Inverno Quente escrita por frankg


Capítulo 2
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– Tom. Nome bonito. Curto. Gostei. - Enchi a xícara de café e levei até ele. Tom imediatamente tomou um longo gole e suspirou. Olhou para mim e sorriu novamente – Você está sorrindo bastante. Será que o acidente afetou em algo? – Soltou uma leve e gostosa gargalhada e disse:

– Talvez – olhou para mim – Ou talvez eu só esteja alegre.

–Alegre? Como uma pessoa pode estar alegre nessas circunstâncias? Você deve ter batido forte a cabeça lá.

– Poderia ser bem pior, certo? Poderia ter quebrado as pernas, ter morrido ou ter ficado lá sozinho para morrer... Ao invés disso, uma mulher muito bonita veio ao meu resgate. Considero esse meu dia de sorte.

Tom sorriu novamente para mim. Dessa vez só com o canto da boca. Percebi naquele instante que esses eram os tipos de lábios que te fariam sonhar a noite. Que fariam com que eu lembrasse e comparasse com todos os outros que eu fosse conhecer no futuro. E isso não era nada bom.

– Aliás, meu nome é Laurien. – estendi a mão para ele – Muito prazer. – Tom apertou a minha mão e em seguida me puxou para perto. Levei um susto enorme.

– Ora, já passamos dessa fase – Tom me apertou em um abraço caloroso. – O prazer é todo meu, Laurien.

O espanto deve ter ficado estampado no meu rosto porque Tom soltou uma alta gargalhada. Eu sorri desconfortável, e sentei na cadeira que ficava na outra extremidade da mesa. As coisas já estavam ficando estranhas. Tom era um homem extremamente atraente e convidativo. E justamente por isso, eu devia ser mais cautelosa. Mas alguma coisa me dizia para ficar perto. Para conhecê-lo e deixa-lo me conhecer. Algo dizia que isso era uma oportunidade em uma vida inteira.

– Então, Tom, O que você estava fazendo andando de carro uma hora dessas da noite com a pior nevasca desse inverno? Você não está bêbado, está?

A expressão divertida que Tom matinha no rosto até agora se dissipou completamente. Em seu lugar, um olhar sombrio e cheio de angustias a substituiu. Tom entrelaçou seus dedos um nos outros e relaxou a mão em cima da mesa. Abriu a boca levemente para falar algo, mas as palavras se dissiparam no ar junto com a fumaça que saia de sua xícara. Senti-me culpada na hora, apesar de não saber o por que. Era obvio que a minha pergunta tinha aborrecido ele, embora eu não entendesse o motivo. Tom fez menção de falar alguma coisa novamente, porém foi em vão. Balançou a cabeça para um lado e para o outro bem lentamente.

– Tom? Falei alguma coisa errada? O que houve? – Perguntei relutante. Levantei da minha cadeira e sentei ao seu lado. Sua expressão continuava a mesma e eu ficava cada vez mais confusa. Tom continuava olhando para baixo. Parecia ter se desligado completamente. – Tom. – Chamei-o novamente, mas de nada adiantou. Estiquei meus braços em sua direção e segurei uma de suas mãos, que agora já não eram mais geladas. Estavam tão quentes quanto a minha. – Fala comigo. Estou ficando preocupada. Está tudo bem?

Tom soltou um suspiro longo, parecia que estava segurando a respiração a vários minutos. Apertou forte a minha mão e olhou para mim. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, apesar de sua insistência para se manter forte. Era perceptível que alguma coisa estava errada. Qualquer pessoa poderia ver. Mas parecia ser algo que vinha de dentro dele. E não dos ferimentos causados pelo acidente. Era como se toda a alegria que ele estava sentindo antes fosse apenas ilusão ou fingimento. Como se ele estivesse tentando esquecer alguma memória, mas de alguma forma, algo a despertou. A minha vontade era de abraçá-lo e perguntar o que havia acontecido, o que havia de errado, porque ele estava daquele jeito, tão triste. Minha vontade era de fazer tantas perguntas, de conhecê-lo, de poder ajudá-lo. Mas eu já estive nesse lugar, triste e prestes a cair aos pedaços. E naquele momento, eu apenas queria ficar sozinha. Desligar-se do mundo. E era isso que eu faria por ele. Daria um tempo sozinho, sem interrupções indesejadas.

– Venha cá, você precisa descansar. – Levantei da cadeira, ainda de mãos dadas com Tom, e o incentivei a fazer o mesmo. Uma expressão de dor tomou conta de seu rosto. – Você está bem? – Assentiu - Certo, naquele corredor a direita tem um quarto de hospedes. Você pode passar a noite ali para descansar. Amanhã tentamos entrar em contato com alguém, tudo bem?

Caminhamos até o quarto silenciosamente. Entrei e acendi o abajur que ficava no criado mudo. Um peque feixe de luz tomou conta do ambiente. Olhei para todo o lugar, de certa forma, como se fosse a primeira vez. Já fazia tanto tempo que eu não entrava ali. Tanto tempo que eu não oferecia o quarto a ninguém. Que eu queria ficar perto de alguém, na verdade. Fiquei observando tudo por um longo tempo, imagino, pois Tom me olhava de maneira estranha da porta. Como se aquele ambiente fosse tão novo para mim quando é para ele.

– É que... Faz tempo que não entro aqui. Mas a casa é minha, fique tranquilo. – Sorri, sem humor nenhum. – Pode deitar Tom. Vou pegar uns cobertores e travesseiros e já volto.

Subi as escadas para o meu quarto rapidamente para pegar dois cobertores e dois travesseiros. Sentei na minha cama apenas por alguns minutos e soltei um longo suspiro. Como essa noite estava sendo incomum! Nunca acontecera nada dessa maneira comigo. Nos meus 21 anos de vida, eu nunca conhecera alguém por quem senti uma conexão tão forte, tão rapidamente. Talvez Tom não se sentisse da mesma forma, mas isso não importava. Importava para mim, pois, de alguma forma, Tom me fez perceber que eu sou capaz de sentir novamente. Capaz de querer conhecer alguém, e querer que essa pessoa me conheça. Talvez Tom fosse embora cedo na próxima manhã e nós nunca mais fossemos nos ver. Mas só o fato de eu sentir algo por alguém, nem que por poucas horas, para mim, já era uma grande vitória.

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Quando eu entrei no quarto de hospedes novamente, Tom já estava deitado, com os olhos fechados e roncando baixinho. Seu rosto estava tão pacífico. E tão belo perante aquela luz fraca do abajur. De uma maneira estranha, ver ele deitado ali, profundamente adormecido, fez com que eu me sentisse segura. Aliviada. Como se agora, depois de todos esses anos, eu finalmente percebera o quanto estivera sozinha. E o quanto eu lutaria para jamais ficar sozinha novamente.

Coloquei os cobertores levemente em cima do corpo adormecido de Tom, até ficar apenas o seu rosto descoberto. Deixei remédios para dor e uma garrafa de água perto o suficiente para que alcançasse com facilidade. No momento em que eu estava saindo do quarto, muito devagar, escutei uma voz rouca e sonolenta, que dizia:

– Ei, Laurien. Muito obrigado. Por tudo.


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Notas finais do capítulo

Capitulo novo! Espero que gostem!



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