Descobertas Paralelas escrita por Capitã Nana, lynandread


Capítulo 14
Bem vindo a Vegas Parte II


Notas iniciais do capítulo

When you say nothing at all - OST do filme Notting Hill.



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Desde que tinha visto Harris Norrington, Jill ficara impaciente. Notou que havia um grupo de garotas dançando próxima a mesa de Harris, mais ao fundo daquele hall. Ela queria muito se aproximar dele e se não fosse a pequena pista de dança, talvez jamais fosse notada naquela noite.

Toda a falta de confiança de Jill foi embora quando tentava fazer um pequeno plano para ser notada. Olhou para trás e viu que Ada e Leon ainda estavam agarrados então foi dar uma voltinha.

— Ei, moça... Acho que agora é a minha hora de dançar com ele. – Jill cutucou as costas de uma mulher alta.

— E quem é você? – A mulher disse ao se virar para encarar Jill com seus peitos quase saltando do vestido prata.

— A dona dele! Vem logo...

Os olhos de Chris se abriram surpresos ao ouvir sua pequena “pirralha” com tanta atitude ao empurrá-lo para a pista de dança.

— Se não for transar comigo é melhor me devolver para a pernuda. – Comentou animado.

— Mas eu não vou transar com você... Eu só quero que você me ajude. E olha que você já me deve muito.

— Quer aprender a dançar? – Disse ao notar a música voltar ao ambiente com Baby Boy.

— Não, isso eu sei. Eu só quero que você dance comigo. – Ela arriscou uns passos um pouco parados. E parou quando Chris estava com os lábios tremendo para não rir de seu desempenho.

— Com quantos garotos você já dançou na vida? Com um defunto talvez? – Disse próximo aos seus ouvidos quando a trouxe para perto de si com um puxão.

— Eu não sou tão extravagante quanto às vagabundas com quem você se esfrega. – Comentou ao empurrá-lo levemente e criar seu espaço.

— Então, me deixa ver se entendi. Acho que tem alguém por aqui que você quer impressionar, não é?

Ele se afastou um pouco para ver sua reação. Ela olhou para os olhos dele quase suplicando por ajuda e no final balançou a cabeça concordando. Imediatamente ele a girou em 180º e agarrou-a pela cintura enquanto ele se aproximou de seu ouvido.

— Não tem problema em pedir ajuda a um especialista. Em qual direção o felizardo está?

Ela parecia cada vez mais desconfortável enquanto ele tentava fazer com que ela dançasse menos tensa ao abraçá-la conforme dançava. Mesmo assim, ela estava desesperada em falar com aquele homem que tinha esperado tanto tempo para falar, que ela parecia confiante o suficiente para não voltar atrás naquela noite. Então ela obedeceu perfeitamente a Chris.

— Olhe para ele e tente parecer menos tensa. Se seu corpo está assim, eu já posso imaginar o medo na sua cara. E relaxe, logo ele vai começar a te notar. – Disse, tomando seus braços consigo e então a girou de acordo com a música parando de frente para ela e então a agarrou novamente bem mais próximo. – Tente andar um pouco pelo salão, mas não pare de mexer o quadril pra não perder a batida. Consegue me acompanhar? – Parou com o rosto próximo ao dela.

Ela desviou seus olhos dos dele e começou a seguir seus passos e então parecia cada vez menos tensa.

— Espera um segundo... Eu conheço ele. Era o cara do bar que você se escondeu dele naquela noite. – Jill encarou Chris e já estava quase perdendo os passos quando ele a virou novamente para encarar o tal. – Olha, ele está olhando para você. Joga um charme para ele. – Disse sedutoramente no ouvido dela.

Jill não poderia negar que estava gostando muito daquele momento, nunca tinha feito aquilo e receber os olhares de Norrington estava valendo muito a pena.

— Espero mesmo que esse cara seja tudo isso que você pensa que ele é. – Disse cheirando seu pescoço então ela sentiu um arrepio muito estranho, querendo se afastar, mas ele a segurou mais forte. – Calma ai... Isso é só uma ajudinha. Quer um beijo também?

Imediatamente ela sentiu as leves marcas dos lábios de Chris sobre seu pescoço em um beijo simples e delicado. Um calafrio correu pelo seu corpo, onde as mãos dela que seguravam as dele, seguraram mais firmemente como se clamassem por mais daquilo.

Sua mente queria sair correndo daqueles braços mas seu corpo reagia diferente, estranhamente diferente.

