Mesmos erros? escrita por Sophia Snape


Capítulo 5
O pergaminho


Notas iniciais do capítulo

Mais um? Sim! Eu falo pra mim mesma que não vou postar tudo de uma vez mas não aguento!



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                - E como está a senhorita Granger, Severo? – até então Snape estava alheio a conversa na mesa dos professores, mas a simples menção ao nome dela fez seu coração dar um pequeno salto.

                - Em algum lugar da América, Minerva. Achei que soubesse. – seu humor era ferino.

                - Não perguntei onde ela está, Severo – ele a ouviu suspirar – Francamente, seu humor era melhor com a Hermione aqui. Devo pedir a ela para voltar? – provocou, escondendo o sorrisinho malicioso por trás da xícara.

                - Perdão? – seus olhos faiscavam para a diretora, e ele sentiu seu rosto corar, amaldiçoando-se por uma reação tão óbvia.

                - Você claramente era mais sociável com ela aqui. E agora sequer trocam cartas. O que aconteceu?

                - Nada aconteceu. A senhorita Granger está simplesmente seguindo a vida, como é natural. E eu agradeço à Merlin por isso – mentiu ele.

                - Você não me engana, Severo.

                - É pedir muito um café da manhã em paz?

                - Eu não entendo! – ela exclamou, embora discreta para não atrair a atenção dos outros professores na mesa.

                - Sim, é pedir muito – resmungou ele, deixando a refeição inacabada. Quando ele começou a se afastar uma mão firme segurou seu braço, impedindo-o de se levantar.

                - A senhorita Granger está infeliz. E você também está. Porque não escreve, Severo? Ela está de volta a Inglaterra.

                Snape congelou. Ela estava de volta? “É claro que ela não ficaria fora para sempre, idiota”, pensou Severo. Ele sabia que isso aconteceria, mas não tinha a menor noção do impacto que a notícia causaria ao seu coração, que estava martelando no seu peito com tanta força que ele podia ouvir.

                - Store Street, Bloomsbury. O número do prédio e do apartamento já estão na sua mesa. – continuou Minerva, fingindo estar alheia ao olhar de choque de Severo.

                - O que? – foi a única coisa que conseguiu dizer, enquanto a professora McGonalgal colocava mais açúcar no chá com um semblante calmo que estava irritando Severo.

                - Francamente, Severo. – ela torceu a boca. – Você já sabe o endereço, escreva para ela.

                - Minerva, não faço ideia do que está falando e agradeceria se não se metesse na minha vida. A senhorita Granger e eu éramos apenas parceiros em uma pesquisa, nada mais. – disse, a voz baixa indicando que estava furioso.

                - Se você diz... – respondeu a diretora, os olhos brilhando maliciosos por trás da xícara de chá.

                - Sim, eu digo. Agora se me der licença – fez uma mesura irônica e saiu com a capa esvoaçando atrás de si, deixando uma Minerva insatisfeita para trás.

                - Homem impossível. – ela murmurou para si mesma, pedindo a Merlin que Severo se desse uma chance de ser feliz.

...

                Severo Snape não se considerava um homem bom, longe disso. Poderia enumerar dezenas de defeitos em si mesmo que nunca deixariam de existir, mesmo que ele tentasse. Mas se tinha uma coisa que ele se orgulhava era da sua racionalidade, seu equilíbrio, sua capacidade de controle da mente e corpo em situações que qualquer bruxo se entregaria. Mas falar sobre Hermione Granger, pensar na Hermione Granger, sonhar com Hermione Granger... fazia o tão irrepreensível professor Snape numa total perda de controle. Somar Hermione Granger e Minerva em uma equação, então, era pedir por uma enxaqueca terrível.

                - Bruxa intrometida. – rosnou ele, olhando para o pergaminho em sua mesa. – Como diabos ela entrou aqui? Mexeriqueira. Não consegue ficar fora dos assuntos alheios. – resmungou pela décima vez o mesmo xingamento.

                Severo estava há exatos cinquenta e sete minutos olhando para o endereço da Senhorita Granger, pensando se seria muito estranho só aparatar até lá e ficar... bem, espiando talvez seja muito forte, talvez só passeando na mesma rua que a dela, bem próximo ao número, com um feitiço de desilusão.

                - Isso é ridículo. Não vou agir como um idiota. Não. Eu tenho que ir falar com ela. Sim, é isso. Preciso ir até lá e pedir desculpas por tê-la deixado sem nem ao menos conversarmos.  – decidiu, dando a quinta volta pela sala fria e escura nas masmorras.

                Flashs do rosto sorridente e luminoso de Hermione vieram a sua cabeça, seguido pela sensação dos lábios macios dela no seu rosto. E então a lembrança do beijo deles – o único, mas perfeito. A sensação dos seios dela pressionados contra o seu corpo. O cheiro inebriante...

                - Merda! – praguejou. Se ele ao menos tivesse coragem de procurá-la. Dizer a ela o quanto ele a queria e desejava, o quanto tinha perdido a sua amizade e presença constante. Ela fora a única a fazê-lo rir desde... bem, desde sempre. Rir mesmo, não conseguir conter a sensação borbulhante no peito e explodir numa gargalhada. Claro que ele nunca gargalhou na presença dela, seria demais. Mas sozinho no seu aposento nas masmorras, depois de ter passado a tarde com ela.

Era uma tarde quente bastante incomum em Hogwarts, e eles já tinham superado aquela fase estranha de professor/aprendiz, estabelecendo assim um acordo silencioso de amizade. As conversas entre eles ficavam cada vez mais divertidas e espirituosas, sempre começando com algum assunto acadêmico, passando por uma discordância de opiniões e, as vezes, chegando em algum acordo. Nesta tarde específica o assunto acabou levando a conversa para um rumo mais pessoal – o que Hermione conseguia fazer com uma frequência alarmante. Severo lembrou do fatídico dia com um sorriso nos lábios.

