Blood5 escrita por roux


Capítulo 1
O Início




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“Ele dizia me amar, mas eu não poderia saber o que ele amava mais. A mim, ou o meu sangue.”

O loiro caminhava rápido pelo quarto apanhando algumas coisas e jogando tudo dentro da mochila, precisava sair dali o mais rápido possível. Desceu correndo pela escada e passou pela porta chegando à garagem. Era hora de seguir em frente, o garoto havia prometido a si mesmo que nunca mais retornaria aquele lugar. Não depois de tudo que havia acontecido. Entrou em seu carro e bateu a porta com força. Os olhos estavam vidrados, as mãos agiam roboticamente. Apenas girou a chave na ignição e deu partida. Olhou mais uma vez para trás, dando um adeus em silêncio e arrancou com o carro.

As mãos seguravam com força no volante do carro. Já dirigia à uma hora. As lágrimas agora já escorriam com força sobre a face. A boca fechada em uma linha reta. O desespero tomou conta, acelerou o carro. Ouvia o telefone celular tocar, talvez fosse seus pais preocupados. Ele precisava dar alguma explicação. Estacionou o carro no acostamento e atendeu ao telefone.

— Pai?! — Falou com a voz de choro ao telefone. Não estava preparado para ouvir os sermões do pai.

— Não, cabeça de vento. O que você pensa que está fazendo? — A voz masculina soou do outro lado da linha.

— Gus, eu tenho certeza do que estou fazendo... — Falou sem total convicção. Fugou o nariz e voltou a chorar. — Eu não sei o que estou fazendo, não sei...

— Eu sei que você não sabe, e eu preciso que você dê meia volta agora, seja lá onde esteja e se dirija para a minha casa. Nós vamos comer muito brigadeiro, chorar a noite toda e agir como pessoas normais, depois de um término.

— Mas... Mas...

— Eu não quero saber, Valentim. Essa bosta toda já deu. Você é bem crescido para agir como um garotinho assustado depois que o seu namorado filho da puta traiu você com o seu meio irmão. Estou esperando você.

A ligação foi encerrada. Valentim olhou para a tela do celular. Precisava mesmo fazer o que o amigo havia dito. Pisou no acelerador e seguiu em frente, precisava pegar o retorno. A noite já caia sobre ele. O sol se ponha ao longe.

Já dirigia a uns vinte minutos seguindo as placas que indicavam o retorno e nada de achar o bendito. O estomago roncou. Estava com fome. Realmente com fome, não havia comido nada o dia inteiro. Havia ficado maior parte do dia no trabalho e depois ficou por horas esperando o namorado, ops. O ex-namorado na praça de alimentação.

— Droga! — Falou bufando de raiva ao lembrar-se de tudo que tinha ocorrido antes e bateu a mão no volante, acertando a buzina. O loiro assustou-se com o som que ele mesmo causou.

O telefone tocava mais uma vez. Quem será agora, inferno? Gus... Me deixa em paz só um pouco. Pensou o loiro irritado, e atendeu mais uma vez.

— Estamos indo para o interior, você já deveria estar em casa. Onde você está? — A voz doce e calma da mão ecoou em seus ouvidos.

O rapaz sentiu mais uma vez os olhos encherem de lágrimas e a vontade de chorar. Como queria contar tudo para a mãe e ser abraçado por ela. Não. Não iria assusta-la por telefone.

— Valentim? Está me ouvindo? O seu pai e eu estamos prontos para ir para a casa da sua avó. Onde você está? — Perguntou a voz novamente.

— Estou voltando da universidade mamãe. E vou dormir na casa do Gus hoje. — Disse o jovem tentando parecer o mais normal possível.

— Ah, tudo bem. Eu deixei comida congelada no freezer. Voltamos no final de semana. Você vai ficar mesmo bem sozinho? — A mulher perguntou.

O choro mais uma vez ameaçou. Uma semana inteira sozinho? Ele estava preparado para isso, talvez devesse mesmo contar a verdade e pedir para que sua mãe ficasse junto a ele. Não! Gritou sua mente. Não poderia estragar a tão esperada folga dos pais.

— Sim. Eu vou sim. Beijos e boa viagem! — Disse ele choroso, e logo desligou o celular.

