Quinta-feira, 01/12/2016

Lá estava ela, deitada na cama do seu quarto, em sua mão um copo com uma boa quantidade de uma vodka que tinha aparência de ser bem cara, da qual a garrafa se encontrava em cima do criado-mudo ao lado de sua cama. A televisão estava ligada, estava passando um de seus desenhos preferidos. A muitos anos Rachael já tinha passado da idade para assistir a um desenho daquele, mas se não era isso que ela estava assistindo, seria um de seus filmes preferidos, Bonequinha de Luxo.

Ela bebia normalmente em casa, em frente aos seus pais ou em festas. Sua mãe dizia que se der a liberdade para fazer as coisas elas não vão se matar de curiosidade para experimentar mais tarde e fazer algo de errado. Na verdade Rachael só poderia escutar isso da sua mãe quando a mesma estivesse em casa. Sua mãe, Daisy Cross só vivia ocupada e não parava em casa, era sempre viajando para as semanas de moda que existem pelo mundo. Seu pai era separado dela, estava vivendo no México com outra mulher.

Rachael Cross era uma menina morena e de cabelos ondulados, não muito grande para sua idade, mas ela já tinha em mente de que não cresceria muito depois dessa idade. Ela ouve uma batida na porta.

— Rachael? – era a voz de sua empregada Olivia – Posso entrar?

— Entra Olivia. – Rachael respondia. Ela era bem-educada. Pelo menos isso sua mãe pode dizer que foi ela quem ensinou.

Olivia entrou no quarto fechando a porta. Rachael passou a maior parte da vida sendo cuidada por Olivia, então era uma pessoa de extrema confiança.

O quarto dela não era muito grande, mas era bastante decorado. Tinha as paredes na cor azul-claro, com todos os móveis coloniais, dando mais destaque a sua cabeceira da cama. Era uma suíte, um banheiro também não muito grande, mas bem confortável. Havia um closet, onde ficava as suas roupas e de vez em quando ela escondia uma garrafa ou duas de alguma bebida que ela não queira que ninguém saiba. Suas roupas eram das mais caras e mais variadas, tinham tantas que todo final de ano ela tinha que doar para caridade, por não caber mais em seu quarto, que sempre fica uma bagunça quando ela dá os seus delírios de consumo.

— O que foi Olivia? – pergunta Rachael chegando mais para o lado direito da cama dando espaço para Olivia se sentar com ela.

— É o interfone. Suas amigas, Lily e Sarah estão aqui, acho que elas querem conversar sobre a festa desse fim de semana.

Só de ouvir esses nomes Rachael já ia ficar com dor de cabeça. Rachael era a garota mais popular da escola dela, a Elite Way, e com toda a popularidade vinha também as suas seguidoras, Lily e Sarah. Elas duas sonhavam em ser iguais a Rachael, apesar de terem em mente que não tinham todo o dinheiro nem a popularidade suficiente para chegar aos pés dela. Rachael também as chamavam de Abelhas. Porque qual melhor apelido para descrever coisas chatas que ficam te perseguindo para todo canto que você vá?

— Não acredito! – diz Rachael batendo com o copo no criado-mudo à sua direita – Elas vieram até aqui só para isso? O que custava elas darem um telefonema ou até quem sabe, me mandar uma mensagem? Nem pra isso elas prestam.

— Rachael, se a senhorita quiser eu posso … – Olivia ia começar a dizer quando foi interrompida.

— Deixa pra lá Olivia. Deixa que eu mesmo atendo o interfone. – dizia ela enquanto saia da cama e calçava sua sandália para ir até o interfone.

A família Cross vivia numa cobertura no bairro mais caro de Manhattan. Upper East Side. Mas apesar de ser uma cobertura, era formada só por um único piso, mas que não fazia falta com o tamanho da varanda que eles tinham.

Rachel foi às pressas atender o interfone. Antes de levá-lo até a orelha ela respirou e contou até dez.

— Alô? – perguntou ela.

— Rach? – Era a voz de Lily.

Rachael deu graças a deus por ser Lily quem estava falando, acho que ela não aguentaria ter que ouvir a voz de Sarah naquele momento. Uma voz nasal e nojenta.

— Oi Lily! – falou Rachael na maior animação, que só quem estava com ela no recinto saberia que era pura falsidade – Porque vocês estão aqui? Algum problema?

— Não Rach, imagina! Era porque queríamos ter mais informações sobre a festa desse fim de semana.

