Poemas ou Travessuras? escrita por Bianca Fiats


Capítulo 14
Capítulo 14 - Verdades desnecessárias




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Onde eu estava com a cabeça? Libusee Helen Campbell você não toma jeito. Eu pretendia dar a estatueta para Scorpius, ele era um bom amigo e eu sempre podia me sentir seguro ao seu lado. Mas quando era noite de Natal e, lá estava eu conversando com a diretora durante a ceia de Natal, quando a coruja chegou. Era uma daquelas corujas alugadas para época de festas, então poderia ser de qualquer um. Mas em meu coração era dele.

Não sei quando comecei a gostar dele ou em que parte eu passei a enxergá-lo não como um garoto qualquer, mas como um… amor. E enquanto eu abria o embrulho, meu coração saltava na boca. Acho que até a diretora percebeu minha expectativa.

Porém qual não foi minha surpresa quando abri o embrulho e eu reconheci…. Era impossivel não saber que aquele era um desenho de Scorpius. Mas havia algo diferente nesse desenho. Talvez tenha sido as cores (eu só tinha visto desenhos em branco e preto) ou talvez tenha sido o fato de que ele tinha desenhado a minha alma. Era uma imagem minha, no nosso Elysium só que o céu parecia um fragmento do universo. Meus cabelos estavam esvoaçados, meu rosto corado e eu sorria. A minha imagem olhava diretamente para mim, quase como um espelho. A diretora nesse momento tinha se inclinado e estava admirando a pintura. Não havia assinaturas ou cartões, mas não precisava, pois EU sabia.

“Quem fez deve te amar muito” a diretora disse e eu quase saltei da cadeira.

“Não. É só um amigo” retruquei na hora. Meu coração não era dele… Não é?

“Oh! Então porque não pensar em um ‘talvez’. Como disse, quem fez, deve te amar muito” Ela indicou a pintura e virou-se para conversar com o professor Flitwick que sentava-se do outro lado.

No dia seguinte eu estava na porta de McGonagall perguntando se ela poderia me ajudar a bordar um cachecol. Ela não me fez perguntas e eu agradeci por isso. Por que acho que não saberia como responder.

Agora, Scorpius andava com meu cachecol para baixo e para cima. Era uma estampa dos dias com dedos cheios de curativos e noites pensando no que bordar em pelo menos uma das pontas. Se não bastasse, minha curiosidade me matou de vez. Não pude ficar de boca fechada. Tive que insistir para que ele lesse um de seus poemas? Mas ele sempre estava tão concentrado que, era quase como mostrar um doce na frente de uma criança, mas sempre longe do alcance de seus braços.

Scorpius não apenas declamou o poema mais lindo que já ouvi, como naquele instante quando ele olhou em meus olhos, novamente achei que ele veria minha alma. Mas enquanto o fazia ele abria as portas da sua própria. E eu temi olhar, por que se havia uma única palavra que eu posso descrever Scorpius é: intensidade.

Depois desse dia foi difícil aparecer na Sala Precisa. Era complicado encará-lo sem saber como reagir. Era como se antes existisse sempre aquela distância segura, uma camada fina de escudo que nos afastava. Agora não havia mais nada, era como se estivéssemos diante um do outro, completamente nus. Sem paredes, sem espelhos, sem vidro, sem nada separando. Era só dar um passo a frente e estava ali.

Para ajudar a diretora, sabia que eu era a dona do cachecol. E as vezes parecia que ela sorria para mim como se me apoiando. Isso era o pior. Não estava obvio que não era ele que vivia no meu coração?

Estava sentada no jardim próximo ao campo de treino. Foi uma tática que Albus tinha me dito para poder ao menos ver gente voando em vassouras (sem ter que usar uma poção de destemor). Eu via o cachecol cinza sobrevoando de um lado a outro, até que Albus apareceu voando na minha direção.

“Lib, como vai fadinha?”

Albus… Ele sempre fazia meu dia mais feliz. Ergui-me e me aproximei um pouco mais.

“Estou bem. Com saudades”

Ele sorriu. Era fácil fazê-lo rir, mas as vezes parecia que ele tinha facetas, que só poucos podiam ver. Albus desceu da vassoura por mim, e corajosamente me aproximei dele. Ouvimos gritos do time chamando-o de volta.

“Eles não sabem dividir”

Albus apenas riu. “Que isso, estão cheios é de inveja. Porque você veio aqui por mim”

Eu corei, porque não sabia dizer se isso era verdade ou não.

“Não é?” Albus pareceu desconfiado.

“É claro.” Mordi meu lábio inferior “Eu não diria que estava com saudades à toa. Albus eu…” Havia me aproximado dele. Porque eu tinha que fazê-lo entender. Especialmente o quanto que o beijo que ele tinha dado em Rose tinha me machucado. Eu queria um beijo dele, mas se possível consciente disso.

“Já vou..” Ele gritou para alguém atrás de nós, então me olhou “Nos vemos mais tarde?” Albus me abraçou e quando soltou minha cintura, bagunçou meus cabelos.