Baixou a cabeça e se distraiu por um segundo, não demorou muito e sentiu o carro bater com força em alguma coisa. Gritou assustado e levantou a cabeça rapidamente. Havia acabado de bater em um carro. Puta merda! Mais essa para completar o dia. Pensou o rapaz. Desceu do carro rapidamente.

Outro jovem também descia do carro à frente. Era mais alto, mais forte e extremamente lindo. Os cabelos negros e bagunçados, a barba por fazer e uma feição brava que o deixava com cara de bravo. A pele esbranquiçada parecia nunca ter visto o sol. Valentim sentiu medo, um arrepio lhe percorreu o corpo. Afastou a sensação depressa e ficou a fitar o jovem.

— Mas que porra foi essa? — Perguntou o homem com uma voz grave e forte.

— Ops... — Gaguejou Valentim sentindo o arrepio percorrer seu corpo novamente. —Eu não vi o seu carro, eu me distrai apenas por um segundo e quando vi meu carro estava se chocando com o seu, e...

— Você não olha por onde anda? Você poderia ter me matado! — Disse o jovem mais alto com certo desprezo, como se não levasse a sério o que ele mesmo dizia. Olhou Valentim de cima a baixo, e percebeu que o intimidava. Sentiu vontade de rir, mas precisava manter a pose.

— Mas o que você fazia parado aqui? Não me lembro de ter placa indicando que podemos estacionar no meio da avenida. — Perguntou Valentim sentindo sua voz se estabilizar um pouco. Não havia motivo para temer aquele homem lindo e sombrio.

O homem sentiu-se incomodado, mas não mudou suas feições duras. Valentim ainda assim percebeu e sentiu vontade de rir pela primeira vez no dia. Ele tinha conseguido constranger o outro. Tinha né? Pensou ele.

— O meu carro quebrou! — Disse o rapaz sério e bravo.

— Há! O seu carro quebra e você não usa a sinalização para indicar que isso aconteceu? — Valentim perguntou bravo.

— E isso iria adiantar? Você não estava prestando atenção mesmo! — Jogou na lata o rapaz mais alto.

Valentim engoliu em seco. Havia sido pego mais uma vez.

Não sabia o que responder, e aproveitou para fitar o rapaz. Era bonito e sombrio. Não fazia muito o seu tipo. Malhado, com certeza um rato de academia. Alto demais. Queixo quadrado demais. Lábios bonitos demais. Olhos frios demais. Pela branca demais, na verdade branca até demais. Homem bonito demais. Nunca o notaria. Ou seja, nada de fazer seu tipo.

— Então? — Perguntou o homem seco.

— Então o que? — Perguntou de volta, Valentim. — Por que não chamou um guincho?

O rapaz olhou Valentim de cima em baixo e fez uma feição não muito agradável. Valentim notou, mas revolveu ignorar.

— Eu chamei, mas estou aqui parado há três horas... — Confessou o rapaz. — Eles esqueceram, talvez...

— Nossa, sua história me comoveu. — Valentim usou sua melhor arma, ironia. Aquilo ele sabia fazer muito bem.

O outro inclinou a cabeça e ficou sem entender.

— Ironia! — Valentim falou devagar para dar ênfase.

O homem continuou a fita-lo.

— Esquece! — Valentim falou baixo e passou a mão pelo cabelo liso que lhe caia sobre a testa. — E para onde você está indo? Eu posso lhe dar uma carona. — Perguntou ele sem fazer muita ideia de porque estava oferecendo carona para um desconhecido.

— Eu acho uma ótima ideia. — Respondeu o homem com um sorriso malicioso nos lábios.

Valentim tremeu, e sentiu o coro cabeludo pinicar. Era melhor voltar atrás.

— E o seu carro? É melhor você esperar o guincho né? — Valentim falou baixo e desviou os olhos do olhar frio do maior, coçou o queixo devagar.

— Estou indo para Connor O’Hill *. Não fica muito longe daqui. Despois posso vir busca-lo. Está ficando tarde, não pretendo passar o resto da noite aqui. — Disse o homem sem emoção.

Você é meio estranho e me deixa aterrorizado, não sei se o quero no meu carro! Pensou Valentim.

— Não se preocupe com o meu carro! Então... — Disse o homem sem paciência.

Valentim pigarreou e voltou a falar.

