não temos o direito de sermos felizes.

— Por que eles não gostam de nós? - perguntou Katy. - Por que eles nos caçam?

— Eles têm medo. Não conseguem perceber a maior ilusão do mundo. É como uma névoa invisível que manipula as pessoas. Eles não conseguem perceber que tudo é igual.

— Uma ilusão?

— Basicamente. - disse Minerva, esboçando um sorriso. - Quero te mostrar uma coisa. Te levar para conhecer a cidade.

Que sugestão estranha, depois de todos aqueles anos.

— Tudo bem.

Na casa ao lado, o homem de setenta e poucos anos que se chamava Anésio observava cautelosamente pela janela enquanto as duas saíam da casa de seu vizinho, que ele não conhecia muito bem, com guarda-chuvas sobre suas cabeças, até sumirem de vista. Ele sentou-se no sofá e ficou olhando para o telefone inerte em cima de uma mesinha, apenas esperando que alguém o pegasse e fizesse uma ligação. Mais especificamente, que fizesse uma denúncia.

Katy nunca havia se imaginado caminhando pelo mundo do lado de fora com Minerva. A mulher não era nenhum parente dos Bruhmar, mas sim uma velha amiga de infância que costumava visitá-los de vez em quando. Por algum motivo, sempre gostara dela. Era uma mulher inteligente na qual Katy podia se imaginar ser no futuro.

— Você conhece a história da Chuva?

Katy olhou para o chão e para os pingos de água que se chocavam contra ele. Minerva não havia perguntando sobre a chuva, mas sim sobre o espírito. A Chuva.

Katy se lembrou de alguns poucos anos atrás, quando ganhara dela um livro contendo todas as histórias dos mitos antigos. Um livro sobre deuses, hospedeiros e espíritos.

— Sim. A Chuva nasceu da Magia e do Céu, pela fumaça da Terra que era castigada pelo Fogo.

— Vejo que esteve ledo sobre essas histórias. - disse Minerva. - Mas tem que tomar cuidado. As outras pessoas não gostam delas. É algo totalmente proibido e pode ter punições bem sérias.

Katy assentiu.

— Quando eu fugi, estava chovendo forte e eu comecei a dançar aqui. - disse enquanto caminhavam por uma ruazinha de pedra que atravessava as árvores e o gramado do parque. - Não tinha muitas pessoas e eu conheci um garoto que me convidou para comer pizza. Foi estranho.

Minerva permanecia com sua expressão de sempre. Cautelosa e imprevisível.

— Estou me perguntando como estou tendo essa conversa com você, e não sentada no sofá junto com seus pais enquanto eu lhes apresentava a notícia de uma hospedeira adolescente ter sido capturada.

Katy entendeu o que ela quis dizer. Minerva estava se perguntando como ela não fora pega. As pessoas não costumavam sair dançando na chuva por aí e os que o faziam, eram considerados praticantes de alguma bruxaria.

— O garoto. Ele é um de nós. Acho que tive sorte nisso.

— Sim, você teve. - concordou Minerva. - Não é algo muito fácil encontrar pessoas que são aliados aos hospedeiros e que, talvez, acreditem nos mitos antigos. Não são muitas em comparação àquelas que querem ver os hospedeiros mortos ou, pelo menos, em prisão perpétua.

— Por que existe essa guerra? Quer dizer, por que as pessoas nos odeiam tanto, mesmo sem nos conhecerem? Eu não pareço uma terrorista maníaca.

— Elas enxergam o que querem. São influenciadas.

— Por quem?

— Pelo líder da Cavalaria. - explicou ela. - Na época, diversos fatores contribuíram para que os hospedeiros e os espíritos fossem considerados perigosos. Eles generalizaram as atitudes de hospedeiros, cujo espírito patrono é algum espírito maligno. Nem sequer era culpa deles serem daquela forma, então, simplesmente generalizaram tudo. Ignoraram completamente o Conselho da Magia, um órgão criado para manter o equilíbrio entre os hospedeiros e o resto do mundo.

— O que houve com esse Conselho da Magia?

— Ele foi desfeito. Todos que trabalhavam nele… Bom, não tiveram um final muito feliz.

