Viajantes - O Príncipe de Âmbar [HIATUS] escrita por Kath Gray


Capítulo 12
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

DESCULPEM!
Eu devia ter postado ontem, mas houve uma sequência de imprevistos. Querem que amanhã eu poste dois ao invés de um?
Bom, nesse capítulo as coisas começam a fazer um pouco de sentido... Algumas respostas merecidas pro coitado do Dean XD
Bem, aproveitem!



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Garoto! Ei, garoto! Acorde!

A voz que o alcançava mesmo em seus sonhos parecia vir de longe, mas Dean já estava se acostumando à sensação. Por algum motivo, ele tinha a ligeira impressão de que a voz dos dois irmãos poderia alcançá-lo mesmo do fim do mundo, se quisessem.

Katherine estava agachada ao lado da sua cama. Seu rosto estava próximo ao seu, e ela chamava-o aos sussurros.

Ela sorriu-lhe com suavidade.

– Já é dia. Venha, Ty está esperando.

Dean encarou-a por um longo segundo. Quando ele começou a se sentar, devagar, ela sentou-se ao pé da sua cama. O sono deixava seus movimentos vagarosos e seus olhos, pesados, e ele hesitava seriamente em levantar.

– Vou esperar lá fora - disse ela. Katherine levantou-se, deixando em seu lugar um conjunto de roupas cuidadosamente dobradas aos pés de Dean, e saiu da cabana, fechando a porta às costas.

Mas mesmo depois de Katherine abandonar o quarto, Dean não se moveu.

Só depois de vários segundos ele foi capaz de girar, apoiando as pontas dos pés no chão gelado da cabana. Sem desviar os olhos de um único ponto à frente, sua mente revirou toda a sala em pensamentos.

Os eventos do dia anterior voltaram à sua mente em um lampejo. A praça. O reencontro no penhasco. A Festa na Fogueira.

Um portal no espelho. Pássaros de ouro que se transformavam em folhas. Uma floresta que brilhava em azul sob a luz da lua. Era tudo tão estranho... tão irreal.

Independentemente disso, porém, ele se sentia como se, finalmente, depois de muito tempo, tudo fizesse algum estranho sentido.

Em algum lugar de sua mente, Dean sabia que algumas coisas talvez nunca tivessem resposta. Mas também sabia que estava a apenas um passo de responder outras, e isso o dava uma certa sensação de firmeza.

Vagarosamente, como se ainda não estivesse totalmente desperto, ele ficou de pé e se trocou. Ao passar a cabeça pela gola da camisa e os braços pelas mangas, sentiu-se estranhamente bem.

Ao passar pela porta, Dean foi recebido por uma brisa fresca da manhã. Ainda era cedo. O amanhecer tingia o céu de róseo. A floresta estava imersa em ar não frio, mas refrescante e confortável. A umidade do orvalho era carregada pelo vento, e trazia à garganta e ao nariz de Dean uma sensação agradável ao respirar.

Então, isso era um amanhecer ali.

Katherine levantou-se de onde sentara, ao lado de uma das pontes, e andou até ele. Uma mochila escura pendia em seu ombro.

– Vai pela escada? - perguntou.

Em resposta, Dean sorriu-lhe com ironia e um certo cansaço, como quem diz: 'O que você acha?'

Divertindo-se com a expressão, ela riu um pouquinho.

Dessa vez, ela acompanhou-o na escadaria. Katherine foi na frente, e Dean, atrás.

Lá embaixo, Ty os aguardava apoiado com as costas no tronco da árvore, pouco ao lado da porta.

– Vamos? - chamou, afastando-se do apoio com graça e levando uma mochila do chão ao ombro com agilidade.

Dean seguiu os irmãos por mais de dez minutos. Apesar de Dean não carregar uma mochila, Katherine e Ty alternavam-se na liderança na espécie de fila que se formara. Eles andavam em um ritmo confortável, tranquilo, mas vigoroso, e o seu jeito relaxado fazia com que se distanciassem um pouco em algumas partes do trajeto. O dia já surgia e o sol já começava a subir ao céu, mas a floresta permanecia envolta naquela aura sombria e, de certa forma, poderosa remanescente da noite anterior. O efeito era singelo, mas o contraste entre as sombras e a cor onde a luz batia suavemente atribuíam-lhe uma espécie de beleza profunda e solene, mas harmoniosa. O terreno, às vezes coberto por folhas caídas das árvores, alternava-se entre o perfeitamente plano e o ligeiramente inclinado para cima, mas a trilha, apesar de mais longa do que a média para Dean, não cansava. Na verdade, ele surpreendeu-se ao perceber que, depois dos primeiros minutos, sentia-se revigorado.

