Behind Blue Eyes escrita por Two Lovely Girls


Capítulo 5
Capítulo 5 - The Dinner (parte 2)




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Já era noite e Elisabeth se empenhava em deixar as crianças bem arrumadas e principalmente comportadas para o jantar que logo se iniciaria. Devia ter se arrumado primeiro, mas pensou que talvez arrumá-los lhe renderia algumas gotas de suor que poderiam acabar estragando sua maquiagem, então preferiu terminar o dever primeiro e depois pensar em si. Quando se deu conta, faltavam alguns poucos minutos para o jantar e ela certamente se atrasaria para o mesmo, mas pelo menos as crianças estavam devidamente e pontualmente arrumadas. Joshua trajava uma bela camisa social que lhe deixava ainda mais encantador por ganhar aquele ar adulto. Annabeth usava o vestido mais cedo separado por Elisabeth e até Gregory que parecia disposto a se comportar essa noite resolveu colocar um blazer.

— Vocês três estão lindos. — Ela disse sorridente.

— E você está péssima. — Respondeu Gregory em tom de brincadeira fazendo-a rir junto aos mais novos.

— Tem razão! Por isso tenho que ir me arrumar. — Ela encarou o relógio. — Greg, pode ficar com seus irmãos e impedir de que se sujem até eu terminar de me arrumar? Talvez eu me atrase um pouco e seu pai quer tudo perfeito. — Ela franziu a testa demonstrando sua apreensão.

— Esse é o seu dever. — Reclamou o garoto rolando seus olhos azuis.

— É seu também! Você é o irmão mais velho. — Ela retrucou.

— Tá bom, tudo bem. — Ele respondeu sem muitos ânimos. Sem dizer uma só palavra ela depositou um beijo no rosto do adolescente que fez uma careta antes de sorrir frouxo com aquilo. Elisabeth correu para o seu quarto. O banho acabou por lhe render dez minutos, e pra sua sorte, o vestido já estava a sua espera em cima da cama. Grace havia feito o favor de passá-lo e deixá-lo perfeitamente livre de rugas. Saiu do banheiro e pôde ouvir uma movimentação maior lá embaixo, assim como vozes que indicavam que os convidados já haviam chegado. Com isso apressou seus passos, se sentou diante do espelho e logo a maquiagem começava a ser aplicada.

Enquanto isso lá embaixo, todos realmente já estavam presentes e se sentavam a mesa. Theodore se sentia particularmente incomodado com a ausência de Elisabeth, principalmente por causa dos comentários rudes de sua avó que insistia em dizer o quanto a jovem não era profissional por abandonar as crianças ali sozinhas aos cuidados de Gregory. Não que ele concordasse com isso, mas apenas queria encerrar os apontamentos de todos ali que se achavam no direito de palpitar em suas decisões. Mas por outro lado, se questionava se fez certo em convidá-la para o jantar, afinal, estava claro pra ele os ciúmes de Victoria pela jovem, e também sabia que sua família estava longe de ser receptiva a convidados que não pertencessem a sua classe social.

— Será que podemos começar o jantar? — Indagou Georgia com seu tom nada amigável.

— Na verdade não. — Theodore disse antes de pigarrear. — Vamos esperar mais um pouco. — Pediu sem dizer seus motivos pra isso.

— Tudo bem. Eu proponho então um brinde à volta de nossa querida Victoria. — Falou Jhonatan animado.

— Obrigada, Jhonatan querido. — Victoria lhe respondeu falsamente. — É um prazer enorme estar aqui com todos vocês e... — Ela foi cortada pelo olhar de todos que se direcionaram para a porta de entrada da sala de jantar. Elisabeth estava ali trajando um vestido cor de chá fosco que lhe realçava bem o tronco e na altura de sua cintura se abria ficando rodado. Nos pés um salto não muito alto de cor preta e no rosto uma maquiagem leve e sutil que lhe deixava com os olhos ainda mais acesos. Theodore não pôde deixar de suspirar ao vê-la ali tão linda e radiante. Os cabelos tinham cachos perfeitos e as bochechas dela agora começavam a corar por ver o modo como todos — principalmente Theodore — a encaravam. Sorriu então.

— Boa noite. — Elisabeth saudou a todos com um sorriso educado.

— Boa noite, senhorita Sullivan... — Theodore disse pausadamente, ainda tentando se desprender do encanto dos olhos e do sorriso dela.

