O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 75
Capítulo 75 - Próxima parada: Bélgica


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão?
Boa leitura!



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Enfim era o dia. Luana estava de malas prontas, prestes a ir para o aeroporto. Com os curtos cabelos úmidos e uma toalha envolvendo seu corpo, ela sentou-se no canto da cama e procurou algo para vestir. Sua escolha foi uma calça jeans clara, uma blusa de frio acinzentada e uma bota de cano curto. Após trajar-se, se auto avaliou no grande espelho, e aos próprios olhos, estava bonita.

Sentou-se novamente na cama, e numa posição um tanto confortável, se pôs a pentear os cabelos lentamente. Ela queria, e como queria, ganhar tempo para passar ao menos alguns minutos a mais em seu apartamento. Sabia que dali a algumas horas, estaria em outro lugar completamente diferente, e não poderia voltar ao Brasil tão cedo. Com os pensamentos em outra dimensão, ela foi surpreendida por duas respectivas batidas na porta.

— Estou interrompendo alguma coisa? – Era Ellen. Ela também já estava devidamente arrumada, pois deixaria a amiga no aeroporto.

— Não. Nada.

— Pensei que estivesse interrompendo.

— O quê?

— Seu momento de concentração com o cosmo.

— Ai que engraçada.

— Que foi? Acordou do outro lado da cama hoje? Era pra você estar alegre e sorridente.

— Falou certo: “era”, no pretérito imperfeito.

— Ei, dona. – Ellen aproximou-se e sentou-se em sua frente. – Por que o desânimo? Hm?

— É que... eu sei lá. Tem algo errado.

— Algo errado? O que tem de errado?

— Eu não sei, mas isso está me matando.

— Sabe o que está me matando? Ver você desse jeito. Tenta se animar um pouco, criatura! Hoje é o grande dia! – Ellen expressava alegria, porém Luana não movia um músculo da face a seu favor. – Não me obrigue a te fazer cócegas.

— Você não vai fazer coisa nenhuma.

— Ah eu vou sim! – E a morena partiu em sua direção fazendo-a ter uma crise alta de risadas, ainda mais quando atingiu seu ponto fraco: sua barriga.

— Ellen! Para! – Praticamente implorava enquanto caía sobre o colchão.

— Não, ainda não!

— Chega! Por favor! – Só então Ellen encerrou sua sessão de cócegas. E pôde-se garantir que ela riu tanto quanto a própria ruiva.

— E agora? Melhorou o humor?

— Talvez.

— Não vai confessar?! Vou fazer de novo!

— Não! Espera! Eu confesso!

— Muito bem.

— Você não tem jeito, né?

— Não, nunca tive. Minha mãe sofria.

— Eu lembro bem. Ela já passou muita vergonha por sua causa, não é, mocinha? – Ambas trocaram sorrisos maliciosos, como se uma soubesse o que a outra pensava apenas pelo olhar.

— Lua, já são 4:35.

— Já entendi o que você quer dizer com isso.

— Exatamente. Temos que ir agora, senão vai acabar perdendo o voo. – A outra respirou fundo e voltou seu olhar para baixo enquanto se levantava.

— Vamos. Encontramos o Lucas lá.

— Espera, ele também vai hoje?

— Sim, no mesmo avião.

— Por que não me disse?

— Vai ver eu esqueci. – A ruiva sorriu com malícia outra vez.

Pegou suas malas no canto do quarto e foi auxiliada por Ellen. Ambas foram até a sala, e a morena já se preparava para sair, porém sua saída foi adiada pela outra.

— Espera, Ellen.

— O que foi?

— Deixa eu me despedir.

— De quem? Só tem nós duas aqui. – Porém, como se previsse que as duas falavam dele, Ozzy surgiu na sala.

— Tem certeza? – Luana sorriu de canto e andou a curtos passos até o cachorro, este que por sinal já não era mais nenhum filhote, e sim um cão adulto, obediente, brincalhão e encantadoramente belo. Ela abaixou-se e começou a afagar seus pelos, enquanto dizia em voz baixa, para que só ele ouvisse. – Ozzy, a mamãe vai passar um tempo fora. Vou sentir muita saudade sua, mas a Ellen vai cuidar bem de você e eu prometo que quando voltar, te trago uns presentinhos. Que tal aqueles biscoitos de legume que você adora? Está bem? Tenho que ir agora. – Ela o puxou para perto e lhe deu um abraço apertado, escondendo seu rosto entre seus pelos. O border simplesmente deixou, lambendo suas mãos no fim do abraço. – Tchau, Ozzy.

As duas enfim desceram os nove andares e chegaram até em baixo com as devidas malas. Puseram-nas atrás do carro e partiram em direção ao aeroporto. Durante o percurso, o silêncio.

Para ser sincera, Luana não tinha uma ansiedade ou uma felicidade inabaláveis como a maioria das pessoas supunham. Ela iria apenas para fugir um pouco dessa realidade e angústia que a perturbava tanto. E talvez, a viagem a trabalho a ajudaria.