Durante esses dez minutos de caminhada tranquila, Dean percebeu quantas coisas nunca havia reparado até então.

Ele nunca havia reparado em como as pessoas em seu mundo eram entorpecidas até ver a vivacidade dos moradores da Cidade Erguida.

Ele nunca havia reparado em como os olhos de seus amigos eram apagados até ver o brilho nos olhos dos irmãos.

Ele nunca havia reparado em como seu mundo era cinza até ver as cores da Floresta.

Finalmente, eles chegaram ao seu destino.

Uma bela queda d'água interceptava o curso de um rio de águas cristalinas e dava para uma singela lagoa ao pé da formação. A cena toda parecia uma pintura: a cachoeira, respingando sobre as rochas de musgos logo ao lado; algumas pedras largas e achatadas precipitando-se timidamente sobre o riacho no topo; um chão de pedras de tamanhos e formas variadas sob as águas transparentes da lagoa; um chão de terra arenosa logo à volta.

O caminho os levara à parte de cima da cachoeira. A luz do sol aquecia o rosto e ombros de Dean com uma sensação agradável e delicada.

Ajoelhando-se na mais larga das rochas que pairavam sobre a água atravessando o limite da fronteira entre terra firme e o riacho, Kath e Ty estenderam uma toalha branca e tiraram da mochila toda a sorte de pães, frutas, geleias caseiras e alguns sucos variados, além de duas barras de chocolate, que Dean imaginou terem pegado em seu mundo.

Katherine e Ty já esbanjavam a energia que lhes era tão característica. Conversavam e riam animadamente, entretidos em algum assunto que Dean não conseguia entender.

Porém, mesmo não se identificando com o tópico, ele sorria. Agora que finalmente começava a acordar, sentia voltar aquela sensação de tranquilidade e certo divertimento que costumava lhe envolver quando estava com os dois. Lembrou-se da festa da noite anterior, inconscientemente alegrando-se com a lembrança.

Havia muito tempo que Dean não comia tanto no café. Ele comera sozinho mais do que os outros dois juntos, facilmente, e sentia que poderia comer mais se quisesse, mas naquele momento Katherine falou.

– Certo - começou ela. - Pergunte. O que quer saber?

Dean ficou confuso por um momento, mas logo compreendeu. Deu uma última mordida em um pão já pela metade e deixou o resto de lado. Terminou de mastigar, engoliu e endireitou-se, cruzando as pernas.

Dessa vez, ele estava preparado e não hesitou.

– Onde eu estou? - perguntou. - Onde é esse lugar?

Ty permaneceu relaxado, com o cotovelo apoiado num joelho dobrado e a outra perna esticada, mas Katherine também cruzou as pernas. Porém, ao invés de endireitar as costas, ela ficou à vontade, apoiando as mãos no chão à frente e encurvando-se. Dessa vez, a resposta também vaio fácil.

– Você está na Terra da Velha Floresta - disse ela. - Um dos Domos mais próximos do seu.

– Domos...? - Dean estranhou a palavra.

– São mais ou menos o que vocês chamam de... 'Dimensões Paralelas' - explicou Ty.

– Dimensões paralelas... - Dean tentou processar o que tinha ouvido. Não conseguiu. - Mas você disse que esse Domo é 'próximo' do meu... como uma Dimensão Paralela pode ser mais próxima ou mais distante de outra? O que isso significa?

Katherine pensou um pouco na pergunta.

– Ah, já sei - exclamou, então.

Pondo-se de pé em um salto, ela desceu da pedra para o chão de terra. Procurou um lugar bom e ajoelhou-se.

– Venha! - chamou. Enquanto Dean descia da pedra, com muito menos graça e agilidade do que a garota, ela alisou uma parte do chão com a lateral do braço. Olhou em volta rapidamente, pegou um punhado de grãos de areia grossa ou pequenas pedras, afastou a mão mais ou menos um metro do chão e abriu-a, deixando dispersar os grãos uniformemente pelo chão.

– Venha - chamou novamente, gesticulando para Dean que se aproximasse. O garoto obedeceu, ficando de joelhos à frente de Kath.

– Vamos imaginar que cada grão é um Domo. - começou ela. - Agora, imagine que cada Domo é como um planeta. Ninguém sabe por que isso acontece ou como eles são organizados, mas quando você atravessa para certos Domos, a Viagem é quase instantânea, como você pôde perceber ao chegar aqui. Quando isso acontece, dizemos que os Domos são próximos. Porém, às vezes, a travessia pode levar horas, dias e até semanas. Quando isso acontece, dizemos que os Domos são distantes. - conforme falava, Katherine traçava algumas linhas no chão com um galho fino que encontrara, exemplificando. - Entendeu?

