The Eyes Of a Panther escrita por Jibrille_chan


Capítulo 1
Capítulo 1




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- Você tem... os olhos de uma pantera.


Droga de despertador. Até entendo que eles têm que ser barulhentos, ou então eu não acordaria. Mas precisam mesmo ser irritantes? Virei-me na cama, encarando os pedaços do despertador no chão. Hm. Já era o quarto essa semana.


Levantei-me, mau humorado e a contra-gosto, indo direto pro banheiro. Não poderia demorar, afinal eu tinha ficado de ajudar Kai e Ruki com os preparativos do festival no templo. Kai era neto de um velho sacerdote de um templo que ficava perto de casa, e Ruki também morava próximo de nós. Passamos nossa infância naquele templo, brincando e correndo.


Vesti a primeira roupa em que pus os olhos, sem me preocupar muito se ia ficar bonito ou não. Eu não tinha o porquê de ter esse tipo de cuidado. Meus relacionamentos nunca duravam, de qualquer forma. Nunca mais que um mês. Suspirei, olhando no calendário e confirmando o dia. Em três semanas seria a lua cheia. E eu odeio a lua cheia.


Rumei para o templo. Droga, ainda eram oito da manhã. Oito da manhã! E começo do outono. Já começava a fazer frio, e eu sentia que esse inverno seria bem rigoroso. Entrei no templo, e creio que a minha cara não era das melhores, pelo que Kai disse assim que me aproximei.


- Não dormiu bem?


- Não. Dormi mal e dormi pouco.


- Pesadelos de novo?


- A mesma coisa de sempre. Lembranças que voltam pra me atormentar.


Ele apenas assentiu, sabendo a quê eu me referia. Suspirei, indo ajudá-lo a deixar tudo pronto para o festival. Já estava me cansando de ficar sonhando com lembranças de dez anos atrás. Já estávamos montando a terceira barraca quando avistei um baixinho loiro vindo em nossa direção.


- Alguém perdeu a hora, ne Matsumoto?


Matsumoto Takanori, ou simplesmente Ruki para os amigos, me lançou um olhar atravessado, assassino eu diria, me fazendo rir.


- Bom dia, Aoi-neko.


Fechei a cara instantaneamente.


- Também não precisa apelar, Ruki. Vai, me ajuda a levar essas caixas lá pra dentro.


Levamos as caixas pra dentro, pegando outras e voltando ao trabalho. Só paramos no almoço, quando Kai nos chamou pra dentro. Ele ia nos servindo enquanto Ruki falava animadamente.


- Ah, vocês não sabem! Eu encontrei um cara que estudou com você, Kai!


O mencionado franziu o cenho, voltando sua atenção para Ruki.


- Estudou comigo? Quem?


- Ele se chama Suzuki Akira, mas também atende por Reita.


- Akira... Akira... Ah, sim! Um C.D.F. com cara de marginal! Lembro dele sim! Como ele anda?


- Ah, eu convidei ele pro festival hoje. Aí vocês se falam. Ele tava com um amigo que também estudou com você. O nome dele era... Takashima Kouyou.


- Hm... Do Kouyou eu não me lembro muito bem.


- Mas eu lembro. - sorri de canto, as atenções se voltando para mim. - Era um rapaz bonito, que sempre andava com o Akira porque não suportava os outros olhando pra ele. Não sei se mudou, mas naquela época ele era bem fresco.


- Ele me pareceu bem simpático - respondeu o menor.


Kai me lançou um olhar malicioso, fazendo cara de quem sabia de algo que ninguém mais sabia.


- E deixa eu adivinhar. Você ficou com ele, assim como 90% dos garotos e garotas bonitos da nossa escola.


Eu ri, amargo, negando com a cabeça. Kai precisa aprender que coisas comprometedoras do nosso passado devem ficar lá, no passado.


- Não, Kai. Ele faz parte dos outros 10%, assim como você e o Ruki.


Ruki ergueu as duas sobrancelhas.


- Isso quer dizer que eu e o Kai não somos bonitos?


- Não foi isso que eu quis dizer, Ruki. Vocês são meus amigos, eu não faria isso com vocês.


- Obrigado pela consideração, Aoi-neko. - meu olhar para Ruki não foi muito amigável, e ele apenas estirou a língua.


Kai apenas ria, observando a cena que deveria ser no mínimo infantil aos seus olhos mais maduros. Eu podia ser o mais velho, mas Kai ainda era o mais responsável. Era sempre ele que me tirava das enrascadas que eu me metia. Só lamentava que ele não tivesse conseguido me livrar da pior delas, cujas conseqüências eu sofria ainda nos dias de hoje, dez anos depois.


