P.O.V. Bill

Era duas e meia da manhã quando decidi que não entendia como fazer essa coisa de dormir. Olhei para Dipper na cama dele. O que o garoto provavelmente não sabia é que, depois de algumas horas desde o lançamento do feitiço, recuperei meus poderes. Pude ver que o garoto estava tendo um pesadelo, diferente da irmã, que sonhava com uma bala que parecia feita de purpurina e com um menino sereia.
Me levantei e fui até Dipper. Cutuquei ele algumas vezes. Pude ver o pesadelo do garoto desaparecendo aos poucos até que ele acordou, apesar de não abrir os olhos. Pude ouví-lo pensando: "Será que já é de manhã ou é só a Mabel querendo me irritar de madrugada? Vou mandá-la de volta para a cama, estou exausto".
Dipper abriu os olhos e pareceu surpreso ao me ver. Ele semicerrou os olhos, como se eu estivesse colocando uma lâmpada na cara dele. "Os olhos de Bill parecem faróis a noite", ouvi ele pensando e precisei me controlar muito para não rir. Calma Bill, ele não pode saber que você está com seus poderes!, pensei.
–Bill, são duas e meia da manhã, o que quer?
–Como eu faço para dormir?
Dipper ergueu as sobrancelhas.
–Você está me zuando, não é?
–Não!
–Bem, você fecha os olhos, esvazia sua mente, relaxa e pronto.
Mandei um olhar debochado para ele.
–Eu já vi de tudo. Eu sei tudo. Você realmente acha que dá para esvaziar uma mente cheia como a minha?
–Sabe de tudo, menos como dormir...-ele murmurou.
Mas o lado racional de Dipper ponderou sobre a situação. Então, o garoto se levantou, indo até o meio do quarto, onde estava meu colchão.
–Talvez se você tiver companhia consiga dormir.
Faz sentido, pensei. Nos deitamos e ficamos olhando para o teto. Foi então que minha discussão mental começou.
Esvaziar a mente...esvaziar a mente. Não pense em nada. Mas pensar em não pensar é pensar. Ok, foco. Silêncio. Mente vazia. Sem pensamentos. Esquece tudo. Esquece Alexandre, O Grande. Esquece os imperadores de Roma. Esquece os faraós. Esquece o primeiro ser vivo que apareceu na superfície terrestre. Esquece a formação do universo. Esquece o futuro, esquece o fim de tudo. Ok, isso não está dando certo.
–Pine Tree, não estou conseguindo.
Ele se virou para mim.
–É, eu imaginei. Estava se movendo muito. Olha, que tal irmos comer alguma coisa? Talvez seja mais fácil para você dormir de barriga cheia.
Fomos até a cozinha e Dipper começou a pegar tudo de doce que encontrava.
–O que está fazendo?
–Chamo isso de sopa dos doces da cozinha. A gente pega tudo de doce que tem e mistura. Eu e Mabel fazemos isso quando ela tem pesadelos.
Misturamos paçoca, nutella, chocolate, jujuba, mel, sorvete de morango e baunilha.
–Ok, parece estar uma delícia-Dipper disse, sorrindo.
Peguei uma colher e olhei para o garoto, com uma expressão séria.
–Eu é que irei avaliar isso.
Dipper tentou ficar sério, mas não aguentamos e gargalhamos. Após comermos tudo, voltamos para a cama.
–Vou ter cáries-murmurei, rindo.
–Mabel já teve cáries por causa disso.
–Obrigado por me deixar mais confiante.
Dipper sorriu.
–Ok, hora de dormir, Sr. Cáries.
–Muito engraçadinho, Pine Tree.
Eu já sentia minhas pálpebras pesadas e, ao perceber isso, Dipper disse:
–Boa noite, Bill.
Ele fechou os olhos, dormindo antes de mim. Antes que eu caísse no sono, depositei um beijo no topo da cabeça de Dipper, para deixar os pesadelos longe dele durante seu sono.
–Boa noite, Pine Tree.