O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 70
Capítulo 70 - Talvez


Notas iniciais do capítulo

Olá, caros leitores! Como vão?
Tenham todos uma boa leitura.



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— Tenho permissão pra entrar? – Perguntou Luana, um tanto desconcertada com a situação.

— Toda. – Ao entrar naquele que seria o primeiro compartimento do apartamento, a sala, Luana notou um lugar amplo e muito bem organizado, como já era de se esperar. – Senta. – Ela obedeceu, indo até uma das poltronas cinzas.

— Gostei do lugar. Parece bem acolhedor. – Ela disse ao rondar os olhos pelo local, enquanto “amaciava” com os dedos o tecido do assento em que estava.

— Que bom que gostou. Aceita uma água? Um café?

— Uma água. – Ele virou-se e adentrou, deixando-a sozinha. Uma de suas pernas parecia não querer se aquietar. Era um possível sintoma da tensão pela qual estava passando. Porém logo tentou se acalmar. Seria até bom para lhe causar uma boa impressão. Ao voltar com o copo d’água, ele entregou-lhe e sentou-se na poltrona ao lado.

— Eu não esperava sua visita.                             

— Nem eu esperava. – Ele sorriu com seu modo de falar.

— Quem lhe disse onde moro?

— O Fernando.

— Entendi. Bem, e o que te trouxe aqui?

— Meu carro. – Ele sorriu novamente, bem mais solto do que da primeira vez.

— Eu não quis dizer literalmente, mocinha.

— Isso é outra história.

— Quer conversar?

— Talvez sim. – Ela bebeu mais um gole da água, quando parou para fitá-lo. Sua aparência era a mesma. Não mudara em nada. Quando percebeu que já estava olhando-o a muito tempo, voltou a concentrar-se no líquido transparente e inodor que estava em seu copo.

— Então...?

— A questão é que... bem, eu estava precisando de ajuda.

— Ajuda? Que tipo de ajuda?

— Um amparo. E sei que é estranho ouvir isso de mim, mas é o que eu preciso.

— O que aconteceu?

— Talvez eu e o Daniel tenhamos terminado.

— Talvez? Como talvez?

— É que eu já nem sei. Só sei que brigamos e não nos falamos mais. – O moreno ficou em silêncio por alguns segundos.

— Por culpa dele, não foi? Tenho certeza.

— Ele gosta de outra.

— Eu avisei. Ele não presta.

— Se esse for seu conselho, é melhor eu ir embora. – Luana ameaçou se levantar.

— Espera. Fica. – Lucas a conteve e pediu angelicalmente. Ela permaneceu quieta, enquanto afastava sua franja para o lado. 

— Eu só precisava de alguém agora. E pensei em você. Não faça eu me arrepender disso. – O outro assentiu com a cabeça.

— Vai ficar tudo bem, Lua. Se ele gosta de outra, então deixe ele ficar com ela. Tem tantos outros homens no mundo pra você. – “E eu sou um deles”. Por mais que o tempo tivesse se passado, e por mais que as esperanças de ficar com ela fossem praticamente nulas, ele nunca desistiu. Afinal algum dia o casal que ele tanto desaprovava deixaria de existir, e quando esse dia chegasse, ele estaria lá. E finalmente, este dia chegou.

— Eu sei.

— Mas você ainda gosta dele? – Lucas já não esperava um “sim” ou um “não”, mas sim uma resposta convicta.

— Eu sinto amor e ódio por ele. – Não era a melhor das respostas, mas a esperança de que seu ódio sobressaísse sobre o amor ainda o deixavam otimista.

— Seria bom que você distraísse a mente, sabe? Pra esquecer os problemas.

— Talvez.

— “Talvez” não é a melhor palavra, e sim “com certeza”.  

— Mas “com certeza” são duas palavras.

— Quem sabe eu tenha faltado umas aulinhas de português. – Ela riu.

— Você trabalha num curso de línguas, Lucas. Fala inglês, espanhol, alemão e francês, mas mal fala o português direito. Vai entender.

— Ainda bem que você lembra.

— Não tinha como esquecer. Aliás, ainda trabalha no curso, não é?