— Olhe pra você, querida... — Victoria chamou a atenção de Elisabeth pra ela. — Está divina, nem parece a mesma que conheci ontem. — Comentou maldosa.

— Obrigada. — Elisabeth disse sem jeito.

— Está muito bonita, senhorita Sullivan. — Theodore a elogiou, mas ela se manteve séria e apenas sacudiu a cabeça suavemente em agradecimento.

— Pois é, mas agora já pode ir pra cozinha. — Victoria cortou aqueles olhares e suas palavras fizeram Elisabeth franzir o cenho.

— Victoria! — Ele disse como se ralhasse com ela. — A senhorita Sullivan é minha convidada para o jantar. — Theodore completou fazendo todos ali arregalarem os olhos.

— Como é que é? — Victoria perguntou pausadamente.

— Isso mesmo que escutou. — Ele respondeu seco. — Por favor, sente-se. — Disse novamente pra Elisabeth.

—Theodore, estamos no meio de um jantar de família e você propõe que a babá se sente conosco como se fizesse parte dela? — Georgia falou na sua voz mais grosseira enquanto encarava Elisabeth com um desdém sem tamanho.

— Eu não vejo mal algum em a Lisa ficar. — Matthew rebateu prontamente a avó fazendo as atenções se voltarem pra ele. — Ela pode estar de serviço, mas isso não significa que precise ficar alheia a tudo, sem poder comer algo ou desfrutar de uma boa conversa. — Defendeu novamente. Rose ao seu lado sorriu, totalmente orgulhosa e Elisabeth teve que sorrir também pela defesa do amigo sempre carinhoso.

— Matthew tem razão. — Rose acrescentou logo. — Lisa é uma pessoa maravilhosa e ainda que não fosse, é um ser humano como todos nós, e o fato de ser uma funcionária não lhe dá o direito de tratá-la dessa forma. – Concluiu recebendo um olhar abismado de Georgia.

— Olhe como fala comigo, menina! — Vociferou.

— Ela só está sendo sincera. — Matthew sorriu pra Rose antes de lhe dar um selinho suave nos lábios rosados.

— Eu não quero causar problemas... — Elisabeth começou a falar, mas logo a voz de Christina surgiu ali.

—Talvez seja melhor mesmo que permaneça em seus aposentos. — Disse pontualmente. — Nós mesmos podemos olhar as crianças. — Completou. Elisabeth assentiu totalmente sem graça, mas agora era a voz de Jonathan se manifestar com uma voz já um pouco embriagada.

— Deixem a jovem ficar! — Sorriu frouxo. — Que mal tem desfrutarmos de uma companhia tão adorável e bela? — Perguntou. Seu tom foi um tanto abusivo e Elisabeth pôde sentir seus pelos se arrepiarem desde a espinha pela maldade que sentiu em sua voz somada ao olhar que ele lhe lançava. Logo todos começaram a rebater ali, Christina logo se demonstrou incomodada com a reação nada discreta de seu marido, já Geórgia parecia disposta a entoar uma briga com Rose enquanto Matthew a defendia prontamente. Victoria permanecia emburrada encarando um Theodore também calado que tinha as veias da testa quase saltando devido à irritação que aquele ambiente lhe dava naquele momento. De repente uma outra voz surgiu ali, era Nicholas, o melhor amigo de Theodore e Matthew que logo franziu o cenho devido a discussão intensa que ali se instalou.

— A festa está bombando! — Ele comentou com ironia fazendo Theodore logo rir frouxo. Lisa sorriu por um momento, principalmente quando viu o sorriso sincero nos lábios quase sem cor de Theodore. Era raro vê-lo sorrir, ainda mais assim tão espontaneamente, e era simplesmente admirável como ele só conseguia ficar mais encantador ao fazer isso. — Qual é o ponto de discussão da vez dos Stormfields? — Questionou com divertimento.

— Elisabeth. A mais nova babá das crianças. — Victoria falou entre os dentes enquanto um semblante extremamente sarcástico se formava sobre ela. — Aparentemente o Theo convidou a moça para o meu jantar de boas-vindas sem comunicar a nenhum de nós. — Completou, ainda mais seca, ainda mais pretenciosa em suas palavras.

— Qual o problema? — Nicholas riu. — Por que não se sentou ainda? — Questionou agora encarando diretamente Lisa enquanto Theodore riu.