Rachael estava organizando uma festa beneficente esse fim de semana, em prol da preservação da área florestal que hoje é os Hamptons. Onde ela amava passar o verão com seus amigos. Mas não que ela se importasse com a floresta, mas sim com a vaga que ela pode adquirir na faculdade – daqui a dois anos – com o status que ela conseguiria dando essa festa.

— Que tipo exatamente de informações vocês querem saber?

Foi esse o momento em que Sarah tomou o telefone da mão de Lily:

— Na verdade Rach, nós queríamos saber a sua roupa, seu esmalte, tudo o que vocês vai. Para podermos ir com um nível parecido com o seu, já que somos suas seguidoras. Então deixa a gente subir para você poder nos mostrar todas essas coisas! – falou Sarah com a maior empolgação como se fosse caso de vida ou morte. Ela só faltava mesmo era entrar pela linha do telefone e sair ao lado de Rachael, do jeito que ela era tão fascinada por ela.

Rachael colocou dois dedo da sua mão na têmpora e a massageou.

— Tá bom. Podem subir, já sabem qual é o andar mesmo.

E então Rachael colocou o interfone no gancho e seguiu para frente do elevador privativo que seu apartamento oferecia para esperar as duas seguidoras. Quando o elevador chegou, a porta mal se abrira quando Sarah avançou em cima de Rachael para poder abraçá-la, envolvendo o pescoço de Rach com seus braços e quase engarguelando-a.

— Olá Sarah … – diz Rach quase sendo sufocada. Ela tenta tirar Sarah de cima dela o mais delicadamente possível, e quando consegue ela mesma se dirige para abraçar Lily, que ficou esperando atrás de Sarah. Quando Blair abraça Lily ela sussurra em seu ouvido:

— Por isso que eu gosto mais de você.

Com essa fala, Lily ganhou o seu dia, não tirou o sorriso do rosto pelas próximas cinco horas. Ela acabou de subir um degrau ao topo para suceder Rachael quando ela se for para a faculdade. Lily 1 ponto Sarah 0.

— Vamos lá para o meu quarto então. – diz Rach.

Elas passam pelo corredor e Rachael vê que Olivia já saiu do seu quarto e está na cozinha.

— Olá Olivia! – diz Lily e Rachael enquanto elas acenavam. Olivia retribui o aceno.

Chegando no quarto de Rach, elas se dirigem para o seu closet e se sentam em um banco que fica exatamente no meio dele. De onde você pode ver todas as roupas, sapatos e bolsas de Rachael.

Rach sobe numa prateleira e tira dois copos de lá de cima, anda até o seu quarto para pegar a garrafa de vodka que estava no criado-mudo, põe nos dois copos e serve Lily e Sarah. Ela se senta ao lado das duas.

— Então, o que vocês querem saber primeiro?

As três passam mais de duas horas falando sobre roupa, sapatos e cabelos enquanto bebiam a vodka de Rachael, conversaram bastante, falaram da vida dos outros, quem pode e quem pode não estar na festa, a lista de convidados e tudo mais… Rach parece ter convidado metade do Upper East Side, para se segurar de quem vai ter gente suficiente e a festa vai ter a grande visibilidade que ela tem que ter para chegar a seu objetivo.

— Convidou todos os seus amigos? – pergunta Lily enquanto bebia um gole da bebida.

— Convidei sim, todos. – e Rachael pega a lista de volta que por um momento ela não tinha percebido que tinha caído no chão. E começa a listar seus amigos em especiais. – Christina, Dexter, Blake, Oliver, Nick, Emma e Jess.

— Blake já voltou da reabilitação? Porque soube que ela estava tendo um problema com drogas. – perguntou Lily

— Já sim! – respondeu Rachael.

Blake era uma menina loira de olhos claros, do mesmo tamanho que Rachael e do mesmo nível social – que é uma coisa importante para se viver nesse mudo deles – era a sua melhor amiga, praticamente nada poderia abalar a amizade dessas duas. – Ela está bem melhor.

— Eu amo o Dexter – disse Sarah mudando de assunto.

— Então entra pra fila – responde Lily – Porque aquele ali já namora com Blake e só ela não percebe que ele tem um caso com outra.

— Se essa outra não for a única né… com certeza tem mais aí por Nova York. – disse Rachael – Soube que ele estava ficando também com alguma do Brooklyn, isso que é descer o nível … apesar de que não tem essa de “nível” para ele. Contando que se mova… – e com essa fala final, Rachael bebe o último gole da sua bebida.

Se isso é ciúme eu não sei, mas teve uma pitada de veneno. Coisas que todos eles tinham em abundância.