Meus olhos se abrem, e já tenho a forte luz tampando minha vista.
Coloco a mão em frente ao meu rosto, fazendo assim, um tipo de proteção contra o clarão que vem da janela e que me impede de enxergar.
O som do vídeo game se mistura ao do alarme irritante.
A lâmpada está acesa, o que me faz pensar na mesma hora que provavelmente, tanto a luz, quanto o vídeo game passaram a noite toda ligados.
Meu pai ficará puto quando ver a conta que o espera.
As lembranças começam a vir, e já consigo me recordar aos poucos da noite passada.
Tendo em mente o fato momentâneo, viro minha atenção para o espaço ao lado, franzindo o cenho, quando o enxergo vazio.
Cadê aquele imbecil?
Olho ao redor, a procura do moreno e escuto um grunhido baixo.
Engatinho até o outro lado da cama, olhando para o seu corpo no chão.
Junto as sobrancelhas, ainda olhando para o corpo jogado de forma desajeitada.
–Que idiota.- sussurro, dando de ombros.
Ando até o banheiro, abrindo a porta branca.
Me olho no espelho, vendo meu cabelo loiro no topete mal feito, o que faz com que meu rosto se contorça.
Mesmo que eu não vá para nenhum lugar ainda, arrumo meu cabelo com os dedos, o deixando razoável.
Faço xixi, e vou em direção à pia, escovando os dentes.
Lavo o rosto, e finalmente saio do banheiro.
Caminho até perto da cama, vendo Calum ainda deitado esparramado no chão.
Meus olhos correm ao redor, sem saber exatamente o que estão procurando.
Avisto o travesseiro em cima da cama, e sem preceder, dou um sorriso de canto.
Pego o objeto, e desvio meu olhar para o moreno, o analisando por alguns segundos.
Sorrio maldoso, jogando com toda a minha força o objeto no rosto de Calum.
Dou de ombros, não esperando pela reação do garoto, e olho para trás por algum segundo, lembrando que lhe devo falar para acordar, por causa do café.
Ele está sentado, com a respiração descompassada, e me olha, depois de um tempo.
–Mas que porra... Por que fez isso?- perguntou, pegando o travesseiro em mãos.
Franzo o cenho, levantando e abaixando os ombros, em indiferença.
–Já vou preparar o café da manhã.- digo.
O vejo deitar novamente, e dou um suspiro rodando os olhos.
–Acorda logo, viado!- grito, alcançando outra coisa, para jogar em sua cara, mas paro ao ver que é um copo de vidro.
Então pego algo mais leve: o controle remoto.
O acerto em cheio no estômago.
Ele fica sentado novamente, agora com suas mãos na região atingida.
Me olha, raiva gratuita vinda daquela expressão.
E quando ele ia falar algo, o interrompi.
–Desculpe, não foi minha intenção te machucar. Agora acorda.- falo, e me viro, indo até o corredor.
Escuto um xingamento vindo da parte de Calum, mas ignoro, continuando o caminho pela escada.
Chego à cozinha, e encaro por alguns segundos o cômodo, pensando no que fazer para eu e o "convidado indesejável" comer.
Não. Eu não iria me referir à ele como outra coisa, apesar do momento que tivemos noite passada.
No máximo, eu o via agora como um colega, em transição.
Bom avanço, pelo menos, não tenho vontade de matá-lo com tanta frequência.
Mas também não diria que morro de amores pelo moreno, porque não. Eu não morro; no máximo o aturo.
Pelo menos, o dia de ontem me provou isso.
Suspirei, finalmente entrando na cozinha.
Abro a geladeira, olhando por alguns segundos para os alimentos ali contidos.
Apanho o leite, o deixando na mesa.
Peguei as torradas no armário, e alguns pães, os deixando do lado do leite.
Também acrescentei frutas à mesa, e suco de morango.
Para mim, só cereal de chocolate e talvez algumas torradas.
Quando terminei de arrumar os alimentos, olhei para a escada, esperando ver o moreno descer pela mesma, mas não obtive tal fato.
Rodei os olhos, pronto para subir naquele quarto, e jogar algo na cara de Calum mais uma vez, talvez o copo de vidro, quando ouço os seus passos num ritmo lento.
