Contos escrita por Carlitos


Capítulo 14
Picanha, o detetive particular


Notas iniciais do capítulo

Último conto desta coletânea.



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Ah, mas eu não ia ficar por baixo. Não ia mesmo. Olhei praquela garrafa de uísque barato, ela me olhava com olhos sinistros. Sou mais forte que você! Enchi o copo e dei uma talagada. Desceu ardendo. Ótimo.

 

Minha casa tava uma bagunça. Tá sempre uma bagunça. Tenho coisa mais importante pra me preocupar. Um dia eu arrumo. Desci pra garagem e peguei meu Fiat 147, carro do tempo que se fazia coisa que preste. Sou o Picanha, o maior detetive do Distrito Federal e entorno.

 

Deixei minha kitchenette e fui direto pro meu escritório no Setor Comercial Sul. Pelo menos ainda tenho um escritório alugado. Tenho enquanto o Braga não me despejar. Quer me mandar pra rua só porque devo três meses de aluguel! Esse povo que só pensa em dinheiro.

 

Mas dessa vez vai vir dinheiro. Vai chegar alguém com um caso grande, que vou cobrar caro. É assim, meu amigo, se quer que investigue alguma coisa pra você, você tem que me pagar, me pagar o preço justo.

 

Tava sem trânsito naquela porra de dia, graças a Deus, então cheguei rápido no Plano Piloto. Se você não é de Brasília, meu chapa, saiba que essa cidade não passa de um autorama gigante. Plano Piloto, ou só Plano, é a parte da cidade que tem formato de avião. Pelo menos é fácil dirigir aqui.

 

Cheguei no Setor Comercial, que fica bem no centro. Mais uma placa anuncia um program de revitalização do bairro, mas essa porra sempre tá decadente.

 

Cheguei no meu prédio e fui até minha sala. Devia ter uma secretária, se eu tivesse dinheiro pra uma. Abri a porta do escritório, tinha umas correspondências pra mim. A maioria era besteira. Atravessei a antessala, que eu fazia de recepção. Mesmo sem secretária eu ainda mantinha uma mesa e uma cadeira ali, tenho que manter as aparências, ter um pouco de brio.

 

Ou meus clientes vão chegar e vão pensar "ah lá, o trouxa nem secretária tem". A gente tem que pensar com a cabeça de cima e a de baixo também. 

 

Cheguei até minha salinha. Abri a porta que já tá inchada e soltando lascas na soleira. Minha escrivaninha velha no centro e minha cadeira atrás. O teto, mofado e com goteira.

 

Deveria ter vergonha, o Braga, de me cobrar o que cobra e ainda deixar o teto chegar nesse estado. Ele me diz "é você que tem que arrumar", mas o desgraçado não aceita nem abater do aluguel. Que essa porra se encha de infiltração e caia na merda da minha cabeça, então!

 

Sentei na minha cadeira enquanto olhava pra porta, que deixei aberta. Só deixei fechada a de fora, se alguém chegasse e batesse lá, eu escutaria. Deixei um papel pregado do lado de fora escrito: "Se quiser entrar, bata". Não tinha um interfone, que essa merda custa caro. Se chegasse alguém e eu fosse abrir, eu já dizia logo: "Minha secretária faltou hoje, foi fazer exames". A gente tem que ser esperto, my champs.

 

Tava fazendo nada, então eu fecharia a persiana da janela atrás de mim, se tivesse persiana. Então ficava assim, aberta mesmo. Entrava um sol do cacete, um calor da porra. O ar condicionado tava quebrado, e eu que não ia botar um ventilador na minha sala. Ficava no calor então, oras.

 

Olhei pra minha estante de meia-parede, à minha esquerda. Tava cheia de livros, cuja a maioria eu não li, nem lerei. Em cima dela tinha uma garrafa de uísque e dois copos, em uma bandeja prateada. Fui até lá e me servi de uma dose.

 

Depois de algumas horas bateram à porta.

 

— Boa tarde! — disse a moça quando a recebi. — Quero falar com Picanha!

— Sou eu mesmo — respondi. — Entre e fique à vontade. Pode me seguir.

