Talvez a tensão inicial tenha sido o bastante para que a coragem escoasse pelas minhas veias. Entre tantas confissões, porém, devo confessar também que meu estômago revirou antes de finalmente admitir os motivos que me levaram até o sarau.

Você me encara por um minuto longo demais.

Talvez a coragem esteja indo embora, passando para o estado sólido. Talvez eu tenha falado demais.

– Interessante – você diz, olhando para as apresentações de canto que prosseguem.

Eu permaneço em silêncio, incerto se devo dizer qualquer coisa.

– Sabe, você não precisava esperar tanto para falar comigo. Eu não mordo – você brinca e da uma piscadela, causando um novo reboliço em meu peito.

Olho para a menina cantando músicas que desconheço e reconheço os dreadlocks. Sorrio tranquilo com a conclusão que sua afirmação me presenteou. Ela, enfim, não representa uma ameaça.

O que não significa que, parafraseando Gustavo, a barra esteja limpa.

Precisava verificar se todas as variáveis estavam dentro dos parâmetros estabelecidos para um possível envolvimento romântico.

Variável A) solteiro. Mas como perguntar?

– Ela canta bem – digo apenas para puxar assunto.

– Há certo donaire em sua voz, sim.

Não faço a menor ideia do que isso signifique. Enrugo a testa e te encaro.