E se eu ficar? escrita por Day Real


Capítulo 31
Eu nunca a toquei.




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"Nada como um dia após o outro."
Quantas vezes tivemos que utilizar esta frase, para anestesiar de certas fases frustrantes nesta vida? E, como tomamos uso dela se, em nossos pensamentos, não conseguimos superar o que nos fez mal?
Feridas, mágoas, desapontamento... Tudo isso demora muito a sarar! Imaginamos assim, a dor de sermos apunhalados com mentiras e traições de quem menos esperamos... Qual seria o tamanho do rombo sofrido na alma?
Seria, de fato, enorme, até por quê a alma sente a exaustão com mais intensidade do que o coração.
Por isso, é importante lembrar, que: Nem tudo se esquece e, sim, adormece.

4 meses se passaram. Coisas mudaram de lá para cá. Olivia está com 7 meses de gravidez e os bebês sinalizam sem parar, em sua barriga, o quanto irão aprontar quando estiverem aqui fora. Cansada, exausta, nervosa.. Esses eram a miscigenação de sentimentos em que a tenente tentava sobreviver dia após dia - indo semanalmente às suas terapias, depois da agitação sofrida por conta de Mike, há tempos atrás. Noah teve até que passar umas temporadas na casa de Amanda - que fez questão de ficar com o menino, já que está sendo uma ótima companhia para o seu pequeno Ben.
Por outro lado...
Desde que Mike foi coagido, sob a mira de uma arma por Olivia à ir embora, Annelyn anda um pouco mais frágil de sua saúde. Sem a companhia do filho por razões drásticas, Barba se dispunha a levá-la todas as semanas em um oncologista e um neurologista sempre que precisava - a ajudava até nos gastos necessários com os seus tratamentos, mesmo que não fosse importante devido a ex- advogada ter saldos positivos em sua conta bancária, desde sua aposentadoria precoce. Ela agradecia sempre o gentil promotor por sair mais cedo do trabalho, tirar umas folgas - já que nunca tirava - e por estar sempre ao seu lado e de Olivia nos momentos em que mais precisam. Barba tem gostado muito de ficar perto de Annelyn e relembra que sua profissão não lhe deixava ajudar sua mãe a cuidar da sua falecida abuelita (vó, em espanhol). O bom da vida é sempre surgir oportunidades em que podemos tentar sermos melhores.

Em um dia muito frio e chuvoso na cidade de NY, lá estavam os três reunidos. Cada um tinha em suas mãos xícaras de chocolates bem quentes e saborosas! A fumaça chega era em tamanha evidência indicando o quanto o clima era gelado, mesmo estando eles bem acampados. Cada um em um canto da sala. O silêncio era total e demostravam estar perdidos em seus pensamentos - Olivia e Annelyn não tinham como disfarçar a tristeza pela ausência de Mike. Barba tentava manter-se presente mas quieto em seu canto, sem querer forçar nada para que fosse inoportuno. Mas...

— Liv, Sra. Annelyn... então... e os nomes dos bebês... já escolheram? - indaga meio receoso quebrando o silêncio, segurando sua caneca com ambas as mãos e, ainda sim, olhando para o conteúdo dentro dela.

— Hoje era para fazer um lindo dia. O serviço de meteorologia disse que iria fazer um sol imenso, mas... - desconversa Annelyn, em baixo tom, enquanto bebia um gole do chocolate quente, sentada em uma poltrona reclinável à frente de Barba.

— Era hoje sim... - o responde desanimada, Olivia, ao largar a xícara na mesa de centro, passando a outra mão carinhosamente em sua enorme barriga. Depois de uns segundos, torna a voltar para o seu lugar e cobrir-se com um cobertor.

— É... tudo o que bom tem um fim tão rápido e trágico. - lamenta Annelyn, que logo após, fica em silêncio.