 

Ela entrou e fechei a porta atrás dela. Conduzi ela pela recepção.

 

— Minha secretária faltou hoje, tá fazendo uns exames — eu disse, e estendi meu braço direito apontando para a mesa e cadeira vazias, encostadas à parede. — Me siga até minha sala.

 

Continuamos reto e entramos na minha pequena sala. Pedi a ela para se sentar, apontando a cadeira para ela.

 

— Como estamos só nós dois aqui, vou manter minha porta aberta, se não tiver nenhum problema — disse eu.

— Não, por mim não há problema — ela respondeu.

 

Tava um calor do caralho, então deixei a porta que dava pra recepção aberta. Talvez assim corresse algum ar e arejasse aquele lugar.

 

— Pois então, quem é você, e o que faz aqui? — indaguei após me sentar em minha cadeira, do outro lado da escrivaninha.

 

— Sou Beatriz, e vim porque acho que meu marido está me traindo.

 

Era bonita aquela dondoca. Com certeza morava no Lago Sul. Talvez no Lago Norte, na península. Já até vejo ela dirigindo um Land Rover branco pelas ruas do Lago e do Plano, fazendo as unhas em salões chiques e comendo em restaurantes caros e ruins.

 

Eu consigo ver tudo isso porque sou Picanha, o melhor detetive particular de Brasília e entorno! E meu trabalho é esse, eu tenho que saber das coisas, adivinhar as coisas, baby! Esse é o meu business.

 

— Bem, então vamos lá… Vamos começar do início. Já vi que acha que seu marido tá te traindo. Você mora onde, Beatriz?

— Moro no Lago Sul — respondeu, e eu sabia! Acertei de novo. Eu nunca falho. — Vim aqui porque acho que você pode me ajudar a descobrir se meu marido me trai.

— Certo. Quem é seu marido, então?

— É Antônio Scherbitsky, advogado e fundador da Scherbitsky & Associados, escritório de advocacia, você já deve ter ouvido falar — ela ia me dizendo.

— Sim, conheço — respondi. — Já ouvi falar deles defendendo políticos. Mas, porque você acha que ele tá te traindo?

— Porque achei isso no carro dele — e ela me jogou um calcinha de renda vermelha em cima da minha mesa.

 

Olhei pra ela, olhei pra calcinha, olhei pra ela de novo, voltei pra calcinha. Olhei pro uísque em cima da estante, fitei a calcinha, voltei pra ela e imaginei ela só de calcinha.

 

— Minha senhora…

— Senhora está no céu, pode me chamar de você!

— Então tá bom… É… é, você já pensou se essa calcinha não pode ser sua?

 

Ela me olhou fixamente com seus olhos verdes:

— Eu não viria aqui se não tivesse certeza que essa calcinha não é minha!

 

Pedi licença e tomei a calcinha em minhas mãos. Coisa fina, rendada, toque sedoso. Quase a cheirei, mas meu anjo da guarda me impediu, lembrando que a madame estava ali na minha frente ainda.

 

Era bem típico desta cidadezinha. Os ricos e poderosos, de meia idade, carecas ou grisalhos e calvos, pançudos, com esposas bonitas e gostosas, traindo com mulheres mais gostosas ainda.

 

E era bonita a Beatriz. Era bem o tipinho de dondoca, jovem, branca, de cabelos pretos num corte chanel. Sem tatuagens. Boca vermelha. Perfume bom e doce. Caralhos, eu quero uma mulher!

 

Vestia uma camisa de manga comprida branca e uma calça verde oliva. Tinha anéis nos dedos, uma pulseira no braço direito, um relógio de ponteiros dourado no esquerdo. Reparei bem nela. Como um cara com uma beldade dessa em casa, saía pra ficar com outras na rua? Se eu fosse ele, faria a mesma coisa.

 

— Ta bom, senh… moça. Tem uma foto do seu marido, pra ajudar na investigação?

— Tenho. — Tirou da bolsa uma foto 3x4 com a cara do marido. — Já imaginava que ia pedir, então trouxe.

 

Tirei meus olhos do rosto dela e fitei a foto do marido. Pelo menos não era calvo. Mas era grisalho. Quando não são uma coisa, são outra.