— Ele tem razão, senhorita Sullivan. Pode se sentar, e me desculpe pelos modos primitivos e vergonhosos de minha família. — Theodore sorriu pra ela.

Elisabeth queria sorrir de volta, afinal não era sempre que recebia um sorriso desses que lhe desconcertava como uma adolescente de hormônios em ebulição, mas ainda estava magoada com o modo como ele a tratou na noite anterior então se manteve séria e apenas assentiu com a cabeça. Caminhou até o lado oposto de Theodore que se sentava de frente pra Victoria, ficando ao lado das crianças na gigantesca mesa. Rose logo sorriu pra amiga e apertou sua mão abrindo um sorriso encantador como cumprimento. O clima inicialmente se manteve hostil e diga-se de passagem pesado, principalmente porque Victoria e Georgia pareciam empenhadas em atrapalhar o bom andamento do jantar. Mas Theodore parecia não se incomodar, na verdade ele estava rindo, gargalhando junto a Matthew e Nicholas e por mais que Elisabeth quisesse manter seus pensamentos totalmente longes dele era totalmente atraída por aquele sorriso que o deixava ainda mais másculo dentro de sua blusa social branca que realçava os músculos bem definidos. Apenas Rose, Matthew e Nicholas dirigiram a palavra a ela durante o jantar, apesar de em alguns momentos Jonathan tentar chamar a atenção dela pra si fazendo alguma pergunta direta, mas Elisabeth respondia secamente, buscando ignorá-lo. Já Theodore parecia evitar fazê-lo pra não causar mais problemas. Lisa deu comida a Joshua e serviu Annabeth. Conversou algumas poucas vezes com Gregory que parecia um pouco mais receptivo a ela, algo que ela poderia vibrar agora em comemoração. A noite acabou correndo bem, e todos pareciam aliviados por isso.

— Como está se saindo no trabalho? — Perguntou Rose, sempre atenciosa.

— Eu estou adorando. — Elisabeth respondeu prontamente passando a mão nos cabelos de Joshua.

— Ela é muito legal. — Ele comentou pra Rose que riu.

— Mais legal que eu? — Indagou Rose fazendo as bochechas do menino corarem rapidamente.

— Vocês são igualmente legais, tia Rose. — Joshua respondeu carinhoso fazendo as duas rirem, assim como Matthew.

— Esse garoto já sabe tudo de mulheres. Enganou as duas e ainda arrancou seus corações. — Brincou levando um tapa leve de Rose no braço que riu também.

— Vejo que tem a aprovação das crianças, senhorita Sullivan. — Georgia comentou prontamente, a olhando minuciosamente.

— Eles são muito carinhosos, senhora Stormfield. — Respondeu Elisabeth buscando imparcialidade e formalidade.

— Só espero que saiba se colocar em seu lugar, afinal, independente do afeto que possa vir a surgir entre você e meus netos isso não fará com que deixe de ser apenas a babá. — Disse grosseira fazendo o sorriso se Elisabeth se desfazer quase que completamente.

— Você não perde mesmo uma oportunidade, não é? — Matthew ralhou a olhando seriamente.

— Claro que não. — Gregory rolou os olhos demonstrando desagrado pela atitude da bisavó que pareceu dar de ombros. Elisabeth se sentiu parcialmente bem por ver o incomodo de Greg pelo modo como ela estava sendo maltratada pela megera Georgia Stormfield.

— A senhorita Sullivan merece ser tratada com respeito. — A voz de Theodore surgiu de repente. — Ela é uma ótima profissional, conquistou o carinho dos meus filhos e tem exercido seu trabalho com respeito e qualificação. — Defendeu. Lisa riu mentalmente por pensar que a defesa dele se restringia ao fato dela trabalhar bem.

Não era questão de profissionalismo e sim de humanidade, ainda que ela fosse a pior babá do mundo merecia mais respeito, mas preferiu ignorar isso e dar mais uma golada em seu suco para não acabar demonstrando seu desagrado com tudo ali. Georgia pareceu preferir ficar calada, pois não disse mais nada depois disso, já Gregory pediu licença ao pai para se retirar e logo depois se recolheu.

— O jantar estava ótimo, mas já estamos indo. — Avisou Matthew passando o braço pela cintura de Rose.