— Não vai dar para ficarmos nessa tristeza o tempo todo... O Mike não morreu! Ele errou, eu sei, mas... não morreu! - eleva o tom de voz e se levanta do acento em que estava, indo para trás do mesmo. Continua olhando para as duas vendo que elas simplesmente não reagem ao que diz. Não pensa duas vezes, pega seu casaco e vai em direção à saída.

— Rafa... Oliver e a Gracie irão nascer daqui há dois meses ou até uns dias, por que já estou com sete meses e... eles estão apressados o que é bom pra mim por quê quero muito vê-los. - o responde meio ociosa, Olivia, interrompendo os passos de Barba antes de pôr a mão na maçaneta e ir embora.

— Oliver, eu suponho que seja acompanhado de um Alexander para ficar em um tom de realeza, o que é ótimo e tem a sua cara Liv. Agora, Gracie, nossa é mais lindo ainda! Tem tudo haver com anjos e a graça de Deus... Mike escolheu esse, não foi? - sustenta um sorriso tímido, se afasta um pouco da porta e encosta à uma parede mais próxima, ficando no campo de visão das duas.

— Gracie era o nome da minha mãe, Rafael. Mike... a amava muito. - revela com certa emoção em sua voz, Annelyn, que bebe goles rápidos de chocolate procurando não elevar mais a tristeza.

— Um nobre gesto e um belo nome. Espero que por onde ele esteja andando agora, possa estar colocando sua cabeça no lugar... Ollie e Gracie os esperam para vê-lo. - dá um longo suspiro, cruza os braços e se distraí ao olhar para um brinquedo de Noah, ao canto da sala.

— E que continuemos o nosso chocolate, que o clima fique chuvoso, até um dia o sol nascer de novo e a primavera chegar e florescer em nossas vidas, outra vez. - diz esperançosa, Olivia, ao pegar novamente a xícara na mesa e se deitar.

Barba torna a sentar e acompanhá-las, em silêncio. O barulho de alguns raios e trovões que davam continuamente lá fora, iam ditando bem o que se instaurava no ambiente - tudo nublado à espera de melhoras.

Mike vagava pelas ruas de Chicago pensativo. Teve que voltar ao seu antigo lugar em busca de algo para recomeçar, essa não era uma tarefa muito fácil quando se o motivo principal já está perdido. O único jeito é aprimorar seu caráter de novo, não ser que nem seu pai, ou ser o melhor pai agora para os seus dois filhos. Alguém terá que estar com Olivia agora e ajudá-la a criá-los. Mike só foi o homem bonito e doador perfeito em que ela poderia ter só olhado por fora. Mas, não! Olivia quis olhá-lo como ele se compõe interiormente e o que defende quando se ama. Ela é perfeita! Foi por isso que ele a amou instantaneamente. Que tipo de ser ela é, de dar oportunidade a um mero desconhecido que salvou seu filho em um parque, no momento de grande alvoroço? Quem é ela que recusou amar alguém em que já tinha, para, simplesmente, amá-lo? Coisas que só ela seria capaz de dizer o porquê exatamente hoje... mas no hoje, está muito machucada e pode não mais amá-lo. Isso que é a dor.

Voight entrou em uma cafeteria na esquina, que fica a uma quadra da unidade onde trabalhava. Como de costume, sentou-se no balcão, pediu a atendente seu café da manhã favorito composto por ovos mexidos, três tiras de bacon e um café preto pouco adoçado. Enquanto esperava sua refeição ficar pronta, não tirava seus olhos da TV do local. Um homem adentra à cafeteria meio cabisbaixo, bem agasalhado, de boné e se senta ao seu lado. Voight finge estar atento aos noticiários quando, na verdade, tenta observar entre olhares o rosto desse homem. Por poucos segundos ele o reconhece, mas o espera dizer algo primeiro.

— Voight, sou eu, Mike. - coloca os dois braços no balcão e não vira o rosto para ele.

