Contos de uma Terra onde Retângulos cortam os Céus escrita por Grizzly


Capítulo 2
Crueldade


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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O mundo é cruel.

Eu já sabia disso, mas nunca pensei que pudesse chegar a tanto, que a crueldade pudesse me afetar.

Recebi a notícia de que talvez não pudesse mais andar devido à fratura na medula e na torção de minhas pernas.

Tornei-me paraplégico?

Aqueles diálogos de de vez em quando com doutores só pesaram em minha mente, só me deixaram mais angustiado, só me fizeram acreditar na crueldade do mundo.

Naquele dia, os freios e o volante não responderam.

Na mureta, só se via nosso carro estilhaçado. Jazíamos no chão, sem poder nos mexer devido ao choque e por não estarmos conscientes no momento.

Quando acordei, disseram-me que ela havia morrido.

Não sei o que doía mais.

No leito do hospital, meu torso se via enfaixado, e minhas pernas, engessadas.

Soube que haviam me sedado para fazer uma operação emergencial, mesmo que eu já estivesse adormecido.

Senti-me culpado. Senti-me encolerizado. Senti-me entristecido. Senti-me só...

A mulher que eu tanto amava já não estava mais comigo naquele momento, e nunca mais iria estar. Tudo por minha culpa.

Se o carro estivesse em melhores condições... Se eu não a tivesse convidado para sair naquela noite... Se eu soubesse sobre o que poderia acontecer sob o céu noturno e estrelado... Se eu soubesse...

Uma visita inesperada chegara. Trazendo consigo flores e uma caixa de lenços, minha mãe, que até então estava brigada comigo, sentou-se na cadeira a meu lado. Não pude me mexer devido à sonolência, mas ao menos mantive os olhos abertos, mesmo que minimamente.

–Olá.

A dócil velhinha se surpreendeu com meu cumprimento. Talvez tivesse pensado que eu ainda estava inconsciente?

Mas aquilo só a fez chorar mais. De início, não entendi muito bem, pois minha cabeça estava sobrecarregada de informações, mas logo percebi que era por felicidade que ela chorava, por alívio que ela chorava, por poder conversar comigo novamente que ela chorava.

Naquele dia, tive certeza de que minha mãe, que sempre me proibia de fazer qualquer coisa, deixando de lado toda a ira ocasionada pela briga, ainda amava-me e preocupava-se comigo mais do que qualquer outra pessoa.

Mesmo que ela por vezes fizesse coisas que eu não aceitava e vice-versa, ela ainda me amava. Mesmo que ela brigasse comigo inúmeras vezes, ainda me amava e tinha medo de me perder.

Mas dessa vez não foi ela que perdeu algo.

Minhas pernas, minha amada, meu sustento que me impedia de desistir todos os dias.

Ainda iriam me aceitar em casa, depois de tudo que eu fiz de ruim para eles?

Ainda iriam me ver com os mesmos olhos em casa, no trabalho e na rua?

Ainda iriam me tratar como sempre me trataram?

Medo, negação, raiva e aceitação.

Acho que... Quando algo nos abala, temos que lidar com a situação e passar por cima dela, certo?


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