E agora, Legolas? escrita por Primadonna


Capítulo 9
VIII: A segunda lâmina


Notas iniciais do capítulo

Hey, baes.
Sim, eu li todos os comentários e todas as mensagens que vocês deixaram na minha mai box. Eu sinto muito por não ter postado, sinto mesmo. Eu estou 100% sem tempo e já escrevi esse capítulo 19023832190x até chegar no que eu fiz hoje. Eu reli a história toda e não me lembro de alguns princípios, mas prometo que estarei me adaptando da melhor forma que puder. Queria muito das satisfações melhores, mas eu sinto que não tenho essa dívida, tampouco que posso justificar o meu cronograma; ele é assim e ponto final.
O próximo capítulo será voltado para Thranduil, by the way. Espero que gostem!



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Treze anos e meio

O menino havia crescido cada vez mais quieto. Desde que fora deixado sozinho por quase quatro anos pela figura paterna, que se concentrava junto com o exército da Floresta Verde em uma aliança com os anões, homens e, diziam, que até mesmo de hobbits, não havia alguém que realmente fosse querer compartilhar suas inúmeras aventuras. O sentimento de solidão e as mensagens trazidas por pergaminhos de tempos em tempos não satisfaziam o vazio que ele começava a cavar dentro de si mesmo. Os criados e até mesmo soldados tentavam animar o príncipe, que sempre se mostrou educado e grato pelas tentativas; entretanto, o olhar de Legolas sempre acabava vago. Os únicos momentos em que se sentia um pouco mais liberto aconteciam quando estava com Mestre Taranthiel.

Todos os dias via novos elfos sendo levados para e outros retornando de batalha. Já havia começado o seu treinamento e apenas a presença de Taurino tornava as coisas menos impressionantes. O elfo casmurro sempre fazia piadas às costas dos soldados e dos outros que treinavam com eles — e, profundamente, Taurino apenas fazia aquilo porque sentia que o herdeiro da Floresta Verde se fechava um pouco.

Por mais que hora ou outra levassem uma bofetada por rirem demais na fila de treino, haviam conquistado uma nova amizade. Seu nome era Artemisia, elfa de longos cabelos ruivos e sardas que davam a impressão de que sua pele era venenosa. Já fazia um ano que os três participavam dos treinamentos e o laço crescia. Eram sempre Taurino e Artemisia quem davam as piores ideias durante as corridas, saltos e duelos com espadas de madeira — os quais Legolas detestava e era péssimo — para divertirem-se um pouco. As outras crianças, em sua maioria, ficavam incomodadas. Não era da natureza élfica ser tão desordenado.

Para aquele dia, haviam firmado o encontro para escapar do treinamento e se aventurar pela floresta atrás do castelo para caçar anões e homens, atividade que era pertencente de Legolas e Taurino e que, infelizmente, não acontecia há bons meses. O loiro havia se animado, pelo menos aquilo poderia realmente deixá-lo melhor. Acordara animado quando o sol começou a surgir, mesmo com as pernas doloridas por conta da corrida que os soldados impuseram na tarde anterior e não tardou para prender os médios cabelos prateados, pensando em pegar uma trouxinha de comida na cozinha, para finalmente encontrar os amigos.

O primeiro passo para fora de seu quarto lhe entregara de bandeja o recado: ele não participaria da brincadeira.

A conclusão rápida chegou ao menino pela movimentação exagerada de soldados, conselheiros e criados e pelos vestígios no corredor: grande parte estava suja de barro e sangue. Os olhos azuis de Legolas se voltaram diretamente para a porta que se encontrava no fundo, entreaberta para o fluxo dos demais elfos. Ele deu passos rápidos até o cômodo, não sendo impedido por alguém. O cenário era composto de um general conversando com seu pai, que tinha o corpo sendo vagarosamente limpado e curado ao mesmo instante.

Um silêncio permaneceu quando sua presença fora notada, não por Thranduil, mas pelo próprio general.

— Podemos discutir isso mais tarde. Majestade. — dissera o oficial, fazendo um gesto em seguida em sinal de respeito, tanto para o pai quanto para o filho, antes de abandonar o quarto.

Legolas quase não reconheceu o pai quando o olhar do mesmo pousara em si. Os olhos azuis estavam extremamente frios e as feições pareciam sombrias. Talvez o sangue seco e a sujeira pegajosa e difícil de ser removida ao redor do corpo colaborassem para aquela impressão. Ele sentiu o coração fraquejar algumas batidas e torcia para que as orelhas de Thranduil estivessem um pouco danificadas para que ele não pudesse ouvir.