— Mike? É sério isso mesmo... O que faz aqui e como me encontrou?. - se remexe de imediato no banco até ficar com sua postura confortável, faz um semblante meio desconfiado ao indagar com certa ironia em sua voz.

— Só correria atrás de você em último caso, então... esse é o meu último caso! - tira o boné, penteia a parte da frente de seus cabelos com os dedos, fala um pouco mais calmo e resolve olhar para o rosto de Voight.

— Vejo que é sério... então o que veio tratar comigo, rapaz? - dá uma trégua, vira a cabeça para ele e coloca toda a sua atenção no que ele tem a dizer.

— Eu sei que pode ter passado muito tempo, tivemos certas desavenças e tudo mais... Eu vim até Chicago para pedir que cuidasse da Liv em NY, para mim. - fica um pouco nervoso e olha para frente.

— Cuidar da Liv? Mas, espere um pouco, vocês não estavam juntos e felizes até pouco tempo? - o indaga continuamente, o ex-sargento de Chicago, fazendo pouco caso da situação, mas surpreso com o que ele acaba de notificar.

— Tivemos uma briga e nos separamos. Olhe, Voight, se for para zombar de mim melhor eu ir embora e lhe ignorar totalmente. - demostra raiva, Mike, que levanta e se afasta do balcão muito bravo com o pouco caso que Voight fazia.

— Ei, rapaz, senta ai... Fique calmo e me desculpe pela minha má educação! Estou começando a ser gentil, mesmo com quem roubou algo meu... - se vira para ele e estende a mão, indicando para que ele torne a sentar ao seu lado.

— Eu nunca roubei algo que era seu... Aliás se quer fiz isso! - ainda bravo, continua de pé.

— Desde que você terá um filho com a Olivia, isso quer dizer que vocês têm um laço forte e inquebrável além do amor que sentem um pelo outro... bem, pelo menos é isso... ou não? - se levanta, fica frente à frente com Mike e o encara meio duvidoso quanto ao que ele disse.

— Eu posso ser tudo, mas nunca burro! Voight, eu apenas fui um simples doador de esperma para a Olivia. Eu nunca fiz sexo com ela, mesmo ambos querendo muito... Na verdade, eu quis que fosse assim! - revela olhando diretamente para Voight e o quanto a reação dele era de surpresa.

— Ainda não acredito que você não tenha a tocado... - leva uma de suas mãos a nuca, demostrando não acreditar no que ele esteja dizendo.

— Isso é verdade! Eu quis que fosse assim porquê se um dia eu a machucasse, como fiz há algum tempo, a dor por estarmos unidos de corpo e alma seria maior... Eu sei que ela se sentiria suja por se entregar a um homem que lhe causasse dor. Mesmo querendo a Olivia toda para mim, não pude tê-la... pelo menos acho que me conheço por agora. - desabafa muito emocionado, logo seus olhos ficam emaranhados de lágrimas.

— Você perdeu uma oportunidade em tanto, Mike. Eu não vou lhe dar sermões... a minha época disso já passou. Você veio me pedir ajuda e vou ajudá-lo... - o olha triste e cabisbaixo, se compadece e põe sua mão ao ombro dele.

— No dia em que disse para mim quando estava na prisão de que eu era que nem ao meu pai, talvez você não estava errado ali... - suspira fundo e enxuga suas lagrimas rapidamente, ao reparar que todos que entravam na cafeteria reparavam o momento.

— Vou dizer que nem sua mãe, Mike: Se acordamos vivos todas as manhãs é porquê temos chances de segundas chances. Então essa é a hora. Um erro não acaba com toda uma vida, a não ser que você queira permanecer acabado por ele. - torna a se sentar ao ver que a atendente vem vindo com o seu café da manhã.

— Obrigado, Voight! Cuide bem da Olivia e dos meus filhos para mim. - se aproxima dele e ergue a mão para cumprimentá-lo, esperando que ele faça o mesmo.

