Sobre Reis e Peões escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 8
Zéfiro


Notas iniciais do capítulo

Aah, o climax!
Desculpem-me, eu sei que deixei o total de um leitores da fic remoendo os últimos acontecimentos e ainda atrasei em dois dias a postagem.
Mas nada tema, esse é o maior capítulo que já escrevi até então (descontando oneshots). Afinal, são pontas soltas demais que se amarram nesse capítulo, incluindo batalhas épicas, respostas, uma parte desconhecida da história e, bem, isso aqui ainda é um DeLiPa, não?



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O Golurk pousou sem a menor cerimônia no chão de terra, próximo o bastante da sede da liga Pokémon de Unova. O pequeno prédio havia sido convenientemente construído em frente ao castelo do reinado; as amplas câmaras de batalha usadas pela liga se encontravam no subsolo, com o intuito de não obstruir a visão do castelo sede do reino, situado ao topo da Montanha do Julgamento. Hilbert fora agraciado com a ampla visão do continente de Unova antes de adentrar à liga, reconhecendo a cidade de Opelucid como um ponto distante a sudoeste.

Mas não era para ter aquela visão panorâmica que ele passara a manhã voando em seu Golurk. Definitivamente, não estava preparado para o que iria encontrar quando entrasse na sede da liga Pokémon, apesar de já esperar pelo pior, considerando que cada um de seus membros havia sido derrotado pela força superior de Zekrom. Não era nada animador de se imaginar. A realidade presenciada por Hilbert ao descer as escadas, contudo, conseguia ser ainda pior do que sua imaginação havia tido o trabalho de conceber.

Não havia resquício de beleza no local, ainda que alguns dos artefatos de decoração despedaçados ao chão pudessem dar uma dica quanto ao requinte que o saguão principal da liga deveria apresentar. Apenas a destruição restava no ambiente, ou no que sobrara dele; o treinador surpreendeu-se pela construção não ter desmoronado. Não havia sinal de vida no ambiente, o que Hilbert não soube precisar se era um bom sinal. Ao mesmo tempo, sentia pena pelo que a liga Pokémon representava.

A liga possuía um razoável histórico de desafiantes, não mais do que dez ou doze a cada ano, mas ainda assim grandes treinadores, que haviam derrotado os oito líderes de ginásio de Unova. Tudo em busca de fama, riqueza e poder. Desde a destruição de parte do continente na guerra contra Kalos cerca de três milênios atrás, o conselho de imperadores à época delimitou que a chefia do reinado deveria ser composta de treinadores exímios, pessoas com capacidade de liderança inata e grande poder de batalha, de modo a nunca sofrer outra derrota tão humilhante em guerra como aquela.

Aqueles tempos passaram; a paz voltara a reinar. A lei criada naquela época, contudo, jamais foi revogada, de modo que o reinado poderia ser tomado a qualquer momento por um treinador que se mostrasse mais forte que o rei atual. Os mecanismos para que tais batalhas ocorressem foram se aperfeiçoando com o tempo: o conselho de imperadores, composto de dez pessoas, deveria ter quatro treinadores e seis membros políticos; os últimos tinham o poder de designar os prefeitos de cada cidade, enquanto os treinadores formavam o batalhão de elite, o qual deveria ser derrotado em batalhas sucessivas antes que um treinador pudesse desafiar o rei em combate.

Como o número de desafiantes era elevado, foram criados os ginásios, situados nas oito maiores cidades do continente, cujos líderes eram designados pelos respectivos prefeitos; apenas aqueles considerados aptos por todos os líderes teriam o direito de enfrentar o batalhão de elite. O sistema de guerra unoviano, considerado excepcional, passou a ser adotado em outras regiões, porém em nenhuma delas o poder soberano do reino se acumulava com o cargo de comandante de defesa. Por esse motivo, somente poderiam batalhar àqueles nascidos no continente de Unova.

