Dean e May escrita por esterjuli


Capítulo 21
A Partida


Notas iniciais do capítulo

Fi-nal-men-te chegamos ao penúltimo capítulooooo!!

Obrigada a todos que continuam até aqui, mesmo que aos trancos e barrancos kkkkk fé que consigo terminar esse ano ainda!

Bjss



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No último capítulo...

Pov. Dean

Pouco a pouco, senti que o nó na minha garganta se desfazia. Minha respiração ainda estava um pouco fora do controle, mas agora era por outro motivo. Depois que a May parou de falar, continuamos a nos olhar e eu nunca tinha me sentido tão nervoso na vida. Minhas mãos tremiam e mesmo que fosse de noite, não estava nem um pouco frio. Apesar de todo meu corpo parecer que iria entrar em colapso, começando pelas altas temperaturas que sentia na minha face, pensei que essa era a oportunidade que eu estava esperando.

Quando estava prestes a tomar coragem pra falar tudo aquilo que sentia, percebi uma mudança na expressão da May, uma expressão que tinha visto muito ultimamente, ela parecia triste. Não podia ignorar isso, então perguntei:

— E... você tá bem? - perguntei, com a voz um pouco falha e certamente parecendo muito desconcertado por toda a situação. Logo após a pergunta, ela evitou meu olhar e percebi que seus olhos se enchiam de lágrimas. - May... o que foi? Você sabe que pode falar comigo. Deixa eu te ajudar, assim como você acabou de me ajudar, como você sempre me ajuda. - insisti e parecia que me ouvir dizer isso a fez desbloquear todo o choro que ela tentava segurar.

— Dean... meus pais se separaram. Eles, simplesmente, decidiram que não queriam mais estar juntos. - eu estava chocado e ela continuava a falar entre os soluços - E eu não entendo por que eu não posso ter uma família feliz! Uma família normal como os outros! Eu sei que parece estúpido dizer isso, mas... eu realmente sonhava que um dia eles iriam entender que o jeito que eles me tratam desde que eu nasci não é legal, que um dia eles pensariam "será que deixar nossa filha longe por escolha própria não é uma atitude de pais ruins?" e viriam me buscar para termos um recomeço, mas não! Isso nunca aconteceu e agora... acabou. Nunca vou chegar a ter essa família que eu idealizei - ela chorava e eu começava a sentir um nó se formando na minha garganta. Não poderia imaginar a dor que ele estava sentindo nesse momento e ver ela assim, me fazia sofrer tanto. Não sabia o que dizer, então continuei a escutá-la.

— E... toda essa situação tem me deixado bem mal, eu sinto que agora são raros os momentos em que me sinto genuinamente feliz. - ela continuava a soluçar e eu já estava em prantos também - Depois que a Catarina se foi eu já senti que tinha algo de errado comigo, mas agora eu realmente sinto que preciso de ajuda... eu sinto que eu não consigo lidar sozinha com esse turbilhão de sentimentos. Dois dias atrás minha mãe me ligou para saber como eu estava e pela primeira vez em muitos anos, eu fui sincera com ela, falei tudo o que sentia e tenho que dizer que eu me senti tão bem! Por mais incrível que pareça, ela me entendeu e soube exatamente o que dizer pra me acalmar. E eu sentia tanta falta disso, de sentir que minha mãe me entendia e se preocupava comigo. A tia Lucy é sim como uma mãe pra mim, mas é diferente. Ela não é minha mãe, sabe? - eu assenti, pois entendia que por mais que minha mãe a amasse, se sentir distante da própria mãe não deve ser nada legal.

— E com isso tudo - ela disse com voz trêmula - eu comecei a pensar bastante no que deveria fazer. Na verdade, eu sinto que depois que falei com a mamãe, eu tive a resposta que eu precisava, mas não queria admitir pra mim mesma. - parei de chorar, mas senti minha respiração acelerar um pouco, era como se meu corpo já previa o que ela diria a seguir.

— Mas, por mais que seja a escolha mais difícil que já fiz na minha vida, eu decidi... decidi que vou me mudar pra Londres e morar com a minha mãe. - no momento que ouvi a última frase, senti como se o mundo ao redor tivesse ficado silencioso, como se minha mente tinha parado de funcionar por alguns instantes e... eu não me orgulho disso, mas, deixei de lado meu senso, até mesmo minha empatia e justo na hora em que ela mais precisava de mim, eu fui um egoísta.

Fiquei calado por um instante, em choque. Depois me levantei, balançando a cabeça e dizendo não repetidas vezes. - May, você... você não pode fazer isso! - a olhei e ela parecia não acreditar na minha reação. - Qual o sentido disso?! No que isso vai te ajudar? - eu dizia, irritado, não com ela, mas com tudo o que estava acontecendo. Mas ela pareceu não entender.