Jill ainda estava processando o que estava acontecendo quando ela observou que outra mulher tinha chamado a atenção de Norrington que só tinha olhos para ela momentos atrás. Ela o cumprimentou e se sentou ao seu lado e os dois começaram a conversar. Nisso ela se afastou de Chris e se virou para encará-lo cortando todo o clima em que ele havia provocado intencionalmente para se divertir com a garota.

— Valeu a ajuda Redfield. Acho que o carinha ali já pegou a outra... Como sempre. – Sorriu sem graça e foi em direção ao sofá, deixando Chris com uma leve pena e uma vontade de ao menos continuar dançando com ela.

Ele a seguiu e nesse momento se deparou com Leon e Ada se despedindo de Jill. Ela ainda frustrada seguiu até a barreira de proteção para observar o show.

— Já estamos de saída, Chris. Cuida bem da nossa garota. Ela disse que vai embora assim que o show acabar. – Ada tomou o paletó de Leon e se cobriu com ele.

— Tudo bem, eu deixo ela lá no hotel e vou procurar outra festa por ai. Tenho que aproveitar cada segundo disso aqui.

— Agradece ao Terry por tudo e juízo rapaz. – Leon lhe deu dois tapinhas no ombro. 

— O mesmo pra vocês. Não quero casamento de última hora com um reverendo vestido de Elvis.

Eles riram e então se foram. Chris tinha ficado um pouco baqueado a situação de Jill então sentiu que precisava falar com ela, nem se fosse para perturba-la.

— Vai desistir assim do seu bonitão? – Disse-lhe oferecendo uma taça.

— Não... Eu não sei. Eu achei que finalmente as coisas iriam tomar um passo inicial porque foi uma baita coincidência ele aparecer agora logo aqui em Vegas, logo aqui nesse show, na área vip onde eu jamais imaginei que colocaria meus pés há horas atrás. Mas quer ouvir uma verdade? Eu sou apenas uma garota sem experiência que espera que tudo dê certo com alguém que está muito acima do meu nível.

— Ah, para... Esse cara ainda está anos luz abaixo de mim. E aquela mulher ali... Está atrás de sexo casual. Se você quiser, eu tiro ela de lá em um estalo. Mas se apenas quer trocar uma idéia com ele... Acho que deveria tentar alguma coisa, já que nem os amigos dele estão com ele agora.

Jill olhou onde Chris estava observando e notou que ele estava certo. Norrington estava sozinho novamente, degustando de sua bebida.

— Será que isso é um sinal? – Ela se voltou a ele sorrindo.

— Eu não acredito nessas coisas. Eu só acho que você deveria aproveitar a oportunidade. Me dá essa taça aqui e vai lá. Não custa nada tentar alguma coisa. Você não pode sair de mão abanando aqui de Vegas.

— Eu não sei que espécie de anjo que você se tornou aqui mas se você tem um lado assim... Devia utiliza-lo mais vezes. – Chris revirou os olhos com deboche e tomou um susto quando ela deixou um beijo em sua bochecha.

Ela entregou para ele a taça, animada. Ele observou ela partir em direção ao rapaz ainda achando estranho aquele tipo de afeição por ele que ela jamais havia demonstrado. Ela olhou para ele e lhe jogou um sorriso animado, algo que ele jamais tinha recebido antes dela. Ele não perdeu a oportunidade de olhar para suas pernas enquanto andava ao devolver as taças ao barman.

Sentia-se altruísta demais por tê-la ajudado, por mais que parecesse um amigo gay dela. Mas sentiu que estava na hora de retribuir a ela todas as coisas que ela já tinha feito para ajudá-lo.

Notou o jeito tímido com que ela cumprimentava o rapaz e logo ela se sentou ao lado dele, depois que ele a convidou para se achegar. Ela realmente precisava de experiência e tudo estava contribuindo para uma nova Jill aparecer.

— Ei, tudo bem? – Jill disse ao interromper os pensamentos de Harris.

— E ai? Senta aqui comigo. – Disse dando um beijo em seu rosto. Ela não conseguia esconder o sorriso. – Eu te conheço de algum lugar, não é?

— É... De Chicago... Do restaurante.

— Ah, você é a cantora... A belíssima cantora do restaurante de massas. – Os olhos de Jill brilharam pelo reconhecimento.

— Sim, sou eu mesma. Sou Jill Valentine. E você é?