— Hogwarts nem sempre foi divertido para mim também. O primeiro ano aqui foi um pouco... – ela procurou a palavra ideal -  decepcionante no início. Na minha cabeça eu finalmente tinha entendido o motivo de não ter amigos nas escolas trouxas. Mas não foi muito diferente aqui. - deu de ombros, como se quisesse espantar as lembranças de uma infância solitária.

— Também não me saí bem na escola antes de entrar em Hogwarts. – ele começou, mas pensou melhor e completou com um sorriso irônico – Também não melhorou depois, como você também deve saber. – Hermione sorriu, feliz em arrancar dele bom humor.

— O que afastava as pessoas foge a minha compreensão. – brincou de volta, sem medo de ofendê-lo.  – Você é sempre tão...

— Disponível? Aberto? – Severo não sabia o que tinha provocado nele a vontade de continuar brincando com a jovem bruxa que conversava com ele com tanto interesse, só sabia que gostaria de mostrar a ela um de seus lados bons.

— Acho que era o nariz. – Hermione colocou o dedo no queixo como se estivesse pensando. – É, definitivamente o nariz era o culpado pelo bullyng.

— O que, você acha ele grande? – ele se segurou para não sorrir enquanto virava o rosto de um lado a outro, como se mostrasse o nariz.  

— Acho que ele é proporcional, na verdade. – respondeu, divertida. – Você sabe o que dizem sobre a proporcionalidade das partes do corpo... – continuou, mas vendo a sobrancelha levantada dele caiu em si para o que havia dito – Quer dizer, o seu nariz! Ele é proporcional ao seu rosto e suas mãos. Não quis dizer que o seu... bem, não que ele não seja grande. - ela tentou consertar, corando sem sentido, enquanto Snape a olhou divertido, tentando parecer sério e ofendido mas falhando miseravelmente. – Provavelmente é grande e...

— Senhorita Granger – Snape decidiu tirá-la de sua miséria e intervir.

— Ai Merlin, eu vou calar a boca, ok? – disse, o rosto em chamas – E, nossa!, olha a hora. Eu preciso... ir. Eu tenho... uma reunião. Isso, com a professora McGonagall. Então... até amanhã!

— Minerva está no Ministério resolvendo questões burocráticas, Granger – Se Severo Snape fosse um homem bom teria deixado Hermione sair do momento constrangedor mesmo com uma mentira tão mal bolada, mas ela estava com o rosto corado, e murmurando coisas sem importância alguma como “o quanto essa reunião era necessária” e que “já estava marcada há muitas semanas” e que “ela tinha esquecido completamente”, que Severo não podia deixá-la ir. “Eu realmente vou para o inferno”, ele pensou.

— Tenho certeza que ela vai chegar logo. – ela quis bater na testa por usar uma desculpa tão horrível, mas só conseguia pensar em sair do momento constrangedor. – Então é isso. – ela finalmente terminou o monólogo, mas antes de sair tropeçando pela porta seu olhar inevitavelmente caiu para a região-que-não-deve-ser-nomeada e, pior, ele percebeu. Hermione queria que o chão se abrisse e a engolisse diretamente para o Japão, de onde ela não sairia pelas próximas décadas. – Até amanhã! – gritou, saindo para o corredor das masmorras enquanto Snape gargalhava sozinho no laboratório.

Ele foi distraído da lembrança por uma batida insistente na janela. Balançando a cabeça para afastar os pensamentos, ele olhou para a coruja e congelou. Era a coruja marrom de Hermione, a que ela tinha adotado desde que voltara a Hogwarts, pouco depois de recuperar a memória dos pais para sempre mantê-los em contato. A coruja era tão imponente e esperta quanto a dona, Severo observara certa vez. E sempre que a via nos terrenos de Hogwarts sabia que tinha feito a coisa certa em entregá-la anonimamente à Hermione. As asas eram castanhas com alguns pontos dourados, e o olhar tão penetrante que ele só conseguia ver Hermione com um animal tão único.

Ela piou ainda mais alto, fazendo-o abrir a janela numa corrida. Severo teve que fechar os olhos por um momento antes de pegar o bilhete enrolado nas patas de Íris. Era realmente Hermione. Era a letra dela.

— Obrigado, Íris. – agradeceu, vendo o animal assentir e sumir pelo céu nublado.

Suas mãos tremiam enquanto ele desenrolava o pergaminho, perdido entre as sensações de finalmente ter algo dela depois de tanto tempo.

Severo,

Sei que vai parecer estranho, mas preciso falar com você. Fique tranquilo, nada ruim aconteceu. Eu só preciso conversar.

Encontre-me no pub de sempre na sexta-feira, às 16 horas.

Esperarei por você.

Hermione.

Severo fechou os olhos e suspirou. Ele nem percebeu o que tinha feito quando levou o bilhete até o peito, apertando-o como se fosse a sua salvação.

O bilhete era de Hermione.

Ela queria vê-lo.

E, por céus, vê-la era tudo que Severo mais queria. Ele ia mesmo escrever para ela, mas o que falaria? Que a amava e que justamente por isso ele se afastou? Que ele estava apavorado com a perspectiva de machucá-la e perdê-la?

— Que se dane, Severo. – disse a si mesmo – Hermione merece pelo menos uma explicação para as suas atitudes tolas. Ela provavelmente nunca escolheria ficar comigo, mas pelos menos terei a chance de vê-la.

E decidido, ele escreveu de volta.

...


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