— Senhor. — Legolas cumprimentou, levando os dedos ao peito e recebendo-o da mesma forma. — É bom tê-lo em casa novamente.

— Legolas. — Thranduil retribuiu a fala, a voz bem mais rouca do que quando havia saído. Um arrepio percorreu a espinha do mais novo: quatro anos não eram nada para um elfo, mas para um jovem elfo, era tempo perdido demais. Apesar daquilo, ele estava extremamente feliz. Seu pai havia retornado para casa! Ele já podia fantasiar todos os momentos que teriam juntos, tudo o que ele poderia contar sobre o exército e os outros elfos que conhecera. É claro que levaria um tempo para tudo se normalizar, já havia escutado que períodos pós-guerras tendiam a ser tensos. O problema é que nada tirava a esperança de uma criatura tão cheia de luz como Legolas se encontrava naquele instante. — É bom retornar.

— Grande batalha, suponho. Mestre Taranthiel disse-me que...

— Ouvi dizer que está tendo problemas com a espada. O que aconteceu? — Thranduil logo cortou-o quando ele abria um primeiro sorriso para mostrar o orgulho que sentia do pai. Legolas havia murchado. Já detestava as espadas e saber que aquilo era o que seu pai tinha para lhe dizer depois de anos fora do lar era frustrante.

— Não… Não sei se levo jeito para espada. — murmurou baixo, abaixando o olhar quando outra criada aparecera com um antídoto para enxarcar os braços do rei.

— Isso não existe. Você precisa treinar mais. — disse ríspido, não fazendo uma careta sequer quando o líquido ferveu em sua pele.

— Sim, senhor. É exatamente o que eu estava indo fazer. — o príncipe se curvou, pronto para dar-lhe as costas e correr para a floresta em amargura.

— Legolas… — o rei chamou-o antes que ele saísse. Talvez tivesse percebido que havia sido duro demais e sequer havia reparado nas mudanças no rapaz, que mais tarde o encheria de orgulho. — Espero vê-lo no jantar. — deu um mínimo e doloroso sorriso ao filho. Legolas não demonstrou, mas havia sorrido de orelha a orelha quando ouviu o recado, esperando que a oportunidade fosse melhor do que aquela.

Mas Thranduil não apareceu para o jantar.

«»

— Parece que você andou cheirando as axilas de Taurino o dia todo. — Artemisia avaliou a expressão de Legolas.

— Sim, realmente, a sua cara estaria pior se fosse uma das bufas dela. — Taurino fez uma careta, apontando para a garota, que lhe socou o braço ao mesmo tempo, fazendo-o resmungar de dor.

Já haviam se passado quase duas semanas desde que o pai retornara ao lar e Legolas o vira, no máximo, quatro vezes. Nenhuma delas no jantar, vale a pena ressaltar. O príncipe andava resmungão e chateado e não queria descontar aquilo nos amigos sem querer, o que fazia com que ele preferisse ficar calado na maior parte do tempo ou então socar alguns dos sacos gigantes que os soldados começaram a usar para treinar os músculos dos mais velhos.

— Não é nada. — respondeu baixo, arrancando um dos pedaços do gramado em que estavam sentados durante o intervalo entre os treinos.

— Mamãe diz que quem nada é peixe e carcaça de anão. — Artemisia insistiu, as sardas parecendo ficar mais nítidas conforme ele fugia do assunto. — Você está insuportável, Legolas.

— Não está não! Ele mal tem falado, por que é que ele está insuportável? — Taurino retrucou.

— É exatamente por isso, idiota.

— Tudo bem, chega, eu só… — Legolas começou e então mordeu o lábio. Não queria falar mal do pai. Ele sabia como o rei estava passando por dificuldades e, em um último encontro, Mestre Taranthiel havia dito que talvez ele precisasse de um pouco de espaço. Havia prometido que em breve tudo voltaria ao normal. Rapidamente, pensou em uma desculpa. — Estou irritado com as espadas. Não consigo usar elas tão bem e os treinadores não saem do meu pé porque sou filho do rei.

— Era só isso? Mesmo? Você é tão dramático! — Artemisia rolou os olhos, sendo fuzilada por Taurino. Não importava o que acontecesse, Taurino estaria ao lado do amigo sempre.