Nos últimos quatorze anos, entretanto, Alder Mirto havia sido desafiado apenas cinco vezes, saindo vencedor em todas com certa facilidade. Talvez o sistema fosse injusto com os desafiantes, que deveriam derrotar os cinco treinadores mais experientes de Unova sem pausa para descanso. Porém, considerando que aquele que derrotasse Alder se tornaria o novo rei, o sistema não fora muito contestado. Até porque o trabalho político realizado por Alder era aclamado pela parte mais esclarecida da população.

Hilbert pensava nisso enquanto atravessava as ruínas da construção da liga Pokémon, que também era a sede do conselho de imperadores. A raiva transparecia em seu rosto ao ver não apenas uma construção marcante de Unova destruída, como também todo o seu sistema político.

Raiva por conta de N, que parecia ignorar os fatos históricos em detrimento de suas convicções.

Não era apenas a liberação Pokémon que estava na balança, mas também todo o poder do reinado. Com a posse de Pokémon sendo proibida por decreto real, extinguia-se também o poder do conselho de imperadores e dos líderes de ginásio. Não somente isso, como também se tornava nula a possibilidade de o rei ser desafiado por qualquer treinador.

O pronunciamento de N deixava claro que Alder havia sido derrotado. Nem mesmo o mítico treinador fora capaz de superar o poder ancestral de Zekrom, pelo que parecia. Hilbert não tivera tempo de se surpreender, mas ao considerar que um único Pokémon havia sido capaz de derrotar os cinco melhores treinadores de Unova, percebia que ele não poderia ser subestimado.

A escada ao fundo da câmara era também o único acesso ao castelo. Ainda sem encontrar viva alma, Hilbert escalava os degraus com certa dificuldade devido aos escombros, com receio do que ele poderia encontrar ao chegar ao castelo, sede do reinado de Unova.

A surpresa foi talvez menor do que ele esperava, ao encontrar um grande número de pessoas discutindo no saguão de entrada. Do lado esquerdo, seis pessoas, todas conhecidas de Hilbert. Drayden e Brycen estavam a frente, representando os líderes de ginásio; outros quatro se punham atrás destes. Do lado direito completava-se uma dúzia, todos vestindo robes coloridos e chapéus pontudos, além dos rostos marcados pela idade. Os cabelos brancos (ou a ausência deles, naquele que trajava verde) pareciam acentuar o brilho avermelhado do brasão de Unova que carregavam como um grande pingente. Hilbert supôs serem eles os seis imperadores do conselho político de Unova. A discussão entre os dois grupos assumia o pior dos níveis, com gritos e protestos, como quem ignoravam (ou não podiam fazer nada a respeito) um terceiro grupo de pessoas, que se situavam ao fundo.

Quatro treinadores se encontravam amarrados, de costas uns para os outros, também do lado direito. O ambiente não estava tão bem iluminado, de modo que Hilbert não podia discernir a aparência de cada um deles. Ele se sentiria disposto a ir ajudá-los, não fosse a presença de três pessoas em curtos trajes marrons ao lado destes. O treinador reconhecera-os como a Trindade das Sombras, o mesmo grupo de pessoas que havia tentado aprisioná-lo na caverna, ainda quando ele se dirigia até Mistralton.

Hilbert não perdeu tempo tentando analisar a cena. Percebendo que todos estavam ocupados demais para notar sua presença, subiu imediatamente pela escada lateral, ainda sem saber o que pensar em relação ao conflito. Ele sabia que as coisas somente voltariam ao normal caso ele derrotasse o garoto de cabelos esverdeados, N.

Pensava, contudo, que o maior adversário nessa luta não seria Zekrom, mas sim seus próprios sentimentos em relação ao garoto. Sentia-se incomodado ao pensar nele, como se seu estômago revirasse só de imaginar que iria vê-lo.

O treinador havia adentrado por diversas salas no andar superior, encontrando todas vazias. Possivelmente, todos os que ocupariam aquelas salas se encontravam no andar inferior, discutindo.

