Until You Return escrita por gmdclxra


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Ei gente, como cês tão? Espero que aproveitem a leitura!



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– JANE –

O barulho da porta de entrada batendo me fez despertar de meus pensamentos. Eu me mantinha de pé, segurando uma xícara de café. Não havia dormido nada noite passada. Havia deitado, mas a imagem de Maura chorando, implorando para que eu não fosse me perturbava a mente toda vez que eu tentava pegar no sono. Então, passei boa parte de minha madrugada velando o sono dela.

– Ma, shh. – peço para a mulher ao vê-la entrando na cozinha.

– Cadê a Maura?

– Dormindo. – respondo tomando outro gole do líquido preto em minhas mãos.

– Você, por outro lado...

– É, não dormi direito essa noite.

– E vai me falar o porquê ou vai continuar escondendo todos seus problemas atrás desse muro de 10 metros que você construiu?

– Eu tenho que te falar uma coisa. – falo seriamente, colocando a xícara em cima do balcão.

– Você está grávida?

– Ma, não! O quê? Eu grávi— Não! – meu tom de voz aumenta por um segundo, mas então me lembro da mulher que dormia no andar de cima. – Na verdade, é um pouco mais sério que isso.

– Fale logo, Jane.

– Acho melhor você sentar.

Vejo-a colocar as sacolas que tinha em mãos sobre o balcão e assentar-se em uma das banquetas.

– Ok, primeiro, – começo. – isso é algo que eu quero fazer já faz um tempo. Isso realmente vai fazer com que eu me sinta bem melhor e é por um curto período de tempo.

– Continue.

Ando até o outro lado do balcão, pego a carta e entrego-a nas mãos de minha mãe. Ela me olha por um segundo, da mesma maneira que Maura havia me olhado ontem, e então abre a carta.

– Jane, você perdeu a cabeça? – seus olhos são uma mistura de raiva e tristeza. – É um campo de guerra. Pessoas morrem lá, Jane!

– Ma, pense no vovô. O que ele fez lá, lutando pelo país, foi algo tão bonito. Eu quero fazer o mesmo, quero poder me sentir bem como ele se sentiu quando estava lá. Aquele departamento, aquele sentimento de poder colocar os caras maus atrás das grades é indescritível. Mas isso... É como uma lembrança viva do vovô, como se eu pudesse continuar com o que ele começou por lá.

– Se eu já morro de preocupação com você aqui do lado, imagine do outro lado do mundo. – ela apoia os ombros em cima do balcão e o rosto em suas mãos. – Você tem certeza? E Maura? Já contou para ela?

– Já e ela está tão triste quanto você. Mas é algo que eu preciso fazer para mim. – digo e não obtenho uma resposta. – Tudo bem?

– Não posso fazer nada para mudar isso ou para fazer você ficar, até porque você já foi convocada para ir e vai em... – ela pega o papel e verifica a data. – uma semana?

– Sim. É só um ano. Vai passar rápido.

A essa altura ela já tinha lágrimas correndo por seu rosto. Eu odiava o fato de fazê-la se sentir dessa maneira. Aproximo-me dela e lhe dou um abraço, tentando confortá-la, ou dizer, sem necessidade de palavra alguma, que eu estava ali.

– Como você conseguiu esconder isso de nós por tanto tempo? – agora ela fitava meu rosto.

– Eu só me alistei, fiz alguns testes físicos e acadêmicos lá na hora. O pior vem depois, quando eu já estiver lá.

– Jane...

– Ma, é isso que eu quero. Quero dizer, não era exatamente isso que eu imaginava pro meu próximo ano, mas eu realmente desejo estar lá.

– Se vai te fazer feliz...

– Vai, e muito. – fito-a mais uma vez antes de depositar um beijo em sua testa. – Agora preciso ir. Preciso contar para Cavanaugh o quanto antes, os documentos demoram a sair e não posso deixar tudo para última hora.

– Mas e a Maura?

– Deixei um bilhete no criado mudo. – pego minhas chaves e saio porta afora.