— Você já vai, meu amor? — Christina perguntou amorosamente. Ela nunca escondeu suas preferências por Matthew, assim como Jonathan não escondia as suas por Theodore, mas os irmãos não se importavam com isso, na verdade estavam mais que acostumados e apenas tentavam enxergar tudo isso com normalidade.

— Preciso deixar a Rose em casa, mamãe. — Ele sorriu. Christina sorriu pra Rose.

Elisabeth se surpreendeu por perceber que, apesar de seu jeito amargo, Christina parecia gostar de Rose e era recíproco. Rose já havia lhe falado sobre sua admiração pela senhora Stormfield, assim como a pena que sentia pelo que ela tinha que aturar ao lado de seu marido abusivo e infiel.

— Amanhã podemos jantar juntas. — Sugeriu Rose e Christina logo assentiu. — Boa noite a todos. — Disse em seguida e todos responderam em uníssono. Nesse momento Joshua bocejou assim como Annabeth.

— Eu vou colocar as crianças na cama e me retirar. — Ela começou a falar chamando a atenção de todos pra si. — Com licença e boa noite. Obrigada pelo jantar e pela hospitalidade. — Quis rir de si mesma ao dizer essa última frase, afinal sabia o quanto sua presença ali foi indesejada por muitos e que tampouco recebeu o tratamento que achava merecer, mas ainda assim preferiu mentir descaradamente, pois achava isso superior e gostava de ser superior. Pegou Joshua no colo e deu uma de suas mãos para Annabeth a fim de guia-la devido à sonolência. Theodore sorriu recebendo um beijo da filha.

— Não vai dar um beijo na Victoria? — Perguntou Theodore tentando apaziguar aquilo.

— Tchau... — Annabeth falou de longe sem encará-la diretamente e continuou caminhando. Victoria bufou em desagrado e depois riu ironicamente.

— Theodore, será que podemos ir a algum lugar reservado para conversarmos? — Ela perguntou fazendo-o engolir a seco.

— Bom, eu acho que já vou indo também. — Nicholas falou prontamente e cumprimentou a todos em seguida para se retirar.

— Eu vou ao banheiro. — Avisou Jonathan já se pondo de pé e caminhando escadaria a cima. Theodore então se levantou e caminhou com Victoria até seu escritório após pedir licença à mãe e à avó que não hesitaram em permitir. Ficaram apenas as duas ali em silêncio, mas este não demorou muito quando Georgia começou sua sessão de provocações.

— E então Christina, quando pretende virar mãe de verdade e ensinar algo de bom aos seus filhos, principalmente ao Matthew? — Indagou fazendo-a arregalar os olhos.

— O que quer dizer com “virar mãe de verdade”? — Perguntou ela totalmente inconformada com a acusação, mas Georgia apenas riu.

— Convenhamos que você falha nessa missão desde que eles nasceram. — Riu.

— Curioso justamente você dizer isso já que criou um filho alcoólatra que além de péssimo marido é um péssimo pai também. — Christina disse ironicamente recebendo um olhar de repúdio de Georgia.

— Não criei meu filho assim, isso foi obra do seu veneno. — Disse causando um riso na nora.

— Me poupe, Georgia. — Revirou os olhos. — Jonathan nunca precisou da minha ajuda. — Disse.

— Não me culpe por sua vida infeliz. — Riu Georgia. — Foi sua mãe quem insistiu em casá-la com meu filho para poder herdar todo meu dinheiro. — Disse grosseiramente fazendo Christina fechar os olhos para conter a explosão que queria ter agora. Preferiu se manter calada. Brigar com Georgia era algo comum demais pra ela, mas hoje se sentia especialmente indisposta. — Vou pra minha casa. — Avisou Georgia. — Mande um beijo para meu filho. — Pediu. Christina apenas assentiu e permaneceu ali, silenciosa até ouvir o bater da porta principal para poder finalmente respirar de novo.

****************

— Então eu estou exagerando? — Victoria perguntou grosseira deixando Theodore ainda mais irritado.

— É claro que sim. — Ele rebateu. — Qual o problema dela ter jantado com a gente? — Perguntou.

— Ela é uma empegada! — Victoria disse raivosa. — Você está dando a ela uma liberdade absurda. — Completou agora arrancando risos de Theodore que logo em seguida rolou os olhos.

— Você está sendo ridícula. — Ele respondeu.

— Viu como Annabeth me tratou? — Victoria cruzou os braços.

— Ela estava com sono. — Theodore justificou, mas ela logo cortou suas palavras.

