Aimer — エメ escrita por Nina Strain


Capítulo 1
❝ Barefoot Girl ❞




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/653894/chapter/1

E o único som que ela pode ouvir com clareza naqueles segundos que se arrastavam lentamente era o som dos trilhos do trem, que eram tão repetitivos em seu dia-a-dia que já faziam parte de sua trilha sonora natural. O burburinho de diversas pessoas naquele vagão lhe era um incomodo tão grande que apenas piorava sua situação, mas era normal que naquele horário as pessoas tentassem se distrair; sua mão canhota insistia em aumentar a força com qual segurava a barra metálica ao lado dos assentos, suas íris amendoadas estavam fixadas na paisagem ao exterior, buscando focar-se ou distrair-se, mas este esforço todo era em vão. Em sua mente, o único som que predominava era o som daquela melódica voz a dizer o seu nome repetidas vezes, aquela voz que ela já deveria ter esquecido, mas que a cada dia insistia em permanecer ali, a iludi-la.

❝ Barefoot Girl ❞

— Chihiro! — Gritou a mulher, tentando novamente chamar-lhe a atenção. E num movimento rápido a morena piscou, despertando-se e desviando o olhar do chão para a adulta a sua frente. — Novamente está distraída garota? Quantas vezes eu tenho que repetir Chihiro você tem que tornar-se mais atenta! — Repreendeu a mulher de cabelos curtos, além de alta aparentava ter seus trinta e cinco anos de idade; Chihiro balançou a cabeça, voltou a colocar as xícaras alvas na bandeja, mas desta vez num ritmo mais rápido.

— Desculpe, Maya, não está fácil substituir Kaiko-chan hoje... — Proferiu Chihiro, levantando a pequena divisão do balcão com a mão canhota, buscando ao máximo possível manter sua concentração na bandeja que cautelosamente segurava. Em passos ligeiros a mesma já estava a caminhar em direção a algumas mesas com clientes, que mal aparentavam ligar para a demora, e em movimentos delicados ela colocava os pedidos sobre a mesa, alguns eram fatias de tortas acompanhadas de chá, já outros apenas café, mas de tipos diferentes, comum naquele local.

— Sei que quando Kaiko-chan falta as coisas se complicam por aqui, mas você deve começar a se acostumar a exercer seu cargo sozinha, Chihiro! Quando eu tinha sua idade também era gerente de meu avô e era responsável por tudo aqui enquanto ele estava doente! — Falou a mulher adulta no caixa, a receber o pagamento de um dos clientes. A mulher tem os cabelos castanhos, próximos a uma tonalidade mel, mas já com alguns fios brancos quase imperceptíveis, e por detrás dos óculos poderiam ver-se as olheiras, mas nem elas eram capazes de retirar sua beleza.

— Perdão, Onaka-sama. — E sem motivo algum Chihiro desculpou-se, já de volta a detrás do balcão. Onaka soltou uma baixa risada, enquanto Chihiro confusa a fitava, dando apenas algumas batidas em sua saia negra. O fardamento é composto por uma blusa social branca de mangas longas, um colete vermelho, uma saia preta que ficava acima de seus joelhos, uma meia calça cinza e um par de sapatos do estilo boneca.

- Chihiro, você já tem dezessete anos de idade, tem que aprender a lhe dar com estas coisas da vida... – Onaka falou, virando o olhar para Chihiro e caminhando em sua direção, ao aproximar-se da mesma levou sua mão destra a face alva, visualizando a beleza juvenil que ela esbanjava; Chihiro tem os cabelos num castanho escuro, o corte da franja é repicado e sempre os mantém preso num rabo-de-cavalo firme com o elástico lilás que dizia ter ganho de sua avó. — Se Yuko estivesse aqui tenho certeza que ela estaria orgulhosa da bela moça que você virou... — Onaka abriu um sorriso, acariciando a face de Chihiro, que por sua vez, retribuiu o sorriso. Chihiro virou sua atenção para a porta, ansiosamente a espera de outro cliente, e Onaka, por sua vez, voltou para a caixa registradora.

O som do sino ressoou por todo recinto, indicando a entrada de um novo cliente no café. O local mesmo pequeno tinha sua elegância, o papel de parede é de tonalidade branca até sua metade, e depois segue numa coloração bege. Os móveis de cores escuras e todos talhados em uma madeira de tal tonalidade, alguns quadros pendurados e alguns porta-retratos. Nada extravagante, afinal, aquela é a Wachladen Cafeteria, situada em Shibuya, uma das ruas de Tóquio.

Chihiro suspirou, alargando em sua face mais uma vez um falso sorriso, pronta para passar o dia a atender os clientes do local. Mas o que realmente aconteceu com toda aquela aventura, aquela coragem? Onde estavam? Bem, nem mesmo ela sabia, afinal, aquela Chihiro Ogino morreu no passado.