Ou aprisionados, pensou Hilbert. Talvez o quarteto que se encontrava amordaçado fosse justamente o esquadrão de elite, apelido dado aos imperadores com responsabilidade de batalha. O rapaz tinha grandes expectativas quanto a isso, pois significaria que N estaria sozinho quando o encontrasse.

Se eu o encontrar.

Mais uma escada, desta vez ao final de um corredor. Hilbert sentia que se aproximava, seu coração pulsando forte. Ao subir, encontrou imediatamente a sala do trono; as portas que a selavam eram bastante chamativas em comparação às do resto do castelo.

Chamá-las de portas era praticamente um eufemismo. Eram grandes estruturas de pedra talhada, esculpidas com a forma dos dois dragões das lendas de Unova, que pareciam se encarar. A fechadura, central, era no formato do símbolo taoista do yin-yang, que parecia ter muito significado ao se comparar com a lenda.

Não existe o bem sem o mal. Não existe o mal sem o bem.

Os pensamentos do garoto ao empurrar as grandes portas de pedra se esvaíram imediatamente. A sala do trono tinha um grande corredor, com poucos degraus ao fundo. Ao topo deles, havia o trono propriamente dito e, atrás deste, uma grande janela de vidro dava uma clara visão do exterior.

Ao centro do saguão, encontrava-se N, com Zekrom logo atrás.

— Estava esperando por sua chegada, Hilbert.

O treinador não respondeu. Seu nervosismo o travara completamente, estando duplamente intimidado pelo dragão e pelo jovem que se situava a sua frente.

— Mas estou decepcionado. — continuou N. — Não estou vendo Reshiram com você. Isso significa que ou você o aprisionou, ou nem mesmo conseguiu encontrá-lo. E eu não sei dizer qual das duas opções me entristece mais.

Hilbert não sabia como responder. O tempo não estava a seu favor dessa vez, ao contrário do que ocorrera na Torre Duodraco. Assim como a incapacidade de enfrentar aquele adversário também pesava em seu peito.

Havia apenas a lenda a seu favor. E tudo o que ele poderia fazer era pegar a Gema Luminosa que se encontrava no bolso de sua mochila e rezar pelo melhor.

Zekrom rugiu suavemente, fazendo com que N continuasse a falar:

— Você fez essa viagem, veio atrás de mim para me derrotar em combate. Mas Reshiram não o reconheceu como herói. Devo dizer que me decepcionei; me enganei ao vê-lo tão dedicado com seus Pokémon… — N sorriu desdenhosamente. — Eu cheguei a gostar de você, por isso vou lhe dar duas opções. Você pode tentar me impedir, sabendo que é uma batalha perdida, ou eu lhe deixarei ir embora sem se machucar, para que você veja o mundo ideal tomando forma!

Hilbert parecia se contorcer. A dualidade de sentimentos parecia lhe incomodar. Gostava demais de N para vê-lo como inimigo. Ao mesmo tempo, sabia que a situação era crítica; não havia opção senão detê-lo.

Ou morrer tentando, como havia decidido ao sair de Nacrene naquela manhã.

— Não passei por tudo isso para virar as costas agora. — Hilbert atirou a pokébola que segurava na outra mão. — Hakun, o combate final chegou.

— Você acha que pode me impedir com isso? — N respondeu, enquanto o Emboar aparecia em sua frente. Se o Pokémon estava intimidado ao ver Zekrom como adversário, soube disfarçar muito bem.

Naquele instante, porém, a Gema Luminosa começou a brilhar, com força o suficiente para ofuscar a visão de todos no recinto. E quando tudo voltou ao normal, havia uma forma desconhecida se posicionando entre Hakun e N.

O dragão branco encarava Hilbert; o garoto agora segurando o vazio. A Gema Luminosa havia desaparecido de suas mãos; ele encarava os olhos azulados de Reshiram, que parecia confiar no treinador, encarando-o de volta.

