—Quem vai entrar primeiro? - perguntou Lily. - Você não – apontou para a afilhada, que cruzou os braços frente ao peito.

—Por favor – disse a garota. -Se eu for, distraio Tom tempo o bastante para vocês entrarem e renderem quem estiver lá dentro. Eu posso cuidar de Tom para que ele nem tenha tempo de ordenar um ataque.

—E você pode fazer isso? - perguntou-lhe James, com um ligeiro tom de descrença na voz.

—Ah, ela pode – garantiram Sirius e Remus. - Apesar de ser uma aposta no escuro. E se o ataque já estiver ordenado?

—Pelo menos teremos enfraquecido-os – opinou Dédalo.

James jogou a Capa de Invisibilidade para Bianca que vestiu-a e se esgueirou pela janela da cozinha, que ela conhecia tão bem quanto a palma de sua mão. Dolohov fervia chá com um livro sob o braço. Bianca conseguiu ler o título: estudos avançados no preparo de poções, 6ª série.

Era o livro do Príncipe Mestiço! Ela precisava pegá-lo e destruí-lo antes de chegar a Tom, então deu um pisão no pé do Comensal, que deixou o livro cair sobre a mesa. Ela o recolheu e esperou que ele não tivesse notado.

Guardou o livro sob a capa e continuou subindo. Passou por alguns bruxos e bruxas das trevas, que pelas contas de Bianca, eram apenas seis ou sete. Chegou ao quarto de Mérope, onde estava um garoto de dezessete anos, olhando melancolicamente a janela. Ela não sabia dizer se era Marvolo ou Tom com a aparência jovem. Nico dera a entender que continuaria buscando o fantasma de Marvolo até colocá-lo em seu devido lugar: o passado. Enquanto ela pensava, ele se sentou na cama e suspirou.

—É chegada a hora. Eu sei o que você tem de fazer. Tire a Capa e feche a porta, por favor.

Bianca o fez, embolando o livro e a adaga na Capa. Logo precisaria usá-los. Discretamente puxou a varinha e esperou.

—Você conhece o procedimento. Primeiro mate o livro. Tenha o bom-senso de usar o lado de bronze. É mais esperto.

—Está se entregando? - ela questionou, as sobrancelhas arqueadas. Não era possível.

—Estou. Vivi tempo demais, sem ninguém que me amasse, e quando encontrei alguém por quem me apaixonei, fiz com que ela me odiasse. Foi por isso que eu trouxe Marvolo, eu queria testar, saber se você e eu tínhamos uma chance, mas além de estar envolvida com o ruivo, havia a diferença de idade e tudo o que eu fizera para você e as pessoas que ama, então me afastei, porém não pude negar-me um capricho. Queria vê-la uma última vez, então conduzi todos os fatos para que você parasse de procurar a Horcrux e viesse até mim.

—Esperto… - ela refletiu, perfurando o livro com a faca de bronze.

Tom gritou de dor, e a guerrilha começou no andar inferior. Feitiços e maldições foram lançados aos berros, mas ao que parecia, a Ordem fora competente em neutralizar os Comensais.

—Termine logo com isso – pediu Tom, fraco, depositando sua varinha na mão dela. - Você me venceu, minha varinha é agora sua por direito e deves matar-me, mas posso ter um último capricho? - ela assentiu minimamente. - Diga que me ama. Não precisa ser real, eu sei que não é, mas preciso ouvir isso pelo menos uma vez.

Tremendo suavemente, Bianca ergueu a varinha de Tom e disse:

—Eu te amo, Tom. Avada Kedavra.

Um jato verde saiu da varinha e ele caiu no chão. Apressada, Bianca juntou tudo em sua bolsa e foi para o andar de baixo, onde corpos de Comensais jaziam estirados. Ela não sabia se estavam estuporados ou mortos. Dolohov conseguiu mover a mão e pegar a varinha. Murmurou as palavras como um sopro:

—Pela causa puro-sangue. Diminuendo!

A casa começou a ruir. Bianca pensou em fugir, mas uma “vozinha” no fundo de sua mente – talvez sua consciência – disse-lhe: você já lutou demais. Protegeu a Pedra Filosofal, abriu a Câmara Secreta, foi a esperança do prisioneiro de Azkaban, foi campeã pelo Cálice de Fogo, integrou a Ordem da Fênix, aprendeu com o Príncipe Mestiço, enfrentou a Morte várias vezes, ensinou Severo a amar, ajudou Sirius e Remus a formarem uma família, reuniu os Potter, amou e foi amada por muitos. É o bastante.

Um pedaço de concreto atingiu-a na cabeça, fazendo um corte profundo. Ela esperou sangrar até a morte, mas ouviu um latido, ao qual não pôde evitar reagir.

—Almofadinhas? - ela murmurou quando o cão puxou sua perna, tentando tirá-la dali. - Vai embora. Você não pode morrer, não agora. Teddy e Remus precisam de você – tentou afastá-lo.

EU preciso de você, disse Sirius em sua mente com a voz humana, mas os olhos caninos fixos nos dela. Fred precisa de você. Ele sabia que tocara em um ponto delicado. Não nos deixe, baixinha.

Sem esperar resposta, o cão se retirou e logo voltou com um cervo de grande galhada e um lobo prateado, eram Pontas e Aluado. Almofadinhas colocou uma mão de Bianca na boca e Aluado fez o mesmo.

A carregaram até Pontas, que se curvou majestosamente, para que a colocassem em suas costas. Juntos, os três animais fugiram da casa que ruía, até o bosque onde estavam os Ordenados. Lily e Molly correram para tirar Bianca de Pontas e tratar de sua ferida.

—O que estava tentando fazer? -ralhou Lily, enxugando o sangue. - Ter uma cicatriz como Harry?

James, Sirius e Remus voltaram à forma humana e Bianca pôde ler em seus olhos que estavam prontos para dizer que ela ficara para trás com a intenção de morrer, lançou-lhes seu melhor olhar de ameaça, garantindo que ficassem calados.

—Por que fez aquilo? - Bianca perguntou, avaliando a nova varinha. - Voltou para me buscar?

—Ora, que tipo de pai eu seria se deixasse você morrer, sabendo que podia impedir? - ele riu. - Além do mais, sua vida não pode ser apenas lutar contra as trevas, você tem de viver!

Bianca agitou a varinha como se quisesse aliviar um pouco da tensão. Sirius se afastou, dando margem para que Bill sentasse ao lado de Bianca.

—Pode por favor parar de sacudir essa coisa? - ele pediu, rindo e afastando-se.

—Por quê? Que mal há nisso?

—Além de eu correr o risco de ficar cego, essa é a Varinha das Varinhas. Sabe-se lá o que ela pode fazer sem que você ordene.

Bianca puxou o cordão que sempre levava no pescoço. A Pedra da Ressurreição. Mais cedo, seu padrinho lhe dera uma capa. A Capa da Invisibilidade. Na batalha, ela tirara a varinha de Tom. A Varinha das Varinhas.

Ela se tornara a Senhora da Morte