Contudo, um mês depois de tomar tal decisão, ela já não tinha as mesmas intenções. Mas não cometeria a loucura de encerrar sua ida apenas pela insignificante vontade de ficar. Agora era a hora e a mesma não voltaria atrás. Ao menos, era o que pensava.

                                              ...  

Repentinamente, Elídio se viu acordado. Não sabia o motivo que o levara a despertar, mas seja lá o que tenha sido, aquilo foi como um sinal. Arrastou-se um pouco sobre sua cama até alcançar o celular. Eram 5:25. No mesmo instante, ao lembrar de algo, ele arregalou os olhos. Seria essa a hora de colocar seu plano em ação?

O barbixa sentia-se dividido. Não sabia bem se o faria. Não tinha a ciência do certo e do errado. Além de tudo, tinha pouquíssimo tempo para pensar. Levantou-se e foi até a cozinha, onde pegou um copo d’água para beber. O líquido estava um tanto gelado. Tão gelado que sua garganta chegava a doer, mas ao menos isso servia de estimulo para que despertasse.

“Não. Eu não vou fazer isso.” Pensava consigo mesmo, na tentativa de agir com racionalidade. Mas logo levou uma das mãos ao rosto, em sinal de derrota. “Que droga. Eu tenho que fazer isso.”  

Sem pensar mais um segundo sequer, ele tomou num só gole todo o resto de água que ainda havia no copo, largou-o sobre a pia e praticamente correu de volta para o quarto. Pegou o celular novamente e digitou com pressa.

                                                   ...   

Ao ouvir o toque do telefone, Daniel acordou um tanto irritado, querendo talvez esganar a pessoa que havia interrompido seu precioso sono.

— Alô?

— Daniel, levanta.

— Elídio?

— Isso.

— Que merda, cara.

— Daniel, é sério, levanta. Eu preciso te falar uma coisa.

— E tem que ser a essa hora da manhã?

— Tem, ou até mesmo bem antes. Me escuta. E presta bem atenção no que eu vou dizer. – Sanna dizia compassadamente, até então tentando passar calma. – Hoje, Luana vai partir. Vai pra Bélgica, passar anos lá. Entendeu? ANOS. E se não quiser dar um “tchau” ou um “adeus” antes que ela vá, ou até mesmo impedir esse desastre, eu sugiro que levante dessa cama agora e vá até o aeroporto.

— Como é? – Daniel levantou-se nesse instante, como se acabasse de levar um choque de informações.

— Quer que eu repita?

— Não! Espera, ela vai viajar?

— Sim, se é que pode-se chamar isso de viagem, porque por mim, é praticamente uma mudança de país.

— Como sabe disso?!

— Ela chamou a mim e ao Andy pra contar. E cá entre nós, estou me sentindo um completo traíra, porque se ela não lhe chamou também ou não lhe contou antes, foi porque ela não queria que você soubesse. E agora eu estou fazendo com que você saiba.

— Muito pelo contrário, você não fez mal! Obrigado por me avisar. Obrigado mesmo! E decora isso: tenho uma dívida eterna contigo.

— Tomara que pague, sabichão. Mas vai logo, o voo sai às 6:00.

— Hã? 6:00?! Você é maluco! São cinco e meia, cara! – Mais que rápido, Daniel foi até o guarda roupa e pegou uma peça adequada para vestir, porém, parou repentinamente. Embora tenha sobressaltado-se com a notícia, acabou esquecendo de um detalhe um tanto importante. Ainda com o celular ao ouvido, ele disse dessa vez com calma. – Mas... Elídio.

— O que?

— Tem um porém. Isso é inútil.

— Como assim isso é inútil, seu imbecil?

— Ela não quer mais saber de mim.

— Quem garante? Hein? Eu conversava com ela, eu via ela, aliás fiz isso ontem mesmo, e é notável que ela não está bem. Sei que isso tudo envolve você.

— Não foi isso que eu constatei.

— Não é porque ela não tomou iniciativa nenhuma, que ela não goste mais de ti. Ela finge pra todos, pra você e talvez até pra ela mesma, que está tudo bem, mas no fundo não está. E adivinhe? Você faz exatamente a mesma coisa. – Daniel ficou em silêncio alguns segundos. Teve que pensar rápido.

— Tem razão. Se ela não vem atrás de mim, eu vou atrás dela! E dane-se se não der certo! Ao menos eu vou tentar.

— Isso! Agora vai logo. Não perde mais tempo.

— Tá, tá! Ah, obrigado mais uma vez! Não sei o que seria de mim sem ti!

— Tem que falar isso pra ela, não pra mim! – Cômico como sempre, Elídio conseguiu lhe arrancar um sorriso.

Daniel desligou o celular e voltou a procurar uma roupa. Talvez nunca tivesse se vestido tão rápido. Agora só queria que o infernal trânsito de São Paulo conspirasse a seu favor.


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Notas finais do capítulo

Só digo uma coisa: CORRE, CARA.
Obrigada por lerem e até a próxima!



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