Anjo ou Fera escrita por Giovanna
ANNIE POV.
Um trapo. É assim que estou me sentindo. Estamos parados em um posto de gasolina. A van tem espaço para treze pessoas. A banda é composta por seis. O motorista é um senhor de idade, cabelos castanhos e seus olhos tem o mesmo tom do Austin. O observo da janela enquanto ele espera o frentista terminar de encher o tanque da van. Sam está inclinado para trás conversando com os músicos da banda, falando sobre: quantas minas pegaram essa noite, que show incrível, que público caloroso, das fãs do Austin e mais. Encosto minha cabeça na janela e fecho os olhos.
Não sei como cheguei a essa situação. Então meu subconsciente diz: Annie não dramatiza, você já tem dezoito anos. Tem pessoas com problemas maiores que os seus, não seja egoísta. Suspiro um: eu sei. Mas o mundo meu mundo era somente esse até mudar-me para Ottawa. Os únicos problemas que eu tinha eram: passar de ano e minha relação com Martín.
Sempre foi assim. Quando tinha onze anos me apaixonei a primeira vez e adivinha só o menino era dois anos mais velho que eu, a dificuldade já começou daí. Ele só ficava com meninas mais velhas e achei que nunca fosse olhar para mim.
Mas daí resolvi arriscar, insistir e o resultado? Namoramos um ano e três meses escondido dos meus pais, não deu muito certo. Ele estava naquela fase ‘virando homem’ totalmente avançada da minha fase ‘descobrindo o amor’. Terminamos. Demorei dois anos para recuperar-me desse romance, não foi fácil, recebi o conselho mais comum para essa situação: pega geral Annie. Mas nunca fui assim, dificilmente eu me interessava por alguém. E sempre fui careta, achava que sair beijando por ai poderia me transmitir doenças e gostava até de bancar a difícil. Qual a menina que não gosta de ser conquistada?
Então chegou a fase dos quatorze anos que foi quando conheci Martín, ainda sem muita experiência em relacionamento. Começamos também a namorar escondido, tinha medo do meu pai e pelas as regras da família, da minha família: quatorze anos eu ainda era um bebê.
A Megan tem sorte chegou em fase mais calma com o tempo consegui abrir a mente do meu pai para a civilização. Martín era diferente, popular e muito cobiçado. Sabe aquele lance de: os opostos se atraem? Então, isso descreve bem a minha relação com Martín. Ele vivia nas festas, ia muita festa escondida e eu: ainda não tinha idade para ir festa ou ficar até depois das nove fora de casa. As vezes com a ajuda da minha mãe, até conseguia escapar.
Meu namoro com Martín durou até mais do que o previsto por muitos. Aguentei tudo. Tudo. A minha justificativa era: todo casal passa por isso; é uma barreira; é faz parte do processo de lapidação do relacionamento;
A visão que eu tinha do amor, era a que eu lia nos livros e via nos filmes. E não conseguia entender o porquê da minha relação com Martín era do jeito que era, o porquê dele fazer tudo que fazia comigo, sexo era realmente o ponto forte de todo relacionamento? Maya sempre dizia que isso acontecia porque Martín não era a pessoa ideal para mim.
Faço parte daquele grupo de pessoas que conselho não adianta, que precisa cair sete vezes e só na oitava queda começa a enxergar a realidade. E foi exatamente assim que aconteceu eu dei inúmeras chances a Martín, acreditava em todas as promessas feitas. Até que na decima queda, foi a pior. A que mais machucou, arranhou, perfurou... o meu coração. Sabe quando você quebra um copo e tenta juntar os cacos e por mais cola que você use, efeitos que coloque. Ele não fica da mesma maneira? Foi isso que aconteceu comigo. Por diversas vezes Martín me deixou cair e continuava intacta, com umas rachaduras aqui ou ali. Mas dá última vez o vidro já não estava tão resistente e quebrou-se, estraçalhou-se no chão. Sei que ficou confuso, mas, é isso que sou: confusa que faz do amor a sua vida.
E ai fugi. Fugi para um novo lugar, com intuito de escolher uma fábrica para minha reconstrução. E aí conheci Scott, mas dessa vez, não demorou nove meses como foi com Martín, para primeira queda acontecer. Sinto o gosto salgado da lagrima que escorre do meu rosto.
— Vocês vão se acertar. – diz Sam, interrompendo meus pensamentos.
Passo a mão nas têmporas rápido e olho para Sam.
— Não tem concerto, o material já não é tão resistente assim. – digo, forçando um sorriso e Sam franzi o cenho.
— Ele não fez nada com Jessie. – dispara Sam. — Ela quem sentou no colo dele, aproveitando-se que ele não poderia fazer esforço, por causa da perna.
— Pode ser Sam. – passo a língua nos lábios. — Mas, isso não altera o fato de que já possa ter acontecido outras vezes, com outras mulheres. Entende?
Sam se move no banco desviando o olhar. Confirmando o que acabei de dizer.
— Ele nunca te traiu Annie.
Ri pelo nariz.
— Não precisa se meter nisso Sam, é melhor para você. – digo, volto olhar para a janela.
Daqui a trinta minutos estaremos em Ottawa e pela primeira vez, não vou ter como fugir, escapar. Maya sempre diz que tenho que parar de colocar as situações em ênfases na minha vida. “Annie, não deixa isso dominar a sua vida!” “Annie, não pode deixar de viver por isso!” “Annie, não é o fim do mundo” posso ouvir sua voz ecoando na minha mente. Mas ela tinha razão. Tudo que me acontece por mais simples que seja a solução, dramatizo de uma forma: transformando uma gota em tempestade. Mas dessa vez vou fazer diferente, não posso deixar as pessoas me derrubarem dessa maneira. Preciso construir o meu próprio castelo, com material resistente.
Assim que chegamos ao Centric já não vi mais a land rover preta de Austin. Respiro aliviada, a Van ia entrar no red. Mas pedi que parassem antes de frente ao Blue. Sam resmungou um pouco, mas não escutei. Peter me olha assustado. E entendo a reação ao me ver. Sai princesinha e cheguei mendiga, descalça e com olheiras profundas.
— Bom dia sr. Pollard. – diz Peter.
— Dia Peter, o bom sumiu do meu dia! – respondo, sigo em direção as escadas.
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