Anjo ou Fera escrita por Giovanna


Capítulo 8
Capítulo 8 - Who are you?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/652755/chapter/8

O sol ilumina o meu quarto. Olho as horas. Meu plano de tentar ter uma rotina normal e apropriada para uma estudante de medicina, mas uma vez, foi por agua a baixo. Levanto-me da cama. Sei que domingo é o dia feito para passar o dia de pijama, comendo pipoca e vendo um filme na netflix. Entro no banheiro. Mas, como boa universitária nerd que eu – deveria – ser. Hoje tem grupo de estudos no campus e me comprometi a participar.

Preferir não acordar a Maya para avisar que estava de saída. Ela demorou a pegar no sono ontem. Pego a mochila, meus óculos escuros e o copo com cappuccino. Descendo as benditas escadas. Passo pela a portaria, e até o senhor Peter estar dormindo.

― Annie! – ouço a voz do Dylan me chamando assim que saiu do prédio. ― Será que podemos conversar? – viro-me para ele.

Mas, o que ele faz aqui a essa hora? Certamente nem dormiu, já que saiu a algumas horas do ap.

― Claro Dylan. – ele abre a porta. ― Mas tenho pouco tempo. – entro no banco do passageiro. ― Estou atrasada para o grupo de estudos.

Ele dá a volta correndo no carro e entra.

― Certo. – ele liga o carro e continuo tomando o meu cappuccino. ― A Maya, ela... – ele continua olhando para frente enquanto dirige. ― Esteve com alguém nesses seis meses?

Ele baixa o volume do rádio para não atrapalhar ao assunto. Coloco o copo, na porta copos do seu carro que por sinal, tem cheiro de hortelã maravilhoso.

― Olha Dylan, eu sei que você está surpreso. Ela também está, tanto quanto você, pode aposta. – olho para ele. ― Ela viu você agarrando, sugando, comendo aquela menina ontem no Red. E saiu correndo, isso é tudo que posso te dizer. – olho para a sua mão ele esmurra o volante de leve. ― Durante esses seis meses, - decidir continuar por motivos que ainda desconheço, mas estou bancando a cúpida. ― ela não se envolveu com ninguém, diria que até deixou de ir festas em Porto. Dedicou-se somente aos seus estudos e vem assim dede sempre. – chegamos ao campus, ele estaciona de frente ao quiosque. ― Ai mudou-se para cá e tentou recomeçar, entende?

― Acho que sim. – ele fica cabisbaixo com o cotovelo apoiado na janela do carro com a mão no queixo. ― Preciso falar com ela. – ele olha.

― Vê lá como vai falar, tá? – digo descendo do carro, dando a volta ficando ao lado da sua janela. ― E ela está com raiva, magoada, tudo junto. E você a conhece, sabe como ela é.

― Sei, aquele maldito instinto defensor. – ele serra os dentes.

― É, vou indo. – o beijo no rosto e entro na universidade.

A universidade parecia abandona aos domingos. Poucos alunos se dispunham a participar do grupo de estudos, tinham o domingo como dia livre. No caminho até a sala de estudos prendo as minhas madeixas loiras em um rabo de cavalo, deixando o meu pescoço a mostra.

Estava torcendo para que Dylan e Maya se resolvessem, eles eram lindos junto, de fato de completavam. Entrei na sala todos estavam bem despojados assim como eu: chinelo, short e camiseta. O tema de hoje era: o primeiro seminário.

Foi um tema divertido. Sou tímida para apresentações, então a única solução é: praticar. Anotei o nome de alguns programas, o começo de um bom seminário são os recursos visuais apresentados. Minha mochila estava extremamente pesada, achei que fossemos usar todos os livros que trouxe. Mas não usamos livros e sim notebook.

Saindo do campus. O Centric – também tem bem menos universitários compara a semana.

― Bú! – grita Scott me assustando ao sair da parede escondida na esquina.

Coloco a mão contra o peito e fecho os olhos.

― Ai que susto. – digo ofegante. ― Você quer me matar? – abro os olhos e continuo a caminhar.

― Não, quer dizer, talvez. – ele me acompanha. ― Topa um sorvete?

O olho de canto e paro de caminhar.