Katy engoliu em seco. Imaginou o tal Conselho da Magia e pessoas trabalhando para que os hospedeiros e os humanos comuns vivessem em harmonia, juntos. Vendo o mundo como estava naqueles dias, aquela ideia parecia ridícula.

— Mas não significa que ele ainda não existe. - continuou Minerva, olhando para os lados - Sabe, é uma longa história e, além disso, não é assunto para se conversar enquanto caminhamos tranquilamente pela rua.

As duas andaram por mais algumas ruas até virarem em uma travessa, onde entraram em uma loja com uma vitrine que exibia prateleiras coloridas de doces de diversos tipos.

Um jovem usando um longo agasalho acenou e sorriu para as duas enquanto lhe davam espaço para que ele passasse, para sair para a rua, enquanto abria sua mochila para colocar um pequeno pacote de papel cheio de bala nela.

— O que viemos fazer aqui? - perguntou Katy.

— Comprar doces, é claro.

Katy estranhou. Percebeu que havia algo diferente. Antes comentavam sobre a guerra e agora, estavam tranquilamente comprando doces. Por que não?

A garota apenas observou enquanto Minerva percorreu o pequeno espaço, passando o olhar pelas dezenas de potes transparentes com dezenas de diferentes guloseimas.

Ela é misteriosa. Gosto disso, pensou Katy.

— Acho bom levar uns pingos de leite. Ah, e algumas dessas balas de caramelo também.

Minerva costumava dar aqueles doces para ela, pelo menos uma vez por semana. Especificamente sete balas de caramelo e dois pingos de leite, como estava escolhendo naquele momento. Não poderia ser mera coincidência. Além disso, pegou também um pacotinho de paçoca.

— Não me lembro de paçocas. - comentou Katy, se referindo aos doces que ela recebia de presente.

Minerva riu.

— Ah, não. Essa é para mim mesmo. Eu gosto de paçocas.

Katy a acompanhou quando ela seguiu para o balcão e despejou as guloseimas sobre a mesa, para a atendente contar. Era uma mulher jovem e bonita, com cabelos loiros pesos em um rabo de cavalo.

— Interessante. - disse ela, colocando os doces em um pacote.

— São meus preferidos. - disse Minerva

A atendente abaixou o olhar por baixo de balcão e, sem que Katy pudesse ver, espiou um monitor que exibia imagens da rua pela lente de câmeras de segurança.

— Podem entrar. - disse a atendente.

Minerva indicou para que Katy a acompanhasse e a conduziu para trás do balcão, entrando pela porta que só era permitido a entrada de funcionários. Elas passaram por alguns corredores, com algumas caixas de doces empilhados, até se depararem com uma porta.

— Os doces são como uma senha. - explicou Minerva. - Uma medida de segurança, caso não seja exatamente eu, sabe. Ah, e tem que mencionar que os doces escolhidos são seus preferidos. Assim você pode entrar.

— Mas por que estamos aqui?

— Eu vou lhe contar algumas coisas. Você vai ver. - afirmou Minerva. - Dáo Shigar! - chamou.

A porta na frente delas foi aberta e um estranho homem apareceu atrás dela, se posicionando como uma pessoa gentil convidando os visitantes à entrar em sua casa e tomar uma xícara de café. Ao fundo, estava um lugar totalmente diferente da que Katy imaginava. Ela pensava que aquela porta era de algum quartinho escuro e minúsculo, mas o que se revelou foi nada menos que uma ampla sala de estar que lhe lembrava da natureza, com a textura do piso de madeira e e o verde das árvores além das janelas.

— É bom vê-la novamente, Minerva. - disse o velho, com uma voz estranhamente rouca. Ele era baixo, tinha uma longa barba branca e se apoiava em um cajado de madeira. - Vejo que temos uma nova visitante.

— Sim. - disse Minerva. - Ela é a garota de quem eu falei.

A expressão de Dáo Shigar mudou para algo parecido com admiração.

