*Narração em Terceira Pessoa*

—Mônica... Sem querer interromper vocês mas... Posso conversar com você sobre algo... Urgente...? -perguntou Magali.

—Claro, Magá. Te vejo depois, Cê. -respondeu Mônica, se virando em seguida e dando um beijo de leve nos lábios do Cebola.

Magali levou a Mônica para um canto não muito povoado do cursinho. Mônica percebeu direito como estava a Magali e se apavorou.

—Amiga... Meu Deus o que aconteceu com você?! -perguntou Mônica, assustada.

Magali se encontrava realmente péssima. Estava cheia de olheiras roxas em baixo de seus olhos, o cabelo estava bagunçado e nem mesmo ela lembrava se tinha escovado os dentes.

Ela não escovou.

Mônica, horrorizada com a pessoa à sua frente, meteu uma bala de menta dentro da boca dela e começou a arrumar um pouco o cabelo para que ele não parecesse tão feio assim (ela agradeceu silenciosamente por ter tido Barbies).

—Magali, me passa o pó. Rápido. -disse a Mônica, ainda consertando o cabelo da Magali. Em seguida, estendeu a mão esperando o pó, mas a Magali fez uma cara de do-que-você-está-falando.

A coisa ficou séria.

—Magali, o pó. Dentro da sua bolsa. Você sempre carrega um kit de maquiagem dentro da sua bolsa. -disse a Mônica novamente, se irritando.

—Eu... Eu acho que deixei em casa... -respondeu Magali, sem reação.

—Senta, Magali.

—Tá... Mas...

—Me conte agora o que diabos aconteceu com você. Bebeu muito?

—Nem bebi.

—Usando drogas?

—Não sou louca. Como é possível uma futura nutricionista usar drogas?

—Tá bom, então. Mas mesmo assim vai me explicar.

Magali respirou fundo, e deixou fluir.

—Amiga, você... -começou ela, já com os olhos lacrimejando. -Você já gostou de duas pessoas ao mesmo tempo?

Houve um minuto de silêncio. Depois, Mônica respondeu.

—Sim. Houve uma época em que eu gostei de duas pessoas. Cebola e Do Contra, lembra?

—Ah, sim. Lembro. -respondeu Magali. -Mas assim... O que lhe fez escolher o Cebola...?

—Várias coisas, Magá. Por mais que eu fosse mais feliz com o Do Contra, eu tenho história com o Cebola. E não é só isso. Nosso relacionamento se descrevia de altos e baixos, mas sabe quando você quer ficar muito com uma pessoa e não consegue mais esperar? Foi o que aconteceu com a gente. Transformamos o que não era real no que é real. Cebola deixou seu orgulho de lado. Me pediu em namoro de novo. Eu aceitei. Porque lá no fundo, eu sabia que meu coração batia e ainda bate mais rápido e mais forte quando estava com ele. Comecei a perceber que, eu gostava do Do Contra, mas não da forma que eu achava que gostava. Com o Cebola foi diferente. Eu percebi que na distância sentia falta dele. Nos beijos sentia seu calor se chocando com o meu. Nas batidas cardíacas, sincronizávamos. E no amor, somos almas gêmeas. Eu não gostava do Cebola. Eu estava apaixonada por ele. Foi o que me fez escolhê-lo. Resumindo, ele me faz mais que bem.

Magali ficou intensamente comovida com o que a Mônica falou pra ela. Após aquilo, se sentiu confiante de si que poderia fazer a coisa certa. Mas não tinha certeza do que era exatamente.

—Mô, Cascão esteve lá em casa ontem. -disse Magali.

—Sim, eu soube. Ele até convidou a mim e o Cebola para irmos também. Mas o Cebola e eu tínhamos combinado um cinema. -disse a Mônica logo em seguida.

—Uhum... Bem... Eu e ele quase nos beijamos enquanto assistíamos a um filme violento, comendo pizza. Foi na sala de estar.

—Nossa. E por que quase?

—Porque... O Quim chegou de Goiânia... Pra me visitar... E eu não sabia... Ele queria fazer uma surpresa pra mim...

Mônica arregalou os olhos. Magali percebeu, mas continuou.

—Ele chegou na hora em que íamos nos beijar. Atendi a porta e fui lá pra fora conversar com ele sobre o nosso relacionamento. Acabei não conversando nada sobre isso. Perdoei ele pelas mancadas que deu... E ele trouxe esse bracelete pra mim.

Magali mostrou o bracelete presenteado pelo Quim. Mônica continuou de olhos arregalados.

—Foi aí... -Magali continuou, com os olhos se enchendo de lágrimas novamente. -Que o Cascão entrou em cena.

—E-Ele viu?! —exclamou Mônica.

—S-Sim...

Mônica passou as duas mãos na cabeça, colocando o seu cabelo para trás no processo, como se estivesse desesperada.

—Magali, acho que não tem como isso piorar... -perguntou ela.

—Bem... Eu vi que ele tinha me escrito um bilhete... -disse Magali, entregando o bilhete do Cascão à ela para ela dar uma olhada no que ele escreveu.

Mônica leu todo o bilhete e ficou arrasada mais ainda.

—Meu Deus... -disse Mônica.

—Eu... Eu sei que as coisas estão feias... Isso... Isso é tudo culpa minha... -disse a Magali, com as lágrimas rolando pelas bochechas.

Mônica a abraçou fortemente no momento em que as lágrimas da Magali começaram a rolar descontroladamente para fora de seus olhos. Mônica sentiu muita pena.

Até que ela se lembrou da primeira pergunta da Magali.

—Magá... Você havia feito uma pergunta pra mim... -disse a Mônica. - "Você já gostou de duas pessoas ao mesmo tempo?", não foi essa a pergunta?

—S-Sim... -respondeu Magali, de cabeça baixa.

—Por que você fez essa pergunta?

—P-Porque no momento eu estou passando por isso...

—Como assim "passando por isso"? Você gosta do Quim e do Cascão ao mesmo tempo?

—É... É isso aí.

Houve mais um minuto de silêncio. Depois, Mônica fez uma pergunta para a Magali.

—Magá, por quem o seu coração bate mais rápido?

—Eu... Eu não sei... -respondeu a Magali.

—Você se sente mais confortável do lado de quem?

—Eu não sei!

—Eu mereço...

Mônica pegou a Magá pelos ombros e a trouxe pra mais perto de si. Seus olhos estavam grudados um no outro. Os olhos da Mônica a encaravam profundamente.

—Quando descobrir estas informações, você terá a sua resposta. às vezes, a escolha certa é o mais difícil de fazer. Lembre-se disso. -disse a Mônica, soltando-a e indo embora para a sala de seu cursinho.

Magali ficou em silêncio por dois minutos, olhando para o nada. Depois, riu baixinho e foi embora também para a sala de seu cursinho.