Foi aí que Hilbert compreendeu, como se o próprio dragão respondesse ao questionamento pelo qual ele passara os últimos dias procurando a solução.

Os dragões haviam sido transformados em pedra. O hieróglifo não estava errado. Entretanto, a visão de uma estátua no formato de Reshiram não existia, assim como agora compreendia que o mesmo não ocorrera com Zekrom.

Era uma forma mais subjetiva de ver as coisas, mas Zekrom e Reshiram eram, respectivamente, a Gema Obscura e a Gema Luminosa. Todo aquele poder que emanava do ambiente estava inocentemente contido em uma pequena esfera de poucos centímetros de diâmetro.

O engano na interpretação dos registros antigos lhe havia atrasado em dias preciosos; talvez ele pudesse ter evitado o grande conflito se tivesse percebido isso antes.

E na fração de segundo em que ele pensava a respeito do fato, os dois dragões agora se atracavam, no que seria o combate mais poderoso ocorrido em Unova.

Reshiram e Zekrom se isolavam do resto do mundo em uma esfera colorida, em nuances de azul e vermelho; cada cor parecia partir dos dragões negro e alvo, respectivamente. A grande redoma de energia começou a flutuar, em um tom de equilíbrio que tendia ao púrpura, dando espaço para que os treinadores se aproximassem durante o combate.

Hilbert ainda estava hipnotizado pelas formas que a energia tomava. O combate entre os dragões fazia parte de um universo diferente, em sua opinião; Reshiram e Zekrom não se tocavam, porém era claro que um combate mental ocorria entre os dois.

N, porém, parecia disposto a argumentar. E seu adversário reconhecia ter certa desvantagem nessa modalidade de batalha.

— Você deve se lembrar que os dragões já foram uma única vida. Completos opostos, ainda que dividindo o mesmo corpo…

— Qual a importância disso para o momento? Veja só o estrago que você está fazendo, um sistema de milhares…

— Não é mais estrago do que vocês treinadores fizeram por todo esse tempo. — N o interrompeu. — Pokémon não foram feitos para combate como vocês adoram fazer. Eles são amigos, tudo o que estou fazendo é por eles. Um mundo ideal.

— Você está errado, por mais que eu não goste de te contrariar. Sua teimosia em querer mudar o que funcionou por todo esse tempo está causando mais prejuízos que vantagens!

— Você defende um sistema de guerras, Hilbert. Estou aqui para tornar o mundo um local aonde a paz irá reinar!

— Mas só está criando mais guerras com isso. Veja os Plasma, veja o estrago que eles fazem. Aposto que não sabe o que está acontecendo lá embaixo no saguão do castelo, os imperadores digladiando para ver se eles ou os líderes de ginásio vão assumir o poder.

— Exatamente, Hilbert. Você acabou de colocar o dedo na ferida. Os humanos são todos egoístas, pensam apenas em si. Quando algum deles se rebela contra o sistema, todos o tacham de louco. É isso que você pensa de mim suponho…

— Não é isso; você tem convicções sólidas apesar dos meios…

Um rugido forte interrompeu a conversa entre os dois. Zekrom, o dragão negro controlado por N, estava com certa vantagem no embate. A cor azul predominava no entorno dos dragões, uma pequena mancha avermelhada próxima a cauda de Reshiram era o que restava de seu poder, que tentava sem sucesso se sobrepor à energia azulada do dragão negro.

— Você alega que a verdade deve ser mantida, Hilbert, mas não percebe que ela não é capaz de superar ideais puros como os meus…

A verdade…

Eu menti ao negar que eu acho N um louco. Será que isso tem a ver…

— Seus ideais não passam de loucura! Milênios se passaram sem que ninguém tivesse tamanha audácia, vai ver é porque não havia a necessidade de tudo isso…

— Sempre soube que você pensava isso de mim, Hilbert. Por que negar?

Hilbert olhou discretamente para cima, percebendo que Reshiram parecia ter equilibrado novamente o embate, seu poder avermelhado voltando a se expandir.