— Harris Norrington. Então, o que fez largar Chicago por Vegas essa noite? Foi por minha causa?

— Na verdade, estou aqui por causa do aniversário da minha amiga. Mas achei muita coincidência você por aqui também.

— Ah, achei que você tinha vindo cantar pra mim? – Harris lhe jogou um sorriso sedutor e Jill tentou esconder o rosto vermelho ao rir abaixando a cabeça.

— Não, mas se você quiser... E-eu não me incomodaria nenhum pouco. – O nervosismo e a felicidade de dizer aquelas palavras eram quase um sentimento inédito.

— Então vem cantar aqui no meu ouvido.

— Agora?

— Aham.

Ela ficou um pouco constrangida, mas quando se aproximou insegura, Harris se virou fazendo seus lábios se encontrarem de imediato. Logo, ele a segurou mais próximo e fez com que ela continuasse beijando-o.

Chris já tinha avistado uma nova garota quando ela se achegou a ele querendo conversar. Trocaram algumas idéias, enquanto Chris desviava os olhos para observar como Jill estava se saindo. Se assustou quando notou que ela já estava aos amassos com o bonitão dela. Até então, tinha notado que ela tinha tentado se afastar um pouco do rapaz o que não era estranho, já que ela era a Jill.

— Ei, garotão... Você ainda não me falou o seu nome. – A mulher animada de cabelos bem encaracolados claros a sua frente tentava tirar sua atenção depois de contar sobre como tinha chegado da Califórnia para Vegas e suas aventuras com suas amigas em um carro. A história estava boa, mas Chris não conseguia se concentrar.

— É Chris, sou de Chicago, estudo Administração e trabalho pro governo apesar de não ter políticos em minha família. – Disse quase involuntariamente ao se desviar para tentar ter uma boa visão de Jill.

— E o que está desviando sua atenção, Chris? – Ela perguntou ao tentar ver o que ele assistia.

Jill tinha se afastado do rapaz por um momento, feliz pela realização, mas um pouco traumatizada por um beijo exigente demais. Não foi assim que ela imaginou beijá-lo. Ela esperava que um assunto realmente interessante fosse o clima de um beijo e não um beijo cinco minutos depois de um olá. Metade dela queria sair correndo dali para não estragar o momento com ele porque sabia que cedo ou tarde amarelaria pelo jeito que ele estava guiando as coisas entre eles.

— O que houve... Não está gostando? Está se sentindo bem? – Harris perguntou quando ela suavemente se afastou.

— Sim...Não... É que... Acho que você está muito animado.

— Mas é claro que eu estou... Não é todo o dia que uma morena gostosa senta no meu colo desse jeito.

— Ah... Eu vou tentar colocar isso como um elogio. – Riu nervosa.

— Já sei o que você quer... Quer mais não é? Vem aqui, você gosta da mão boba?

Agarrou a garota estando por cima dela enquanto ele passava a mão pelas pernas dela enquanto a beijava novamente. Jill apenas queria se afastar, não querendo o enxotar ou dar um fora nele.

— Olha, para com isso... Eu só queria conversar... Eu não acho isso uma boa ideia. – Ela o empurrou de si, mas ele achou que era apenas um charme dela.

— Está escuro aqui, ninguém vai ver.

— Não... Sai daqui... Eu quero ir embora. – Disse ao notar que ele subia sua mão pela coxa por debaixo do vestido enquanto ela se apavorava a cada momento, tentando tirar sua mão de sua coxa sem sucesso quando sentiu que o peso que a prendia sobre o sofá saiu de cima de si.

Chris segurou Harris pela camiseta tirando ele de cima de Jill que parecia sufocada e assim que ele se deu conta do que tinha acontecido, o moreno o atingiu no rosto com um soco pesado fazendo seu lábio inferior se cortar imediatamente.

— Você está louco ô filho da puta? – Chris gritou com o rapaz ainda desnorteado, mas que reagiu rápido vindo para cima de Chris e ele em um reflexo desviou e deu um chute nas costas do homem arremessando-o no chão. Ele foi até onde ele tinha caído de bruços e puxou-o pelos poucos cabelos, próximo ao seu ouvido. – Ninguém faz isso com a minha Jill.

Chris jogou novamente no chão fazendo com que seu rosto quicasse no chão. Quando se deu conta, viu que havia pessoas que poderiam comprometê-lo ao ouvir delas que o chamava de “filho do prefeito”. Ele procurou Jill e viu que ela tinha se afastado das pessoas que os rodeavam e se abraçava assustada no canto completamente horrorizada.