 

— Tá bom. São cinco mil reais pra eu investigar!

— Tudo isso? 

— Olha minha senh… Quer dizer, menina, você quer que eu investigue ou não? 

 

A gente tem que jogar quente com o cliente, pra ele ver que a gente sabe jogar. Você vai jogar meu jogo, baby. 

 

— Outra, como você me descobriu? Já deve saber que sou o melhor detetive do Distrito Federal e entorno.

— Foi indicação.

— Quem me indicou?

— Rodrigo Adrulano.

 

Rodrigão. Ah, essa dondoca sabia das coisas, meu chapa. Sabia do submundo. Tá danada, danadinha essa moça. Tá frequentando o quê, minha filha, o submundo de Brasília? As melhores casas de Brasília?

 

Play my game, baby!

 

—  Então foi Rodrigo Adrulano quem te indicou? Então já sabe de mim…

— Sei. Por isso que vim — respondeu Beatriz.

— Então meu preço é esse, pegar ou largar.

 

Ela ficou me encarando um tempo, como se absorvendo o que eu disse. , Minhas regras, meu estilo, darling. Sou Picanha, Pi-ca-nha, meu bem!

 

— Tá bom… — pegou um talão de cheques da bolsa.

 

Cheques. Quem usa cheque hoje? Até se ela perguntasse meu pix eu dava. Agora cheques? Eu sou alguma piada?

 

— Quanto tempo demora pra me dar uma resposta? — ela indagou enquanto começava a preencher o cheque.

— Uma, duas semanas...

— Isso tudo? É muito tempo — Beatriz me cortou, a decepção transpareceu em seu rosto e ela parou de preencher o cheque.

— Olha, minha senh… Madame, sou um homem ocupado. Tenho mais casos pra resolver. O mundo não parou só pra você!

— Te pago o dobro pra você descobrir o mais rápido possível.

— Tá bom, então.

 

Tinha uma caneta prateada e as unhas todas feitas na manicure. Esmalte bege escuro, quase marrom. Preencheu e me entregou dez mil reais. Espero que não volte sem fundo.

 

———****———

 

Fui até a Scherbitsky & Associados. A madame me deu o cheque e eu ia descobrir se tava traindo ou não. Me pague e eu faço o trabalho, my champs!

 

Dirigi o 147 até lá. Não era muito longe, ficava em um prédio comercial espelhado na W5 norte. Tinha um estacionamento na frente, fiquei lá dentro do carro. Observei as árvores de folhas coloridas que tinham por lá.

 

Já tinha visto sete vídeos edificantes na internet e não acontecia porra nenhuma. Decidi ir comprar um cigarro picado numa banquinha de jornal ali perto. Fui comprar o bendito cigarro pensando se o coroa não ia sair justamente na hora. Fui correndo comprar, e a toda hora prestando atenção no prédio. Nada.

 

Acendi o cigarro na calçada, apoiado numa placa de pare. Foi quando vi o carrão preto do véio saindo de dentro da garagem subterrânea. Porra, bem na hora do cigarro! Fui correndo até o carro, com o cigarro na boca, e tratei de seguir o sujeito.

 

Já deixei o celular preparado pra poder tirar fotos dele com a amante. Ele ia andando na frente, e eu atrás. Dirigia, dirigia e nada de chegar a lugar algum. A merda do 147 já tava na reserva.

 

Ele desceu pela Asa Sul e foi embora, chegou até o Guará. Lá se enfiou por dentro das quadras até que parou em uma casa que tinha o portão todo fechado. Já deixei meu celular preparado.

 

E de lá saiu uma jovem, mais nova que sua mulher. Parecia uma novinha de dezoito. Entrou no carro, não sem antes eu fazer algumas fotos dela. O miserável nem desceu e ajudou ela a entrar no carro.

 

Até agora estava fácil, normalmente não era assim. Às vezes vinham casos em que eu tinha que seguir por dias o investigado, por que o salafrário decidia, por coincidência, parar de pular a cerca. Mas esse tava dando certo. Era só fazer umas fotos e ir no banco compensar o cheque. Esse já tava no papo.

