Treinar com Alec não me deixa animada. Se a irmã dele me odeia, e eles parecem bem apegados, não quero nem saber o que ele fará comigo amanhã. Talvez ele decida demonstrar os poderes em mim, ou talvez, ele peça ajuda à irmã.

Vou em direção à saída para pegar um pouco de ar. Consegui decorar o caminho que me leva do meu quarto até a saída, mas se eu entrar em algum corredor que não deveria, ficarei completamente perdida e não conseguirei encontrar a trilha que me leva para um desses dois lugares. Podiam colocar alguns quadros nos corredores para ser mais fácil de identificá-los, ou quem sabe colocar umas placas como as da rua.

Nada na cidade está diferente. Volterra é o tipo de cidade chata em que as pessoas fazem sempre a mesma coisa. Todos os dias. Ninguém sai à noite para curtir a vida noturna. Pelo menos não desse lado da cidade. Apesar disso, eu gosto da calma que ela transmite. Minha vida já é bem louca.

Sigo andando por algumas ruas tentando não me distanciar muito da torre do relógio e decorando o caminho de volta. É difícil apreciar a vista e tentar acalmar a mente tendo que prestar atenção em que rua eu viro.             

Escuto um ruído. A parede a meu lado tem uma sombra a mais. Quem estaria me seguindo? Tento acalmar minha respiração que está começando a acelerar e olho para trás pronta para encarar meu seguidor. Não vejo ninguém. Olho para a parede novamente e a única sombra que vejo é a minha. Será que existia uma realmente? Estou começando a ficar paranoica. Minha consciência começa a pesar. Não avisei Aro que estava saindo. Talvez, ele tenha mandado Demetri para me procurar novamente.

Era difícil me lembrar de informar para onde estava indo quando não tinha o hábito de fazer isso nem quando morava com minha mãe. Se eu avisasse, ela não iria se lembrar mesmo. Na verdade, não tenho muita certeza se ela sabia que eu morava com ela. Se eu saísse e passasse dias fora ela nem iria notar. Talvez, ela nem tenha percebido que estou há meses longe de casa.

Decido voltar para a torre. Começo a refazer meu caminho quando ouço um barulho mais uma vez. Viro novamente e dessa vez encontro um homem nas sombras. Pelo menos parece um. Não consigo ver seu rosto, mas os olhos vermelhos brilham na noite. Quando pisco os olhos, ele some.

Ando mais rápido em direção à torre. Seria mesmo algum dos Volturi? Eles poderiam estar querendo me assustar para me ensinar a não sair da torre sozinha outra vez. Quero muito acreditar nisso, mas uma parte da minha mente não acha possível. Não tem como ser um vampiro fora do clã. Volterra é a cidade mais segura para se morar. Sem falar que ser algum vampiro de fora entrasse em Volterra, os Volturi saberiam, não é?

∞

Acordo com os olhos pesados de uma noite mal dormida. Demorei a pegar no sono pensando no misterioso homem das sombras. Ainda não tinha chegado à conclusão se era um Volturi ou não, e não queria tocar no assunto. Se tudo isso fosse uma brincadeira de Demetri, ia me sentir idiota por ter ficado preocupada. Não havia motivos para isso. Aposto que Aro mandava alguém me vigiar sem que eu percebesse.

Ficaria repetindo isso até meu cérebro aceitar.

Sento na cama e vejo um par de olhos vermelhos à minha frente. Grito.

— Você está atrasada – diz Alec.

— Você é maluco? Está tentando me matar? – pergunto com o coração acelerado – E como entrou aqui? Você não pode invadir meu quarto dessa forma. É invasão de privacidade! – Alec continua me olhando sem alterar a expressão – E se eu dormisse pelada?

— Então, eu sugiro que você tranque a porta – diz ele sorrindo – Levante logo que temos muita coisa para fazer. Cinco minutos para comer e se arrumar.

Ele começa a ir em direção à porta quando pergunto:

— Se não?

Ele para e me olha. Não diz nada. Apenas vira e sai. Acho que entendi. Ele me arrancaria daqui se tivesse necessidade.

Desço da cama, como e troco de roupa. Tudo isso dura mais de 5 minutos, mas Alec não volta para me apressar ou me arrastar pelos cabelos. Ainda bem.

— Você está atrasada – diz Alec quando entro na sala de treino.

— Já sei. Você fez questão de invadir meu quarto para me informar isso.

Eu, definitivamente, não deveria estar falando com ele assim. Seus poderes são tão perigosos quanto o da irmã, ou talvez mais, mas não me sinto ameaçada. Ele é mais paciente que a irmã, ou eu já estaria sob os efeitos de suas habilidades paranormais.

— Creio que já sabe meus poderes, certo?

— Certo.

— Ótimo! Vamos começar bem devagar para não te forçar demais. Vamos fazer como você fazia antes. Eu uso meus poderes, você vê como é e tenta fazer o melhor possível. Michael irá nos ajudar.

Não havia notado a presença do Michael até Alec apontá-lo. Parece que ele será o alvo mais uma vez. Pobre Michael.

Uma névoa preta sai das mãos de Alec e vai em direção a Michael escondendo seu rosto por completo. Entro na mente dele percebendo que já deveria ter feito isso e vejo o poder de Alec agindo. Ele tira todos os sentidos de Michael. É como se Alec o deixasse trancado em uma sala escura e sem gravidade apenas com seus pensamentos. Pode não causar dor, mas sua própria mente pode ser bem destrutiva.

Em poucos segundos, Michael está de volta, mas tenho certeza que pareceu muito mais para ele.

— Pode ir – diz Alec. Michael logo sai da sala – Agora você irá treinar em mim. Vamos começar com algo fácil. Quero que tire minha visão.

— E como isso pode ser fácil?

— Claire, quando você chegou aqui – diz Alec resignado – você sumiu da visão de todos. Você fará a mesma coisa só que irá tirar outros elementos junto.

Apesar de não ter muita prática, entrar na mente de Alec e tirar minha imagem é o mais fácil, meu problema seria eliminar toda a sala. Pelo menos, ela não tinha móveis. O dia seria longo...