Foi até ela e a puxou pelo punho como costumava tirando ela da festa. Não trocou nenhuma palavra com ela até sair do Encore e entrar no taxi com ela. Ela ainda continuava séria e assustada. E ele não conseguia falar nada com ela. Eles pararam em frente ao Bellagio saíram do veiculo.

— Pronto, entregue sã e salva.

Ele acompanhou ela até a entrada para deixar ela como combinado mas notou que ela não dizia nada e ficou parada em frente ao hotel observando ele se afastar. Ele tentou continuar andando mas sentiu que tinha que voltar.

— Você quer ir para o quarto agora ou...?

— Ou o que? Pra onde você vai? – Ela perguntou um pouco desesperada.

— Você não quer ir para o quarto agora... Não é?

Ela negou com a cabeça e abaixou a cabeça ao olhar para a bolsinha em mãos sem noção do que fazer.

— Jill, o que ele fez com você? Ele chegou a...?

— Não. P-porque você estava lá. – Ela levantou levemente a cabeça foi em direção a ele com os lábios tremendo, abraçando-o. Nesse momento ele poderia sentir o desespero e o alivio vindo dela. Principalmente quando notou que aquele choro era de um coração partido.

— - -

Certa vez Ada ouviu que em Las Vegas tudo era possível, mesmo que sua felicidade fosse do céu ao inferno em uma única noite. Naquela madrugada fria, enquanto corria descalça com Leon pela cidade dos jogos ela estava feliz. Um sentimento totalmente novo percorria seu interior. Era como voar sem ter asas, dançar ao som do silêncio ou até mesmo explicar o inexplicável.

— Te peguei! – Leon carinhosamente agarrou a namorada que estava ofegante por conta da corrida. Ela riu e tentou se soltar dos braços do amado, mas fracassou ou talvez não quisesse soltar-se dele nunca mais.

— Só conseguiu me alcançar porque estou com muitas dores nos pés. Estes saltos e o show da Beyoncé acabaram comigo. – Ada se virou para Leon e colocou os braços em volta do pescoço do rapaz, ainda segurando seus sapatos. Ela havia tirado o calçado assim que saíram do Encore pois não aguentava mais as dores nos pés.

— Nada que uma massagem na banheira não resolva. – Leon disse com uma voz grave e sedutora que causou arrepios em Ada. Os dois selaram seus lábios em um beijo leve.

Abraçados caminhavam em direção ao hotel. Pelo caminho se deparavam com várias pessoas mesmo de longe apreciando o espetáculo aquático na frente do Bellagio. Era realmente incrível toda aquela água, as cores, as canções...

— É uma pena que até chegarmos ao Bellagio o espetáculo já terá acabado, mas ainda podemos ver o próximo pela varanda do hotel, afinal a vista de lá é surreal. – Ada comenta agarrando com firmeza o namorado por conta do frio.

— Você acha mesmo que da janela do nosso quarto é melhor para ver o espetáculo?

— Sim... Dizem que quanto mais alto estiver melhor é a visão. – Ada responde contente e Leon fica pensativo.

Quando adentraram no hotel foram abordados por um segurança robusto e sério.

— Senhorita, não pode entrar no hotel sem seus sapatos. – Disse o homem com uma voz firme.

— Mas eles estão aqui, olha! – Ada ergueu seus saltos fingindo não entender o que ele dizia

— Não senhorita, não foi isso que eu quis dizer.

— Ótimo! Vamos amor. – Ela pegou na mão de Leon e começou a caminhar. O rapaz olhou para trás e viu que o segurança os seguia para novamente repreender. Então Leon repentinamente pegou a namorada no colo. – Leon!

— Acho que isso resolve nosso problema. – Leon sorriu cinicamente para o segurança ao se virar com a namorada nos braços.

— Mas senhor, não...

O homem tentou argumentar, mas foi interrompido por Leon.


— Sabe o quanto sofri até conquistar essa bela moça? Não? Então seja um bom camarada e não atrapalhe minha noite de núpcias, está bem? Boa noite senhor... – Leon tentou ler o crachá do rapaz, mas não conseguiu. –... Schuhe.

Ele virou de costas para o segurança e seguiu para o elevador. Ada sorriu e acenou para o segurança que ficou parado no meio do hall chateado.
 