― Qual é a sua Scott? – pergunto ao mesmo tempo que arrumo a minha bolsa no ombro.

― A sua. – ele ri colocando a mão no bolso.

― Oi? Não entendi. – volto a caminhar.

― Entendeu sim. – ele me acompanha.

― Não, não entendi.

― Estou te chamando para um encontro, não sou esse cara que você Annie. – ele para na minha frente.

― Eu não penso nada sobre você Scott. – passo por ele, seguindo o meu caminho.

― Pensa sim, que eu sei. – seu tom é provocador. ― Olha, eu não costumo ir a casa das meninas e beijas em plena a madrugada. Meu sono é sagrado, isso você pode apostar.

O que ele tá querendo dizer com isso? Que fui a primeira que ele apronta esse tipo de coisa?

― Não tenho tanta certeza. – retruco.

― Estou interessado em você. – dispara ele, esse é Scott: sem rodeios, direto e curto.

― Sei, sou apenas a carne nova do pedaço.

― Não seja tão convencida, você não foi a única caloura do campus. – ele rebate, e sinto meu rosto corar.

― Certo Scott. – paro de caminhar, já em frente ao Blue. ― Digamos que você esteja realmente afim de mim. – ele me encara. ― Aquela foi a melhor maneira que você achou de se aproximar?

― Não. Mas eu estava bêbado e queria te ver. – ele deu de ombros. ― Então.

― Então você resolveu ir ao meu apartamento as duas da manhã e me beijar.

― Isso mesmo. – ele estrala os dedos. ― Garota esperta. – reviro os olhos e começo a subir as escadas. ― Olha só, eu sei que posso ter começado mal, mas sei que você gostou. – ele me puxa pelo o braço impedindo que eu continue a subir as escadas. ― Percebo a forma que me olha, eu sou solteiro e você também.

― E?

― O Dylan está ocupado com a Maya. – ele desvia o assunto.

Arqueio a sobrancelha estranhando a mudança de assunto.

― Como você sabe que ele está aqui?

― O carro dele está lá fora, não sei se você percebeu. – ele me solta.

― Não, não percebi. – baixo o olhar.

― Então, não tem nada você vir comigo. É só um sorvete. – insiste. ― Vamos? – ele estende a mão.

O olhar. O brilho dos seus olhos me convenceu. Solto um riso frouxo e pego a mão de Scott. Descendo as escadas e ele se oferece para levar a minha bolsa. Ficar próximo dele é como perder o controle do carro. O seu perfume leva o meu pensamento a coisas bobas. Ele está extremamente lindo, uma camisa pollo vermelha, short branco e um chinelo. Só agora consigo perceber ele tem um brinco na orelha direta que dá um charme quando ele sorri. Não quero que ele perceba que estou o olhando muito, mesmo sabendo que ele já percebeu, já que não continua olhando para frente e sorrindo. Enquanto nos aproximamos da sorveteria.

Sinto como se estivesse abrindo as portas do meu coração novamente. Só me deixei apaixonar uma vez. O Martín, tinha me esquecido como era o processo da paquera.

― Flocos. – peço após fechar o cardápio.

― O mesmo por favor. – ele pede olhando para o garçom e em seguida para mim.

Olhei o cardápio para tentar disfarçar, podem existir mil sabores de sorvete no mundo. O meu escolhido e preferido sempre será flocos.

― Também gosta de Flocos? – pergunto.

― Não muito. – ele apoiada os cotovelos na mesa. ― Só quero te acompanhar. – ele pisca e sorri.

― Nossa! – desvio o olhar.

Se estou perdida? Sim, estou. Não sei como retribuir ou reagir. Não posso ficar bancando a adolescente difícil. Essa é uma das outras fases que tenho que atravessar na minha vida.

― Me fale de você, senhorita Annie. Porque Ottawa?

― A Maya já morava aqui, os meus pais e os dela são melhores amigos. Fomos criados juntas. – aqui estou eu abrindo toda a minha vida para um desconhecido. ― Só unimos o útil ao agradável, quando fui aprovada na universidade; eu também não queria ficar longe dela.

― Que romântica essa amizade. – ele brinca.

― E você, fiquei sabendo pelo o Dylan que morava em Stratford e depois voltou para cá.