— Ele é filho do rei, o rei, Misia. É claro que isso é um problema grande!

— Obrigado por me lembrar. — Legolas bufou, batendo as botas no gramado. A ruiva ficou pensativa por alguns instantes e os olhos escuros se voltaram para os dois com um sorriso travesso.

— Legolas, ela está pensando. Acho que devemos ficar preocupados. — o elfo de cabelos negros arregalou os olhos.

— O que é que tem demais nisso? Estou pensando em uma brilhante solução!

— Da última vez que você pensou, nós quase ficamos um dia todo dentro de um buraco de uma árvore na floresta. — agora era a vez do loiro fazer uma careta para a menina.

— Um voto de confiança dessa vez! — ela rolou os olhos, se lembrando de que realmente havia metido os três em um grande problema em um de seus planos.

— O que foi dessa vez?

— Amanhã, nada de treino. Me encontrem na floresta, perto das amoras do senhor Poeyn.

— O senhor Poeyn? Ele me levou pelas roupas de baixo para casa da última vez, Artemisia! — Taurino choramingou, mas Legolas leu algo diferente na expressão dela.

— Um voto de confiança, só dessa vez. Vamos, temos que voltar ao treino. — ela disse, se levantando por fim.


Quando Legolas e Taurino se encontraram para ir atrás da amiga, sentiram um pequeno desconforto. Tinham medo do que a garota podia planejar: ela era duas vezes pior que Taurino. Não podiam voltar atrás e, mesmo que voltassem, não podiam deixá-la sozinha o dia todo. Era uma questão de honra e proteção entre amigos, assim eles sabiam que conseguiam confiar uns nos outros em momentos diferentes.

Depois de andar por alguns minutos em silêncio dentro da floresta, chegando perto do canteiro do elfo que cultivava não apenas frutos, mas uma enorme impaciência com as crianças, viram diversos pedaços de madeiras grudados nas árvores pintados com as tintas das próprias amoras. Aquilo não era bom e torciam para que Artemisia não estivesse em problemas com o senhor Poeyn. O alívio surgiu rápido quando a elfa saiu de trás de uma árvore, os dedos e a boca contornados do suco vermelho das amoras que havia roubado.

— Você vai arrumar encrenca. — foi o que Taurino disse, desanimado.

— Eu não quero ter as minhas orelhas puxadas de novo. — Legolas choramingou junto, lembrando-se da vez em que havia sido apanhado com as amoras na boca.

— Não. O senhor Poeyn me deu as amoras que eu queria e ainda me deu um delicioso copo de leite de cabra! Não sei porque vocês o detestam tanto… — ela negou com a cabeça, limpando os dedos na borda das roupas, ignorando os olhares desconfiados dos meninos. — Esqueçam isso por um segundo. Acho que podemos salvar Legolas. — sorriu animada, indo atrás da árvore. Taurino e Legolas trocaram olhares confusos enquanto ela continuava tagarelando. — A minha mãe é uma grande fã do reino, devem saber disso. Ela sempre diz que o rei Thranduil tem os cabelos mais bonitos de toda a Terra-Média e também que a rainha Eleniel era uma grande guerreira… — comentou alto, mexendo em algo que fazia barulho metálico atrás da árvore. A menção do nome da mãe deu a Legolas uma sensação de desconforto e saudades de algo que ele, de fato, nunca tivera. — Então, eu pensei que talvez você não seja o rei de cabelos bonitos, sem ofensas. — apontou a cabeça de trás da árvore para Legolas, finalmente saindo do esconderijo. — Mas o arqueiro que você nasceu para ser.

O queixo de Legolas havia debruçado-se no chão, assim como o de Taurino. Ele sempre tivera um carinho enorme pelas armas deixadas pela mãe e sentia que era apenas para lembrar-se dela ou conhecê-la um pouco mais, mas nunca que teria a mesma habilidade. Ouvia todas as histórias e ficava maravilhado, se recusando a ser comparado com alguém que, por ter apenas o nome mencionado, irradiava olhares por todos os cantos. Especialmente os de seu pai.

— Vamos lá, tente. Não me pergunte onde consegui isso. — ela estendeu a aljava e o arco para o loiro, ficando ao lado de Taurino, que agora tinha um sorriso no rosto.