E num passe de mágica o sábado de Chihiro pareceu ter voado, até porque, trabalhar até ás seis horas da noite fazia parte do kit de gerente do café onde trabalhava. Mas no fim nem amigos ela tinha para aproveitar o dia, ou seja, de qualquer forma lhe seria um dia perdido. A lua naquela noite mostrava-se mais bela e grandiosa que o comum, o céu estava numa tonalidade linda e profunda, limpo, sem nenhuma nuvem cinzenta para estragar a visão das estrelas, com certeza é esta uma paisagem que dificilmente desperdiçada, mas sua falta de ânimo a fazia perder tal momento.

Ela suspirou, desviando seu olhar de cansaço do chão a sua frente, mas assim que o fez deu de imediato um passo para trás, assustada com aquilo que via e não acreditava ver. A mesma máscara alva com os mesmos detalhes, aquele corpo negro que mais parecia uma mancha, um risco feito por um pincel grosso, o Kaonashi. Chihiro arregalou os olhos, assustada, Kaonashi nada disse ou sussurrou, apenas levantou aqueles finos braços fazendo gestos, como se a chamasse, logo em seguida dando as costas para a mesma e começando a caminhar.

Com a mão canhota Chihiro aumentou a força que exercia sobre a alça da bolsa que segurava, seus pés pareciam mover-se por impulso, ignorando o que sua mente ordenava, pareceu até que, foi o seu coração que tomou conta da rota naquele momento. Ela se manteve calada a seguir Kaonashi, e para ironizar a situação ela usava um par de tênis converse amarelo.

E após aquela longa caminhada com Kaonashi ambos já estavam bem longe do que se poderia chamar de civilização, estavam na ponte da praça, apenas a fitar o rio e a localidade deserta. Uma gota de nervosismo escorria pela face da morena, que desviava o olhar do lago para Kaonashi, a espera das palavras que não viriam, por fim, a iniciativa foi tomada por ela.

— Kaonashi-san o que está fazendo aqui? Por que apareceu pra mim depois de tanto tempo?! — Questionou, o fitando, mas como resposta obteve o seu silêncio. Kaonashi apenas agora desviou o olhar do rio para Chihiro, apontando para ela, e depois para o rio, tentando indicar alguma coisa.

Chihiro parou para raciocinar, semicerrando os olhos, e no mínimo, tentando entender o que ele queria, e no fim, acabou por chegar na conclusão mais óbvia.

— Você quer que eu pule?! — Exclamou num grito, e como respostava objete um gesto feito por sua cabeça indicando um sim. — De jeito nenhum! Quer que eu morra?!

Kaonashi voltou por fim a sussurrar suas letras, como se pudesse expressar algo por elas, mas Chihiro bufou, preparada para soltar-lhe um conjunto de ofensas quando por um milagre, algo escapou.

— Haku ... — E finalmente algo saiu de si capaz de entender, e por mais baixa que sua voz fosse aquele nome poderia ser entendido por Chihiro a quilômetros de distancia.

Ainda surpresa, novamente, Kaonashi apontou para Chihiro, seguidamente, para o rio. Chihiro não sabia se sua surpresa era porque Kaonashi havia falado, ou se era por ter ouvido o nome de Haku, que tão memorável ressoava todos os dias em sua mente. Ela olhou para o rio, e seguidamente para Kaonashi novamente.

— Haku precisa de minha ajuda? — Perguntou, e ouviu um “E” vindo de Kaonashi, como uma confirmação. Confusa, Chihiro soltou um suspiro, levando ambas as mãos para a cabeça. — Se eu saltar voltarei aquele mundo? — E novamente ouviu a confirmação de Kaonashi, inspirando e suspirando. — ... Ok, isso pode ser apenas um sonho, então não me arrependerei de nada que eu faça ... — Proferiu, deixando que seus lábios se arqueassem num sorriso nervoso. Chihiro aproximou-se do parapeito do rio, e com um olhar nervoso ela levou ambas as mãos neste, apoiando-se, e sem dificuldade alguma, seguidamente subindo. Kaonashi sussurrou um “A” antes de desaparecer, e Chihiro inspirava e sussurrava nervosa, a fitar o rio.

No exato momento em que tentaria pular ouviu um grito, e logo olhou para o dono da voz, visualizando um idoso nervoso, imaginando obviamente que ela se suicidaria, sem mais nem menos ela saltou. Aqueles segundos por um tempo pareceram os últimos de sua vida, aquela sensação poderia ser igualada a de voar, mas antes que a água do rio encostasse-lhe no rosto um portal azulado abriu-se, e tudo que se pode ouvir foi o grito agudo da morena, enquanto visualizava aquela imensidão azul, antes de cair logo de cara no chão, naquela grama esverdeada.

Por um minuto não acreditou no que via, naquele céu azulado, no sol ensolarado, naquela paisagem memorável, e novamente ela estava lá, no mundo espiritual, em busca da ajuda e de um objetivo que desconhecida, de volta a ser Chihiro Ogino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aimer — エメ" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.