Já dentro do carro traço meu caminho para o cartório para fazer os documentos que faltavam. Havia somente dois ou três deles restantes, então não levaria tanto tempo e eu conseguiria chegar ao Departamento antes do horário do almoço e terminar de preencher algumas papeladas de casos recém-fechados. Minha mente não conseguia dispersar-se da reação de Maura e de minha mãe, hoje mais cedo.

Enquanto dirigia para o cartório, me perguntei se eu poderia apenas desistir. Deixar minha vontade de lado e ficar aqui. Mas, uma vez na vida, eu precisava fazer algo pensando em mim, sem colocar ninguém à minha frente. Não era por egoísmo, era só uma necessidade.

Depois de aproximadamente duas horas repassando dados e assinando papéis consegui fazer meus documentos, os pegaria em quatro dias. Entrei no carro e segui para o Departamento. Uns três quilômetros antes de chegar ao local, meu celular toca. Não me importo em olhar a tela e atendo-o prontamente.

– Rizzoli.

– Jane, sou eu. – ouço a voz de Maura do outro lado da linha. – Onde você está?

– Eu vim ao cartório para preparar alguns documentos faltantes. – respondo receosa. Todo esse assunto ainda estava muito recente para ela e eu temia sua reação cada vez que eu tocava no assunto. – Precisa de alguma coisa?

– Não, não preciso. – ela responde e sua voz soa normal, o que me acalma um pouco. – Só achei a casa estranhamente vazia e silenciosa, pois quando acordei você não estava na cama, nem no quarto de hóspedes, cozinha ou em qualquer lugar dessa casa.

– Desculpe sair sem avisar, não queria acordar você. Deixei um bilhete no criado-mudo.

– Devo ter deixado passar despercebido desta vez. – responde. – Desculpe incomodar.

– Você nunca me incomoda. – um sorriso de canto de boca se abre involuntariamente em meu rosto. – Eu amo você.

– Eu também amo você. – ela responde e posso quase senti-la sorrir. – Te vejo em quinze minutos.

– Ok. – respondo e ouço o sinal de chamada finalizada.

Deixo meu celular em meu colo e antes que percebo estou estacionando em frente ao Departamento. Eu ainda não sabia como contaria para Korsak, Frost ou Cavanaugh sobre o assunto, não fazia a mínima ideia de como abordá-los. Penso se preciso rodear ou se vou direto ao assunto. Se rodear posso fazer alarde “por nada”, se for direto ao ponto, posso assustá-los.

Entro no Departamento e vou direto ao escritório. Korsak e Frost já estão em suas mesas, preenchendo alguns papéis.

– Cavanaugh está aí? – pergunto, apontando para a porta de seu gabinete.

– Chegou há trinta minutos, quase. – Frost responde sem fazer contato visual.

– Preciso falar com ele. – sigo em direção ao local, mas sinto o olhar de Korsak pesar sobre mim. Viro-me para ele e vejo-o me encarando. Eu sabia que ele queria saber qual havia sido a resposta. Apenas balanço a cabeça, afirmando. Recebo um gesto, quase imperceptível, como resposta. Sigo em frente e bato à porta. Ouço a voz abafada de Cavanaugh pedir-me para que eu entre.

– Você tem um minuto? – pergunto logo ao entrar.

– Claro, Rizzoli, sente-se. – ele aponta para a cadeira à minha frente.

– Vou falar rápido, sem muito rodeio. O assunto não tem sido fácil para mim ou para minha família. – mantenho a cabeça baixa, mas quando vou anunciar minha partida, faço questão de olhar em seus olhos. – Estou indo embora por um ano, daqui a uma semana. Entrei para o exército, para a frente de combate na Síria.

Não consigo decifrar sua expressão. Surpresa? Medo?

Ele continua me encarando por intermináveis segundos, com sua indecifrável expressão e eu já estava me sentindo sufocada. Precisava que ele falasse alguma coisa, que gritasse comigo se fosse preciso.

– Desde quando, Jane? – ele pergunta. Cavanaugh nunca me chama pelo nome, apesar de termos uma relação boa dentro e fora do Departamento, tendo total liberdade para me chamar pelo primeiro nome.