— Sério? É uma honra conhecer a hospedeira de uma das minhas amigas. - afirmou ele. - Prazer, eu sou o espírito das portas. Se bem que eu acho que esse nome não soa muito bem. - ele sussurrou para Minerva, embora Katy estivesse ouvindo perfeitamente. - “espírito das portas é algo muito sem graça.” Foi meu próprio hospedeiro que disse isso.

Katy esboçou um sorriso.

— Também é um prazer conhecê-lo, senhor.

— O que estão esperando? Vamos, entrem!

Ao passar pela porta, indo logo atrás de Minerva, Katy notou que o ar ali estava muito mais quente, como se estivesse passado por uma porta que dividia dois mundos com climas totalmente diferentes. Não era uma ideia completamente equivocada.

Minerva tirou seu casaco e colocou em um cabide ali do lado, junto com suas botas. Katy a imitou, retirando as roupas de frio. Era como se estivessem acabados de entrar pela porta da frente de uma grande casa.

— Onde estamos? - perguntou Katy.

— Na antiga Náturi, a antiga vigésima segunda capital. - Minerva caminhou pela casa e Katy foi atrás. Era uma grande casa de campo, reparou Katy, toda feita de madeira bem trabalhada e com móveis modernos. Pelas janelas, ela só conseguia ver árvores e mato. - Hoje é mais conhecida como a capital Ferdória.

Katy lançou um breve olhar para trás e percebeu que o estranho espírito das Portas, personificado no corpo de um homem idoso, não estava mais lá.

— Você quer dizer que estamos na antiga capital da Natureza?

Minerva assentiu.

— Aham.

— Como chegamos aqui, exatamente? - perguntou Katy.

— O hospedeiro de Dáo Shigar. Ele pode “marcar” portas para que estas levem para alguma outra porta, em algum lugar do mundo. Ele fez um plano para que os rebeldes ainda pudessem se reunir sem que fossem descobertos. Um plano para continuar com o Conselho da Magia. - ela começou a comer a paçoca. - Para isso, ele veio aqui, nesse lugar, e marcou todas as portas. Estamos em uma montanha isolada e, lá em cima, tem uma televisão com câmeras que monitoram todo o perímetro.

“Cada uma das portas que você está vendo, quando abertas, levam para um lugar diferente do mundo, onde outros hospedeiros podem ter acesso.”

Katy olhou para uma porta, que deveria ser a do banheiro e a abriu, revelando um simples banheiro.

— Não é tão simples assim. - disse Minerva - Sabe, é para manter as coisas em ordem.

— Você disse que estamos em Ferdória. Por que não se chama mais Náturi?

— Foi uma das coisas que mudaram quando houve a ascensão da Cavalaria e a queda do Conselho. Foi uma das primeiras coisas que aconteceram que indicaram que o mundo realmente estava mudando. Para pior, no nosso caso. Eles começaram mudando o nome de todas as capitais, para acabarem com a ideia da ligação da população com os espíritos e depois, começaram a acabar com todos nós, por assim dizer. Mudaram até mesmo o nome do nosso planeta. Antes se chamava Teceu, representando toda a união da Terra e do Céu. Hoje em dia chamam apenas de Terra. O espírito do Céu não ficou muito feliz com isso.

— Entendi. - disse Katy, pensando na hospedeira da Escrita antes dela e em como ela morreu.. - Mas, eu estive pensando. O que levou a isso? O que levou à criação da Cavalaria?

Minerva subiu as escadas e sentou-se sobre a cadeira de um quarto, de frente para os monitores que exibiam imagens diversas de trilhas e pequenas estradas de terra em meio ao mato. Ao longe, ela ouviu alguma porta se abrindo e fechando.

— Hm. Parece que temos visita. - afirmou a mulher, a princípio ignorando a pergunta da garota.

— Minerva! - chamou uma voz jovem.

— Aqui em cima. - respondeu alto. Depois se virou para Katy. - Acho que ele pode te ajudar a entender como tudo começou.

As duas ouviram passos subindo as escadas, se aproximando de onde estavam, e observaram enquanto o garoto, uns bons anos mais velho que Katy, chegava e se apoiava no vão da porta..

— Precisamos conversar.

— O que? Descobriu mais alguma coisa?