— Malucos... – Disse o rapaz em tom baixo.

Dentro do elevador Ada ainda ria da cena anterior. Gostava daquele Leon descontraído, pois nunca achou que existisse um patamar maior que a perfeição, mas aquele homem a sua frente era exatamente isso.

— Gosto disso. – Ada fitou o rapaz que estava escorado em um canto do elevador. Ele perguntava sobre o que a namorada se referia sem emitir qualquer som, era como se seu olhar o denunciasse. – Esse... Novo Leon... Ou o Leon de Vegas, esse homem ousado, aventureiro... Livre. – Ela sorriu sutilmente, admirando-o com os olhos brilhantes.

O elevador parou no terceiro andar e algumas pessoas adentraram. Dentre eles, o segurança de minutos antes.

— Você de novo? – Leon revirou os olhos, indiferente.

— Senhores, eu lamento todo esse desconforto, mas são as normas do Hotel. – O homem educadamente argumentava na esperança de fazer o seu trabalho sem maiores problemas.

— Está bem, está bem... Se não temos outra opção. – Ada calçou seus saltos fazendo uma expressão de desconforto por conta das dores que estava sentindo nos pés.

— Obrigado. Eu e todos os funcionários do hotel Bellagio desejamos a vocês uma ótima estádia. – O segurança disse ao casal e Leon forçou um sorriso. O homem desceu no andar seguinte satisfeito.

Ada e Leon estavam hospedados no vigésimo andar do hotel e assim que as portas do elevador se abriram Leon segurou firme a mão de Ada para mantê-la ali. Ela o olhou de pressa e ele apenas piscou para ela como se dissesse "confia em mim".

No último andar todos já tinham descido. Faltava apenas o casal. A morena ainda estava receosa a respeito dos planos do namorado, pois ele não havia o compartilhado com ela até o momento. Leon caminhava com ela de mãos dadas lentamente enquanto aguardava a movimentação dos corredores cessar.

— Não vai me dizer qual é o plano, bonitão?

— Com todo prazer. – Leon sorriu ao apontar o dedo para uma porta metálica no fim do corredor.

— Leon, na placa está escrito "Acesso Restrito para Hóspedes". Nós somos hospedes, não somos? Além do mais essa porta precisa de um Vcard para abrir. – Ela disse entediada.

Nesse instante Leon, com um sorriso confiante, retirou um Vcard do bolso.

— L-Leon! Onde conseguiu isso! – Ada estava surpresa.

— Com aquele mala do segurança. Era o mínimo que ele poderia fazer depois de importunar a gente por uma coisa tão irrelevante. – Ele concluiu enquanto passava o Vcard na tranca ao lado da porta.

     – Mas ele não te deu isso... A menos que quisesse perder o emprego então... – Ada ficou pensativa por alguns instantes até finalmente concluir o óbvio. – Você o roubou! – Ela exclamou surpresa e com traços de um sorriso.

— Primeiro as damas. – Leon deu passagem a Ada assim que a porta se abriu revelando uma escada que seguia até outra porta. Ada ainda cautelosa subiu seguida de Leon. Quando chegaram a outra passagem, Ada colocou a mão na maçaneta e fitou Leon receosa. – É eu sei, mas garanto que cada segundo irá valer a pena. – Ela então suspirou e abriu a  porta.

E lá estavam eles, acima dos trinta e seis andares do hotel, exatamente no terraço do Bellagio. O vento forte bagunça seus cabelos. Ada ainda em silêncio novamente retirou seus sapatos e começou a caminhar pelo gigantesco local. Podia ver praticamente toda a cidade de Las Vegas lá de cima e isso a deixava maravilhada. Ela caminhou até a beirada do terraço emocionada.

— É incrível... Eu sabia que das alturas Las Vegas era linda, mas isso aqui é surreal!

— É mesmo... – Concordou Leon tão admirado quanto ela.

       – Obrigada Leon... – Ela fitou o rapaz, um pouco hesitante ao continuar falando. – Todos esses anos, nesta data eu procurei motivos para me punir como uma forma de pedir perdão a todos aqueles aos quais eu causei tanto sofrimento, mas... Mas você me resgatou e a cada dia me ajuda a... Hm... Como eu poderia dizer? – Ada ficou pensativa por instantes. – A me reabilitar. Quando nem eu mesma acreditava em mim você simplesmente apostou todas suas fichas... Obrigada, mas eu preciso dizer que... – Ela começou a chorar e ele a abraçou.