A verdade tem o poder de libertar.

Mas quem precisa libertar a verdade sou eu…

— Eu me lembro de nosso primeiro encontro em Accumula. — Hilbert respondeu, tentando criar coragem para se abrir. — Te achei um louco naquele dia por dizer que conversava com os Pokémon. Mas relevei, porque parecíamos concordar que havia um louco maior discursando naquele palco…

— Ghetsis…

— Como disse?

— O líder dos Plasma. Conversei muito com ele sobre a liberação Pokémon; ele não passa de um hipócrita ganancioso…

— Eu achei que você fosse como ele. Principalmente depois daquela nossa conversa em Nimbasa…

A reação sincera de N em seu susto não passou despercebida a Hilbert, que fingia distrair-se com a batalha entre os dragões, que continuava equilibrada; Reshiram parecia estar em uma leve vantagem agora.

— Como eu ia dizendo. — Hilbert fez uma pequena pausa, procurando as palavras. — Nos encontramos outras vezes depois daquele dia. Sempre lhe achei meio louco. Mas foram bons momentos, ainda que eu nunca entendesse o porquê. Você sentia o mesmo que eu?

— Não nego que gostei de ter sua companhia no museu.

— Eu tenho a impressão de ser mais do que isso… Você me arrastou pra roda-gigante, ainda que eu estivesse ocupado. Você não estava desesperado para falar sobre os Plasma, mas eu estava com isso na cabeça; tive como resposta as suas convicções. Semanas se passaram, nos encontramos na caverna, você me salvou da Tríade das Sombras…

Agora era a vez de N de ficar em silêncio.

— Não havia pensado por esse lado até hoje, mas você demonstrou se preocupar comigo. Pelo menos até o momento em que sua fé começou a falar mais alto do que seus verdadeiros sentimentos…

— Hilbert, você está dizendo que…

— A cada vez que nos encontramos, eu parecia ser uma pessoa diferente. Comecei minha jornada como um garoto inocente, fui evoluindo sem ter um propósito, até que eu enlouqueci. Recuperei minha sanidade aos poucos, com trabalho duro, mas não teria conseguido se não fosse por você. Sinto coisas estranhas toda vez que lhe vejo, até mesmo quando penso em você. Seus delírios me deram um objetivo pessoal, algo que me fez acordar. Eu sempre senti prazer em manter minhas opiniões, ainda que sejam opostas às suas, pela pura vontade de lhe ver me questionando pelas minhas escolhas…

Um novo rugido interrompeu o monólogo de Hilbert. Dessa vez, a energia irradiando pela sala era avermelhada. Reshiram, o dragão branco, encurralava Zekrom em uma pequena mancha azulada da esfera de energia; a dor transparecendo nos sons.

A visão de Reshiram vencendo o combate deu a Hilbert força o bastante para que ele admitisse o que iria dizer a seguir. Não para N, que poderia já ter percebido isso, nem para Loony, que emitia a Névoa dos Sonhos com aroma cítrico toda vez em que a loucura do treinador não o deixava pensar direito.

A dificuldade maior para ele era admitir para si mesmo o que sentia.

— Eu te amo, N. Todo esse tempo de viagem, a única coisa que me motivava de verdade a continuar era lhe encontrar outras vezes. Meses se passaram; a única coisa que eu podia fazer quando precisava continuar era pedir para que Loony usasse o Dream Eater em mim, ou eu não conseguia me concentrar em mais nada. Eu demorei demais a me descobrir, mas agora percebo que se eu me esforcei para estar aqui nesse momento com Reshiram, é porque eu sabia que meu adversário seria você.

Os dois rapazes coraram, os rostos se pintando de vermelho. Assim como toda a sala do trono, originalmente branca, parecia irradiar um tom de vermelho vivo.

A esfera de energia dissolvera-se no ar; Zekrom caiu no chão subitamente, desmaiado, abrindo uma pequena cratera; pedaços de pedra foram lançados com o impacto. Reshiram, por outro lado, pousou suavemente ao lado de Hilbert.