— Aham. - ele olhou para Katy. - Hã, quem é ela?

— Ah, ela é Katy, hospedeira da Escrita. - apresentou Minerva. - Katy, este é Igor, hospedeiro da mente.

— Prazer em conhecê-la. - cumprimentou Igor, relaxando o tom da voz. - ouvimos falar muito sobre você.

Ouviram falar muito de mim? Katy se sentiu estranha. Aquele era o primeiro hospedeiro que ela conhecera de perto e nem sequer sabia se sua existência. Além disso, ele estava afirmando que ouvira muito sobre ela?

— Ouviram? - ela lançou um olhar para Minerva.

— Sim. - disse Igor. - Não podemos esperar para que você…

— Eu estava conversando com ela se você pudesse ajudá-la. - interrompeu Minerva. Igor levantou a sobrancelha. - Ajudá-la a voltar no passado, para saber como tudo aconteceu.

— Hã. - Igor pensou no assunto, demorando um pouco para entender que Minerva estava cautelosa a respeito da garota. Afinal, ele sabia quem ela era e em como era sua vida. - por mim, tudo bem.

— Como você vai fazer isso? - perguntou Katy. - Não seria algo para o hospedeiro do Passado?

— Ele também tem esse poder, creio eu. - disse Igor, se aproximando da garota, meio que ignorando o detalhe de que ele não fazia ideia de onde tal hospedeiro estava, ou sequer se não estava apodrecendo em uma prisão, como a maioria. - Mas eu posso controlar a mente. A mente está ligada à alma e a alma ultrapassa as barreiras da vida e da morte. Não vai ter problema, já fiz isso muitas vezes. Deite ali. - pediu ele, indicando a cama.

Katy obedeceu e se sentiu desconfortável quando se deitou no colchão macio. Lembrou-se do seu quarto pequeno na mansão estranhando estar deitando em uma cama diferente na qual deitara durante toda a sua vida. Parecia até errado.

— Você precisa relaxar e aceitar o que você irá receber agora, ok? - disse Igor.

— Tudo bem.

Katy pensou se aquele “Tudo bem” indicava mesmo que estava tudo bem. Ela se sentiu nervosa subitamente, como uma pessoa comum, antes de tomar uma injeção.

Igor se concentrou na frente de Katy e a visão da garota se preencheu de roxo enquanto Igor a enfeitiçava.

Katy sentiu seus olhos desabarem e relaxou, tendo a princípio, estranhos vislumbres de pessoas e situações que ela jamais vivenciara.

Igor a enfeitiçara para que ela pudesse conhecer o passado...

— Ela já está lá? - perguntou Minerva, observando a garota deitada na cama, em um sonho profundo.

— Sim. - afirmou Igor, pensando em como a garota reagiria quando acordasse das novas experiências.

— O que você ia me contar?

Igor se sentou na cama, ao lado de Katy.

— Andrea veio ontem falar com você sobre os planos de Sig. De ressuscitar o antigo espírito da bruxa Mirian. - afirmou Igor. - Quando eu estava lá no centro de controle, eu tive um tempo para fazer uma pesquisa nos computadores e descobri sobre um arquivo, que têm informações sobre todos os hospedeiros.

— O que? - exclamou Minerva. - Como assim?

— É um programa. - explicou ele. - Não é possível copiá-lo, mas eu vi coisa o suficiente. Eles tem informações sobre hospedeiros identificados e, inclusive, sobre os hospedeiros capturados.

— Você não quer dizer…

— Eu pesquisei nos arquivos que conseguimos copiar. - Igor pôs a mão no bolso, pegou seu Smartphone e mostrou para Minerva. - Temos a localização de todas as prisões e a informação de todos os hospedeiros presos nelas.

Minerva arregalou os olhos e Igor sentiu um arrepio com aquele brilho misterioso. Os dois olharam para Katy.

Minerva não havia recebido notícias tão boas durante todos os anos em que estava junto à rebelião. Igor sabia disso.

— Não tem melhor hora para começarmos o plano. - disse Igor. - Você sabe onde ele está aprisionado?

— Sim. - afirmou Igor. - Nossa próxima missão é a antiga capital da Lua.