— Ei, não faz assim... Não quero que chore afinal eu não te trouxe aqui por causa seu aniversário, lembra? Estamos apenas curtindo um momento juntos, sem rótulo algum e também...

      – Esse é o melhor aniversário da minha vida... – Ada o interrompeu ao calar ele com seu indicador. Ela se afastou para vê-lo melhor com um sorriso surpreso. – Obrigada por me proporcionar o aniversário mais maravilhoso do mundo. Eu te amo!

Leon tomou seus lábios para si mostrando o quanto estava feliz por Ada ter superado mais um obstáculo de seu passado. E por mais que o aniversário fosse o de sua amada, ele em seu íntimo acreditava que o melhor presente fora ele quem ganhou, pois a felicidade de Ada era infinitamente seu objetivo na vida.

Ele sorriu enquanto enxugava as lágrimas do rosto dela com o dedo. As luzes da cidade se refletiam nos olhos marejados dela, deixando ela mais linda ainda. Se é que isso ainda era possível aos olhos de Leon. Ele olhou para seu relógio e abriu um sorriso.

— Sabe qual é a melhor parte de estar aqui agora?

— Qual?

Alguns fogos foram soltados iluminando o céu em diversas cores e o espetáculo na fonte do Bellagio deu início. Eles abraçados, se encontraram sobre a mureta de proteção. As águas pareciam dançar no ar. Luzes coloridas contribuíam para o espetáculo ao som romântico e instrumental de When you say nothing at all. Ada não conseguia conter as lágrimas de alegria em presenciar aquele show no melhor lugar possível graças ao homem da sua vida.

— Wow Leon! Isso é... Isso é... Oh meu Deus!

— Feliz aniversário Ada...

O espetáculo durou trinta minutos e Ada pulava e gritava eufórica com cada nova atração. Mal esperava para contar a Jill sobre aquilo. Quando acabou Leon suspirou entristecido.

— Ah que droga! Eu não me importaria se durasse uma hora ou dua... – Ele se virou para chamar a morena para descerem quando se deparou com seu paletó que estava com ela outrora no chão junto aos saltos. Levantou o olhar e viu Ada lentamente abrir o zíper lateral de seu vestido vermelho. – Ada... Você vai ficar resfriada. – Ele sorriu.

— O seu calor irá me aquecer. – Ela respondeu mordendo o canto do lábio inferior.

— E se alguém nos pegar aqui?

— Bem, para alguém que roubou o Vcard de um segurança não creio que se importe em ser pego fazendo amor no terraço de um renomado hotel. – Ela sorriu sedutora. Deixou seu vestido cair revelando seu corpo esbelto apenas com uma calcinha branca rendada. Leon sorriu desabotoando a camisa enquanto caminhava até sua amada. Ela riu ao ver que ele havia cedido a tentação.


Quando se tem amor não existe limites, paradas ou cautela pois tudo que importa é amar. E naquela madrugada gélida Leon e Ada se amavam. Cada sussurro, arrepios ou sensações intensas faziam daquele momento único.  Não havia uma mulher independente lutando por seus ideais muito menos um homem centrado sendo um exemplo para a sociedade. Apenas um casal apaixonado unindo seus corpos quentes e úmidos de prazer, prontos para chegarem ao êxtase inesquecível onde somente o céu seria testemunha de tamanha paixão.

Algum tempo depois Ada e Leon estavam deitados sobre o chão e fitando o céu que sutilmente começava a se abrir, as nuvens devagar se afastavam e uma estrela podia ser vista.

— "Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" – Recitou o loiro ainda mantendo sua atenção para o céu.

— Que lindo meu amor, de quem é?

— Não me lembro bem, mas acho que é de um escritor brasileiro, Fernando Pessoa.

Os dois permaneceram em silêncio por minutos até Ada quebrá-lo.

— Leon... – Ada começou e o rapaz a fitou. – Não sinto meus dedos.

— Vamos embora minha boba Rose. – Os dois riram. – Eu odiaria virar uma pedra de gelo. – Ele levantou e em seguida a ajudou a levantar também.

Enquanto terminavam de se vestir, Ada fitou a cidade e abriu um sorriso meigo.

— Acho que estava errado papai... Nem toda felicidade em Las Vegas vai do céu ao inferno. – Ela sussurrou para que somente ela pudesse ouvir suas palavras.