— Bom recomeço em sua vida, rapaz! - sorri timidamente, olha para a mão de Mike erguida, pensa por uns segundos, mas lhe dá o aperto de mão amigável.

Voight observa ao pai dos filhos de Olivia pegar seu casaco na bancada, ajeitar o seu cabelo, pôr seu boné e sair pela porta do local em que estava podendo até não mais vê-lo. Um detalhe curioso foi como o ex-sargento foi solicitado por Mike. Ele pode até ser considerado um homem sem escrúpulos - ou só sem a metade deles - por ter traído quem mais dizia que amava todos os dias. Poderia até guardar ressentimentos de um homem em que fez de tudo para mantê-lo na cadeia com birra e ciúmes pela mesma mulher que "quase" se mataram para tê-la - sorte de Olivia quando tinha os dois brigando por ela.
A forma de coragem que no qual Mike confessou e procurou a quem mais próximo amparasse à ela, era o máximo que poderia fazer diante da situação que ocasionou. Mesmo errando, isso se chama zelo. Mesmo errando... bom, nada disso poderá tirar uma mancha do seu mal caratismo tão repentinamente. Errou, confessou e se arrependeu, o que resta para ele é se agarrar ao tempo. Queira o mesmo ajudar ou não. É esperar para saber.
Uma vida de erros pode não ser justificada ou salva por um momento de bondade. Assim, como, uma vida de bondades pode não ser manchada por erros. Será?

De volta ao apartamento de Olivia e em um clima mais calmo, Annelyn tinha ido para o seu quarto descansar um pouco, por estar sob efeito de remédios para os seus problemas cerebrais. Na cozinha, a mais nova mamãe satisfazia os seus desejos de gravidez comendo muita lasanha à bolonhesa - que tinha feito na janta anterior - muito mesmo antes da hora do almoço. Barba ficava olhando e rindo o quanto era engraçado vê-la comer tão rápido e com bastante apetite. Não era de costume ela comer tanto assim, os bebês chegavam a se mexer de alegria.

— Olivia, quando foi que você aprendeu a comer tanto assim? Foi com Carisi e aquelas manias de comer de três em três minutos... é isso? - sorri debruçado na bancada do cômodo e, ao mesmo tempo, se espanta ao olha-la bem à vontade ao comer em pé encostada à pia e estar bem íntima do seu prato bem farto.

— Ei... você... não.... era... assim! - tenta respondê-lo, mesmo com a boca cheia, enquanto colocava o garfo cheio à boca com mais comida.

— As crianças ai na barriga agradecem. Olha como eles quase saltam, Olivia... tá vendo?! - aponta e arregala os olhos.

— Sim... eu vejo! Meus amores são lindos demais! - com o prato numa mão, acaricia sua barriga com a outra e observa aos movimentos deles quase com os seus olhos tomados por lágrimas.

O momento de emoção era notório. Olivia estava feliz por estar comendo e com o Barba que a divertia com sua alegre companhia. Mas, segundos depois de ter terminado de fazer sua refeição, foram cruciais para gerarem uma dor forte ao pé de sua barriga. Ela ficou disfarçando, virou para a pia e lavava a louça que usou. Ia fazendo caretas, Barba ia estranhando o silêncio dela. De repente, Olivia ia desmaiando devagar o que dá tempo do Barba correr e a socorrer antes que batesse a cabeça.

— Olivia... Olivia... diz pra mim o que houve? - a chama continuamente em seu colo, tira os fios de cabelos que continha no rosto dela.

— Me leva... Me leva ao médico, Barba... - o responde cansada e com suas duas mão aonde se situa a dor forte.

O pânico se instaurava. Olivia não aguenta a dor e desmaia. Barba, por ser um pouco menor que ela, encontra certas dificuldades ao pegá-la. Agindo com cuidado por causa dos bebês, repara que ao erguê-la em seus braços o chão está molhado. Corre, Barba, corre!


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Notas finais do capítulo

A história nunca morre! Não deixem de comentar! ;)



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