Sobre Reis e Peões escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 9
Límpido


Notas iniciais do capítulo

Vocês acharam que tinha acabado, mas não!
Deixei essa pequena surpresa aqui, o true ending, como dizem.
Depois de tanta tensão, a melhor coisa é anuviar o clima até a verdadeira despedida.
A propósito, aproveito pra mandar um beijo pra querida Lawliette. Não contente em fazer os comentários gigantescos em cada capítulo dessa fic, descubro hoje que ela me deixou uma r-e-c-o-m-e-n-d-a-ç-ã-o. Sério, não sei nem como agradecer.



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O despertar de Hilbert na manhã seguinte fora o primeiro tranquilo desde a partida dele da cidade de Nuvema, meses atrás. N ainda dormia ao lado na barraca que havia sido montada nos arredores de Opelucid.

Era o momento ideal para que ele pudesse repensar os acontecimentos do dia anterior, que se mostraram muito mais conturbados do que a guerra que ele tomara parte. O estrago causado por N havia sido apenas a ponta do iceberg, o que explicava alguns fatos ignorados por Hilbert quando de sua chegada ao castelo.

O pronunciamento de Alder, a princípio, esclareceu parte da situação.

“Eu, Alder Mirto, venho a público pedir desculpas por um erro que cometi. Como rei, jamais poderia ter mantido minha guarda baixa; por minha fraqueza, o reino sofreu um ataque de terroristas, ligados à famigerada Facção Plasma, pelo qual não fui capaz de proteger vocês, o povo sem o qual Unova não existe. O inimigo, porém, esteve infiltrado no reino durante anos, por fraqueza minha”.

Hilbert imaginava enquanto assistia à transmissão ao vivo do castelo, através da televisão situada no centro Pokémon. Das palavras dele dependiam o destino de N, que tinha tudo para ser pintado como o vilão. Alder, no entanto, contrariou a lógica.

“O vídeo que vocês assistiram mais cedo não passou de uma fraude, arquitetada por eles. Usando a imagem de um treinador sério, eles tentaram passar a vocês a impressão de que eu havia sido derrotado em um combate que nunca chegou a ocorrer. Ao usarem a lenda do dragão original de Unova a seu favor, conseguiram criar uma ilusão, fazendo com que acreditassem na existência de uma força superior ao reinado”.

— Afinal, o que aconteceu quando você chegou na liga? — Hibert virou-se para N, que estava ao seu lado; os cabelos verdes escondidos por baixo do boné, além de ter guardado seus acessórios mais extravagantes na mochila de Hilbert. Não seria uma situação agradável caso ele fosse reconhecido.

— Assim que a elite foi derrotada, — respondeu N. — um dos sábios apareceu, me levando até o castelo. Pensei que Alder estaria me aguardando para a batalha, mas fui levado diretamente para a sala de coroação. Me disseram que o campeão havia se recusado a lutar após ver o poder de Zekrom.

“Traído por meus próprios conselheiros, acabei indo até Castelia durante a manhã; percebi tarde demais que o local aonde eu deveria estar era aquele do qual eu nunca deveria ter saído. O golpe dos Plasma teria sido consumado, não tivesse a sorte do nosso lado. Graças a um jovem treinador com Pokémon muito bem treinados; sua aparição foi vital para que a situação pudesse ser esclarecida.

Os criminosos fugiram, não houve escolha. O conselho político de Unova foi dissolvido; estarei convocando uma assembleia nesta semana para decidir nosso futuro. Mas terei orgulho de convidar este treinador, que mantenho anônimo por enquanto, para fazer parte do reinado”.

— Alder não está falando de mim, está?

— Duvido muito. — N respondeu. — Acho que você foi claro o bastante.

O discurso de Alder terminaria minutos depois, não antes de ele nomear cada um dos antigos membros do conselho político como traidores de Unova, colocando uma recompensa sob a cabeça de cada um deles. Além, é claro, de tornar nulo o pronunciamento anterior de N, que sequer foi citado. Tudo isso fez com que eles se sentissem melhor, ao ponto de partirem do centro Pokémon logo depois, um pouco mais tranquilos.

O garoto ainda devaneava a respeito quando N acordou, soltando um longo bocejo. O esverdeado sorria com a presença do colega. Fazia tempo que ele não viajava acompanhado.

Hilbert, contudo, não pôde deixar de fazer algumas perguntas ao colega naquela manhã; em especial uma, que no momento era a que mais o atormentava.

— E agora? O que você vai fazer?

— Se você fala da liberação Pokémon, eu continuo achando que eles devem ser livres dos maus-tratos dos humanos.

— Você não muda mesmo… — Hilbert riu.

— Talvez meus métodos não fossem os melhores. Eu usei o poder de Zekrom para tomar o poder, minha fé em mudar o mundo foi maior que as minhas convicções, ao ponto de eu me tornar igual a eles. Não foi à toa que você me derrotou ontem…

Hilbert encarou o colega, surpreso com a maturidade adquirida por ele. O próprio castanho também havia amadurecido rapidamente nas últimas semanas, algo que contribuiu em seu modo de agir. N então continuou a falar:

— Acho que você não entende o que eu digo, Hilbert. Já conheço a sua cara. — ele riu de volta, em um tom amigável que surpreendeu ao colega. — Quer dizer, você é exceção, tanto que Reshiram confiou em você…

— Não, eu consigo lhe compreender agora, — ele retrucou — mas o mundo ainda não está preparado para tanta mudança.

— Sério isso?