Richard sentiu dentro dele aquela estranha sensação engraçada. O espírito do destino sorria e, embora ele estivesse naquele estado, na merda de um calabouço em um uma ilha isolada ao leste de todas as outras capitais, ele também esboçou um sorriso.

A Sorte era divertida. Estava louco para tacar as runas gêmeas no chão e observar elas quicarem e caírem, com o lado marcado para cima, confirmando o pensamento de que ele tinha certeza de que era verdade..

Paul e os outros guardas estavam reunidos no refeitório enquanto comiam e assistiam à televisão. Outro homem pegou o controle e aumentou o volume. Todos fizeram silêncio enquanto prestavam atenção nas notícias.

Na legenda estava escrito: “Ao vivo, pronunciamento oficial do líder da Central Avançada Igualitária de Antiterrorismo das Doze Nações, a Cavalaria.”

“Que nome ridículo”, pensou Annie enquanto assistia Tv. “Igualitária e antiterrorismo” Ela deixou escapar um sorriso de deboche.

Annie não havia ido trabalhar naquela manhã. Ela achava que estava começando a ficar louca, deitada na cama enquanto os flashbacks do futuro (expressão que não faz nenhum sentido) se tornavam cada vez mais frequentes. As visões ficavam mais fortes enquanto a mulher insistia em ingerir alguns comprimidos, que de nada adiantavam.

Parou de pensar nas suas estranhas visões e prestou mais atenção no pronunciamento que passava pela televisão. Então Sig - Aquele maldito que dava lhe vontade de pegar algum objeto bem pontiagudo e furar-lhe os olhos verdes. - começou:

— Como já sabem, estou aqui hoje para falar sobre o atentado que ocorreu em uma das nossas centrais de inteligência, há alguns dias atrás e, é claro, prestar minhas condolências às famílias de todos os feridas e daquelas pessoas que foram mortas de formo brutal…

Olha que fala, pensou Henry.

O assistente pessoal do líder das doze nações estava tipicamente bem vestido em seu terno, sentado em uma cadeira nas extremidades do palco, na companhia de outros assessores, longe do foco das câmeras.

Todo a câmara estava ocupada com jornalistas, políticos, advogados e ainda, algumas pessoas curiosas que conseguiram, de alguma forma, ter acesso àquela declaração. O lado de fora estava um caos, mas naquele momento, milhares de pessoas fizeram silêncio para ouvir o pronunciamento, onde que elas estivessem. Viam pelo celular ou simplesmente se amontoavam para espiar por cima do ombro dos outros para uma visão da televisão de dentro de restaurantes e cafés.

Mortas de forma brutal. Henry achou aquilo engraçado vindo de Sig, conhecido também como o caçador de olhos, por parte dos hospedeiros. “Caçador de olhos” para aqueles que enxergavam quem ele não aparentava ser. Pelo menos não o seu lado solidário, pois o lado que ele demonstrava sua raiva pela existência dos outros hospedeiros, esse sim, era notavelmente verdadeiro.

Henry continuou observando, não seu líder, mas as pessoas que o encaravam. Rostos monótonos que não desgrudavam o olhar daquele par de olhos azuis e hipnóticos por sua beleza.

— Eles fizeram o que fizeram com o intuito de nos enfraquecer, mas isso não irá nos abalar. - continuou Sig. - Não há motivo para que a população se preocupe com os hospedeiros aterrorizando nossa sociedade com os seus poderes destruidores. Hoje vimos mais uma dessas catástrofes acontecer. Sabemos que algo desse tipo não acontecia há muito tempo e eu garanto a vocês que deixaremos tudo sobre controle…

Invocar o espírito de uma bruxa maligna e pedir de presente o Poder de Controle Absoluto. Esse era a forma dele resolver as coisas, embora ninguém soubesse exatamente como ele estava fazendo aquilo. Matando e arrancando olhos.

Que excelente definição de deixar tudo sobre controle. Bom, literalmente.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal! Comentem o que acharam!
Thanks Millena!
u.u

Próximo capítulo sobre as experiências de Katy no passado, um pouco mais de Annie e um novo personagem!



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