 

Então ele dirigiu de novo até o Plano, pegou o eixão, atravessou toda a Asa Sul e Norte, e seguia reto. O malandrão gostava de gastar gasolina, puta que pariu! O cacete do 147 já tava ficando só no cheiro. Já tava vendo a hora que ia ter que empurrar aquela trapizonga.

 

Foi até o Lago Norte, entrou na península. Dirigiu até o shopping de gente rica que tem lá. Estacionei no centro comercial ao lado, que tem estacionamento de graça, e corri até o shopping.

 

Fui de um lado a outro lá dentro, até que achei os dois. Estavam almoçando na praça de alimentação. Estavam até confiantes os dois, assim, almoçando em público.

 

Sentei-me mais afastado, porém em um lugar privilegiado. Saquei o meu celular e comecei a fazer fotos. Procuravam ser discretos os dois, um de frente para o outro na mesa. Conversavam, trocavam alguns olhares, mas nada demais. Comecei a sentir fome.

 

Foco, foco na operação. Estou sem nenhum puto no bolso também. Em cheque, a desgramada me pagou em cheque! Se essa porra voltar sem fundo, eu meto no rabo dela!

 

Dali a pouco, um descuido, e a amante pousa a mão dela sobre a mão dele. Durou alguns segundos, ele delicadamente colocou sua outra mão sobre a dela e a retirou da sua, colocando-a sobre a mesa. Mas eu fui mais rápido, e fiz o clique. Ali estava a prova, a conclusão. É, Beatriz, você leva chifre.

 

Conversaram mais, terminaram sua refeição, se levantaram e iam embora. Passaram em frente a algumas lojas, e ele ainda comprou presentes. O cara era corajoso mesmo, ainda comprava presentes pra amante. Finalmente foram pagar o estacionamento.

 

Corri até meu carro e dirigi à procura do carro dos dois. Já tinha a foto da prova, mas era bom ter algo a mais, a finalização. Será que ele levaria ela pra um motel? Ou será que só a deixaria em casa? E, se só levasse pra casa, teria um beijo de despedida, pra eu flagrar com minha câmera?

 

Só faltava eu ter perdido eles. De qualquer forma, se perdesse, não tava ruim. Contudo, vi o carro deles saindo do estacionamento e os segui.

 

De novo o espertão pegou o eixão, mais uma vez ele cruzou toda a Asa Norte. Pensei que o véio ia de novo cruzar todo o Plano Piloto, mas aí ele pegou uma saída e se enfiou no meio da Asa Sul.

 

Estacionou de frente a um hotel barato. Malandro, escolheu um hotel, não motel. Podia ter escolhido um melhor, levou  a garota em um shopping chique, pra abater ela em um lugar barato. Bem espertão mesmo, hein.

 

Convenientemente, estacionei do outro lado, um pouco distante. Parei no embalo, aquela desgraça de 147 tinha ficado sem gasolina. Vi os dois saindo do carro deles e mais que rapidamente tirei foto dos dois entrando no hotel. Tirei umas fotos da fachada também, pra ficar registrado. 

 

Examinei e ainda avaliei subir numa arvore, ou tentar subir no telhado do prédio em frente, pra tentar pegar alguma foto de dentro do quarto ou algo assim. Mas avaliei que não seria necessário. Subir na árvore ia me doer na coluna e chamar muita atenção, em plena luz do dia. E, de todo jeito, eu nem sabia em que quarto estavam. Já tinha também as fotos do shopping, já eram suficientes.

 

———***———

 

A dondoquinha pediu urgência no caso, e só voltou depois de uma semana. Muito engraçado esse pessoal, quando é pros outros é urgente, quando é pra gente pode ser a hora que eles quiserem. O importante é que o cheque tinha fundo e eu já tinha colocado gasolina e buscado a porra do Fiat 147 78/79 branco, a única coisa no meu nome.

 

— A secretária faltou hoje, tá fazendo alguns exames — falei de novo quando a recebi, a mesma cerimônia da outra vez.

— Ué, mas de novo? Semana passada ela já tinha exames!