― Isso mesmo. – ele olha de lado, e o seu perfil é ainda mais bonito. ― Não gostei muito de Stratford. Amo Ottawa, sou Ottawano apaixonado.

― E porque direito?

― Digamos que uni o útil ao agradável. – ele ri. ― Sempre quis ser advogado, na verdade fui condicionado a isso a vida inteira. A minha família tem uma empresa de advogados associados. Então.

― Entendi. – dou um sorriso, não sou muito boa com assuntos. Na verdade a muito tempo não sei como conhecer alguém, paquerar alguém. ― Interessante. – é tudo que consigo dizer.

O garçom chega com o pedido. Scott faz uma careta ao olhar o sorvete e dou risada.

― E o seu namorado? – ele pergunta e eu engasgo.

Porque falar do Martin agora? E como ele sabe que tinha namorado? Pego o guardanapo e tampo a boca.

― Falei alguma besteira?

― Não. – respondo. ― Só é um assunto difícil.

― Você tem namorado?

― Não. – respondo rápido. ― Claro que não. Obvio que não.

― Opa, calma! – ele ria. ― Porque isso tudo?

― Nada, não sei que tipo de garota você pensa que eu sou. Mas quero deixar claro, que não te beijaria ou estaria com você neste momento, caso eu estivesse em um relacionamento sério.

― Super corretinha e fiel. – ele debocha enquanto toma o seu sorvete de flocos.

― E você namora? – pergunto.

― Não, nunca encontrei a menina certa... até aparecer você.

Que cantada nova. Paro de tomar o sorvete, limpando a boca e desviando o olhar.

― Nossa, que cantada diferente. – ironizo.

― Por que terminaram? – pergunta ele, não sei o que ele pretende aprofundando esse assunto.

― Traição. – respondo áspera, o encaro, ele fica incomodado com a resposta e desviar o olhar afastando-se do sorvete. ― Ele me traiu com a cidade inteira e como toda corna é a última a saber, comigo não foi diferente.

― E pelo o que vejo, você ainda gosta do cara. – ele se acomoda na cadeira.

― Não tem muito tempo Scott. Então.

― Compreensível. – ele termina de tomar o sorvete. ― E qual a do Dylan?

― Naquele dia depois de sairmos da sua casa, ele me perguntou o que tínhamos e eu disse que estávamos ficando. – arregalo os olhos. ― Sim, eu disse isso. E ele quase capotou o carro, me deu mil e uma orientação de como me comportar com você.

― O Dylan é como se fosse o meu irmão, sempre me protegeu. Quando o conheci ele tinha dezesseis e eu treze anos, digamos que ele acompanhou toda as minhas fases.

― Saquei. – ele ri. ― Vamos? – ele levanta-se.

― Vamos.

Levanto. Peço a minha bolsa, mas ele insiste em levar até chegarmos no prédio. Dessa vez o nosso encontro foi menos constrangedor. A minha relação com Scott, já começou o oposto do comum. Porque foi isso que a minha vida virou o oposto de tudo que eu acreditava ser o certo.

Na volta, Benjamin Scott contou-me que tem uma irmã de quatro anos e diz que ela é a única mulher da sua vida, depois da sua mãe. Seus pais são separados. Disse que acha o nome Benjamin muito delicado e por isso que prefere ser chamado de Scott. Não contive o riso, mal sabe ele que Benjamin é lindo.

― E você não tem medo que aconteça algo com elas? – pergunto, após ele falar das sua mãe e irmã.

― Sim. Tenho, me preocupe demais. – já estamos na frente do prédio. ― Obriguei minha mãe a morar em um condomínio de alta segurança. E a Camila, não sai sozinha.

― Entendi. – sorri.

― E você não tem irmãos? – ele pergunta, entregando-me a mochila.

― Tenho, a Megan. - coloco a mochila no meu ombro. ― Ela tem quatorze anos e.... – pausou a ver o Dylan saindo correndo do prédio e arrancando com o carro da frente do blue.

Shh.. Aconteceu alguma coisa. – comenta Scott.

― É, acho melhor eu ir o que houve. – viro-me entrando no prédio e ele me puxa. ― Scott...

