Gilbert chegou e senti meu coração disparar. Ele também estava surpreso. Veio até mim me abraçando forte e disparando mais palavras que eu poderia entender.

– Sar por que sumiu? Não sabe como fiquei preocupado, te procurei tanto, mas você pareceu me evitar durante todos esses meses. Como você está?

– Tudo bem, estou aqui agora. – Sorri tentando acalmá-lo. – Mas não vou poder ficar muito tempo. Preciso lhe dizer algumas coisas.

Foi quando ouvi alguns passos se aproximando. Um fato sobre mim é que tenho um ótimo ouvido, apenas não escuto o que me convém, mas tinha certeza que neste momento Beth se aproximava atrás da porta para ouvir a conversa.

– O que? – Gil parecia preocupado. Nunca havia visto tão preocupado.

– Vamos lá fora?

– Claro.

Então saímos de casa pela porta da frente. Na rua ele me intimou a falar, como havia deixado a almofada no sofá fiquei com os braços cruzados tentando a todo custo esconder minha barriga. Estava de cinco meses, minha barriga não estava tão grande, mas já se podia notar se prestasse atenção. Talvez ele não reparasse. Era nisto que me apegava.

– Bem, eu vim aqui para me despedir.

– Despedir? – Gilbert cuspiu as palavras.

– Você sabia que me mudaria no fim do ano.

– É você havia comentado algumas vezes que gostaria de ir, mas não pensei que...

– Você pensou que ia desistir? Alias que eu não ia conseguir ir? – Fite-o séria. – Eu consegui Gil, e não, eu não vou desistir.

Gilbert fez menção de defender-se.

– Me deixa continuar ok?

Ele assentiu com a cabeça mantendo-se calado.

– Eu queria te dizer que eu te amo, que te amo muito, achei que seria suficiente para mim te amar, mas amar sozinha é complicado. Então tentei seduzir-te, mas nem toda sedução do mundo faz um homem sentir amor, ele sente tesão, não amor. – Baixei minha cabeça, mas depois me obriguei a olhar em seus olhos para continuar. – Enfim, tentei te fazer me amar, mas não é fácil, quando alguém não nos ama, simplesmente não ama, você tem um carinho especial por mim, mas está longe de ser amor. – Respirei fundo tentando continuar. – Não sei se você se importa, mas eu sinto orgulho de você, do homem que tem se tornado, apesar de alguns defeitos você virou um grande homem, um homem que tem lutado pelo que quer, que tem lutado para crescer. Está trabalhando, aos poucos começando a administrar sua vida, correndo atrás de seus sonhos. Talvez ninguém ainda tenha notado, mas você se tornou uma pessoa incrível. A três anos atrás eu sabia que você era um ótimo menino, mas nunca pensei que seria um homem tão digno como é hoje. Você ainda vai surpreender muitas pessoas, como surpreendeu a mim. Você ainda tem muito que amadurecer, mas isso vem com o tempo pode ter certeza. – Uma lágrima finalmente escorreu, já não aguentava segurá-la. – Obrigada por todos os momentos bons que passamos juntos Gil, eu te amo e sempre levarei um pedaço de você comigo. – Não poderia dizer qual parte levaria comigo, mas era uma muito importante que carregava em meu ventre.

– Sar, esse sempre foi seu sonho, não? – Eu assenti com a cabeça sem falar, deixaria que ele falasse. – Não sou eu quem vai pedir para que você fique, embora morra de vontade que você ficasse aqui. Eu gosto muito de você, e você me proporcionou momentos maravilhosos, os melhores sem dúvida. Eu te adoro viu? – Não era bem isso que eu esperava ouvir. Adorar. – E eu vou morrer de saudades. – Gil nunca havia sido bom com as palavras, na realidade havia sido a coisa mais bonita que ele havia me dito.

– Bem, vou indo. – Sorri me direcionando a meu carro, abri a porta, entrei, baixei o vidro, e coloquei a chave na ignição.

Ele correu fazendo a volta e se apoiando sobre a porta do carro.

– Quando te verei de novo?

– Daqui uns seis ou sete meses, visitarei minha família sempre que possível nas férias de inverno e verão, quando a empresa me liberar. E podemos conversar pela rede. – Sorri tentando manter-me firme.

Ele então se agachou, colocando parte de seu rosto para dentro do carro.

– Um último beijo?

– Melhor não. – Se o beijasse com certeza contaria e estragaria tudo. Não podia, não devia. Virei a chave dando partida no carro e fui embora antes que ele percebesse algo.