— Isso. E acredite ou não, me tornei um dos professores mais queridos daquele lugar. Vai entender. – Ele imitou a expressão da outra, dessa vez num tom cômico, fazendo-a rir novamente. – Então, não quer fazer alguma coisa? Jogar vídeo game, andar de patins, ou sei lá?  

— Topo.

— E o que prefere primeiro?

— Mortal Kombat. Você tem aí, certo?

— Claro. Seu desejo é uma ordem. – Ele levantou-se e foi procurar tal jogo.

Luana ainda tinha um certo receio por ele e tudo o que os cercava, mas aos poucos foi se soltando mais. Ambos sentaram-se no tapete felpudo da sala e deram inicio a luta. A cada golpe, um grito, uma comemoração ou até mesmo um xingamento. Os dois pareciam dar tudo de si no jogo, pareciam incorporar o espírito de luta dos personagens. Se envolviam tanto no desafio que sequer notaram as horas se passarem.

— RÁ! Ganhei mais uma! – Disse a ruiva.

— Pois saiba que ainda está de 8x6 pra mim, esperta.

— Caramba. Que louco. Aliás, que horas são?  

— São... – Ele esticou-se para alcançar o celular. – ...quase sete e meia.

— Já? O tempo passa muito rápido.

— Você não vai agora, ou vai?

— Já é meio tarde, Lucas.

— Não quer comer umas pizzas primeiro?

— Ah... bem, é que...

— Aceita, não é? Ótimo. Espera, vou ligar pra pizzaria. – Ele a interrompeu antes mesmo de ter uma resposta. Luana riu discretamente. Isto era fato: se Lucas botava algo na cabeça, não havia nenhum ser que pudesse fazê-lo pensar o contrário. Para ele, se era isso, então era isso e acabou. – Oi? Amigo, me vê duas pizzas grandes: uma calabresa e outra margherita. Acompanha refrigerante? Certo. Obrigado então.

— Espera, você esqueceu de dizer o endereço. – Disse quando ele já havia desligado.

— Isso é coisa do passado, minha querida.

— Hã? Eles são videntes por acaso? – Lucas riu. Aliás, não estava rindo, estava gargalhando. – Qual é a graça?

— Eles tem meu número registrado, boba. Sempre que eu ligo, meu endereço aparece lá automaticamente. Entendeu agora, primitiva?

— Entendi. E eu não sou primitiva, ok? Ok.

— Você responde as próprias perguntas. É louca, isso sim. – Se tinha uma coisa que ela fazia como ninguém, essa coisa era parecer maluca. Falava sozinha frequentemente e ainda por cima respondia as perguntas que ela mesma fazia. Essa era Luana. 

Minutos depois, as tão desejadas pizzas enfim chegaram. Logo que ouviu  a campainha tocar, Lucas levantou-se e foi atender a porta. Antes mesmo que voltasse com o jantar, Luana já podia sentir seu maravilhoso cheiro da sala.

Ambos comeram ali mesmo no chão de tapete felpudo enquanto assistiam a uma série que ele acompanhava, porém Luana só a conhecia de nome. Assistiam tudo em meio a muitas cenas de ação, muita interação de Lucas para com os personagens, e muitas risadas da ruiva ao ver o quão idiota ele podia ser ao falar sozinho com a TV.  

— Acabou?

— Acabou, para a tristeza da nação! – Ele dramatizou.

— Lucas, agora eu realmente preciso ir. São 21:48.

— Tudo bem. Posso ao menos te deixar em casa?

— Não precisa. Eu vim de carro.

— Ah. – Meio deprimido por não poder acompanha-la, ele logo se conformou. Luana levantou-se do chão, ajeitou a roupa um pouco amassada e andou até a porta, escoltada por ele.

— Olha, muito obrigado por hoje. Eu simplesmente adorei o jogo, a comida, a série e enfim. Inclusive, estou pensando seriamente em acompanhar também. – Ela disse com um sorriso maroto. 

— A série?

— Sim. É muito boa.

— Uau! Não sabe o quanto eu estou feliz de ouvir isso! Uma estrela a mais vai brilhar no céu hoje! – Ela riu.