– Ahn... mais ou menos - respondeu Dean, com sinceridade. Então, algo lhe ocorreu. - A gente pode Viajar para qualquer lugar? Digo, para qualquer Domo?

– Não. Infelizmente. - respondeu a garota, dando de ombros. - Cada vez que alguém toma uma decisão em algum lugar, em algum outro Domo a mesma pessoa está tomando a decisão exatamente oposta. Os Domos são resultados de uma certa quantidade de decisões tomadas por um grupo ou indivíduo. Você ia ficar surpreso ao ver como um mundo pode mudar se uma pessoa escolhe a direita ao invés da esquerda. Essa flexibilidade faz com que os Domos sejam literalmente infinitos. Pensando bem, seria até estranho se pudéssemos ir para qualquer lugar... não é exagero dizer que 'impossível' seria um termo inexistente em uma situação assim. Mas nós só podemos alcançar um certo número de Domos. - dizendo isso, ela circulou uma área de terra no 'mapa' que traçava. - Digamos que essa é a área pela qual podemos Viajar. Nós a chamamos de 'Existência'. Ela é formada por todos os Domos dentro do alcance da Imperatriz, o que totaliza uns... dois bilhões, mais ou menos.

– Imperatriz...? - repetiu Dean, confuso.

– Digamos que ela é a pessoa que efetua a travessia. - respondeu a garota. Nesse momento, talvez sem perceber, Katherine sorriu, um sorriso talvez não largo, mas profundo e significativo. Dean olhou-a de relance, mas ela não pareceu perceber. Ele se perguntou o porquê.

– ...Certo.

– Bom, o que mais quer saber? - Katherine ergueu o sorriso para ele.

Dean pensou na pergunta.

– Qualquer pessoa pode Viajar? - indagou, por fim.

– Bem, qualquer um pode atravessar os Domos se tiver ajuda. - respondeu. - Mas as pessoas que podem Viajar por conta própria, sem depender de ninguém além da Imperatriz, são um pouco mais limitadas. Nós as chamamos de Viajantes. O dom de Viajar é natural, ou seja, nasce com a pessoa. Ou você é um Viajante ou não é. O que não quer dizer que novos Viajantes não podem ser criados de acordo com a necessidade. - acrescentou. - Aqueles que já nascem com esse dom são mais ou menos dois por Domo. Também não fazemos ideia de como são escolhidos. Só o que sabemos é que não há nenhum padrão.

Dean tentou digerir as informações. Mais uma vez, não conseguiu.

Sua última pergunta nem sequer chegava a ser uma pergunta; a resposta era certa. Mas, por algum motivo, Dean sentia uma necessidade inexplicável de ouvir a resposta.

E, mais inexplicavelmente ainda, de ouví-la dos lábios de Katherine.

– Eu... eu sou um Viajante?

A garota olhou-o, com um sorriso primeiro sutil, mas que depois se alargou ainda mais.

– Sim - respondeu, alegremente. - Você é um Viajante.

.

Dean não sabia o que significava ser um Viajante, por si só. Na verdade, ele pouco sabia sobre qualquer coisa relacionada a Domos, Viagens e Imperatrizes.

Mas Katherine parecia achar isso uma coisa boa. Quantos mistérios será que faziam parte da sua vida? Que tipo de aventuras vivia? Quanto mais Dean a conhecia, mais ela o intrigava.

– Bom, agora que já sabe, acho que é hora de você conhecer o seu Protetor! - sorriu ela, empolgada.

– Protetor? - ecoou Dean.

– Uhum! - confirmou a garota, assentindo enfaticamente. Então, olhou por cima do ombro e chamou: - Ei, Rue!

Em resposta ao seu chamado, um delicado passarinho desceu do céu e pousou em seu ombro. Era o mesmo pássaro que acompanhava Katherine na primeira vez em que Dean a vira.

– Todo Viajante, ao nascer, recebe uma parte do poder da Imperatriz na forma de um animal, que o acompanhará ao longo da sua vida. Sua função primordial é proteger, mas na maior parte do tempo eles exercem mais o papel de 'amigos' do que de 'guarda-costas'. Eles auxiliam o Viajante tanto nos problemas mais complexos quanto nos mais simples, desde as situações de vida ou morte até os pequenos problemas do dia-a-dia. É alguém que se tornará o seu maior companheiro. Dean - ela indicou a pequena ave com um gesto de mão. - Esta é Rue, minha Protetora.