— Não! Não tem a ver com sono, tem a ver com você e suas atitudes em relação a mim e a sua querida babá. — Victoria agora forçou um choro falso a fim de comover Theodore, o que até funcionou um pouco. Ela sabia que ver uma mulher chorar era um dos pontos fracos dele. — Será que não percebe tudo o que eu faço pra conseguir o amor de seus filhos? — Perguntou. — Eu os amo tanto e eles só sabem me desaprovar e me manter distante. Mas também pudera Theodore, você nunca conversa com eles sobre nós, não se posiciona, não se impõe e aí eles não conseguem me ver como sua mulher e sim como uma intrusa! — Choramingou.

— Você sabe que não é bem assim. – Theodore disse numa voz mais calma.

— É claro que é! — Victoria rebateu. — Mas com essa tal de Elisabeth eles logo se mostraram receptivos, até mesmo o Gregory parece gostar dela, enquanto eu sou constantemente ignorada e maltratada. — Suspirou. — Você precisa fazer algo. Precisa dizer aos seus filhos que eu farei parte dessa família e que eles precisam me ver como parte dela assim como eu os vejo sendo parte da minha. — Choramingou um pouco mais.

— Victoria, por favor, não chore. — Theodore suspirou. — Eu prometo conversar com as crianças e fazê-los entender e serem mais receptivos, tudo bem? — Sorriu forçado. Victoria então o abraçou fortemente. Ele permaneceu sério enquanto ela sorria maldosamente por tê-lo comovido com seu choro forçado e mentiroso. — Vou pedir ao chofer pra deixá-la em casa, tudo bem? — Perguntou ele.

— Tudo bem. — Victoria sorriu. — Mas espero que em breve... — Disse sensualmente. — Eu possa simplesmente ir pro seu quarto... — Victoria agora deu um beijo caloroso nos lábios de Theodore, mas sem muita demora o soltou e com um sorriso sensual e pretenciosamente caminhou junto a ele pra fora do escritório.

***********************

Joshua finalmente havia pegado no sono. Annabeth dormiu mais rápido. Ela estava realmente cansada e pareceu pra Elisabeth que a pequena estava até mesmo um tanto chateada. Ela realmente não gostava de Victoria, mas também pudera, não é? Elisabeth sentia bolos se formarem em sua garganta só de pensar no olhar superior e arrogante que Victoria fazia questão de lhe direcionar. Odiava pessoas que simplesmente se acharam melhores que as outras. Deu por fim um beijo carinhoso na testa de Joshua e caminhou pra fora do quarto, fechando a porta atrás de si. Pra sua surpresa e total desgosto, duas mãos grossas a agarraram pela cintura e a chocaram contra a parede, e seu desagrado foi ainda maior ao ver os olhos negros e maldosos de Jonathan a fitando novamente. Antes que ela pudesse gritar uma das mãos dele subiu até seus lábios e o tapou fazendo-a exercer toda a força que tinha para se debater nos braços dele tentando se soltar.

— Você é simplesmente tentadora... — Ele sussurrou no ouvido dela enquanto a mesma tinha seus olhos marejados e continuava tentando se desvencilhar dos braços dele. — Totalmente irresistível pra mim, Elisabeth. — Falou mais uma vez e agora deixou seus lábios tocarem o pescoço dela dando um beijo molhado que a fez sentir o estômago embrulhar prontamente. — Eu confesso que estou totalmente encantado por você e por sua beleza. — Ele continuou falando. Estava bêbado, completamente, e seu bafo deixava Elisabeth ainda mais mareada devido ao cheiro forte de bebida barata e misturada. Ele parecia um pouco zonzo agora, pois a força que depositava pra segurá-la havia diminuído. — Vamos transar? — Ele pediu e agora a mão dele começou a subir o vestido dela para alisar totalmente sua perna. Nesse momento, Elisabeth conseguiu se soltar dele e sem pensar duas vezes chorou a palma de sua mão contra o rosto do velho causando um grande estalo que acabou por virar sua face.

— Você é repugnante! — Ela disse chorando incessantemente. Não ficou ali para esperar uma reação dele, apenas correu, correu muito em direção à saída da casa. Theodore franziu o cenho ao ver a porta se fechando dando saída pra ela. Ele então correu até o andar de cima e encontrou o pai.