— Brilharia se em São Paulo pudéssemos ver estrelas, mas não vou cortar seus poucos momentos de alegria.

— Tudo bem, espertinha. Eu vou cobrar, hein?

— Sim senhor, capitão. – Ela sinalizou como uma legítima marinheira. Era impressionante como apenas um dia foi suficiente para que Luana o visse como antes novamente. Ela já não via aquele homem possessivo, violento e compulsivo que ele acabou se tornando, mas sim um cara extrovertido, vivaz e sorridente que mais uma vez conseguia lhe arrancar risadas; por mais que seu lado obscuro ainda estivesse lá, muito bem escondido.

— Quero te ver mais vezes. Ter mais tardes como essa.

— Você terá. Nós teremos. – Lucas abriu um largo sorriso. Só ele sabia o quanto lhe fazia bem ouvir aquilo. – Boa noite, Lucas.

— Boa noite, Lua.

E lá se foi ela, de volta para seu prédio. Pegou um trânsito sem fim até chegar no apartamento, e quando enfim entrou, encontrou Ellen a seu aguardo.

— Oi, sumida.

— Sumida não, porque eu deixei recado. – Mal chegou e já foi recebida com muitas lambidas e rabos dançantes de Ozzy, que surgiu de um canto qualquer da sala.

— Onde estava?

— Bem, talvez eu te diga, e talvez você me mate por isso, ou talvez se sinta feliz por mim como eu quero.

— Será que dá pra dizer logo onde estava?

— No apartamento do Lucas. – Ela respondeu curta e grossa.

— Onde?!

— No apartamento do Lucas, ué.

— Lua, você tem noção do que acabou de dizer?

— Lógico.

— E tem noção das consequências disso?

— Que consequências o que... – A ruiva disse num tom de deboche. – Acha mesmo que ainda tem algum problema em ver ele? Falar com ele como se fossemos pessoas civilizadas? Ah, pelo amor.

— Não há problema algum sem contar que ele praticamente te agrediu, te fez romper com o Daniel naquele tempo, te fez chorar e sofrer por conta disso.

— Você mesma já me disse pra deixar o passado no passado e seguir em frente. E é justamente isso que estou fazendo. Agora você acha ruim?

— Não estou achando ruim.

— Então? E para sua informação, ele me tratou super bem, como se aquela barreira entre nós não existisse mais. – Ellen ficou em silêncio por poucos segundos.

— Você já é bem grandinha pra tomar suas próprias decisões. Sabe o que está fazendo. – A outra atestou com a cabeça. – Pois bem. Talvez você esteja até certa. TALVEZ. – Maliciosamente, a morena a encarou. – Hm... me dá um abraço aqui, ruivinha. – Luana soltou um riso e correu até os braços da outra, que apertou-a forte ao tê-la consigo.  

Minutos depois, ambas já estavam a postos para dormir. Estirada sobre a cama, mais uma vez Luana tinha mil e um pensamentos em sua cabeça. Todas as noites, quando tentava pregar os olhos, vinham as memórias do tempo que passou ao lado de um certo barbixa. Aquilo já estava se tornando insuportável. Era um tormento tentar dormir sem poder. Era inevitável seus olhos esverdeados não enxerem-se de lágrimas. E era como se aquela tarde alegre em que passou ao lado de Lucas já não existisse mais.                         

Ao perceber que não conseguiria dormir tão cedo, ela pegou o celular para entreter-se. Checou uma rede social, e outra, e mais outra, até que viu algo. Uma foto. Era dele. Daniel.

Passou o polegar sobre a tela, tentando de alguma forma suprir sua vontade, tentando de alguma forma tateá-lo, tê-lo consigo e sentir sua presença. Mas ao mesmo tempo, o odiava. Não sabia o que era aquilo. Uma tortura ou uma louca mistura de sentimentos. A cada dia, a cada passo e a cada lembrança, tudo se tornava ainda mais difícil.

Cansada de tudo, Luana jogou o celular contra a cama. E se estivesse ainda pior, ousaria em lança-lo contra a parede.


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Notas finais do capítulo

Lucas voltou.
Vejamos no que isso resultará.
Obrigada por lerem e até a próxima!



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