Contos escrita por Carlitos
As propagandas me olham com olhos sinistros. Assustam-me. Passo os dias a contá-los nos dedos. Quando foi que me disseram que seriam assim? Ó, por que nunca me disseram? E por que eu tive tanto receio, se seriam assim?
Não sei, não sei nem quero saber. Não quero saber mais! Só quero algo, alguma coisa, algum objetivo. Olhar para o alto e ter a certeza de um objetivo maior. Acabar com este marasmo. As estrelas, o sol, as constelações. Tudo me parece abstrato, longe. As pessoas e suas relações. Parecem-me algo tosco, sem sentido algum. Quero ter algo, quero sentir, e não me satisfaço.
Lembro-me de quando era criança e o mundo era mais fácil. Quando não tinha preocupações tolas de adulto. Quando não tinha descoberto as pessoas fúteis. E quando não precisava de autonomia.
Quero gritar e me fazer ouvir. Quero sair correndo. Deixar a mim mesmo para trás. Alcançar alguma paz. Queria não ter necessidade de me juntar a alguém.
E me juntei a você. Você por alguns dias foi minha solução. Trouxe-me algo, um objetivo. Como se realizasse as minhas vontades. Como se olhasse para o céu e agora houvesse algum motivo, algum objetivo.
Essa alegria perene, esse contetamento de fundo que a tudo contagia. Essa vontade de estar vivo. Não tinha mais nenhum problema, pois havia você, e você me trouxe a solução.
Os dias se passaram e a alegria foi-se esvaindo. Foi desvanecendo. E aos poucos a tristeza, o descontentamento foi chegando. E os sentimentos ruins, como um bumerangue, foram voltando.
Não foi de uma hora pra outra. Aos poucos, devagarinho. É como um fantasma que assombra aos poucos. Fui percebendo que você mudava. Sua frieza ia crescendo. E às vezes eu esquecia — ignorava — que uma pequena voz me dizia que algo estava mudando, já não era mais a mesma coisa.
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