O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana
Notas iniciais do capítulo
Olá leitores, como vão?
Sem muito a declarar hoje, tenham todos uma excelente leitura!
Rua Azevedo, São Paulo, em um dos apartamentos do prédio, no sexto e último andar, morava um homem que se mudara para lá há pouco tempo, quase dois meses atrás. Havia uma cortina verde-chá na porta de acesso entre a sala e a varanda, que balançava suavemente com o sopro do vento. O lugar não era tão grande, porém razoavelmente confortável. A vista, dava para aquela via pública, não muito conhecida na cidade, portanto de pouco trânsito, assim como pouco movimento de pessoas.
Lucas, que agora repousava no sofá, tinha o notebook sobre as pernas e os olhos atentos à rede social, que estava sendo checada atenciosamente. O facebook de certa ruiva lhe chamou mais atenção que qualquer coisa. Aos ver as publicações, fotos e outras coisas postadas por ela, ele chegou a conclusão do que já esperava: nenhum indício de qualquer possível namoro ou relacionamento com ninguém. Mas sabia que ela era cautelosa, discreta e por certo não escancararia qualquer informação sobre uma provável relação que tivesse com alguém, ainda mais se tratando de uma pessoa bem conhecida.
Mesmo sem ter esta certeza, ele tinha a impressão do que menos queria que acontecesse: que Luana poderia já estar com Daniel novamente, mesmo depois da sua criativa tentativa de separá-los de vez.
Tinha quase certeza de que o falso flagra não foi suficiente e queria ter uma prova maior. Desligou o notebook e foi para o quarto. Procurou uma roupa mais adequada para sair e usufruiu de seu melhor perfume. Checou a aparência no espelho do guarda roupa, e modesta à parte, estava um gato.
De camisa xadrez, bermuda escura, all star e cabelo estilosamente penteado, deixando evidente seu topete, ele esbanjava beleza. Saiu do prédio e pegou o carro, mas para seu azar, o congestionamento não estava disposto a ajudá-lo e certamente custaria um tempo a mais para chegar ao destino desejado.
...
— Alô? – Perguntou a ruiva com a boca cheia de sorvete de baunilha.
— Oi, Lua.
— Quem é?
— O cara dos Improváveis. – Daniel brincou.
— Ah, aquele que faz Stand-up? – Ela entrou na brincadeira e pôde ouvir uma leve risada do outro lado da linha.
— Este mesmo.
— Pois não?
— Eu seria muito mais romântico se dissesse que liguei porque queria ouvir sua voz e porque estou morrendo de saudades, mas só liguei pra saber se posso ir até aí, te perturbar. – Dessa vez, foi ela quem riu, fazendo uma pequena parte do sorvete escorrer de sua boca, sujando-a.
— É... – Ela limpou-se com a mão. – Claro que pode.
— Por um segundo pensei que fosse dizer “não”.
— E por que você diz isso?
— Porque demorou um pouco a responder.
— É que eu me sujei de sorvete aqui.
— Sorvete? Opa, agora tenho mais motivos pra ir aí!
— Engraçadinho. Pensei que estivesse ocupado demais pra ficar comigo hoje.
— De fato. Mas vez ou outra damos um jeitinho brasileiro, não é mesmo?
— Espero que dê esse jeitinho brasileiro sempre.
— Vou tentar. Agora vou saindo, te vejo daqui a pouco.
— Ok.
— Ok. – Disse ele. Ela esperou que ele desligasse, mas como não o fez...
— Ok.– Luana secundou. Daniel sorriu de canto, ao ver que ela também não havia tomado a iniciativa.
— Ok...
— Ok.
— Ok?
— Ok.
— Ok, vai desligar ou não? – Disse ele, enquanto ria da situação. Sem pensar muito, assim ela o fez, e a ligação deu-se por encerrada.
A ruiva começou a rir descontroladamente no sofá, enquanto Ellen vinha ao seu encontro.
— O que aconteceu pra você rir como uma hiena?
— É que aconteceu um momento “Hazel e Augustus” aqui.
— Quem?
— Até parece que não conhece “A culpa é das estrelas”.
— Não, não conheço.
— Ah, deixa pra lá.