“Albus”

Ele parou a meio caminho de partir e me olhou inquisidoramente.

“Se fosse eu… no lugar da Rose… Você teria feito o mesmo? Porque, sabe… Você não me beijou quando descobriu meu medo”

Ele congelou e pareceu esquecer de como era falar. Scorpius vinha na nossa direção, provavelmente para arrastar Albus para o treino. Mas eu não precisava ouvir a resposta. Por que toda a fisionomia dele já me falava tudo. Então fiz o que nunca me permiti fazer na frente dos outros. Virei as costas e corri para o mais longe que podia.

♥♥♥

Estava nas docas quando ouvi passos na minha direção. Não queria saber quem era e pela primeira vez na minha vida eu não queria ficar perto de ninguém. Não queria amigos, não queria parentes. Só queria ficar só com minha própria dor.

Albus não teria me beijado.

Por que?

Todos diziam que eu era como minha ancestral. Ela era chamada de “A mais bela das ravinas”. Eu não tinha ações malvadas, com exceção das esculturas de outrem, não maltratava as criaturas magicas e com certeza não praticava Arte das Trevas. O que eu não tinha, que Rose tinha?

O som de passos estava na mesma plataforma de barco.

“Vai embora”.

“Não vou. Esse lugar é público” A voz de Rose parecia receosa. “Você disse mesmo que as transformava em flores. Por que não pássaros? ”

Eu queria lembrar o que ela tinha me dito ano passado. Só para retornar o favor, mas sempre que me lembrava de quando a vi chorando, só me via na mente o rosto dos garotos que tentaram, bem… Eles me assustaram bastante. E do meu Elysium. Eu precisava ir para lá. Por que eu vim para as docas?

“O gato não arrancou sua língua por que você já falou comigo”. Ela insistiu.

“Gosto de flores” olhei para as plantas aos meus pés.

Ela se sentou ao meu lado e não falou mais nada. Ficou brincando com as flores e copiei-a. O silêncio entre nós era até que reconfortante.

“Você não deveria me perguntar o que está de errado?”

“Acho que sim. Não tenho muitas amigas, então não sei o que fazer. Geralmente ando com os garotos. Com eles basta dar um soco no ombro” Rose encolheu os ombros “Eu nunca ajudei uma garota chorando”

“É… eu também não” Ergui o olhar para Rose e ela corou.

“Desculpe por isso...Não queria falar sobre...Ahn..Era sobre você”

Abri a boca para dizer que a ideia era a mesma agora. Mas… Bufei e me encolhi. O silêncio nos abraçou novamente.

“Eu amo Albus” soltei de repente.

Ela não me respondeu inicialmente. Vi que ela esmagou uma das flores que tinha na mão.

“Era por isso que eu chorava” Rose virou-se para me olhar “Era eu e Albus contra o mundo… Então quando ele virou amigo do Scorpius eu relevei, por que era um menino. E ele podia ter amigOs” Ela suspirou “Só que você apareceu e eu não era a única garota entre eles. Por que até então, já estava amando Scorpius também”

Passei a mão pela minha bochecha, secando os resquícios das lágrimas.

“E por isso que sempre me tratou como…?” Ela também amava aos dois? Engoli em seco, talvez fossemos mais parecidas do que acreditávamos. “Será que você poderia me considerar uma amiga também?”

Rose sorriu, cuspiu na mão e estendeu para mim. “Mas é claro”

Olhei para a mão e torci o nariz. “Acho que não é assim que amigas fazem…”

“Cospe logo Campbell” Agora ela ria.

Ergui uma sobrancelha, me preparei para cuspir e quando ia fazer na minha mão, cuspi na dela (com um som bem alto de ECA vindo dela) e apertei sua mão. “Amigas”

“Amigas” Ela concordou e apertou a minha mão.

♥♥♥

A amizade faz sentido nessas horas. Quando Albus sumiu foi um absurdo. Por mais que eu não tinha algo que me diferenciava de Rose, eu ainda gostava, muito dele. Nós infernizamos a vida de Scorpius, ou melhor, Rose fez isso. Toda vez que a acompanhava, era ela quem falava com ele. Insistindo em saber onde ele tinha ido parar, o que tinha acontecido e porque os professores não tinham respostas.

Enquanto ela perguntava, tudo que Scorpius fazia era olhar para mim buscando ajuda. E eu sabia, porque mesmo que ele tentasse disfarçar, que ele estava tão perdido como nós. Mas havia mais, ele estava triste. E não sabia como apoiá-lo.

As pessoas não pareceram surpresas quando eu e Rose começamos a andar juntas. Ouvia rumores (ou os fantasmas me contaram) que era natural que isso acontecesse, afinal eu era a queridinha de Albus e que Rose iria se render a mim. Ou que nós eramos muito parecidas para ficar separadas. E toda essa empolgação de finalmente ter uma amiga, não poderia ser apreciada ou comemorada. Nem questionar os rumores eu poderia, porque tudo que tínhamos na cabeça era o sumiço de Albus.