— Você quer separar os Pokémon dos humanos, quer deixar um mundo melhor para eles. Será que não é melhor tentarmos deixar humanos melhores para o mundo?

— Hilbert… Eu sinto que tenho que te falar uma coisa.

— C-Claro!

— Eu nunca te disse sobre aquele nosso primeiro encontro, em Accumula. Foi a primeira vez em que eu encontrei um Pokémon que gostasse de um treinador. Claro que estou falando do seu Tepig. Ele me fez pensar a respeito daquilo que eu acreditava. Eu vi meus argumentos sendo contestados naquele dia, e isso me fez pensar: Será que não há outros treinadores como você por aí?

— O que quer dizer com isso, N?

— Você é transparente, Hilbert. As vezes até demais. Mas é justamente por isso que seus Pokémon confiam em você. Eles compreendem suas boas intenções, eles sabem que você quer ver eles tão felizes quanto você. Sem levar em conta o seu talento, o que impede de encontrarmos outras pessoas que pensem como você?

Hilbert corou, sem saber o que responder. Acabou sendo poupado da responsabilidade com a chegada de um Pidove, que batia suas asas freneticamente para o garoto.

— Olha, ele tem uma mensagem. — N apontava um pequeno cilindro, preso à pata esquerda do pássaro. — Deve ser para você.

— Suponho que sim, eu me lembro de ter visto esse Pidove antes… — A memória de Hilbert não o havia traído; reconhecera a letra de Cheren no fino papel que desenrolou. O Pidove partiu imediatamente após, em um sinal de que o remetente não esperava por uma resposta.

“Hilbert.

Esse foi o meio mais seguro que encontrei de fazer com que a mensagem chegue a suas mãos. Não sei como você conseguiu acordar Reshiram e deter N, mas Unova tem muito a agradecer a você por isso. Ao que tudo indica, N e os Plasma tem uma ligação íntima. Eu entendo que você tenha protegido o garoto, porém sugiro tomar cuidado com ele.

Quanto a liga, cheguei não muito depois que você partiu. Watarimoto e Daruma me ajudaram a libertar os treinadores que haviam sido aprisionados. Alder e eu conseguimos manter as coisas sob controle até que a polícia chegasse, ainda que a Trindade das Sombras tenha conseguido fugir. Algo me diz que eles não são humanos.

Inclusive, Alder propôs para que eu fizesse parte do conselho de Unova, mas tive que recusar o convite. Não tenho o poder e a maturidade para assumir uma responsabilidade desse tamanho. Mas acredito que você o tenha; indiquei o seu nome por conta disso.

Prometi a Alder que iria entrar em contato com você. Ainda que não tenha interesse, sugiro que faça uma visita a ele no castelo.

No mais, começo uma nova etapa de minha vida. Farei uma viagem de exploração para o oeste de Unova, creio poder melhorar minhas capacidades. Se quiser me visitar, estarei em Aspertia.

Cheren”.

— O que houve, Hilbert? Você está com uma cara estranha…

— Nada demais… — mentiu ele, enquanto pesava as possibilidades.

— Você ainda tenta me enganar, Hilbert? Você se fechou assim, de repente…

O castanho olhou para o horizonte que se abria.

— Eu estou indo embora.

— Como disse?

— Não tenho como ficar aqui em Unova. Vou ser eternamente associado ao que aconteceu ontem, por mais que eu tente fugir. Eu preciso recomeçar minha vida. Não posso apagar o que aconteceu, mas posso recomeçar aonde ninguém me conheça…

— Você quer isso mesmo, Hilbert?

— Eu preciso. E sugiro que você faça o mesmo também.

— E para aonde você vai?

— Para o norte. Dizem que Kalos é um bom lugar para se conhecer.

N não conseguiu disfarçar a decepção que sentiu. No momento em que começava a se afeiçoar ao colega, teria de vê-lo partir. Chegou a pensar inclusive se ele havia falado a verdade durante a luta, ou se fora apenas um artifício para derrotá-lo.

— Você está brincando comigo, Hilbert! Você não vai deixar tudo para trás assim, não depois do que aconteceu ontem.

— Pelo contrário, é justamente por causa disso. Essa fama não me pertence.

— E tudo aquilo que você me disse durante a luta? Não pode ter sido mentira, não com você sendo tão transparente assim.

Hilbert virou-se mais uma vez em direção ao castelo, dando as costas para N. Não queria que o colega visse sua expressão, que naquele momento denunciava seus mais sinceros pensamentos. O peito do castanho pulsava com força, como quem desejava tomar uma atitude diferente. Ele não estava pronto para a despedida, apesar de que essa decisão não estava mais em suas mãos. Assim como o esverdeado, que tomava um súbito de coragem incomum até mesmo para ele.

— Você quer mesmo ir? Então eu vou com você!

O castanho voltou a encarar o colega, agora com um sorriso no rosto.

— E eu aqui pensando que teria que ser eu a convidar…

— Seu bobo! Acha mesmo que eu deixaria você ir embora assim depois de tudo o que passamos?

— Eu estaria mentindo se eu dissesse que conseguiria partir sem você…

N se aproximou, abraçando-o. Hilbert sentiu o calor do garoto, sua pulsação acelerando ao ponto do peito latejar, como se o coração buscasse espaço para sair de seu corpo. Ele parecia até já estar acostumado com o sentimento. Desta vez, contudo, sentia que era real. Loony estava em sua pokébola e, mesmo que quisesse, não poderia tirar aquelas memórias da mente do garoto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da Teimosia de N. Sim, este é o defeito, caso não tenham percebido.
Agradeço aos que me acompanharam até aqui.



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