— Então, o que foi?
— O Daniel vem pra cá.
— O Daniel? Agora?
— É. – Luana disse indiferentemente.
— Oh my God! Preciso me vestir! – Disse correndo para o quarto.
— E tu já não tá vestida, mulher?
— Tô falando de me vestir feito gente! – Gritou ela.
— E você tá usando alguma fantasia de animal por acaso?
— Ah Lua, você me entendeu! Se não sacou ainda, o Sr. Daniel Alves de Castro Nascimento vem pra nossa casa, e eu preciso me vestir com uma roupa no mínimo bonita!
Luana pôs mais uma colher de sorvete na boca e foi até o quarto checar se também estava apresentável. Sim, estava, com uma regata cor vinho, e uma saia preta e rodada que acabava um palmo antes do joelho. Cabelos bem penteados e a cara limpa que não hesitava em conservar, sem qualquer maquiagem.
Voltou para a sala. Alguns minutos depois Ellen apareceu em sua frente, com um vestido rodado de alças finas, em preto e com pequenos detalhes brancos.
— Como estou?
— Se fosse homem... eu te pegava.
— E ia deixar o Sr. Nascimento chupando dedo? Disso eu duvido. Você adora ele, guria.
— Quem garante que eu não pegaria? – Olhou-a, ainda falando com ironia.
— Eu garanto. Você não é lésbica, mocinha. E se fosse, não estaria namorando com ele.
— Só que, pelo que eu sei, ainda não estamos namorando.
— Ah qual é, Lua? Não corta meus sonhos, mulher!
— E isso é teu sonho?
— Um deles.
— Sério? – Luana não esperava que ela fosse tão a favor desse romance.
— Sério. Desde que você me contou eu quase não acreditei, e quando passei a acreditar, já imaginava vocês namorando, noivando, casando, tendo filhos e morrendo um ao lado do outro. – Nesse momento, Luana a olhava de boca aberta, a postos para ter um grande crise de risadas.
— Que cabeça essa sua, hein?!
— Acho que fantasio de mais.
— Você acha? Já eu, tenho certeza. – Trocas de olhares e sorrisos. Linda era a relação entre as duas, desde adolescentes, e agora adultas.
Parece que o tempo só fez aumentar o afeto e os laços entre a ruiva e a morena. Estas que ainda lembravam dos antigos laços que envolviam um outro rapaz. Lucas era o nome dele. E como os bons tempos faziam falta... muita falta. Mas foi como se a corrente que os unia, agora tivesse sido rompida, fazendo com que ele se distanciasse das duas. E embora aquilo fosse passado, as lembranças ainda eram presentes.
Luana pôs algumas músicas para tocar no celular, como se isto fizesse o tempo passar mais rápido. Pegou o fone que estava no canto do sofá, conectou ao aparelho e pôs no modo aleatório. Gostava disso. Era como se o celular entendesse o que ela precisava ouvir, mesmo sendo um simples e insignificante objeto sem vida. Logo pôde identificar a doce voz de Gabrielle Aplin e a linda e mensageira melodia de “Home”. Sorriu. Novamente o celular decifrou a canção que ela precisava escutar.
Passou bons tempos ouvindo diversas músicas como tal, até ouvir um som maior. O do interfone que tocava insistentemente.
— Alô?
— Oi, dona Luana. O Daniel chegou aqui, eu posso mandar ele subir?
— Sim, Gil.
— Certo.
Simpático como sempre, o porteiro havia anunciado esta que seria talvez a décima quinta chegada do barbixa ao prédio, ou quem sabe até mais, pois já havia perdido a conta.
— Nunca vou me acostumar com a alegria de saber que ele chegou.
— Ele chegou?
— Sim, acabou de chegar, deve estar subindo agora.
— Se você quiser, eu posso sair pra vocês ficarem a sós.
— Não, Ellen, não precisa. Queremos sua companhia.
— Você nem sabe se ele quer mesmo a minha companhia.
— Ele quer. Se ele não quiser eu espanco ele até a morte.
— Tá bom, sem violência. – Ellen levantou as mãos em sinal de rendição, fazendo a outra rir bobamente.