— O que aconteceu? — Perguntou fazendo o mesmo encará-lo. — Por que a Elisabeth saiu daqui daquele jeito? — Questionou já raivoso, principalmente por constatar a vermelhidão no rosto de rugas dele.

— Eu não faço ideia. — Mentiu Jonathan, mas Theodore conhecia bem demais o pai para acreditar naquilo e então se aproximou bufando.

— Não ouse de maneira nenhuma fazer algo com aquela garota. — Falou. — Se eu descobrir que esteve rondando ela e se aproveitando dela, eu juro pai, que eu não vou pensar duas vezes em tomar uma atitude e certamente você não vai gostar nada. — Completou.

— Theo, meu filho... — Jonathan tentou falar, mas Theodore logo o cortou.

— Eu não vou deixar você e nem ninguém fazer mal a ela, entendeu? — Disse sério. — Então acho bom que estejamos entendidos, pai. — Jonathan apenas balançou a cabeça assentindo. — Ótimo. E por favor, é sério, nunca mais faça o que fez hoje, nunca mais olhe pra ela daquele jeito, e não apenas por ela, mas porque sua esposa estava sentada do seu lado e como homem o mínimo que você pode fazer é respeitar sua esposa. — Theodore falou entre os dentes, totalmente raivoso.

— Você sabe o quanto te respeito, Theo, e tudo bem, eu me excedi, não devia tentando algo com a garota, mas não seja hipócrita. — Ele riu. — Não me mande não olhar daquele jeito enquanto você fazia o mesmo com a Victoria bem a sua frente. — Jonathan riu. Theodore engoliu a seco.

— Está completamente fora de si. — respondeu arrancando um riso frouxo do pai.

— Quando ela apareceu naquele lugar eu vi seus olhos brilharem, eu vi como olhou pra ela, desde os pés até os cabelos, vi que analisou tudo nela, porque ela é simplesmente linda e irresistível até pra você, Theo... — Jonathan falou fazendo-o ofegar. — Você ficou ali com aquela cara de babaca por uns bons segundos. — Gargalhou. — Como fazia com a Summer. — Completou. Como num choque totalmente impulsivo e explosivo Theodore chocou o corpo de seu pai contra a parede da forma mais raivosa que podia.

— NUNCA MAIS FALE DA SUMMER, MUITO MENOS COMPARANDO-A COM OUTRA MULHER. — Theodore disse raivoso. — E vê se toma uma droga de banho pra curar essa resseca maldita, porque você está delirando. Ela é a babá e não vai ser nunca nada, além disso. — Disse agora soltando seu pai de seus braços.

— Tudo bem... — Jonathan respondeu quase que num sussurro.

— Vá embora. — Theodore pediu.

Sem dizer palavra alguma Jonathan começou a caminhar escadaria abaixo para poder encontrar Christina e ir embora junto a ela. Theodore passou a mão pelos cabelos e logo depois socou a parede num ato irritado. Mais uma vez engoliu a seco tentando tirar de sua mente a imagem totalmente radiante de Elisabeth adentrando a sala com uma elegância e beleza estonteantes que mulher alguma conseguiu ter para deixá-lo daquela maneira. Respirou fundo, limpou sua mente finalmente da imagem dela e de seus olhos cativantes, e caminhou até seu quarto onde despencou sobre a cama e apagou quase que instantaneamente.

********************

Elisabeth chorava incessantemente nos braços de Jennifer e Harry. Os dois estavam completamente chocados com a descrição do acontecimento. Jonathan parecia totalmente repugnante pra ambos. Harry se ofereceu várias vezes pra ir até lá quebrar a cara do velho em duas partes, mas Elisabeth pediu para que ele não o fizesse. Já Jennifer permanecia acariciando seus cabelos a fim de acalmá-la.

— Você quer um pouco de água com açúcar? — Jennifer perguntou. — Ou talvez um chá? — Sugeriu sorrindo levemente.

— Não... — Elisabeth limpou as lágrimas. — Eu só quero tomar um banho e dormir. — Disse.

— Pode deixar que eu mesmo vou ligar pro Stormfield e falar que você não vai mais voltar pro trabalho. — Harry falou prontamente.

— Não! — Exclamou Elisabeth rapidamente. — Eu não vou deixar meu trabalho. — Disse.

— Como não? — Harry franziu o cenho. — Lisa, você foi abusada hoje por um velho imbecil, tarado e repugnante! — Ele falou raivoso.