— Estou indo pra lá... — Parou. — É Connor O Hill. Isso é se conseguir achar o retorno. — Disse e logo se arrependeu, não deveria deixar o estranho perceber que ele estava basicamente perdido.

— O retorno fica a uns 300 metros daqui! — Falou o moreno sério e desviou o olhar de Valentim, focando em algo no meio das árvores não muito longe dali.

— Então tudo bem, vamos lá... Mas antes tem uma condição... — Valentim falou sério e o homem lhe olhou sem entender. — Qual seu nome? É que eu não costumo deixar pessoas estranhas entrarem no meu carro. — Disse o loiro usando mais uma vez da tão amada ironia para disfarçar o medo que sentia.

— James. — Disse o rapaz esticando a mão para Valentim. Os olhos frios agora se mostravam quentes, pareciam até ter mudado de cor. — James Smith!

Valentim segurou a mão do jovem e a sentiu fria, fria até demais. Resolveu não comentar.

— Valentim Moyes. — Respondeu apreensivo.

(...)

O carro estava voltando rapidamente para a cidade. Valentim dirigia com pressa. Não gostava de dirigir a noite. E com um estranho no banco de carona isso não ficava mais fácil. As lembranças voltavam com força. O garoto agora tremia um pouco.

— Ei, está tudo bem? — James perguntou sério.

Valentim desviou os olhos da estrada e olhou para o rapaz com cara de “alguma coisa parece errada?” Ele preferiu não falar nada, sua voz poderia trai-lo.

Continuou a dirigir, o carro voava pela estrada. Entrou nos limites da cidade e logo estava na avenida principal. Valentim respirou fundo demostrando alivio A Praça Roussel já podia ser avistada.

— Pode me deixar na Roussel. Meu irmão me pega lá. — Disse James percebendo o alivio do menor.

— Hm... É claro... — Respondeu Valentim nervoso e louco para que o outro descesse do seu carro.

James o olho com olhos estranho, talvez desejo, fome... Valentim percebeu e mordeu o lábio constrangido. Sem demora Valentim estacionou o carro próximo da praça e esperou o rapaz sair do carro.

— Eu agradeço a carona. Foi muita gentiliza sua. — Falou James lentamente provando as palavras em sua boca.

— Não foi incomodo, eu... —Valentim gagejou.

O moreno desceu do carro e bateu a porta. Inclinou-se na porta.

— A gente se esbarra por aí! — Falou sério e olhou no fundo dos olhos de Valentim.

Olhos vermelhos. Pensou Valentim.

O moreno saiu caminhando lentamente, deixando para trás apenas o seu cheiro. Era a única coisa que indicava que estivera ali.

Valentim arrancou em direção à casa do seu amigo. Tinha quase certeza que nunca mais veria aquele rapaz, e sentia-se feliz por isso, aquele homem indicava encrenca e ele estava farto disso.

(...)

A luz que vinha do casarão era fraca e tremia às vezes. O pedido de socorro vinha dos fundos. A voz feminina era alta e logo cessou. Uma risada masculina soou alta. Um homem caminhava lentamente pelo jardim em direção ao fundo da casa.

— Não deveria brincar com a comida, Newt. Apesar da distancia alguém pode ouvir! — Falou o homem que se mantinha de costa.

— Oh querido irmão, um pouco de diversão não faz mal a ninguém! —Respondeu Newt, um homem de cabelos negros caindo sobre o ombro. Estava inclinado sobre um corpo deitado no chão. Era uma mulher.

— Não devemos nos arriscar. Espero que você tenha feito sua caçada longe daqui. — Disse a voz forte e grave.

— Você está tão chato, James. Não banque o irmão mais velho. Eu sei me cuidar e cuidar da nossa identidade direitinho. — Gargalhou Newt. Abriu a boca e caninos avantajados estavam amostra, não demorou muito e aqueles dentes estavam no pescoço da moça caída sobre o chão.

— Limpe a sujeira quando terminar... — James disse sério e saiu caminhando dali.

Newt não parou sua alimentação para responder, apenas acenou um ok com a mão.

James caminhou numa velocidade rápida que um humano normal não conseguiria perceber, e entrou no casarão pelas portas dos fundos. Logo estava em sua cama, olhava para o teto.

— Valentim Moyes! — Foi o único som que saiu de sua boca.