A campainha soou e a ruiva foi abrir a porta.
— Boa tarde, senhorita. – Disse ele com mais um de seus sorrisos arrebatadores.
— Boa tarde, cavalheiro. A que devo a honra da sua ilustre visita?
— Apenas vim para perturbar o seu sossego, se me permite? – Ele continuou com as artimanhas do século dezenove, estendendo-lhe a mão direita, com a esquerda posicionada para trás. A dona lhe concedeu a mão, permitindo que ele a beijasse suave e delicadamente.
— Tá, vamos parar com essa de boa moça.
— Por quê? Não se considera uma boa moça?
— Na verdade já fui. Desde criança fui considerada boa menina e nerd da sala, mas talvez eu tenha me afastado um pouquinho dessa realidade na adolescência.
— E continuou se afastando ainda mais na fase adulta, acertei?
— Em cheio. Se bem que ainda tenho algumas características aqui ou ali que me lembrem essa personalidade.
— Onde? Não estou vendo. – Ele disse fingindo revistar seu corpo, a procura dessas características. Ela riu.
— Entra. – Deu espaço para que Daniel passasse. Logo viu Ellen na sala, esta que levantou-se em um pulo para cumprimentá-lo.
— Olha só que adorável pessoa. Tudo bem, Ellen? – Abraçaram-se fortemente.
— Claro. E com você?
— Tudo ótimo.
— Quer sorvete? – Desta vez foi Luana quem falou a ele.
— Com certeza. – Ela então foi para a cozinha, que era visível da sala. – Afinal esse foi um dos motivos que me levaram a vir pra cá. – Com um sorriso fácil e a voz baixa, ele dirigiu-se a Ellen, que agora ria fraco. Em pouco tempo, a ruiva voltou com uma vasilha de vidro em mãos, com sorvete de baunilha, repleto de cobertura de chocolate. – Obrigado. É assim mesmo que eu gosto. – Disse com os olhos brilhantes, só em ver a grande camada de cobertura.
O tempo se resumiu em muita conversa, risos e sorvete. Mesmo que tenham se visto poucas vezes, Ellen e Daniel já dialogavam como velhos amigos de infância. E para a morena, logicamente isso não era nada comum, mas era uma descoberta mais que especial.
— Parece até uma criança! Tá com a boca toda suja de chocolate. – Luana passou os dedos ao redor da boca dele, limpando-a enquanto o barbixa lhe fitava com aqueles encantadores olhos castanhos. – Tá olhando o que, Zé Mané? – Ela lhe deu um leve tapa no rosto para ver se ele voltava a realidade, e lógico, quebrando todo o romantismo daquela cena.
— Ah obrigado pelo tapa. Eu adorei.
— Jura?
— Não.
— Então casal, vou ao banheiro, já volto. – Disse Ellen, enquanto os dois a olhavam com cara de paisagem, vendo-a ir.
— Desculpa por ela.
— Tudo bem, afinal em partes ela está certa.
— Você nos considera um casal? – Ele não respondeu. E com um de seus sorrisos mais sedutores, a deu um daqueles beijos que a tiravam do chão.
— Vou lavar isso e já volto. – Ela encerrou o beijo. Pegou a vasilha e foi para a cozinha, o deixando sozinho na sala. Apenas alguns segundos depois, a campainha tocou.
— Quem será? – Perguntou Daniel.
— Não sei. Estranho o porteiro não ter avisado nada. Estou com as mãos sujas de sabão, atende pra mim por favor?
— Claro. – Levantou-se do chão em um pulo, ajeitou a blusa que estava meio amassada e foi, já com um sorriso para ser simpático.
Logo que abriu a porta, seu sorriso desapareceu. A pessoa que menos queria ver naquele momento, estava ali na sua frente. E nem Daniel, nem Lucas recuaram em esconder a expressão de pura surpresa e tensão que se formou em seus rostos.
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Música: Home - Gabrielle Aplin.
Aliás, leiam "Culpa é das estrelas"! Assistam também.
E vejam só quem voltou a aparecer, galerinha! Lucas, em pessoa.
Esperem pra ver no que isso vai dar no próximo capítulo.
Obrigada por lerem e até lá!