— É que ela é muito adoentada, sabe…

 

Sentei-me na cadeira de frente a ela. Ela, sentada na sua, me olhava. Tava um calor dos infernos, o ar-condicionado quebrado. Mesmo que não tivesse, ia adiantar porra nenhuma, já tinham vindo e cortado a merda da luz. Só podia atender de dia.

 

— Então, Picanha, descobriu? Ele me trai?

— Olha, Beatriz, tenho essas fotos aqui — abri a gaveta e tirei um envelope pardo com as fotos dentro, que mandei revelar.

 

Ela pegou, abriu e observou as fotos.

— Fiz essas fotos em frente a casa dela, essas no shopping, e essas no hotel praonde eles foram. Tirei até a foto da fachada… E essa aqui — peguei a foto que a amante pousava a mão na dele — acho que prova que eles estão tendo um caso.

 

Ela olhou com afinco as fotos. Pegou e as trouxe para mais perto de si. Tomou nas mãos a foto derradeira, observou-a com mais atenção. Aí veio o sobressalto e desatou a chorar.

 

Soluçava, arfava. Inicialmente apenas a observei. Comecei a reparar nela com mais atenção. Vestia um terninho branco, usava uma tiara preta. Brincos de pérolas. Maquiagem que de leve se borrava. Porra, era deprimente ver uma pessoa assim. Tinha que lhe oferecer água. Mas, cade a água?

 

Cacete, eu só tinha o uísque… 

 

— Sei que é triste, mas tem que se recompor. Pelo menos agora já sabe da verdade.

— Sim, sei… Mas dói, cara, dói! Porque fazer isso? Por quê? O que que eu fiz? — ia dizendo entre soluços. — Eu nem queria me casar no início — ia dizendo, me olhou nos olhos, os dela cheios de lágrimas —, ele que foi insistindo. Minha família apoiou, mesmo ele sendo mais velho, porque ele é rico… aí agora ele faz isso!

 

Seu rosto se avermelhou e fez uma careta. Baixou o rosto, lágrimas escorriam.

 

— Se acalme, Beatriz, se alcame… Aceita uma bebida?

— Não… obrigada — arfava, quase perdendo o fôlego.

— Certeza? Bebida é boa com essas coisas…

— Tá bom, aceito — cuspiu as palavras em meio ao choro.

 

Peguei o copo e enchi uma dose pra ela. Levei a ela o copo, que pegou. Engoliu em seco o choro, deu uma examinada na bebida, e tomou um gole que consumiu quase todo o uísque.

 

Fez uma careta e um grunhido. Seu rosto corou mais uma vez. Pousou o copo sobre a mesa. Sentei em minha cadeira.

 

— A pior coisa é você fazer uma coisa obrigada — ia me dizendo, agora ja não chorava mais. — Uma coisa que começa errada não tem como terminar certa! — deixou as fotos sobre a mesa, limpou os olhos, passou as duas mão no rosto. — Agora estou aqui, chorando na sua frente — esboçou um sorriso, olhou diretamente para mim.

— Pelo menos você não é a única — eu lhe respondi.

— Mas dói mesmo assim — retrucou e bebeu o resto do uísque. — Você tem mais aqui?

 

Peguei o copo e fiz mais uma dose para ela. Fiz uma para mim também. Voltei à escrivaninha. Ela tomou mais um gole.

 

— Deve tá achando engraçado as minhas caretas — Beatriz disse e sorriu.

— De forma alguma — respondi

— Esse uísque é bom… Bom e forte. Aquele traste também gosta de uísque — pontuou.

— É um que comprei de promoção aí…

— Eu tô me sentindo uma idiota. Fui pela cabeça dos outros. Admito que é confortável a mansão dele, mas agora ele me põe chifres.

— O mundo é feito de cretinos, babacas — respondi e ela me olhava fixamente. — De gente que não sabe aproveitar o que tem em casa. — Ela deu sorrisinho. — Sabe, nesse ramo que estou vejo cada história.

— Imagino — retrucou e tomou o resto do uísque. — Tem mais? — e inclinou o copo em minha direção.

 

Eu trouxe logo a garrafa à mesa e lhe enchi mais uma dose.