O loiro caminhava rápido pelo quarto apanhando algumas coisas e jogando tudo dentro da mochila, precisava sair dali o mais rápido possível. Desceu correndo pela escada e passou pela porta chegando à garagem. Era hora de seguir em frente, o garoto havia prometido a si mesmo que nunca mais retornaria aquele lugar. Não depois de tudo que havia acontecido. Entrou em seu carro e bateu a porta com força. Os olhos estavam vidrados, as mãos agiam roboticamente. Apenas girou a chave na ignição e deu partida. Olhou mais uma vez para trás, dando um adeus em silêncio e arrancou com o carro.

As mãos seguravam com força no volante do carro. Já dirigia à uma hora. As lágrimas agora já escorriam com força sobre a face. A boca fechada em uma linha reta. O desespero tomou conta, acelerou o carro. Ouvia o telefone celular tocar, talvez fosse seus pais preocupados. Ele precisava dar alguma explicação. Estacionou o carro no acostamento e atendeu ao telefone.

— Pai?! — Falou com a voz de choro ao telefone. Não estava preparado para ouvir os sermões do pai.

— Não, cabeça de vento. O que você pensa que está fazendo? — A voz masculina soou do outro lado da linha.

— Gus, eu tenho certeza do que estou fazendo... — Falou sem total convicção. Fugou o nariz e voltou a chorar. — Eu não sei o que estou fazendo, não sei...

— Eu sei que você não sabe, e eu preciso que você dê meia volta agora, seja lá onde esteja e se dirija para a minha casa. Nós vamos comer muito brigadeiro, chorar a noite toda e agir como pessoas normais, depois de um término.

— Mas... Mas...

— Eu não quero saber, Valentim. Essa bosta toda já deu. Você é bem crescido para agir como um garotinho assustado depois que o seu namorado filho da puta traiu você com o seu meio irmão. Estou esperando você.

A ligação foi encerrada. Valentim olhou para a tela do celular. Precisava mesmo fazer o que o amigo havia dito. Pisou no acelerador e seguiu em frente, precisava pegar o retorno. A noite já caia sobre ele. O sol se ponha ao longe.

Já dirigia a uns vinte minutos seguindo as placas que indicavam o retorno e nada de achar o bendito. O estomago roncou. Estava com fome. Realmente com fome, não havia comido nada o dia inteiro. Havia ficado maior parte do dia no trabalho e depois ficou por horas esperando o namorado, ops. O ex-namorado na praça de alimentação.

— Droga! — Falou bufando de raiva ao lembrar-se de tudo que tinha ocorrido antes e bateu a mão no volante, acertando a buzina. O loiro assustou-se com o som que ele mesmo causou.

O telefone tocava mais uma vez. Quem será agora, inferno? Gus... Me deixa em paz só um pouco. Pensou o loiro irritado, e atendeu mais uma vez.

— Estamos indo para o interior, você já deveria estar em casa. Onde você está? — A voz doce e calma da mão ecoou em seus ouvidos.

O rapaz sentiu mais uma vez os olhos encherem de lágrimas e a vontade de chorar. Como queria contar tudo para a mãe e ser abraçado por ela. Não. Não iria assusta-la por telefone.

— Valentim? Está me ouvindo? O seu pai e eu estamos prontos para ir para a casa da sua avó. Onde você está? — Perguntou a voz novamente.

— Estou voltando da universidade mamãe. E vou dormir na casa do Gus hoje. — Disse o jovem tentando parecer o mais normal possível.

— Ah, tudo bem. Eu deixei comida congelada no freezer. Voltamos no final de semana. Você vai ficar mesmo bem sozinho? — A mulher perguntou.

O choro mais uma vez ameaçou. Uma semana inteira sozinho? Ele estava preparado para isso, talvez devesse mesmo contar a verdade e pedir para que sua mãe ficasse junto a ele. Não! Gritou sua mente. Não poderia estragar a tão esperada folga dos pais.

— Sim. Eu vou sim. Beijos e boa viagem! — Disse ele choroso, e logo desligou o celular.

Baixou a cabeça e se distraiu por um segundo, não demorou muito e sentiu o carro bater com força em alguma coisa. Gritou assustado e levantou a cabeça rapidamente. Havia acabado de bater em um carro. Puta merda! Mais essa para completar o dia. Pensou o rapaz. Desceu do carro rapidamente.