Dean não tinha certeza, mas, por um momento, o pássaro - Rue - pareceu curvar-se, cumprimentando-o. Sem sequer passar-lhe pela cabeça duvidar, o garoto inclinou um pouco a cabeça e curvou-se também, em retorno.

– Eu... também tenho um Protetor? - perguntou ele, novamente endireitando-se.

– É claro! - o sorriso de Katherine se alargou (como aqueles dois conseguiam sorrir tanto?) e ela inclinou-se para frente sem perceber, ansiosa. - Você também é um de nós, afinal!

Ela olhou por cima do ombro de Deaniel.

– Ei, não tenha medo! - chamou, gesticulando com a mão, convidando-o a se aproximar. - Venha, pode vir!

Dean olhou para o ponto que Katherine apontava.

Num primeiro momento, Dean não viu nada.

Então, dois olhos piscaram, amarelos.

Hesitante, uma pequena silhueta pareceu soltar-se do tronco. Devagar, sua pele tornou-se verde, e Dean pôde ver a imagem de um camaleão.

Hesitante, ele andou alguns passos em direção à garota que o chamava. Então, pareceu tomar coragem e saltou no ar. Diante dos olhos de Dean, sua forma mudou, e logo um passarinho voava em direção à Katherine. Pouco antes de pousar, porém, sua forma novamente mudou. Dean reconheceu de imediato o familiar felino de pelos ruivos que aterrissou à sua frente.

– WHOA! - o garoto quase caiu para trás de susto.

O gato maluco!

– Eles... eles podem mudar de forma? - perguntou ele de olhos arregalados, encantado.

– Aham - confirmou Katherine. - Eles possuem essa habilidade para poderem expandir a esfera de ajuda ao Viajante, mudando de aparência conforme a necessidade. Mas, é claro, existem limites.

O gato andou até ficar de frente para Katherine. Ela cumprimentou-lhe com uma inclinação de cabeça. Por um momento, parecia que eles estavam falando com os olhos. Então, o animal foi até o lado da garota, onde sentou-se, de frente para Dean.

– Pinmur ficou muito preocupado com você - contou Kath.

– Pinm... Você pode entendê-los? - perguntou Dean, surpreso.

– Posso - confirmou ela. - E, se algum dia você conseguir entender e realmente acreditar em tudo isso, você também poderá.

Dean encarou o felino por um longo segundo.

Pinmur... o curioso gato o rodeava desde que ele se entendia por gente. Desde que se lembrava, lá estava ele, rondando sua casa, aparentemente sem ter para onde ir. Sempre. E ele nunca reparara...

Como cumprimentar pela primeira vez alguém que sempre fizera parte de sua vida?

Dean fez a única coisa que veio-lhe à cabeça. Curvou-se.

– Pinmur - disse. Hesitação. O que dizer?– Eu... espero que possamos ser bons amigos um dia.

Ele esperou.

Então, o felino levantou-se e andou até ele. Como se o respondesse, Pinmur esfregou a cabeça em sua perna, carinhosamente.

Um pouco atrás, já fora da esfera de atenção de Dean, Katherine sorriu.

Muitas pessoas poderiam ver a cena sem ver o que ela via. Poucos podiam dizer sinceramente que já haviam sentido o mesmo que ela sentia agora.

Para muitos, aquilo era apenas um garoto comum, cumprimentando um gato comum. Para alguns, aquilo era apenas um Viajante cumprimentando seu Protetor.

Mas para Katherine, aquilo era algo muito maior.

A sensação de ver o início do resto de uma vida. De ver uma pessoa finalmente libertar-se das amarras que o conhecimento limitado lhe impunha... e de saber ser a pessoa que lhe deu a chave.

Naquele momento Katherine testemunhava a liberdade.

E não havia em todo o mundo melhor sensação.

Com o coração envolto por aquele sentimento, ela não pôde evitar o singelo riso que escapou-lhe pelos lábios.

He.

– Bom - ela interrompeu a troca de cumprimentos de Dean e Pinmur. - Agora que você já sabe do básico, eu tenho uma proposta a fazer. Está interessado?


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Notas finais do capítulo

Curiosidade: podem existir, sim, mundos muito parecidos, quase idênticos. Porém, eles costumam ser muito distantes uns dos outros, e há poucos assim pela Existência, então dificilmente o Viajante vai conhecer dois Domos semelhantes.
Outra curiosidade: o exemplo que ela citou realmente aconteceu. Um padre na Europa antiga mudou seu trajeto por acaso e acabou descobrindo a cura da Peste Negra e impedindo o massacre.
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Quem ama a Katherine levanta a mão! o/



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