— Estou com um bom pressentimento sobre isso. Acho que vale a pena tentar. — ele deu o voto de confiança que Artemisia tanto esperava, fazendo a elfa pular de alegria. Relutante, Legolas segurou o arco entre os dedos e avaliou flecha por flecha, entendendo que as madeiras pintadas por Artemisia eram, na verdade, alvos. Um sorriso sincero e extremamente excitado se abriu entre as bochechas.

E, por Eru Ilúvatar, como ele era bom naquilo.


Os dias se passaram e Legolas havia chamado atenção. Os problemas com o pai pareciam se dissolver quando ele treinava com os arcos e os soldados estavam devidamente impressionados. Havia, de fato, herdado algo especial da mãe além daquilo que apenas o pai podia reconhecer. Não demorou para que se tornasse o melhor entre todos os arqueiros mais jovens e até disputava alvos com os mais velhos. Em seu tempo livre, treinava os tiros na floresta nos alvos que Artemisia havia colocado, apenas mudando as posições vez ou outra. Era difícil vê-lo errar e ele não sabia como agradecer aos amigos por aquilo tudo.

— É só melhorar a sua cara de bosta de anão e a dívida será paga. — Artemisia dissera quando ele perguntou se podia fazer algo, logo voando para cima de Taurino com a espada de madeira que logo seria trocada por lâminas de verdade. Legolas queria muito poder treinar ao lado dos dois, mas aquele não era o seu lugar.

Mesmo assim, tentava em todo final de tarde conversar com o pai. Era sempre empurrado com desculpas e já estava farto de tudo aquilo, mal sabendo que, na verdade, Thranduil sabia de cada passo que dava dentro e fora do reino. E como ele sentia orgulho do menino que sentaria em seu trono em alguns anos. Sabia que ele era um poço de bondade pelas palavras das criadas e um guerreiro habilidoso pelas avaliações dos melhores generais que possuía. Infelizmente, aquilo não era o suficiente para que Thranduil retornasse a ele. Se fechava cada vez mais, sem saber que tal ato fechava o filho também.

Porém, decidiu fazer diferente naquele dia. Dispensou a reunião com seus conselheiros — reuniões intermináveis, devo dizer — para dar apenas um olá para a sua cópia mais nova. Foi até o quarto de Legolas, encontrando-o amarrando os pares de botas com rapidez. O filho do rei fora pego de surpresa, arregalando os olhos, mas logo voltou para os sapatos outra vez.

— Ouvi dizer que suas habilidades melhoraram. — Thranduil disse, depois de alguns segundos sendo ignorado.

— Sim, senhor. — Legolas murmurou, parando de trançar os cadarços para trançar os cabelos, exatamente da forma que Thranduil fazia.

— Pensei que talvez pudéssemos jantar em comemoração. — sugeriu, realmente tentando com uma dificuldade tensa no ar. Legolas parou o que fazia e apertou os olhos. Ele queria muito aquilo, mas naquela noite haveria uma festa entre os treinantes e treinadores do exército. Em uma semana ele estaria no cargo dos mais velhos, deixaria de ser um calouro!

— Sinto muito. O general fará uma comemoração para dar adeus aos antigos soldados e nos brindar como veteranos de guerra. — Legolas disse, soltando os cabelos para encarar o rei e fez uma careta em seguida. Thranduil teve um pequeno vislumbre de quando Legolas era apenas um bebê e tinha a mesma expressão. — Isso não faz muito sentido porque não fomos a nenhuma guerra ainda. Acho que vai ser divertido. — deu de ombros, por fim.

— Eu compreendo. Talvez em uma outra ocasião. — suspirou, relaxando os braços. Parecia ter preferido que não houvesse jantar algum.

— Eu realmente sinto muito. — Legolas deu um sorriso abafado, ficando de pé para sair do quarto. — Me dê licença. — passou por ele, indo para o corredor.

— Legolas. — ouviu seu nome ser chamado e parou. Thranduil falava por cima do ombro. — Estou realmente orgulhoso que tenha melhorado a sua relação com a espada.

Uma risada triste saiu da garganta de Legolas, fazendo com que ele se virasse para o rei.

— Acho que não lhe informaram direito, pai. Eu sou arqueiro, como a mamãe.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Quero a opinião sincera de vocês e também quero saber se têm alguma sugestão, se eu me perdi muito no desenrolar, qualquer coisa. Ah, lembrem-se que o Fred ainda espera por biscoitos! :V