Outro jovem também descia do carro à frente. Era mais alto, mais forte e extremamente lindo. Os cabelos negros e bagunçados, a barba por fazer e uma feição brava que o deixava com cara de bravo. A pele esbranquiçada parecia nunca ter visto o sol. Valentim sentiu medo, um arrepio lhe percorreu o corpo. Afastou a sensação depressa e ficou a fitar o jovem.

— Mas que porra foi essa? — Perguntou o homem com uma voz grave e forte.

— Ops... — Gaguejou Valentim sentindo o arrepio percorrer seu corpo novamente. —Eu não vi o seu carro, eu me distrai apenas por um segundo e quando vi meu carro estava se chocando com o seu, e...

— Você não olha por onde anda? Você poderia ter me matado! — Disse o jovem mais alto com certo desprezo, como se não levasse a sério o que ele mesmo dizia. Olhou Valentim de cima a baixo, e percebeu que o intimidava. Sentiu vontade de rir, mas precisava manter a pose.

— Mas o que você fazia parado aqui? Não me lembro de ter placa indicando que podemos estacionar no meio da avenida. — Perguntou Valentim sentindo sua voz se estabilizar um pouco. Não havia motivo para temer aquele homem lindo e sombrio.

O homem sentiu-se incomodado, mas não mudou suas feições duras. Valentim ainda assim percebeu e sentiu vontade de rir pela primeira vez no dia. Ele tinha conseguido constranger o outro. Tinha né? Pensou ele.

— O meu carro quebrou! — Disse o rapaz sério e bravo.

— Há! O seu carro quebra e você não usa a sinalização para indicar que isso aconteceu? — Valentim perguntou bravo.

— E isso iria adiantar? Você não estava prestando atenção mesmo! — Jogou na lata o rapaz mais alto.

Valentim engoliu em seco. Havia sido pego mais uma vez.

Não sabia o que responder, e aproveitou para fitar o rapaz. Era bonito e sombrio. Não fazia muito o seu tipo. Malhado, com certeza um rato de academia. Alto demais. Queixo quadrado demais. Lábios bonitos demais. Olhos frios demais. Pela branca demais, na verdade branca até demais. Homem bonito demais. Nunca o notaria. Ou seja, nada de fazer seu tipo.

— Então? — Perguntou o homem seco.

— Então o que? — Perguntou de volta, Valentim. — Por que não chamou um guincho?

O rapaz olhou Valentim de cima em baixo e fez uma feição não muito agradável. Valentim notou, mas revolveu ignorar.

— Eu chamei, mas estou aqui parado há três horas... — Confessou o rapaz. — Eles esqueceram, talvez...

— Nossa, sua história me comoveu. — Valentim usou sua melhor arma, ironia. Aquilo ele sabia fazer muito bem.

O outro inclinou a cabeça e ficou sem entender.

— Ironia! — Valentim falou devagar para dar ênfase.

O homem continuou a fita-lo.

— Esquece! — Valentim falou baixo e passou a mão pelo cabelo liso que lhe caia sobre a testa. — E para onde você está indo? Eu posso lhe dar uma carona. — Perguntou ele sem fazer muita ideia de porque estava oferecendo carona para um desconhecido.

— Eu acho uma ótima ideia. — Respondeu o homem com um sorriso malicioso nos lábios.

Valentim tremeu, e sentiu o coro cabeludo pinicar. Era melhor voltar atrás.

— E o seu carro? É melhor você esperar o guincho né? — Valentim falou baixo e desviou os olhos do olhar frio do maior, coçou o queixo devagar.

— Estou indo para Connor O’Hill *. Não fica muito longe daqui. Despois posso vir busca-lo. Está ficando tarde, não pretendo passar o resto da noite aqui. — Disse o homem sem emoção.

Você é meio estranho e me deixa aterrorizado, não sei se o quero no meu carro! Pensou Valentim.

— Não se preocupe com o meu carro! Então... — Disse o homem sem paciência.

Valentim pigarreou e voltou a falar.

— Estou indo pra lá... — Parou. — É Connor O Hill. Isso é se conseguir achar o retorno. — Disse e logo se arrependeu, não deveria deixar o estranho perceber que ele estava basicamente perdido.

