A fogueira tinha chamas roxas, em razão do Halloween. Thalia depois de jogar parte de seu jantar ali em oferenda, foi até a mesa de Deméter.

—Liz, como você está?

—Estou ótima. – A garota sorriu. – O raio não foi muito forte. E bom, depois que sai de lá, Quiron me explicou da briga eterna de Zeus e Deméter por causa de Perséfone, então acho que não foi algo realmente destinado a mim.

—Mesmo assim, quero que fique com as minhas desculpas pelo meu pai. – ela explicou. – Não há justificativa que faça ele te machucar gratuitamente.

—Esqueça isso. Minhas irmãs falaram que as vezes isso acontece, e que provavelmente não será a última vez.

—É, eu acho que não. - ela sorriu sem graça. 

Lembrou de quando ajudou Liz, e logo de Nico. Foi para seu chalé correndo. Quando chegou lá, começou a revirar todo seu armário com certa agitação.

.............

O celular de Nico tocava pela milésima vez. Era Rose ligando para ele, provavelmente para lhe lançar aquela conversa de sempre, da qual ele já estava cansado. Ele gostava dela, mas sempre soube que nunca a amaria. Durante o namoro, Nico sempre se sentia vazio, sem excitação, sem paixão nenhuma. Não era nem de longe o que ele tinha imaginado o que seria um relacionamento. Rose o tratava quase como um objeto, um troféu para mostrar ao resto do mundo o casal perfeito que eles eram. Ela não era uma pessoa particularmente má. Apesar de sua família ser rica, ela trabalhava como aeromoça, tinha o próprio apartamento, era independente, cuidava e se preocupava com AJ, amigo de Nico que fazia parte da banda. Mas apesar disso tudo, seu único defeito era seu gênio. Achava que tudo no mundo tinha que ser do seu jeito, que todos tinham que estar aos seus pés. Não aceitava um não como resposta e odiava perder em qualquer coisa. O fato de tratar Nico como uma aquisição e não como um namorado, incomodava-o muito. Ela podia ser perfeita, mas não para ele. Eles nunca foram o casal perfeito, apesar de a todo custo ela querer impor isso. Rose queria mudá-lo. Ela idealizava um namorado corretor da bolsa de valores, que a levasse a coquetéis e jantares luxuosos, fazer ela parar de trabalhar para ter uma vida de viagens. Quando Nico terminou o relacionamento afirmando que não era alguém assim, ela não aceitou, pois estava perdendo-o. Ela gostava dele, pois achava que ele podia mudar, e então seu relacionamento podia ser perfeito. Desde então, por várias vezes, os dois tiveram recaídas, mas sabiam dentro de si que tudo era apenas um jogo de egos. Ela não aceitava perder, e ele tinha medo de ser abandonado de novo, como aconteceu com sua irmã. Os dois não sabiam realmente o que queriam. E então, quando Thalia apareceu, Nico sentiu seu coração abrir para algo que parecia real, novo. E ele não queria perder aquilo por causa de Rose. Desligou o celular e o jogou dentro da gaveta.

Levantou-se da cama e foi tomar um banho. Sorriu para si ao imaginar se Thalia estaria ansiosa para vê-lo. Ele sempre vira ela no acampamento, mas nunca tinha olhado para ela de verdade. Lembrava-se dela mais jovem, com o cabelo curto e suas camisetas de banda. Ela era definitivamente uma garota rebelde. E, no entanto, ela continuava assim, só que agora ela tinha crescido e era uma mulher linda. Thalia havia amadurecido. Sua rebeldia, sua falta de paciência e sua atitude continuavam ali, mas agora dividiam espaço com certa dose de malicia, charme, encanto. Thalia, aos olhos de Nico era totalmente imprevisível, e ele adorava isso. Ansiava por mais. E agora, só de pensar em ficar sozinho com ela, suas mãos ficavam frias, um sorriso seu se estabelecia no rosto.

Desligou o chuveiro e se apressou.

...........

Thalia tinha trocado de roupa e agora estava sentada na sua cama arrumando o cabelo. Estava passando do ombro e descia liso e preto. Penteou sua franja e suspirou. Bateu o pente na mão, levantou da cama, andou de um lado para o outro, estava inquieta.

Ouviu uma batida na porta.

—Hey.

—Ah, oi Will. – Ela sorriu, sem demonstrar sua decepção.

—Nossa, você está bonita. – Ele elogiou, com os olhos brilhantes.

—Concordo plenamente. - Nico disse com sorriso de malícia contida. – Está pronta?

—Pronta para o que? – Will mudou o tom de voz.

—Nico me convidou para sair, mas esqueci que tinha combinado com você. – Ela explicou. –Eu...

—Na verdade, – Will a interrompeu. – você disse que não sabia.

—Então acho que nós podemos ir. – Nico se aproximou dela.

—Mas...- ela começou.

—Não, Thalia. – Wil disse, visivelmente incomodado. –Você já disse sim para ele. Com licença.

Quando Will ia se afastar, Thalia o segurou.

—Will, eu disse que não sabia porque devia estar distraída. – ela disse. – Com certeza teria sido sim. – Ela se virou para Nico. – Eu não lembrei disso, me desculpe. Já que os dois estão aqui, e acredito que seria um desperdício perder um dos dois, podíamos sair os três juntos.

—O que? - os dois falaram juntos.

—Qual é o problema? – ela cruzou os braços. – Desse jeito eu não furo com nenhum dos dois.

—Escute Thalia, eu planejei sair com você, não com.… ele. – Nico disse.

—Pois é, eu também. – Will respondeu prontamente. – Vai ter que escolher um dos dois.

Ela riu.

—Fora de cogitação. –ela balançou a cabeça. –Vocês não vão me fazer escolher um dos dois para que o outro seja a vítima injustiçada por mim. A decisão é de vocês. Ou eu saio com os dois, ou com nenhum.

—Está sendo injusta. – Nico se manifestou. – Ele está invadindo o nosso encontro, eu não deveria pagar por isso.

—Eu não estou invadindo o encontro de ninguém, convidei Thalia bem antes de você. –Will disse.

—Escute Nico, se eu tivesse lembrado que tinha combinado com Will, voce nem estaria aqui. – Ela explicou calmamente.

Nico revirou os olhos.

—E então? – ela perguntou.