— Podemos ir? – Leon se aproximou pegando a mão da jovem.

— Claro, afinal a noite ainda não acabou. – Ela sorriu e os dois seguiram seu caminho.

— - -

— Olha Jill... Beber até cair não vai te ajudar a voltar no tempo e consertar as coisas. Isso teve que acontecer pra você ver que não dá pra confiar em humanos por mais lindos que sejam. Quanto mais lindos, menos prestáveis... Experiência própria.

— Você não perde a chance de se vangloriar, mesmo em uma situação tão difícil pra mim?

— E quer outra definição disso? Me admira tanto você identificar “pessoas como eu” e não notar que caras como Norrington são piores. Muito piores.

Chris estava deitado na cama dela depois de ouvir toda a estúpida historia de amor que nunca aconteceu entre ela e Norrington. Ela estava andando para lá e cá com um copo de uísque na mão quando ele decidiu se sentar apoiando-se sobre a cama com as mãos.

— Agora você quer ser o santinho dos demônios? – Jill parou de frente a ele com os braços cruzados. – Não acredito que nunca tenha tentado algo com uma garota como ele fez comigo. Além disso, ele estava bêbado e eu estava muito atrevida. Eu permiti que ele avançasse daquele jeito, quanta luxuria minha! Ele nunca agiria assim comigo estando sóbrio. – Sentou-se ao seu lado, pensativa, ao deixar seu copo sobre a mesa de cabeceira.

— Jill, não sei se sabe mas... Eu tenho uma irmãzinha. – Chris fitou a parede a sua frente com um olhar fixo. – Quando eu penso em me aproveitar de alguém do jeito que ele fez com você, sabendo ele, de cara, que você é diferente das outras, minha irmã me vem à mente. Não gostaria que ninguém fizesse isso com ela, se bem que ela é bem mais atrevida que você. Meus amigos que o digam. – Chris comentou com desgosto.

— Diferente das outras como? – Jill se virou para buscar o rosto dele com o rosto borrado de maquiagem e descruzando os braços.

No fundo, ela sempre gostou desse tipo de definição para si. Ao notar que Chris a via assim, fez com que sua frustração sobre ele sumisse por um momento. Mas precisava saber o que ele realmente sentia em relação a isso. Então o fitou, mesmo ele evitando olhar para ela.

— O seu nível de garota hesitante estava pairando no ar. – Chris não queria dar o prazer de elogia-la por mais que soubesse que era isso o que ele deveria dizer. – Eu até estava me divertindo ao ver de longe você tentando reagir sobre uma situação na qual não estava preparada. Você não tem experiência nesse tipo de... Tipo de... Coisa. – Chris tentava esconder o riso, se lembrando de quando ele a observava do bar. – Mas pode deixar que eu não conto para ninguém sobre essa sua má experiência. Afinal, foi divertido bater no cara que você é apaixonada. Eu sei que no fundo, apesar de vingada, você deve estar me odiando mais por isso. E é um deleite pra mim você ficar assim. – Chris sorriu ao ver que o rosto de Jill parecia confuso entre dar atenção para suas palavras ou odiar ele outra vez pelas palavras.

— Você não me conhece, Chris Redfield. – Ela se levantou da cama, encheu seu copo novamente e depois de um novo gole se virou para ele que esperava uma nova réplica. – E essa sua lógica sobre mim está muito barata. Eu sei muito bem o que eu tenho que fazer quando eu tenho que fazer alguma coisa. – Ergueu o nariz, chateada. – Mas com o Norrington, eu tinha que ser bem mais cautelosa pra não machucar nosso relacionamento logo de cara.

Chris se jogou para trás na cama, gargalhando com a última frase ouvida.

— Mas que porra de relacionamento Jill? Não tem relacionamento nisso que você chama de relacionamento. Você é só uma otária que acredita que aquele cara que queria se aproveitar de você ali mesmo é um príncipe encantado.

— Você é irritante! Não sei porque te trouxe pro meu quarto. Pode ir embora, vai curtir as festinhas e enganar sua namorada trouxa que deve estar achando que você foi sequestrado.

— Jessica não é trouxa. Ela só não sabe que eu estou aqui e nem vai saber. – Ele a repreendeu sorrindo com as mãos abaixo da cabeça enquanto fitava o teto. – O que os olhos não veem...

— Pode parar com isso! – Ela o interrompeu. – Você nem mesmo se sente mal por ela não saber disso?