— Ele nunca vai lá. — Elisabeth explicou. — E eu não posso abandonar os meninos. — Completou.

— Só os meninos? — Harry perguntou espertamente fazendo-a franzir o cenho.

— O que quer dizer com isso, Harry? — Elisabeth perguntou um tanto incomodada. — O que quis insinuar com esse tom? — Questionou.

— Qual é, Lisa... — Harry bufou. — Quer saber, dane-se, eu vou pra casa, espero que fique bem e que saiba o que está fazendo, mas de maneira nenhuma eu vou apoiar sua volta a casa dos Stormfields. — Ele disse raivoso.

— Tudo bem. — Elisabeth respondeu. Já estava irritada e a atitude dele não a ajudava em nada. Harry bufou e saiu fechando a porta atrás de si. Jennifer mordeu os lábios.

— Não seja dura com ele... — Pediu. — Sabe que ele é louco por você e que não suporta imaginar alguém te fazendo mal, só está preocupado. — Explicou.

— Jenny, o problema não é a preocupação dele e sim ele insinuar que eu não me importo de ser assediada todos os dias, portanto que eu esteja perto do Theodore. — Ela bufou em irritação.

—Tem razão. — Jennifer suspirou. — Então você vai voltar normalmente amanhã, ou vai contar ao seu chefe o que houve? — Perguntou.

— Eu já pensei sobre isso várias vezes e nenhuma das opções me parece boa. — Elisabeth coçou os olhos tentando se livrar das lágrimas que vinham chegando. — Contar e destruir ainda mais aquela família totalmente desestruturada e talvez sair como a ninfeta da história que seduziu o velho rico por interesse, ou não contar e correr o risco de passar por isso de novo? — Fez uma careta.

— Se você fosse uma ninfeta interesseira e vadia já teria agarrado o Theodore. — Ela falou maldosa arrancando um riso frouxo da amiga.

— Só você pra me fazer rir numa hora dessas. — Lisa se debruçou na amiga e abraçou fortemente. — Obrigada por me apoiar sempre. — Disse carinhosa.

— Eu sempre vou te apoiar e seja lá qual for a sua decisão de contar ou não, e de continuar lá ou não eu estarei aqui, só quero que me prometa que vai se cuidar e que se esse velho idiota fizer algo de novo que você vai contar e até mesmo chamar a polícia se quiser. — Ela disse seriamente.

— Eu prometo. — Elisabeth sorriu. — Mas não vou contar. — Decidiu. — Eu vi como a esposa dele é triste e eu não quero causar mais problemas a eles, mas eu juro a você que se qualquer coisa incômoda acontecer com ele novamente eu vou sair gritando pro mundo. — Riu.

— Então tudo bem. — Jennifer a abraçou. — Agora vem, vamos tirar essa maquiagem e descansar. — Puxou a amiga pelo braço fazendo-a rir.

A hora estava bem avançada quando finalmente Elisabeth fechou os olhos. Ainda podia sentir a mão áspera daquele homem deslizando sobre sua perna e sua boca sendo tapada para conter o grito de socorro. Não queria ter que pensar nisso, mas não conseguia esquecer tão fácil. Ela realmente pensou em contar tudo, porém, o que adiantaria? As mulheres daquela família deixaram bem claro seu desafeto por ela. Jamais acreditariam na babá nova e inexperiente. Com certeza, Theodore perguntaria o que houve, e por mais que ela odiasse mentir, teria que fazer isso se quisesse continuar com as crianças.

********************************

Ainda era muito cedo quando Elisabeth se levantou e foi tomar banho. Jennifer ainda dormia calmamente quando ela entrou no quarto da amiga atrás de um casaco. Fazia um pouco de frio naquele começo do dia. Devagar, ela saiu do quarto e voltou para o seu. Vestiu então uma blusinha de alça com estampas pequenas de coração e uma calça jeans clara. O casaquinho vermelho foi colocado e, por fim, uma sapatilha também vermelha. Como sempre ela optou em deixar seus cabelos soltos, mas pegou um elástico e deixou no pulso — no caso de precisar. Olhando no seu celular, ela percebeu algumas chamadas perdidas, sendo a maioria de Theodore, o que a surpreendeu. Ela pensou em retornar, porém achou melhor conversar pessoalmente o que quer que fosse.