― Não fica com medo de mim, eu nunca me abro assim com ninguém. Entenda esse encontro de hoje, como um recomeço. – ele me dá um selinho demorado e me solta.

Fico admirada com tamanha confissão. Coloco a mão na boca e solto um sorriso. Olho para o porteiro que certamente estava olhando e ouvindo tudo que Scott disso. Tenho um sobressalto ao lembrar do Dylan saindo correndo do prédio. E subo as escadas correndo.

Entro no apartamento e encontro a Maya sentada no chão sala encostada no sofá. Chorando.

― Que houve May? – jogo a bolsa e me ajoelho ao lado dela.

― O Dylan esteve aqui. – ela diz entre soluços.

― Sim, eu o vi sair correndo daqui.

― Discutimos, eu disse coisas horríveis a ele por tê-lo visto beijando aquela garota na festa. – ela enxuga as lagrimas e toma folego. ― Ele me culpou por tudo, disse que eu não tinha direito de cobrar nada dele. Você acredita? Disse que eu não fui compreensiva o suficiente, que eu quem desistir da gente.

― Não acredito que o Dylan falou essas coisas. – tiro os cabelos do rosto de Maya.

― Disse Annie, e quer saber? Pra mim já chega! – ela levanta-se. ― Cansei dessa história, cansei de tudo ser no tempo dele, de acordo com as vontades dele sabe? – ela anda de um lado pro outro e sento-me no sofá. ― Não vou e não posso ficar dependente dele, do amor dele a vida inteira e muito menos esperar ele decidir quando vai – o tom de voz dela muda, estar mais seco e áspero. ― Se cansar desse vai e vem; e se fixe em um lugar, em uma rotina. – ela caminha até o banheiro e fecha a porta.

Não tive tempo de dizer nada ou de abraça-la, até mesmo aconselhar. Sei que o Dylan era assim mutável demais, não ficava quieto em um lugar, não tinha rotina, planos para o futuro. Mas de uma coisa tenho certeza ele ama a May, ama muito. Só não está disposto a parar tudo para viver o amor que tens por ela.

Fui para o quarto e organizei uma papelada. Conhecia a Maya, ela não querer voltar a tocar nesse assunto. Deitei-me para dormir, estava exausta.

“Boa noite, dorme bem!” – olho no celular uma mensagem do Scott. Dou um sorriso sem perceber.

Sei que já estava mais do que na hora de esquecer o Martín mas era impossível, ele não me dava espaço. Acordo às três horas da manhã com o meu celular tocando.

― Oi Meg. - resmungo.

― Annie, por favor, atenda o Mart... – ele toma o celular dela. ― Annie? – não consigo responder. ― Annie porra, eu sei que está ai, fala comigo.

― O que você está fazendo na minha casa a essa hora Martín?

― Queria falar com você, e você não me atendia. Foi a única opção que tive.

― Mas a essa hora? E você sabe que não temos mas nada para dizer.

― Sim, estou louco atrás de você a dias. Eu exijo que você volte para Porto Alegre agora.

― Você não exige nada e isso não é possível, graças a Deus. – grito. ― Agora passe o celular para a Megan por favor.

― Não, não vou passar Annie. Eu te amo, eu não sei viver sem você...

― Você não sabe viver sem mim e mais quinhentas Martín, não seja cínico.

Megan toma o telefone dele.

― Já chega! – minha irmã grita. ― Olha só Annie, eu agradeceria se você atendesse as ligações do Martín. O papai por sorte viajou e a mamãe coitada, está desesperada com esse louco pulando as janelas, achou até que fosse um ladrão.

― Ele pulou a janela do seu quarto?

― Sim, pulou. Quase enfartei. Por tanto, irmãzinha, dá para cuidar melhor do seu noivo?

Megan insiste em dizer que o Martin é meu noivo, mesmos sabendo que eu e ele não tínhamos mas nenhum vínculo. Agradecia mentalmente de não estar em Porto Alegre a essa hora.

― Ok Meg, eu vou ver o que posso fazer. – desligo a ligação.

Posso imaginar o desespero da minha mãe, isso não são horas de pular janela da casa ninguém. Mas amanhã resolvo isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anjo ou Fera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.