— O retorno fica a uns 300 metros daqui! — Falou o moreno sério e desviou o olhar de Valentim, focando em algo no meio das árvores não muito longe dali.

— Então tudo bem, vamos lá... Mas antes tem uma condição... — Valentim falou sério e o homem lhe olhou sem entender. — Qual seu nome? É que eu não costumo deixar pessoas estranhas entrarem no meu carro. — Disse o loiro usando mais uma vez da tão amada ironia para disfarçar o medo que sentia.

— James. — Disse o rapaz esticando a mão para Valentim. Os olhos frios agora se mostravam quentes, pareciam até ter mudado de cor. — James Smith!

Valentim segurou a mão do jovem e a sentiu fria, fria até demais. Resolveu não comentar.

— Valentim Moyes. — Respondeu apreensivo.

(...)

O carro estava voltando rapidamente para a cidade. Valentim dirigia com pressa. Não gostava de dirigir a noite. E com um estranho no banco de carona isso não ficava mais fácil. As lembranças voltavam com força. O garoto agora tremia um pouco.

— Ei, está tudo bem? — James perguntou sério.

Valentim desviou os olhos da estrada e olhou para o rapaz com cara de “alguma coisa parece errada?” Ele preferiu não falar nada, sua voz poderia trai-lo.

Continuou a dirigir, o carro voava pela estrada. Entrou nos limites da cidade e logo estava na avenida principal. Valentim respirou fundo demostrando alivio A Praça Roussel já podia ser avistada.

— Pode me deixar na Roussel. Meu irmão me pega lá. — Disse James percebendo o alivio do menor.

— Hm... É claro... — Respondeu Valentim nervoso e louco para que o outro descesse do seu carro.

James o olho com olhos estranho, talvez desejo, fome... Valentim percebeu e mordeu o lábio constrangido. Sem demora Valentim estacionou o carro próximo da praça e esperou o rapaz sair do carro.

— Eu agradeço a carona. Foi muita gentiliza sua. — Falou James lentamente provando as palavras em sua boca.

— Não foi incomodo, eu... —Valentim gagejou.

O moreno desceu do carro e bateu a porta. Inclinou-se na porta.

— A gente se esbarra por aí! — Falou sério e olhou no fundo dos olhos de Valentim.

Olhos vermelhos. Pensou Valentim.

O moreno saiu caminhando lentamente, deixando para trás apenas o seu cheiro. Era a única coisa que indicava que estivera ali.

Valentim arrancou em direção à casa do seu amigo. Tinha quase certeza que nunca mais veria aquele rapaz, e sentia-se feliz por isso, aquele homem indicava encrenca e ele estava farto disso.

(...)

A luz que vinha do casarão era fraca e tremia às vezes. O pedido de socorro vinha dos fundos. A voz feminina era alta e logo cessou. Uma risada masculina soou alta. Um homem caminhava lentamente pelo jardim em direção ao fundo da casa.

— Não deveria brincar com a comida, Newt. Apesar da distancia alguém pode ouvir! — Falou o homem que se mantinha de costa.

— Oh querido irmão, um pouco de diversão não faz mal a ninguém! —Respondeu Newt, um homem de cabelos negros caindo sobre o ombro. Estava inclinado sobre um corpo deitado no chão. Era uma mulher.

— Não devemos nos arriscar. Espero que você tenha feito sua caçada longe daqui. — Disse a voz forte e grave.

— Você está tão chato, James. Não banque o irmão mais velho. Eu sei me cuidar e cuidar da nossa identidade direitinho. — Gargalhou Newt. Abriu a boca e caninos avantajados estavam amostra, não demorou muito e aqueles dentes estavam no pescoço da moça caída sobre o chão.

— Limpe a sujeira quando terminar... — James disse sério e saiu caminhando dali.

Newt não parou sua alimentação para responder, apenas acenou um ok com a mão.

James caminhou numa velocidade rápida que um humano normal não conseguiria perceber, e entrou no casarão pelas portas dos fundos. Logo estava em sua cama, olhava para o teto.

— Valentim Moyes! — Foi o único som que saiu de sua boca.


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Notas finais do capítulo

Connor O’Hill é uma cidade fictícia, não existe na realidade, foi criada apenas para essa estória.
Espero que vocês gostem, e comentem.
Beijos do tio Roux.



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