— Você não foi almoçar hoje – comentou Soluço, ao encontrá-la sentada num dos galhos mais baixos de uma das arvores da pequena floresta em volta do campus. Ele colocou a mão sobre os olhos para tampar o sol e ergueu a cabeça para encará-la.

— Grande observação. – resmungou, sem sequer mexer a cabeça para olhá-lo. Depois de um tempo, olhou para baixo – mais especificamente para o rosto de Soluço – e suspirou – Sobe aqui.

Não demorou muito para Soluço conseguir escalar a arvore e se colocar ao lado dela. Eles ficaram em silencio por algum tempo, até que ele resolveu falar:

— Tudo bem. O que aconteceu?

— Nada – ela revirou os olhos – Só que o dia ta meio chato hoje.

— Hum. – ele acenou com a cabeça, mas não se deu por satisfeito – É alguma coisa com a novata? Com a Rapunzel?

Ela se remexeu levemente. Soluço suspirou, estendendo a mão para afastar uma mecha encaracolada de cabelo ruivo do rosto dela. Merida o olhou, mirando diretamente os olhos verde-musgo.

— É só que... – ela deu uma pausa – Eu não sei o que pensar dela. Eu gostei dela, ela parece ser legal, mas... Sei lá.

Soluço franziu a testa.

— Você é muito desconfiada. – riu levemente. Desviou o olhar de seu rosto para olhar para a floresta a sua frente, pensando – Eu gostei dela. Ela me parece ser legal. É inteligente. Divertida. Tem um nome estranho. – completou, rindo.

— Uau, que lindinho. Ele ta apaixonado! – fez a forma de um coração com as mãos, rindo enquanto Soluço corava e lhe mostrava o dedo do meio – É, ela é bem legal. Eu aprovo, pode ficar com ela. – Merida deu um soquinho leve em seu ombro, e Soluço revirou os olhos. – Tá, agora, falando sério. Ela é legal. Mas é bem inocente também. Ela grita quando se assusta. Quem grita quando se assusta?

— Eu! – exclamou Soluço, indignado, enquanto corava.

— É, mas você é um menininha mesmo – riu, e desceu do galho em um pulo, antes que Soluço pudesse responder.

— Ei! – ele reclamou, pulando do galho também. Encontrou-a gargalhando, e acabou rindo também.

Quando pararam, Merida continuou.

— Se bem que isso não é muito estranho não. – franziu a testa, pensando – Ela é fofa.

— Se ela é fofa por isso... Você ta me chamando de fofo? – ele deu um sorriso de lado, e Merida riu.

— Você ta passando muito tempo com o Jack, Soluço – deu um tapa de leve em sua cabeça. Soluço riu. – Mas é claaaaro que eu ‘to te chamando de fofo. Olha que fofura essas covinhas! – Merida apertou suas bochechas, rindo. Soluço riu também e deu um tapa de leve na mão da ruiva para que esta parasse com aquilo.

Depois que as risadas cessaram, Soluço percebeu que Merida estava pensando em alguma coisa. Eles eram amigos tempo suficiente para Soluço saber o que ela estava pensando; Por isso, tratou de desviar o rumo da conversa:

— Então – Merida olhou para ele, e Soluço notou que ela parecia estar aliviada por ter uma desculpa para mudar os pensamentos – Vamos fazer assim: Uma corrida. Se eu vencer, Rapunzel entra. Se não, não falamos mais com ela.

Merida o encarou, semicerrando os olhos.

Soluço nunca havia perdido uma corrida para ela.

Entenda, Merida era ótima em tudo. Tudo mesmo. Principalmente nos esportes. Ela era ótima no futebol americano, basquete, vôlei e principalmente no hipismo – Merida era ótima em fazer um cavalo correr o mais rápido possível. Soluço era péssimo em todas essas coisas, mas por que tinha uma grande falta de coordenação, não por que não sabia correr. Soluço tinha pernas longas que o faziam correr muito. Muito mesmo.

— Apostado. – pronto. Rapunzel estava oficialmente no grupo.

Eles se colocaram em posição.

— Até a quadra?

— Até a quadra.

Respiraram fundo.

— 1... 2... 3... e...

— JÁ! – Merida gritou antes de Soluço terminar e saiu em frente.

— EI! – e saiu correndo atrás dela.

Apesar de ter saído em dianteira, Merida não demorou em se ver quase sendo ultrapassada por Soluço. Quando estavam quase lado a lado, Merida sorriu, maldosa. Tinha um plano.

Segundos depois, Soluço estava ao seu lado. Rindo, Merida gritou um “EI!”. Quando Soluço virou o rosto para olhá-la, perdendo a concentração, Merida o empurrou, e ele caiu deitado numa poça de lama.

— OU! ISSO NÃO VALE! – gritou, mas Merida o ignorou, prosseguindo com sua corrida, apenas o som da sua gargalhada ficando para trás.

Demorou segundos para Soluço se levantar, todo sujo de lama, e sair correndo atrás de Merida. Quando a alcançou, gritou:

— HEY, TRAPACEIRA! – antes de pular em cima dela. Os dois caíram no chão, e Soluço deu um jeito de os dois rolarem até uma outra poça de lama mais próxima.

Merida caiu sobre a poça, gritando enquanto sentia a sua roupa e seu cabelo em contato com a lama. Soluço sentou em cima de sua barriga, prendendo suas mãos uma em cada lado da cabeça da outra.

Pararam, ofegantes, meio rindo.

— O que... Você... Tinha... Na cabeça? – ofegou Soluço, o peito subindo e descendo enquanto respirava com dificuldade.

Merida riu antes de girar para inverter as posições, ficando por cima do garoto e prendendo suas mãos em cada lado de sua cabeça, tal como ele fizera consigo.

— Vencer. – respondeu sua pergunta, antes de levantar e sair correndo.

— MERIDA! – e correu atrás dela.