— Dean, eu preciso tentar! Eu sei que você não consegue me entender, mas só eu sei como dói se sentir abandonada pelos próprios pais e... - ela dizia, já irritada também. Em um impulso a interrompi.

— Que ela venha atrás de você, então! Você não tem que ficar se humilhando pra ela se ela nunca quis saber de você! - assim que terminei de falar, me arrependi instantaneamente. - Desculpa, eu não queria dizer isso...

— Mas já disse... - acho que poucas vezes na vida a vi com uma expressão tão triste, apesar de já não chorar mais, ela parecia decepcionada comigo... mais uma vez. E isso me destruía por dentro, mas eu merecia. Como se não bastasse o clima pesado do momento, alguns pingos pesados de chuva começaram a cair, o que nos fez ir para casa.

Começamos a caminhar pra casa, a velocidade dos passos aumentava em sincronia com a intensidade da chuva e tenho que dizer que talvez nunca tenha vivido uma cena tão melancólica quanto aquela. Dois melhores amigos prestes a se separar, que corriam em silêncio para casa no meio de uma chuva torrencial, pois nenhum dos dois era capaz de dizer nada. E pensar que em circunstâncias normais estaríamos gargalhando, pois correr na chuva ao lado de quem amamos é sempre uma experiência divertida, mas não dessa vez. Quando chegamos na porta de casa, tentei mais uma vez falar com ela.

— May, me desculpa, eu não sei o que me deu - eu disse e ela me olhou, com os cabelos ensopados pela chuva e o olhar sem o brilho de sempre.

— Eu não quero falar disso agora, tudo bem? Só quero ir pro meu quarto e descansar. - eu sabia que ela estava mentindo sobre a parte de descansar, tava na cara que ela só queria poder chorar em paz e, pra ser sincero, eu também.

Pov. May

Não foi uma noite fácil, não sabia nem que eu era capaz de chorar tanto. Sentia uma dor tão grande, uma dor que nunca tinha sentido antes e tudo isso era muito estranho pra mim. Eu deveria estar feliz, né? Finalmente tenho paz na escola, minhas notas estão ótimas, tenho passado muito tempo com meus melhores amigos, tenho muita energia, saúde, mas não me sinto feliz. E eu nem sei explicar o porquê.

E ver o Dean não me entender, tornava tudo ainda mais difícil. Nem mesmo o meu melhor amigo era capaz de ficar do meu lado, no momento em que a única coisa que tenho feito é duvidar de mim mesma. Ele não pode imaginar o quão importante pra mim era ter o apoio dele, pra ter certeza de que essa era a decisão certa, de que talvez estar perto da minha mãe nesse período possa ser o que eu preciso pra não sentir mais tanta dor.

Os dias se passaram e era muito estranho como eu e o Dean não conseguíamos nos resolver. Ele tentou, bastante. Mas sempre acabava em um mal entendido e eu nunca conseguia entender porque ele não podia simplesmente deixar de ser tão egoísta, porque ele não podia tentar entender meu lado. Eu também não queria me separar dele, é claro, especialmente agora. Logo agora que uma parte do meu coração acredita que ele pode até estar sentindo algo além de amizade por mim. Mas, meu coração também me diz que agora é hora de seguir em frente, pois talvez o fato de que nós nunca nos tornamos nada além de amigos, signifique que não é pra ser. E eu estava pronta pra aceitar essa realidade, ir pra Londres também podia ser o que precisava pra deixar esse sentimento ir embora.

O problema é que eu nem sabia o que era uma vida sem ter o Dean por perto e só de pensar nisso, sentia um aperto no coração.

O grande (e temido) dia chegou, era véspera de Natal e enquanto tudo ao meu redor gritava felicidade e espírito natalino, eu me sentia melancólica por dentro. Era o dia do meu vôo e o início de uma nova e assustadora aventura, que eu não fazia a mínima ideia de qual seria o final, ou mesmo o meio. A única coisa que eu tinha era o início, um frio na barriga e ao mesmo tempo um pouquinho de emoção por finalmente estar vivendo algo de diferente. Era assustador, mas de alguma forma também era bom.

Enquanto tentava descer as escadas com as minhas malas, Dean se ofereceu pra me ajudar, ele desceu com uma mala e eu fui pegar a outra no meu quarto. Quando desci, vi que estávamos só nós dois e senti o frio na barriga voltar, pois não queria já ter que encarar o clima de despedida, nem mesmo pensar que em breve não nos veríamos mais.