Conseguimos montar todas as barracas antes das cinco da tarde, o que foi um alívio. Os portões do templo seriam abertos às sete da noite, o que nos dava tempo para eu e Ruki irmos até nossas casas tomar um banho. Voltei perto das sete, ajudando a abrir os portões.


Gente de todos os jeitos passavam, olhando as barracas, ou indo até o lago de carpas agradecer. Eu estava numa das barracas, arrumando as latinhas para que as pessoas pudessem derrubar com uma bola de tênis. Ruki estava ao meu lado, perguntando sobre alguma coisa, quando percebi algo indo em direção à cabeça do menor. Num movimento rápido, agarrei a bolinha de tênis antes que tocasse em Ruki.


- Caramba, que reflexo!


Me virei na direção da voz, deparando-me com um rosto já conhecido mas que eu não via a tempos. Sorri, e ele franziu o cenho por um tempo.


- Mais cuidado com isso, Takashima. Pode machucar alguém.


Depositei a bola em sua mão, e só então ele pareceu me reconhecer.


- Shiroyama! Quanto tempo!


- Achei que não ia me reconhecer nunca.


- Ah, mas você mudou... - ele apontou pro meu piercing, corando muito levemente. - E então? Continua o mesmo daquela época?


Sorri, sabendo perfeitamente o que ele queria dizer com "aquela época". Aquela época da escola em que eu trocava de namorada e namorado a cada semana.


- Não, Takashima. Com os anos, aprende-se que não se pode ter tudo na vida, e nem tudo de uma só vez. E você? Casou?


Ele começou a rir, abaixando os olhos.


- Casamentos não são pra mim. Bom, meu amigo ta me chamando... A gente se vê por aí, Shiroyama.


- A gente se vê, Takashima.


Ele foi se afastando, meus olhos acompanhando cada movimento que ele fazia. Ouvi uma risada baixa ao meu lado e a voz de Ruki.


- E o grande felino se prepara para atacar novamente...


- Ruki. Não diga besteiras.


- Mas do jeito que você ta quase engolindo o rapaz com os olhos, quer que eu pense o quê... Aoi-neko?


- Eu vou jogar uma dessas bolas na sua cabeça, baixinho. - ele amarrou a cara. - E mesmo que desse certo... você sabe que eu não posso me demorar nos meus relacionamentos.


- Ninguém te disse isso, Aoi. Isso foi algo que você mesmo criou para afastar as pessoas.


Sorri, amargo, olhando no fundo dos seus olhos.


- As pessoas sempre se afastam quando descobrem a verdade, Ruki.


- Não gosto quando você me olha assim.


Franzi o cenho, sem entender.


- Por quê, Ruki?


- Parece que você vai entrar na minha mente. E... quando você me olha assim... eu posso vê-la em você, Aoi.


Disse a última frase tão baixo que eu mal pude ouvir. Ruki encarava o chão, provavelmente incerto se teria dito algo de errado. Eu apenas baguncei seus cabelos, sorrindo.


- Vamos, temos muito trabalho pela frente.


Ele ergueu a cabeça, sorrindo e parecendo aliviado.




- Tem certeza e que não quer ajuda pra desmontar, Kai? Você sabe muito bem que eu trabalho melhor à noite.


Kai sorriu, e eu via o cansaço nos seus olhos.


- Não, Aoi, pode deixar que eu desmonto tudo amanhã. Aliás, você não ia fazer um bico amanhã?


- Putz. Quase me esqueci. - baguncei os cabelos de Kai, percebendo que eu estava tão cansado quanto ele.


Kai afastou minha mão, não querendo bagunçar muito seus cabelos, depois sorriu mais maroto.


- Uruha perguntou de você.


- Quem?


- Takashima. Nós costumamos chamá-lo de Uruha.


- Ah ta.


- Não está interessado?


- No quê?


- No que ele disse... e nele?


Lancei um olhar atravessado para Kai.


- É impressão minha ou você e o Ruki estão fazendo um complô contra mim?


Kai riu, negando com a cabeça.


- É só que... Uruha pareceu muito interessado em você. Interessado demais.


- Kai você sabe muito bem que eu não posso...


- Mas não custa tentar, não é mesmo? - ele me cortou, sorrindo. - Além do mais, você ainda tem três semanas... O que te custa chamar o rapaz pra sair?


Grunhi, lançando um olhar mais assassino para Kai.


- É realmente um complô, ne?


Kai não respondeu, apenas sorriu, enigmático.




Continua...

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