Annie

Sexta-feira. Finalmente. Essa semana foi intensa demais, na verdade, todos os dias. Desde quando cheguei a Ottawa. Esfrego os olhos sentando-se na cama, ainda coberta com os lençóis. Ao abrir os olhos me assusto ao ver uma cesta de café da manhã ao lado da minha imensa cama de casal. Dou um sorriso torto: Scott.

― May! – grito. ― May! – grito novamente.

― Oi histérica. – ela diz entrando no quarto. ― Aconteceu alguma coisa?

― Que isso? – aponto para a cesta.

― Uma cesta? – ela ri, ficando de frente para mim. ― Enviada pelo o seu noivo, como diria a Megan.

― Martín? – arqueio as sobrancelhas, o sorriso some.

― O próprio. – ela cruza os braços.

Me jogo contra a cama de novo colocando o travesseiro no rosto. Por um momento esqueci que Martín estava morando em Ottawa.

― Não vai abrir?

― Não. – levanto rápido da cama. ― Devolve isso. – saiu do quarto.

― Mas Annie. – diz Maya andando atrás de mim.

― Nem mais, nem meio mais. – entrando no banheiro.

― “Com amor para a noite mais linda do mundo” – ela lê o cartão que acompanha.

Reviro os olhos e ela ri.

― Ele acha que vai me comprar com uma cesta? – pergunto, enquanto escovo os dentes.

― Calma né Annie, até parece que não conhece o Martín.

Termino de escovar os dentes, estou inclina na pia lavando o rosto.

― Conheço. – levanto e pego a toalha. ― E conheço muito bem, tenho que dar um basta nisso. – tiro o pijama. ― Hoje foi a cesta, amanhã carro de som, depois flores. – entro dentro da ducha. ― Tenho que dá um basta nisso. – repito, ligando o chuveiro.

― E o que você vai fazer?

― Não sei ainda, agora tenho que ir para o campus. – digo saindo do banheiro. ― O Scott vem me buscar hoje. – digo animada.

― Que romântico. – ela grita entrando no quarto dela.

― Não zomba May. – digo penteando os cabelos.

Termino finalmente de me arrumar, tomei um café rápido com Maya. Scott já estava a nossa espera na frente do prédio. Corro até Scott e o beijo, Maya revira os olhos.

― Annie Pollard Potts. – ouço alguém interrompendo o meu beijo com Scott.

― Fo-d-e-u. – gagueja Maya pausadamente.

― Quem é esse cara? – pergunta Martín.

― Ele é.... – responde.

― Sou namorado dela. – apresenta-se Scott, me interrompendo. ― E você quem é?

Olhei para Scott rápido, ainda agarrada ao seu pescoço. Como quem é Scott? Ele é a merda do meu ex namorado, que não me deixa em paz nunca. Que nunca me deixa seguir em frente.

― Martin, o que faz aqui? – pergunto irritada.

― Vim saber se gostou da cesta, mas pelo visto tá ocupada demais.

― A sua cesta está no mesmo lugar em você pediu que colocassem. – retruco.

― Que porra de cesta é essa? – pergunta Scott, me afastando do seu corpo.

― Nada Scott, vamos para o campus? – interferiu Maya, forçando um sorriso segurando os livros.

― A cesta de café da manhã que mandei para a minha noiva. – rebate Martín.

― Noiva? – pergunta Scott aos risos.

― Você quis dizer ex-namorada, não é mesmo Martín? – pergunto, serrando os dentes.

― Não, eu quis dizer noiva mesmo. – ele encara Scott. ― Se dúvida liga para a Megan, irmã dela. – ele estende o celular.

O-que? Ele tinha que comentar isso. Minha família não pode saber de Scott, não agora.

― Não preciso disso. – responde Scott, afastando do carro abrindo a porta. ― Vamos Annie?

Ok, por essa eu não esperava. Sei que não é muito educado deixar alguém falando sozinho, só que Martín merecia. Eu o amava muito, mas precisava seguir em frente. Não posso ficar perdoando ele sempre, a todo instante. E nem devo explicações a ele, só espero que não conte nada a ninguém de Stratford.

Scott

Annie não demorou e entro no carro. Sorri satisfeito para Martín que parecia não acreditar no que Annie estava fazendo. Senti vontade de falar “Viu quem ela escolheu” mas quis evitar maiores confusões. Maya entra logo no banco do carona. Estacionei ao lado do carro de Sam no campus, fiz questão que Annie entrasse de mãos dadas comigo. Cumprimentei algumas pessoas e percebi que ela ficou envergonhada, teria que se acostumar com isso. Desde que virei sócio do Austin na banda, tenho muitos contatos.

― É isso mesmo brasil? – pergunta Angel, observando a cena de longe.