 

— Eu faço tudo que ele me pede — ia dizendo e bebendo o uísque. — Ele vem com aquela língua seca querendo me beijar, eu vou lá e beijo ele. Ele nem sabe tratar uma mulher direito.

— Vixe, isso é comum. A maioria desses ricos nem sabem. — Me olhava enquanto eu dizia, apoiava a cabeça na mão esquerda, com o cotovelo sobre a mesa. — A maioria são grossos e tem amantes.

— Por que será que são assim, hein? São todos uns mal-amados — sorriu e bebeu mais um gole.

 

Coloquei mais uísque no copo dela.

 

— Nossa, mas tá calor aqui, hein! — ela disse, tirou o casaco do terninho. — Vou tirar a blusa aqui! — deu uma risada, abriu dois botões da camisa que vestia e se abanou com as mãos.

 

Ouvi uma voz na minha cabeça dizendo "hummmmmmm"

 

— O ar-condicionado quebrou e chamei o técnico. Até agora não vieram.

— Ah, lá em casa tem ar-condicionado também. — dizia e balançava o corpo. — Às vezes os de lá quebram, aí tem que chamar o técnico — mais uma risada. — Mas o traste é que vê essas coisas. Eu nem me meto. Ou nem me metia mais. Eu vou é largar esse cara! — e, de novo, trouxe o copo à boca.

— É, seria uma boa ideia mesmo… Ele não te respeitou. Seria uma boa você se separar. — Enchi mais uma vez o copo dela.

— E você, como trata uma mulher? — se aproximou ao perguntar, balançou levemente os ombros ao fazer isso. De onde estava, eu podia ver parte de seus seios pelos botões abertos da camisa.

— Eu, eu trato… — me aproximei dela também para responder — eu trato elas do jeito que merecem ser tratadas.

— E como é esse jeito? — me perguntou. Belos olhos verdes ela tinha. Assim, tão perto de mim. — É melhor? Com certeza é melhor do que o meu marido!

— Muito melhor… — tentei chegar mais perto e tinha uma mesa no meio do caminho.

 

Me levantei e tomei ela pelos pulsos. Ela ainda pegou o seu copo. Guiei ela até o sofá que eu tinha na recepção. Ia ser agora, ia ser hoje, ali mesmo naquele lugar abafado. Já tinha tempo que não comia mulher, tinha tirado a sorte grande, com uma mulher daquelas. Eu ia meter fundo nela.

 

— Aqui é melhor pra conversar — afirmei.

— Hum, gostei — ela respondeu e se sentou ao meu lado, colada a mim. Eu fitava sua boca e seu olhar, e  sentia seu perfume. — E como é o jeito que você trata uma mulher?

— É assim… — Uma de minhas mãos já passeava pelas suas coxas, desenhando nelas. — Com atenção — sussurei em seu ouvido, minha boca colada em sua orelha. — Você sabe, uma mulher merece atenção — beijei ela logo na bochecha.

— Sim, merece sim — me sussurou de volta. Sua respiração já se elevava. — Sabe o que quero? — ela virou seu rosto em direção ao meu, nos afastamos um pouco. — Que você me mostre toda essa atenção que você dá — e veio aproximando sua boca da minha.

 

Dei um beijo tórrido, bem o que ela merecia. Aquele velho, que a chifrava, agora era ela quem metia chifres nele, comigo. E ia descer meu cacete nela! Agora vai, vou sair dessa seca e comer uma mulher de verdade!

 

Me afastei de novo, interrompendo o beijo. Ela me encarava. Peguei o copo da mão dela, com ela me dando um sorrisinho e semicerrando os olhos. Coloquei os copos, os dois, no chão mesmo. Me voltei a ela e beijei de novo, jogando meu corpo sobre o dela, fazendo com que se deitasse no sofá, comigo por cima.

 

Com seus braços ela me agarrou com mais força, apertando minhas costas. Encaixei meus quadris nos dela, e desci para beijar seu pescoço. Ela começou a gemer e arfar. Misturava o cheiro do perfume com o próprio cheiro dela. Delicioso! Não há nada nesse mundo mais satisfatório que traçar uma mulher. Se houver, por favor, me diga o quê é!


















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