– Há um mês, aproximadamente, eu me alistei. Recebi o resultado ontem.

– Você tem certeza de que é isso que quer?

– Sim, senhor.

– Tudo bem. – ele diz e volta a remexer em algumas papeladas sobre a mesa. – Preciso assinar algum papel para fins?

– Não que eu saiba, senhor. – respondo. – Só vim para aviso prévio. Com licença.

Saio da sala e parte da tensão instalada em meu corpo some. Volto para minha mesa, entre Frost e Korsak.

– Jane. – o homem mais velho me chama e apenas lanço um olhar. – Ele merece saber. – ele sussurra, de modo que Frost não o ouça. Apenas afirmo com um gesto de cabeça.

– Vou contar para ele. – sussurro – Só... não agora.

Um silêncio confortável se instala no local. Frost estava mais concentrado do que nunca procurando por alguma ligação para os casos em aberto. O telefone na mesa de Korsak toca. Com apenas dois toques o mesmo é atendido.

– Detetive Korsak. Ok. Mande o endereço por mensagem que em cinco minutos estaremos aí. – vejo-o colocar o telefone no gancho. – Temos um corpo. Chame Maura, te espero no carro.

– Ok. – respondo, colocando meu distintivo, arma e celular em meu cinto tático e desço para o necrotério.

Vejo a porta de Maura semiaberta. Não hesito em entrar cuidadosamente, tentando não fazer muito barulho. Encontro-a de cabeça baixa em sua mesa, com a mesma apoiada em suas mãos.

– Maura? – chamo, fazendo-a se assustar e ajeitar-se rapidamente na cadeira. – O que aconteceu?

– Não é nada. – ela responde e sua voz falha por um segundo. – É só uma dor de cabeça, vai passar.

Não era comum de Maura evitar contato visual comigo e era exatamente isso que ela estava fazendo naquele momento. Aproximo-me dela, tocando-lhe o braço. Como um reflexo, ela fita meu rosto e posso ver seus olhos vermelhos.

– Por que você está chorando? – pergunto, tentando puxá-la para um abraço. – Maura...

– Jane, você está indo embora. – responde. Droga. – Não espere que eu fique de outra maneira, por favor.

– Ok, tudo bem. Desculpe. – peço. Pego seu rosto em minhas mãos e seco suas lágrimas com meus polegares. O gesto faz com que um sorriso frouxo brote nos lábios da mulher, e eu, involuntariamente, sorrio também. Puxo seu corpo contra o meu e ela não reage contra, apenas se deixa levar. – Temos um corpo, Korsak pediu para que eu viesse te chamar. Você vem comigo.

– Jane, posso ir em meu carro.

– Mas eu quero que vá comigo. Por favor. – suplico.

– Tudo bem, então.

Sem hesitar passo um braço ao redor de sua cintura puxando seu corpo para mais perto do meu. Ao ver meu gesto, Maura me olha e sorri. Não consigo reagir de outra maneira a não ser depositar um beijo rápido em seus lábios.

Levo minha mão livre até meu cinto e puxo meu celular, discando o número de Korsak enquanto esperávamos pelo elevador.

– Ei, Korsak, me mande o endereço por mensagem. Vou levar Maura. Ok, obrigada.

Demoramos cerca de quinze minutos para chegar ao local do crime. Placas amarelas estavam espalhadas em um local marcado, indicando evidências. Maura e eu descemos do carro e pego com ela um par de luvas. Antes de deixa-la ir verificar o corpo, dou um beijo em sua têmpora. Ela sorri antes de se afastar e meu coração bate mais rápido. Era sempre assim.

Após fazermos a perícia no local, fomos tomar um café em uma cafeteria ali perto. Precisávamos de alguns resultados do laboratório primeiro, sobre as evidências que achamos no local, antes de continuarmos com a busca. Korsak, Frost, Maura e eu escolhemos uma mesa e fizemos nossos pedidos. O relógio da cafeteria marcava duas e vinte e três da tarde. O tempo havia voado aquele dia e eu não podia querer nada além daquilo, precisava de um tempo a sós com Maura, de apenas deitar no sofá e abraça-la, sentir que ela ainda estava ali comigo.