― Eu não consigo acreditar. – vocifera Jessie furiosa.

― Jess, supera né? – brinca Sam mastigando um chiclete.

― O que fizeram com o cérebro do Scott? – questiona Peyton.

― O mesmo que fizeram com o seu. – rebate Angel.

― Angel! – repreende Sam.

― Quero só ver até quando o Scott vai suportar brincar de casinha com essa freira casta.

― Nem tudo é sexo Jessie Durham. – defende Angel rindo.

― E o que fizeram com você também Angel? – esbraveja Jessie enciumada, saindo depois de tocar o sinal.

Annie

O caminho da entrada do campus até o M1 nunca foi tão longo. A todos que paravam para com Scott, ele apresentava-me como sua namorada. Fez questão de me deixar na porta da sala e assim que entrei ouvi alguns bochichos sobre o Scott. E Angel me olhava rindo da situação.

― Então, está mesmo de lance com Scott? – pergunta Angel, assim que me sento ao seu lado.

― Sim. – sorri, arrumando a mochila.

― Annie, cuidado com Jessie. – avisa Angel.

― Sei onde estou me metendo Angel, relaxa. – pisquei, voltando a prestar atenção no professor que acabara de entrar.

O dia foi longo e exaustivo. Scott já estava me esperando fora do campus para irmos jantar, pedi que passássemos para chamar Maya. Não quero abandona-la ou exclui-la só porque estou namorando agora. Escolhemos um restaurante ali mesmo no Centric – não estava com roupa apropriada para algo mais elegante. Maya estava se esforçando para não tratar Scott com ignorância, eu entendia o lado dela. Não confiava 100% nele.

Scott

Hoje é sexta-feira. Após jantar com Annie fui direto para o apartamento. Sabendo o que iria encontrar e escutar, pois, decidir não ir ao show do Austin está noite. Entrando no apartamento como esperava: Angel, Sam, Peyton e Jessie todos prontos. Perceptivelmente à minha espera.

― Finalmente Scott! – diz Peyton levantando-se do sofá. ― Achei que não viesse.

― Podemos ir? – pergunta Sam, colocando o celular dentro do bolso da calça.

― Eu não vou hoje galera. – digo, colocando as chaves sobre a mesa e tirando a camisa.

― Calma, deixa eu ver se entendi: você não vai acompanhar o show do Austin hoje? – indaga Angel, eu sei é estranho, eu sempre estou presente em todos os shows. – mas não dá, acabei de voltar com a Annie e prefiro evitar.

― Não. – me jogo no sofá. ― Porque o espanto?

― Hoje tem sobremesa cara. – dispara Sam, tentando me convencer – é por isso motivo que não vou ao show.

― Sobremesa? Será que você só pensa em comida Sam? – pergunta Peyton de braços cruzados – Sam cai na gargalhada e Angel revira os olhos.

― Cadê o Austin? – pergunto, enquanto passo os canais da TV a baco.

― Austin seguiu com a banda. – responde Sam.

Jessie está me fitando com os olhos e me acomodo no sofá incomodado.

― Vamos logo, deixa esse cara ai. – diz Jessie abrindo a porta do apartamento.

― É vamos. – concorda Angel em um tom decepcionado, saindo detrás de Jessie.

Ouço o som dos saltos das meninas entrando no elevador.

― Qualé cara? Hoje tem sobremesa.

― Pega a minha se quiser Sam. – respondo, levantando-se do sofá. ― Não to afim mesmo.

― Então flw. – corre saindo do apartamento.

Eles saíram para o show, que terminar bem tarde hoje. Austin era o terceiro da noite. A festa era de uma central sertaneja ia ter bastante gente. Austin talvez fique chateado já que sou um dos sócios da banda. Mas depois ele vai entender.

O show termina.

― Cadê o Scott? – pergunta Austin, descendo as escadarias lateral do palco.

― Whorehouse – responde Sam, entregando uma garrafa de água.

― Você quis dizer ex-whorehouse. – brinca Angel, já cambaleando.

― Devagar Angel. – pede Peyton tomando o copo da mão dela.

― Ah Pê. – resmunga Angel.

― Jess, não fica assim velho. – diz Austin olhando para Jessie que esta cabisbaixa.

― Você quer que eu fique como Austin? - ela diz com a voz embargada. ― Pela primeira vez Scott deixou de sair com a gente para ficar de mofo em casa, por causa de uma virgenzona metida a sonsa.

― Calma aê, não fala o que não sabe. – defende Austin. ― Relaxa.

― Ah Austin, me poupe né? – ela sai andando pisando fundo.

― Cadê a sobremesa? – pergunta Sam, se aproximando. ― Scott me liberou a dele, então hoje será em dose dupla.

― Simbora moleque! – diz Austin, agarrando o pescoço de Sam.