A verdade venceu.

N desabou junto com seu dragão. A ele pesava muito mais do que a derrota em si.

— A ruína! Os ideais derrotados… Os sonhos que compartilhei… O mundo decidiu por escolher você como herói?

— Usando as suas próprias palavras… O mundo não é preto e branco como pintam. Há várias nuances de cinza. Não existe um único herói ou vilão, assim como ninguém pode estar totalmente certo ou errado. — Hilbert estendeu a mão a N. — Ainda podemos consertar isso.

— Um de nós lutando pelos ideais, o outro defendendo a verdade. Talvez… ambos estejam certos?

— Quem sabe? Talvez possamos resolver isso juntos…

N segurou a mão de Hilbert; estava se levantando quando Alder apareceu.

A expressão que este fez ao ver o dragão branco próximo a eles, além do dragão negro caído ao chão, era digna de um quadro, ou pelo menos de uma fotografia artística. O choque lhe tomou as palavras, enquanto o garoto de cabelos castanhos se virou para o recém-chegado.

— Alder… muito prazer, meu nome é Hilbert.

— O que houve aqui, afinal? Como tudo isso ocorreu?

— Não sei se você vai entender se eu entrar em detalhes, mas Zekrom foi derrotado.

— Isso eu vejo. Quer dizer que você é o novo campeão?

— Não. Eu não poderia assumir um cargo que nunca foi tomado de você.

— Ele tem razão, Mirto. Foi um erro eu ter feito essa visita hoje.

Alder deu um passo para trás, assustado, e outro para se equilibrar e não cair com o susto. Uma coisa era ver um jovem treinador desconhecido ao lado do outro dragão lendário, outra era perceber que este fora capaz de dobrar até mesmo o rapaz que o derrotara naquela manhã.

— Não estou entendendo mais nada.

— Talvez seja melhor assim. Faça de conta que nada ocorreu aqui. — Hilbert falava. — Se eu fosse o rei, eu faria um pronunciamento dizendo que a transmissão foi apenas um teste e que Naturi Gropius nunca existiu. O povo de Unova não precisa saber do que aconteceu hoje.

Alder continuou encarando-o sem reação, principalmente quando o garoto de cabelos verdes concordou com a cabeça.

— Reshiram, isso vale pra vocês também. — Hilbert virou-se para o dragão. — Agradeço pela ajuda, mas essa guerra não deveria ter sido lutada. Peço desculpas em nome do reino de Unova por tudo o que ocorreu.

O dragão rugiu, fazendo emergir mais uma vez uma claridade no ambiente, roubando a visão dos que estavam ali presentes.

No instante seguinte, os dois dragões haviam desaparecido. Apenas as gemas se encontravam no chão.

— Alder, eu confio em você. — Hilbert insistiu, agora a contragosto do esverdeado. — Guarde estas gemas. Elas são o tesouro de Unova. Mantenha-as em segurança, elas não devem cair em mãos erradas.

— Eu farei isso, mas por favor, me explique como chegamos a esse ponto.

— Não ocorreu nada aqui hoje, Alder.

Hilbert olhou para a janela ao fundo, reconhecendo o cenário apesar da distância. Lançou mais uma vez a pokébola de Jaeger, liberando o Golurk de seu aprisionamento, relativamente descansado.

— Você pode nos levar a Opelucid? Precisamos de um descanso!

O Golurk posicionou-se, pronto para partir. Hilbert encarou N novamente, com um convite sincero.

— Venha comigo.

Apesar do instante de hesitação, N decidiu partir junto com o castanho. O vidro da janela, que havia sido destruído com a energia liberada pelos dragões durante o embate, não foi obstáculo para a partida dos jovens, que deixaram um confuso Alder para limpar a bagunça.


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Notas finais do capítulo

Não há notas aqui. Há apenas o gosto amargo da despedida...



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