A aula terminada, jogo meus papéis e anotações na mochila e vou para a outra sala. Quando chego à porta, alguém segura meu pulso. Era uma menina um pouco mais baixa que eu, com cabelo castanho claro com o comprimento um pouco mais abaixo dos ombros e a pele mais branca que a minha, com grandes olhos castanhos. Sua blusa azul- clara estava um pouco comprida, porém combinava com a calça jeans em lavagem escura.

– Eu vi o que você fez com Branca – ela sorri de forma má – Eu faço isso também.

Sorrio.

– Ela sempre fala esse tipo de coisa para mim também. Você é Giulietta, não é? – eu e a menina saímos da porta e andamos bem devagar pelo corredor. Tínhamos uns cinco minutos até a próxima aula.

– Pois é – digo.

– Uns garotos e umas meninas falaram de você. E não foram coisas muito boas. – Só podia ser. Eu odeio isso. E o pior é que eu nem sei o porquê. Ainda que houvesse uma razão, eu poderia tentar concertar – Porém, como não confio em ninguém, resolvi tirar minhas próprias conclusões.

– Obrigada, eu acho.

– Não há de que. E a propósito, eu também não gosto de Branca. Então nós já viramos amigas. – sorrimos uma para a outra. – Meu nome é Amanda Kyle.

– Bem, você já sabe – digo.

– Sim. – ela olha para os lados e sussurra – Tem muita gente aqui que acham vocês legais – acho que Amanda se refere á mim e a Rebecca – só não sei qual o motivo para tanto ódio alheio.

– Nem eu – suspiro – Bom, pelo menos você quis tirar as suas próprias conclusões.

– Claro! Não deve confiar na palavra desse povo. Tem muita mentira envolvida.

– Concordo. – o sinal toca novamente. Esses foram os cinco minutos mais rápidos da minha vida. – Tenho que ir.

– Aula de Geografia?

– Sim. Você também?

– Não – diz Amanda – Mas tenho de Filosofia, que é ao lado. A gente se vê daqui a pouco, vou ao banheiro.

– Mas você não vai perder a aula?

– E quem liga? Nem vão notar a minha ausência.

Então ela sai correndo para uma direção e eu vou para a oposta.

***

Intervalo. Comida. Fome. Eu só consigo pensar em não pegar fila para comer um simples sanduíche; mas já que estou nela e sei que Rebecca não vai comer, pego um para ela também e irei obrigá-la. Não sei por que essa resistência de comer pela manhã.

Vejo Amanda e a levo, junto com Rebecca, para o meu lugar favorito na hora do intervalo. Eu o descobri ano passado e Rebecca passou a frequentar também. É atrás da escola e é de uma sombra que não tem nos outros lugares do colégio.

Nos sentamos na grama e é como se já nos conhecêssemos antes. Tipo, muito antes. Gosto musical, livros e filmes. É muito difícil fazer uma amizade assim, que queira falar e esteja disposto a ouvir. E uma coisa que eu e Rebecca aprendemos, com o passar dos anos, é julgar uma boa amizade.

Terminado o intervalo, voltamos para as aulas maçantes e logo estamos em casa novamente. Como só temos aulas em tempo integral ás segundas e quartas, hoje poderíamos descansar.

– Eu amo as quintas- feiras – e me jogo na cama, com a mochila ainda nas costas.

Minha cabeça está enterrada no travesseiro e tenho que virar o rosto para poder respirar. O quarto está com as cortinas leves fechadas, deixando meio escuro o cômodo. Está com um ar ótimo.

Ou eu realmente estou louca, ou é muito sono.

– É muito sono – diz Rebecca, colocando os cadernos e livros da escola na escrivaninha.

– Como que você... – o som sai abafado.

– Ah, vamos. Você se jogou na cama. É muito sono. - ela termina de arrumar tudo e se volta para mim - Não vai nem almoçar?

– É verdade.

Mas caio no sono em seguida, só ouvindo os passos leves da minha irmã ao sair do quarto.

Eu realmente estava cansada. Não conseguia mais dormir direito. Eram tantos pesadelos que eu mal pregava os olhos - e eu não gostaria de compartilhar isso com mais ninguém. As sombras perdiam as formas nas janelas e parecia que apenas eu enxergava aquilo.

Pesadelos. Sombras. Olhos me observando durante á noite e me perseguindo em meus sonhos. Eu podia sentir, mesmo dormindo, um frio percorrer minha espinha. Acordo suada e sem fôlego. O que estava acontecendo comigo?