— Acho que esse deve ser o Natal mais estranho que já vivi - ele disse, olhando para os pés e depois pra mim. Eu concordei, sem saber o que dizer. - May, eu queria aproveitar que estamos sós pra te pedir desculpa. Talvez você nem queira me ouvir e eu mereço ser ignorado, porque fui um idiota todo esse tempo - ele suspirou - Mas depois de refletir bastante, eu acho que só fui tão egoísta, porque me dava muito medo a ideia de te perder... de não te ver todos os dias. E você sabe que eu não sou a pessoa mais corajosa do mundo, quando tenho medo eu acabo sendo irracional e machucando as pessoas. - eu balancei a cabeça, não gostava quando ele falava assim dele mesmo.

— Dean, isso não é verdade, você não me machucou. Eu já estava machucada, eu estou, mas você não tem nada a ver com isso, o que me deixou triste foi só ter outra expectativa em relação a sua reação. Mas era compreensível, eu também não me coloquei no seu lugar.

— E você teria sido uma amiga muito melhor se estivesse no meu lugar, tenho certeza disso. Nem faz essa cara, que se eu tivesse que enumerar o número de ocasiões que você me apoiou quando eu estava mal, você perderia o seu vôo. O que não seria tão ruim assim... quer dizer, seria porque agora eu sei que se é o que você acha que é melhor pra você, então eu tenho que te apoiar e eu... só queria te dizer que eu tô aqui... pra o que precisar. Mesmo longe, eu continuo a ser o seu melhor amigo e estarei pronto pra ser o ombro pra você chorar mesmo se for no meio da madrugada, não importa, pode me ligar e eu estarei bem aqui. Se só quiser contar algo engraçado que viveu ou sobre alguma pessoa chata que conheceu, sou todo ouvidos e... - já estava em prantos, então tive que interrompê-lo com um abraço apertado. O que só me fez chorar mais, porque comecei a pensar como sentiria falta daquele abraço. Depois de um bom tempo, saí do abraço e percebi que ele também chorava, muito. Logo depois a tia Lucy e o tio Phill chegaram e aí que a choradeira foi geral. No fim, quase nos atrasamos por causa de toda a comoção na sala de casa, mas no fim deu tudo certo.

Chegou o momento que tanto temia e acho que nunca chorei tanto na minha vida como no saguão daquele aeroporto. Abracei cada um umas mil vezes, sempre dizendo que era o último.

— May, nem acredito nisso. Você tá me fazendo chorar em pleno Natal. - Rich disse e Dean deu um tapinha de leve na cabeça dele. Como eu iria sentir falta desses dois patetas. - Mas sério, espero que seja uma experiência muito legal e que o mundo possa descobrir o quão especial você é! E ó, faz novos amigos, mas não esquece da gente tá? - ele continuou e eu o abracei.

— Nunca Rich! Nunca vou esquecer vocês dois. Afinal... - eu disse, enquanto fingia tirar uma rapieira do bolso, como uma mosqueteira. - Somos os três mosqueteiros. - Fizemos uma cena boba no meio do aeroporto, como três crianças (que na verdade ainda éramos), mas quem se importava com o que os outros pensavam, né? Eu me sentia muito feliz de ter amigos como eles.

— Não esquece que você ainda não me deu o último abraço - Dean falou e eu olhei pra ele, já com os olhos marejados (pela 18º vez no dia), ele tinha o olhar mais fofinho do mundo, como um Golden Retriever. Tá, talvez seria mais difícil do que eu pensava superar ele. O abracei com força, pensando que esse seria o último abraço em muito tempo. - May...

— Hum? - Eu murmurei, enquanto ainda o abraçava de olhos fechados.

— Nada - ele disse e eu já estava pronta pra brigar com ele, mas fui interrompida por uma voz que dizia "última chamada para o vôo 3256 com destino a Londres" o que me fez correr desesperadamente e só ouvir as vozes atrás de mim que me desejavam boa viagem. Olhei pra trás uma última vez e olhei exatamente na direção do Dean que sorria em meio aos soluços e acenava para mim. Voltei a olhar pra frente, chorando e morrendo de medo do que me aguardava pela frente, mas me sentindo ansiosa (de um jeito bom) pelo que viria a seguir.

Por sorte, consegui entrar no avião e no momento que me sentei na poltrona, comecei a chorar e chorar e chorar. Era como se deixasse um pedaço de mim pra trás e como isso doía. Eu amava muito todos ali, mas pensar no Dean me fazia sofrer mais, porque eu nem ao menos cheguei a saber se ele sentia algo por mim também. E sentia que entrar naquele avião significava que esse era um mistério que eu nunca iria desvendar e que eu, simplesmente, devia esquecer esse sentimento e tentar seguir em frente.


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Notas finais do capítulo

Surpriseeee, mais uma dose de drama. Adoro kkkk

Até o próximooo



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