—Tem certeza Rachel? - Thalia perguntou receosa.

—É o que parece. Você mais do que ninguém sabe que ela pode mudar de opinião, mas ao que consta, daqui a algumas semanas.

Ela suspirou. Ártemis estaria no acampamento logo, e ela não queria que ela descobrisse sobre Nico. Não que algo tivesse acontecido, mas não valia a pena arriscar. Fazia alguns dias desde que tivera saído com Nico e desde então não o vira mais. Estava preocupada e desconfiada. Não seria a primeira vez que um cara deixaria uma garota a ver navios. Tinha prometido a si mesma que tiraria todo e qualquer pensamento da cabeça sobre ele caso não tivesse noticias até o jantar daquela noite. Lide com suas escolhas, Thalia.

—Ei Thals, não esqueça: hoje ás 8. - Will passava com seu arco por onde ela estava. Parecia animado. - Vai ser o melhor jogo da temporada.

Ela acenou com a cabeça e ele partiu. Tivera prometido a Will que eles veriam o jogo dos Yankees, seu time favorito. Apesar de não saber nada do beisebol, ela ainda o devia uma saída depois do desastroso encontro a três. Não gostava de lembrar daquele dia, pois sabia que estava errada e isso a irritava.

Viu-se de repente pensando em Nico e na última vez que o vira. O prazo que tinha dado a si mesma tinha se esgotado, e apesar de um pouco chateada, decidiu seguir em frente. Naquela noite, quando Nico se despediu, ele nem a deixara terminar de falar. Apenas deu um passo para trás e desapareceu nas sombras. Na hora ela até achou uma atitude charmosa, não seria impressionante vindo dele. Mas depois de quase uma semana sem vê-lo, ela mudara de ideia. Will apareceu em sua porta e os dois foram para o jogo.

—Você sabe que terá que me explicar todo o jogo não é? - Thalia disse enquanto eles sentavam em suas cadeiras.

—Eu sei. Provavelmente mais de uma vez, mas hoje eu até que estou com paciência. - ele respondeu. - Além do mais, ver um jogo da sua cidade é bem mais divertido que ir ao parque de diversões com um emo.

—Não seja desagradável. Nico devia ter a intenção de me divertir, apenas isso. - ela deu de ombros.

—Nossa Thalia, você não é tão ingênua assim não é? - ele disse exasperado. - Sabe muito bem que aquele cara tem alguma intenção maligna com você.

—É claro, até porque eu sou uma garotinha virgem que nem sabe se defender e precisa ser alertada e protegida pelo amigo. - ela revirou os olhos. - Já estou bem crescida para distinguir qualquer tipo de intenção que alguém tenha em relação a mim, que isso fique claro para você também.

—Eu? Minha intenção é apenas faze-la feliz. - Will deu um sorriso convencido.

Os dois assistiram ao jogo bastante entusiasmados. Will explicara como tudo funcionava, e Thalia gostou de assistir. Prometeu a si mesma que sairia mais com Will, já que percebera que afinal de contas, ele era seu melhor amigo. Sabia que ele sempre estaria ali quando ela precisasse e isso a deixava em paz.

Quando voltaram ao acampamento, já não se via mais campistas a vista. Thalia começou a tirar a jaqueta dele enquanto chegavam na porta de seu chalé.

—Prometo que vamos a mais jogos. - ela começou. - Não sabia que eu podia gritar tão alto daquele jeito.

—Meu ouvido que o diga. - disse ele. - Incomparável a sensação de um jogo do seu time do que entrar numa roda gigante, não é? Uhh. - ele balançou as mãos de forma desanimada.

—Pare de se comparar a Nico. - ela estendeu a jaqueta.

—Tudo bem, eu paro. - ele respirou fundo. - Antes de ir, quero falar uma coisa.

Ela esperou. Will ficou tenso de repente, e ela percebeu. Não sabia o que esperar agora.

—Desde que você veio para o acampamento novamente que nós somos amigos. - começou depois de alguns segundos. - E faz muito tempo Thalia, muito tempo mesmo, que eu gosto de você. - ele se aproximou. - Eu não sei se você viu, mas eu deixei de ficar com qualquer outra garota para que você me notasse. Eu sou apaixonado por você, e você sabe disso agora.

Will estava segurando o rosto dela agora. Ela olhava para baixo nervosamente enquanto ele falava. Achava que era só impressão sua, mas vira agora que estava errada. Ela gostava de Will, ainda que não romanticamente. Nunca o tinha visto desta forma, e ele confessar isso deu a ela uma reconfortante sensação de se sentir desejada. E era exatamente o que ela precisava agora.

Thalia apertou o casaco em sua mão quando ele levantou seu rosto e a beijou. Ela retribuiu o beijo. Estava feliz por saber que, ao menos, alguém gostava dela. Jogou os braços ao redor de seu pescoço e sentiu o corpo quente e aconchegante dele se encontrar ao dela. Seu beijo era carinhoso e tranquilo. Ele segurava sua cintura quando ela desceu as mãos para seu peito e se afastou levemente.

Ele sorria, ainda sem proferir nenhuma palavra. Ela segurou a maçaneta da porta e entregou o casaco dele.

—Depois nos falamos. - ela disse em voz baixa. Will deu um beijo na sua testa e saiu.

Thalia se arrependeu dessa frase assim que ela saiu de sua boca. Fechou a porta, expirando. Largou a bolsa na cama e tomou um banho. Colocou seu pijama curto e sentou na cama enquanto desembaraçava o cabelo. Soube que dar esperanças a Will não era certo. Ainda mais quando estava com outra pessoa na cabeça. Ártemis não a expulsaria por conta de um beijo. Mas a expulsaria se soubesse que ele teve um envolvimento mais profundo com alguém, e, principalmente, que se apaixonasse. Afinal, ela era uma caçadora pura e fria, ou ao menos deveria ser.

A maior parte dela estava feliz por saber que Will gostava dela, a fazia bem sentir isso. Mas uma outra parte, ainda que pequena, continuaria ali, incomodando-a, dizendo que ela não gostava dele desse mesmo jeito. Ela gostava muito de Will, mas se sentia confusa, pois a muito tempo era carente desse tipo de carinho. Queria poder sentir um terço da ânsia que sentiu quando estava perto de Nico. De toda a tensão que quase se podia cortar com uma faca quando estava perto dele.

Ela ouviu algo que parecia uma tosse fraca. Pegou uma faca e abriu a porta.

—Thalia...

Ela olhou em direção ao canto de sua pequena varanda, de onde vinha o som. Forçou os olhos para a escuridão e reconheceu a pele pálida.

—Deuses. - ela abaixou-se rapidamente. - Nico! Nico, você está bem? O que aconteceu?!

—Receio que não. - ele disse fracamente e baixou a cabeça em direção ao ombro. Havia um rasgo grande nele.

—Preciso leva-lo para a enfermaria. - Thalia ajudou-o a levantar. A pele dele era fria.

—Não, não faça isso. - ele disse imediatamente. - Apenas ajude-me a ir até o meu chalé, por favor. Eu te conto o que aconteceu.

Ela olhou-o preocupada. Ele tinha escoriações e sangue seco por todo corpo. Ele sustentou o olhar dela. Thalia não tinha ideia como, mas sabia que devia confiar nele.