Ele caminhão até mim, seus ombros baixos, enquanto seus olhos estão cerrados e sua cabeça um pouco baixa.
Ele parece um zumbi dessa forma. Até seu cabelo está ajudando com a comparação.
Franzo o cenho, dando de ombros, e me sentando na cadeira mais próxima.
Começo a colocar o cereal em uma tigela, também depositando leite ali.
Alcanço uma colher, e me ponho a comer de forma calma.
Meus olhos enxergam de relance o moreno parado, olhando para os lados.
Meu Deus... Como eu pude deixar um idiota entrar em minha casa?!
Rodei os olhos, agora direcionando a minha atenção toda para o garoto.
–Não vai sentar?- perguntei de maneira impaciente.
Ele parece acordar um pouco, e me olha por alguns segundos.
Caminha até a cadeira ao lado da minha, e senta, enterrando o rosto em suas mãos.
–Porra. Por que me acordou tão cedo?- sussurrou, e me olhou na última palavra.
Engoli o conteúdo em minha boca, antes de respondê-lo.
–Pra você tomar café da manhã.- falei, como se fosse óbvio.
E fala sério, porque nem era tão cedo assim...
Ele bufou, pegando as torradas.
Me olhou com as sobrancelhas franzidas, e procurou por algo em cima da mesa.
–Vou ter que comer a seco, é?- perguntou, se referindo às torradas.
Rodei os olhos.
–Tem nutella na geladeira.- respondi.
Calum levantou, indo pegar o pote.
Voltou, se sentando novamente e começou a passar o chocolate na torrada.
Paro de o observar, e me concentro em minha própria comida.
Termino de comer o cereal, e pego uma banana, a devorando na mesma hora.
Lavo minhas louças, e as guardo no devido lugar.
Depois que faço mais algumas outras coisas, me viro para Calum, que devora seu pão.
–Lave o que sujar.- mando, e ando até a escada.
Subo os degraus, e já estou no corredor dos quartos.
Entro no meu, olhando para a bagunça por alguns segundos.
Nós realmente não tivemos muito controle na noite passada.
Pego o pote com pipoca, e as latinhas de refrigerante, ambos no chão.
Desligo o vídeo game e a televisão, deixando o controle remoto no criado mudo.
Arrumei minha cama, colocando lençóis novos.
Pronto, meu quarto já estava impecável, coisa que é muito difícil.
Porém, antes que eu pudesse perceber, o moreno pulou em cima da cama, bagunçando-a por completo.
Qual é o problema dele?!
–Calum, seu puto! Sai daí.- falei, já o empurrando.
Ele deu uma risada, mas saiu, se sentando em uma cadeira.
–Por que é tão mau comigo?- fez bico, rodando na cadeira giratória.
Rodei os olhos.
Paciência. É só o que eu preciso.
(¤-¤)
Minha boca ainda tinha o gosto da comida. Isso porque não escovei os dentes antes de sair de casa.
Não me julguem. O que aconteceu, foi que Calum entrou no banheiro antes de mim, e escovou os dentes dele com a minha escova, e como nós não tínhamos mais novas...
Minhas mãos foram de encontro aos bolsos da calça preta, e peguei de lá uma balinha de menta. Melhor do que nada.
Tirei da embalagem, e coloquei o doce na boca.
O papel de balinha foi direto para o meu bolso novamente.
Ajeitei melhor a mochila atrás de minhas costas, e tratei de colocar o outro fone, para assim, impedir a voz irritante de Calum de entrar em meus ouvidos.
Via sua boca mexer, mas não sabia exatamente o que ele estava falando.
Por outro lado, acho que ele jurava que eu o estava escutando atentamente...
Já avistava a escola de longe, o que me deu certo alívio. Quem sabe eu me livre de Calum, quando chegarmos?
Foi com esse pensamento, que apertei os passos, chegando à portaria rapidamente.
O monitor me deixou entrar, mas como eu suspeitava, Calum não correu para os seus amiguinhos da outra sala.
Bufei, indo até uma mesa.
Dei a volta na mesma sentando na cadeira que havia ali.
Calum se sentou de frente comigo.
Peguei meu celular, passando a música que havia acabado de começar.
Deixei o aparelho em cima da mesa, olhando para Calum que falava alguma coisa.
Acenei com a cabeça, fingindo está prestando atenção.