Dois dias depois ele apareceu no colégio sendo escoltado pelo pai e com um baita olho roxo. Era assustador imaginar o que havia acontecido. E pelo jeito, Scorpius parecia tão frustrado quanto nós, por que Albus voltou sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

Quando chegamos perto dos dois, Rose correu e começou a bater em Albus. Provavelmente querendo colocar o olho direito tão roxo quanto o esquerdo. Parei ao lado de Scorpius e, apesar da dor da preocupação, foi pior ver que aqueles dois se fecharam em um mundinho só deles, esquecendo de mim e Malfoy.

Ela batia com punho fechado no peito de Albus e gritava com ele que era um imbecil por ter nos preocupado. O rosto de Albus ia ficando cada vez mais sorridente, se é que isso era possível.

“Também senti saudades Rose” Então ele se ajoelhou diante dela. “Eu te amo Rose Weasley, você aceita ficar comigo hoje e para sempre?”

Não sei quando, mas senti a lateral do meu corpo quente pela presença de Scorpius. E apenas saber disso, que ele estava lá, me impediu de perder a força nas pernas.

“O que você quer dizer com isso Albus? Não é hora de brincar” Rose bateu uma última vez no ombro dele, o que fez com que ele caísse sentado no chão.

“Estou falando a sério. Cansei de esconder meus sentimentos. Eu quero você Rose”

“Não diga isso seu infantil. Você ficou com TODAS as garotas de Hogwarts, e está dando em cima de Libusee desde… sempre. NÃO me diga que me quer”.

“Sua bobinha, eu não podia te ter. Somos primos. Então procurei nelas pedaços de você. Mas nunca foi o certo. Nunca pareceu o certo” Ele torceu o nariz. “E Lib? Ela é como uma irmã para mim. A irmã que eu nunca tive.”

“POTTER!” Rose gritou com ele, ignorando as apunhaladas que eu recebia. Acho que minha blusa devia estar manchada de sangue “Você tem uma irmã. Lilly? Lembra-se dela?”

Ele fez um gesto de desdém. “Detalhes! Detalhes! Mas você não respondeu. Estou sério dessa vez. Sem brincadeiras. Eu te amo Rose. Não aguento mais ficar sem meu coração completo. Os faraós se casavam entre primos, por que nós não podemos?”

“Mas o que…?”

Eu parei de ouvir. Senti minhas pernas falharem, e só não fui para o chão porque Scorpius me segurou. Tínhamos uma plateia imensa. Outros alunos tinham vindo saber o que tinha acontecido com Albus. Olhei para Scorpius procurando algo. Ele começar a rir e gritar brincadeira. Mas não… Ele me olhava tão perdido quanto eu.

Fechei os meus olhos, desejando desaparecer. Acho que só estava de pé, por que os braços de Scorpius me amparavam. As pessoas não reparavam em nós, e mesmo se tivessem, não me importava com o que pensariam. Eu estava morrendo pouco a pouco. A vida não é um mar de rosas.

De repente eu não estava mais no meio dos alunos. Scorpius estava me puxando pela mão, ou guiando-me pelo braço. Não sei. Não vi por onde nós passávamos. Não foi um caminho normal, ele parava na frente das paredes e falava algo, elas se abriam e estávamos em outro lugar. Ah! As senhas, sim… Os retratos com senhas. Atalhos. Para onde? Não importava. Talvez para a torre do relógio, e assim eu poderia morrer em paz, no meio das teias de aranhas… Sim. Logo lá.

Paramos novamente e Scorpius pareceu indeciso de me largar. Eu devia estar travada, mas assenti com a cabeça. Não sei por que, só o fiz. Quando ele me soltou e começou a andar de um lado para o outro, percebi onde estávamos. No sétimo andar, diante do lugar onde o Elysium se abria. Ele andou três vezes e uma porta surgiu. Eu não me importava com paisagens bonitas, e não acho que o Elysium fosse me ajudar. Mas deixei que ele me puxasse. Quando ele abriu a porta e entrou, me puxou para dentro. E o mundo pareceu errado e certo. Estávamos em um armário pequeno, mal cabia os dois juntos. Mas ele apoiou as costas contra o fundo do armário e me abraçou. Não havia luz, só o que vinha da porta, que ele imediatamente fechou. Não havia um único pedaço do meu corpo que não estava pressionado contra o dele. Ele beijou minha testa e depois puxou meu rosto contra seu peito.

“Você já pode chorar, ninguém vai te achar aqui”

“Como...sabia?”

Scorpius não falou mais nada. E eu agradeci que ele conseguia me enxergar quando ninguém mais podia. Por que eu não queria flores, eu não queria tapinhas no ombro. Eu só queria um lugar para me enterrar. E essa era a forma mais segura. Abraçada nele, deixei-me cair contra seu corpo. Ele sentou, me puxando com ele para o chão. Ele entreabriu as pernas e fiquei entre suas pernas. Scorpius beijou minha testa, foi beijando o caminho do meu nariz. Beijou minhas lágrimas. Eu estremecia em seus braços a cada beijo. Então ele parou, ouvi ele bater com a cabeça contra o fundo do armário e colocar meu rosto no seu ombro.

E eu chorei.


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