Sinto a mão de Maura tocar em meu joelho quando se curvou para rir de algo que Frost havia dito. Pego em sua mão e entrelaço nossos dedos, usando meu polegar para acaricia-la.

– Korsak, mas o que... – fico surpresa ao ver o pedido do homem mais velho chegar. – Isso é uma bomba de açúcar para dois anos!

– Jane, você quer me deixar viver? – retruca. Sua expressão de indignação arranca uma risada de todos nós.

– Viver é uma coisa que você não vai se continuar achando que o mundo vai acabar em açúcar. – respondo segurando uma risada em minha garganta e recosto meu corpo no banco acolchoado.

O corpo de Maura tremia devido ás risadas que saiam de sua garganta. Como num ato involuntário, ela deita sua cabeça em meu ombro e, instantaneamente, deposito um beijo em sua cabeça. Nenhuma de nós duas se importava com a presença dos dois homens ali. Já era normal, rotina, familiar toda a nossa troca de carinho em frente às pessoas. Ninguém no Departamento havia sido contra nosso relacionamento ou olhado torto para nós uma vez sequer. Alguns até comentavam o quão seria saudável para nós duas, após tantos traumas que, por ironia do destino ou não, havíamos passados juntas.

Nas madrugadas em que eu acordava suando frio, sentindo o metal frio me cortando o pescoço, era Maura quem ficava comigo até que eu me acalmasse. Quando Maura acordava gritando no meio da noite, sentindo as mãos de Dennis tentando mata-la, era eu quem acariciava seu cabelo, seu rosto até que ela pegasse no sono sem nenhum transtorno novamente. Todas as vezes que eu sentia a dor excruciante em minhas mãos, nas cicatrizes, Maura as segurava pressionando sobre o excesso de pele que havia se formado no local, movendo o polegar para um lado e para o outro para aliviar a dor. Sempre foi ela e sempre será.

O final do dia havia sido tranquilo. Os resultados do laboratório só chegariam no dia seguinte, pela manhã. Não havia mais nada a ser feito, então apenas nos despedimos e fomos para casa.

No caminho para casa Maura estava mais quieta do que o habitual. Não sabia como perguntar ou abordá-la, então apenas deixei que o silêncio pairasse.

– Você já contou aos seus irmãos? – Maura quebra o silêncio ao fazer tal pergunta. Seus olhos estavam fixos na rua.

– Não. – respondo. – Pretendo contar no almoço de domingo.

– Já contou para Korsak ou Frost? – seu olhar se mantinha fixo no caminho e eu já estava começando a ficar tensa novamente.

– Korsak já sabe, Frost... Eu não sei como contar para ele.

– Da mesma maneira que contou para mim. – Maura responde rapidamente, como se já tivesse a resposta preparada na ponta da língua.

– Acho que vou contar para ele no almoço de domingo também.

– Ele vai?

– Ele sempre vai. – dou certeza. – Barry Frost também é família, Maur.

– Eu sei disso. – ela responde e vejo um pequeno sorriso ameaçar em abrir no canto de sua boca.

– Podemos mudar de assunto, por favor? – peço e ela apenas assente com a cabeça.

– Claro. Eu estava pensando em assistir a um filme hoje quando chegarmos em casa.

– Você passa no meu apartamento comigo? Preciso tomar banho e pegar umas roupas.

– Não sei por que seu guarda-roupa inteiro ainda não está lá em casa. – ela diz. – Faz quanto tempo que você não pisa direito no seu apartamento? Um mês? Mais? Até Jo Friday já se mudou para minha casa.

– Você odiaria ter que me dar uma gaveta do seu armário, Maura Isles.

– Para você eu dou uma metade inteira ou mais se for preciso, Jane Rizzoli.


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Notas finais do capítulo

Então, que que vcs acharam do cap? Peço que, se acharem algum erro de digitação ou ortográfico, que me avisem nos comentários que eu arrumo!!
Críticas e opiniões são sempre bem-vindas. Beijos e até o próximo!
Obs.: Eu editei algumas coisinhas no disclaimer, se alguém se interessar em checar.. ;)