— Você pode mandar o sermão que for, mas não sabe lidar com isso tendo um namorado imaginário. Ah, esqueci você não sabe lidar com isso porque não tem experiência nessa área. Você é apenas uma garota confusa.

— Talvez eu seja isso mesmo. Mas se tem uma coisa que eu tenho convicção é que eu jamais admitiria ter um namorado como você. – Ela disse ao se juntar a ele na cama e se deitar ao seu lado. – Mas cortando esse papo esquisito, promete para mim que Ada e Leon nunca vão saber do que aconteceu?

— Eu prometo. Aliás, acho que a Ada não iria gostar nem um pouco de saber que ela quase perdeu o cachorrinho dela que estava sob minha responsabilidade. Um cachorrinho indefeso e imaturo.

— No final de tudo é apenas isso o que eu sou: um cachorrinho indefeso e imaturo. – Debochou de si mesmo pela dor que sentia sobre o que tinha acabado de passar.

Chris a observou com os olhos marejados ao olhar para o teto com tristeza e instintivamente sentiu que deveria ajudar. Tirou uma das mãos de sua cabeça e se apoiou apenas em uma para encará-la deitada com as mãos entrelaçadas sobre o próprio estomago.

— Sorte sua de ter um dono como eu... – Ela trocou o olhar do teto para o rosto dele que sorria presunçosamente e sorriu também. – E sabe de uma coisa legal?

Ela esperou ele falar atentamente.

— Eu gostei das suas atitudes hoje. A dança, a confiança... Eu conheci um lado seu que achei que nunca ia ver na vida. – Disse ao observar o rosto dela levemente se corar.

— Aquilo foi uma ideia tão idiota e você ainda acabou no meio de tudo isso. – Ela riu um pouco envergonhada de suas atitudes e ele não conseguiu deixar de notar que o sorriso dela era muito atraente. – E já que tocou nesse assunto, eu... – hesitou revirando os olhos, mas continuou –... Meio que gostei do jeito que você bateu no Harris por minha causa. Eu me senti muito vingada. Caras como ele não merecem garotas como eu se ele for isso o que ele foi hoje. Nem caras como você porque... Ah, você já está cansado de saber. Mas sabe de uma coisa legal também?

Chris olhou para ela de um jeito diferente, encantado pela nova maneira te ter ela tão próximo sem que ela se sentisse estranha e de sentir o seu perfume que estava exalando por ele estar perto dela como nunca antes. Estava sentindo aquela pequena atração que já tinha sentido na pista de dança.

— Se eu soubesse que você teria me defendido daquele jeito, continuaria dançando com você... A última pessoa que eu queria que estivesse aqui agora. O destino é mesmo um sacana.

— Ei, essa frase é minha. – Chris brincou.

— Eu lembro. – Jill observou os lábios dele se curvarem ao sorrir e por um momento sentiu uma pequena atração por ele. Algo confuso que nunca tinha sentido antes. Seus sentidos ativaram o sistema de alerta, fazendo ela se sentar de imediato. – Então, você disse que iria para onde mesmo?

— Andar por ai procurando diversão. Quer ir junto? Afinal, amanhã tudo será cinza, vamos voltar para nossas lutas de cada dia e temos uma noite inteira pra aproveitar ainda hoje.

— Isso mesmo. – Ela disse se levantando para pegar um dinheiro na mochila. – Eu acho que tenho que levar uma lembrança desse lugar, mas as coisas aqui são muito fora do meu orçamento.

— Depende do que você quer levar. Se quiser uma lembrança das inúmeras joalherias daqui, vai lhe custar o olho da cara mesmo.

— Não... Eu só quero alguma coisa escrito “Las Vegas”. O lugar onde Chris Redfield perdeu o titulo de Chrisloteiro e passou a ser o...

— Herói americano, salvando a vida da minha pirralha preferida do príncipe encantado dela. Nossa... Eu sou quase um Deadpool.

— Babaca! – Ela sorriu. – Vou tentar entender como um elogio por causa do “preferida”. Me dá dois minutinhos para a make e então já vamos.

Ela entrou no banheiro e ele se jogou na cama até sentir seu celular tocar.

— Pirralha, olha isso... O Leon está me ligando. Será que aconteceu alguma coisa? – Sentou-se novamente.

— Atende logo. – Jill saiu desesperada do banheiro para saber o que era...


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Notas finais do capítulo

por enquanto é só kkkk



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