Silenciosamente saiu do apartamento e para a rua. Poucas pessoas — e carros — circulavam àquela hora. Apertando o casaco rente ao corpo, ela esticou o braço no momento certo em que o táxi passava. Dando o endereço exato, ela olhou pela janela enquanto a paisagem mudava rapidamente. Não demorou muito para o taxista parar em frente ao enorme prédio que se destacava naquela avenida. Com um suspiro, ela agradeceu e logo caminhou em direção à entrada. O porteiro a reconheceu e liberou sua passagem. Enquanto o elevador subia até a cobertura, Elisabeth sentia seu coração palpitar cada vez mais rápido. Silenciosamente ela pedia para que ninguém estivesse acordado e assim ela não teria que se explicar, porém, como sempre, nada saía como ela esperava. Theodore surgiu na sala no mesmo momento em que ela abriu a porta. Ele abotoava a manga de sua blusa social azul claro. A gravata chumbo estava perfeitamente no lugar combinando com a calça da mesma cor. Seu cabelo molhado e penteado para trás fizeram com que ela ofegasse, e logo o cheiro amadeirado entrou por suas narinas lhe fazendo respirar fundo. Ele ainda não havia percebido sua presença, porém, ao levantar o olhar ele parou de o que estava fazendo e a encarou em silêncio. Era palpável a conexão que estava se estabelecendo ali. Nenhum dos dois conseguia desviar o olhar, não queriam. Lisa ofegou mais uma vez antes de entreabrir os lábios e forçar sua mente a se concentrar em algo que não fosse aqueles olhos azuis. Pigarreando, ela foi a primeira a olhar para o lado e caminhar até o centro da sala. Ele seguiu seus passos e logo estavam frente a frente. Ela não sabia o que fazer, ainda mais agora que havia lembrado como saiu sem dar nenhuma explicação. Obviamente ele pediria alguma e ela não sabia qual dar. Optou então por apenas ser educada e talvez ele se esquecesse de tudo.

— Bom dia, Sr. Stormfield. — saudou friamente, sem encará-lo. — Com licença, pois vou à cozinha ver com a Grace o café da manha das crianças.

— Espera! — interveio ele, ao ver que ela começaria a caminhar. Havia algo estranho nela e ele pôde sentir. Onde estava aquele sorriso que ela sempre fez questão de dar? — Primeiramente, bom dia. E em segundo lugar, eu gostaria de saber o que aconteceu para você ter saído daquele jeito daqui. E ainda não atendeu as ligações que fiz.

Elisabeth engoliu a seco e respirou fundo. Óbvio que ele não iria esquecer, afinal, ela não fez nem questão de ser discreta.

— Me desculpe por ter saído daquele jeito. Não sei o que deu em mim. E eu só vi as ligações hoje. Sinto muito mesmo. — Ela torceu os lábios, fingindo chateação.

— Meu pai fez algo? — perguntou, direto, prestando atenção nas reações dela.

— Não, Sr. Stormfield. De maneira alguma. — negou veemente, recebendo um olhar desconfiado. — Eu não sei o que deu em mim para agir daquela forma. Prometo que isso não se repetirá.

Um silêncio incômodo se instalou. De um lado Theodoro a analisava, tendo certeza da mentira mal contada por ela. Do outro, uma Elisabeth nervosa e extremamente envergonhada tendo a certeza que não foi convincente. Por sorte, o momento não durou muito, pois com um suspiro Theodore deu um passo para trás e olhou para o elogio preso em seu pulso.

— Tudo bem... só não faça de novo, por favor. E quando lhe ligar... atenda, sim?! — pediu delicadamente recebendo um aceno positivo em resposta. — Novamente, peço desculpas pelo comportamento primitivo da minha família.

— Tudo bem, Sr. Stormfield.

— Pois bem... — suspirou ele, se sentindo incomodado com o jeito dela. — Tenha um bom dia, Srta. Sullivan.

— O senhor também. — desejou ela, sentindo-se mal por ter mentido. — Vou ir ver a Grace.

Theodore a observou se afastar calmamente até a cozinha e então franziu o cenho. Se tinha uma coisa que Elisabeth não sabia fazer era mentir e isso estava claro depois de agora. Havia acontecido algo muito sério, mas, por algum motivo ela preferiu não falar. Entretanto, ele descobriria e daria um jeito naquilo.


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Notas finais do capítulo

Oi galerinha. Estamos de volta. Gostaria de saber se estão gostando. Falem conosco! ♥

Até quarta.



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