Como assim estou morta?É impossível, porque minha presença é material, não sou uma alma do além ,me situo no planeta terra e não em um mundo espiritual qualquer.
No começo eu não acreditei nas palavras de mamãe, no entanto aquele corpo de fato não pertencia a mim,era de Scarlet e eu sabia disso. Talvez o que faleceu realmente foi meu eu físico,apesar de minha professora ir ao céu no meu lugar ,quer dizer ,a alma dela.

Minha mãe percebendo que meu estado mental se quebrou em pedaços, ofereceu seu apoio,propondo que eu vivesse na casa até melhorar por completo. Aceitei rapidamente, sem pensar duas vezes,afinal queria ficar perto da minha família ,principalmente agora.
~ NO DIA SEGUINTE~
Já entrando no carro do meu pai após receber alta,fui conduzida por ele até o automóvel já que as vezes ainda sentia leves tonturas.

Meu pai era um amor ,me ensinou a ser gentil e sempre escolher o certo,além é claro de me ter feito desfrutar de inúmeros momentos de diversão ,tanto na infância quanto na "adolescência ".
Sentei no banco de atrás do veículo e devido aos efeitos dos remédios acabei cochilando enquanto ele andava pelas ruas movimentadas até meu doce lar.
Um pouco antes de cair no sono,meu pai falou uma informaçao, que estava mais para um lembrete sobre o dia .
- O velório será hoje ,então apenas vista algo para ocasião e se não quiser permanecer nele, pode ficar no seu quarto descansando, pois você passou por muitas coisas nessa semana.-recordou com uma sonoridade fúnebre quando emitiu o comunicado,espalhando invisivelmente a tristeza pela minha " morte".
Enquanto adentrava o utópico, flashes do acidente invadiram minha mente.Neles eu via senhora Scarlet e eu caindo,dentro da van dela,num penhasco muito alto e ainda posso sentir a água entrando com violência nos meus pulmaos, aquela falta de ar,aquele sentimento desesperador. Foi tão horrível esse sonho que acordei suando e apavorada,sorte não ter tido um infarto.
-Chegamos !-Disse mamãe, tentando esbanjar uma falsa alegria para nos alegrar.
Assim que sai do carro,ela me acompanhou até o quarto de hóspedes ,na verdade um cubículo de tão minúsculo que era,as paredes pareciam que iriam te espremer a qualquer instante.
Pediu-me só para me trocar devido ao funeral e seguiu com a cabeça abaixada a fim de mudar suas vestes e por fim comandar o lugar para que nada de errado ocorresse.
Coloquei a única roupa preta que Senhorita Scarlet possuía e caminhei até a sala de estar,sem que me notassem.Eu não conhecia todos os convidados, somente alguns parentes.
Até que para o meu azar reparei numa das piores cenas da minha vida efêmera: minha melhor amiga e o garoto que sempre fui apaixonada lamentando com suas lágrimas em volta do meu caixão, como se tivessem perdido algo importante demais para eles,e isso não era mentira.
Não aguentando a cena,corri até meu refúgio secreto,meu cantinho eterno,o sótão.Eu ficava lá quando ficava estressada ou triste,simples assim.Embora quando cheguei nele,estivesse repleto de poeira e uma bagunça só ,não me impediu de extravasar a dor que perfurava o coração, que inclusive nem era meu .