Teus Olhos Meus escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 6
V — Impaciente e Distraído.


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, olha quem voltou!
Bem, sei que falhei com meu compromisso de postar capítulo todo sábado, mas foi por motivos pessoais e também... já havia postado dois na semana, ok? Bem, estou postando esse durante a semana porque o próximo sábado é ENEM e eu não sei se vai dar pra eu postar, caso não poste, no domingo ou no máximo na segunda terá um capítulo novo.
Espero que gostem deste capítulo novo e não esqueçam de comentar, favoritar, recomendar pro papai, pra mamãe, pra titia, pro primo, pra empregada, pro patrão...
NÃO DEIXEM DE COMENTAR POR FAVOR EU NUNCA TE PEDI NADA!!!
Beijinhos.



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MARCOS

— Socorro, socorro! Marcos! Socorro. — Gritos desesperados surgiram no meio da noite.

Aflito, me levantei aos prantos e não sabia o que fazer. Não havia reconhecido aquela voz que clamara meu nome, mas sabia que eu precisava ajudá-la.

Comecei a correr por aquele apartamento.

Não demorou muito e encontrei Antônio na cama, como o rosto pálido e molhado de suor.

Ele se debatia na cama enquanto sua expressão alternava entre o cenho franzido e olhos arregalados, só que obviamente, fechados.

A priori achei a cena engraçada, mas quando o vi se contorcendo novamente sentei ao seu lado e, lhe acariciando os cabelos negros, o chamei.

— Professor! — Ri de aflição. — Acorde! É só um pesadelo.

Remexi seu corpo algumas vezes até que então, ele finalmente abriu os olhos. Antônio deu um suspiro aliviado a me ver. Naquele momento, seu semblante me fazia sentir um aperto no peito. Acostumado a vê-lo somente na universidade, eu jamais imaginaria ver o professor daquela maneira, extremamente instável. Se eu não estivesse acostumado com aquela máscara inescrutabilidade que ele tanto insistia em usar, eu poderia jurar que vi um sorriso em seus lábios carnudos.

— Marcos. — O iceberg que havia surgido no quarto havia sido derretido. — É bom ver você me protegendo, como agora.

Fiquei enrubescido no mesmo instante sentindo cada vez mais o sangue queimar meu rosto. Mordi o lábio pra tentar disfarçar minha aturdirdes. Antes que ele pudesse continuar eu o interrompi.

— Eu comecei a te tratar mal porque estava lutando contra algo que eu aparentemente, não queria sentir. — Respirei fundo. — Eu adoro o jeito que você se preocupa comigo, não só comigo, mas com todos. Você é o exemplo de humano em que todos deveriam se inspirar. — Meu coração acelerou dentro do peito. — Se eu fosse mulher, com certeza te comeria.

Ele ficou me encarando em silêncio.

— Fala alguma coisa, seu idiota. — Arregalei os olhos. — finge que não escutou esse idiota na hora de corrigir minha prova.

Toni riu.

— Daqui pra frente eu vou cuidar de você. — Ele disse sem pestanejar. — De hoje até o último dia da minha vida. — Salientou.

Aquela situação estava boiola demais pra mim.

Com impetuosidade me levantei da cama, mas Antônio segurou meu braço com tamanha força. O inquiri com um olhar furioso.

Ele me soltou.

— Desculpa. Estou apenas pedindo pra ficar comigo.

— Ejetou que tipo de droga antes de dormir? — Fiquei vermelho de novo, mas dessa vez era raiva.

— É só pro caso de eu ter outro pesadelo. — Ele tinha uma voz mansa demais para o meu gosto.

— Se você não contar para ninguém que isso aconteceu.

— Está bem, mas fica com migo. — Toni insistiu com uma cara de serafim.

Respirei fundo e me deitei perto do meu professor. Felizmente, digo, infelizmente, a cama era grande demais e nós dois podíamos ficar separados em uma proporção Brasil e África. Contudo, não foi isso que nos aconteceu. Muito pelo contrário. O negro achegou-se ao meu peito. Olhei dentro de seus olhos que me remetiam a uma jabuticaba e rocei os dedos na sua pele que parecia um pêssego. Ele mordeu os lábios e me agarrou pelo cabelo. Aproximou sua boca da minha e... Despertei de um pesadelo.

Que porra é essa Marcos? Deu pra sonhar com macho agora? Deixa de ser boiola e QUE MERDA! Não acredito que estou com ereção.

Não consigo acreditar nisso que está acontecendo.

É melhor eu ir pra minha casa.

Só tenho que torcer para o professor ainda está dormindo, pois assim não precisarei das explicações.

Quando eu estava começando a tirar a blusa que ele me emprestara para vestir a minha, fui surpreendido com o Antônio parado na porta do quarto.

— Bom dia! — Ele disse com um sorriso acabado seguido por um enorme golo em sua xícara de café. Bem, pelo cheiro eu acho que era café né. Vai saber o que esse lunático bebe.

— Que porra foi essa que aconteceu ontem? — Perguntei indignado.

— Acho melhor não conversarmos sobre isso...

— Olha, eu acho bem melhor a gente conversar sobre isso porque se vamos continuar uma amizade preciso saber se você é usuário de drogas ou algo assim.

— Eu tenho cara de quem usa droga? — Ele franziu o cenho. — NÃO RESPONDA!

Rimos juntos.

Que sorriso lindo ele tem.

Digo, estou falando dos dentes, está bem? Apenas dos dentes.

— Vamos tomar café, Vitória já deixou tudo pronto para nós.

— Vitória? — Perguntei.

— Sim, a minha governanta.

— Ah sim, Vossa Alteza Duque Antônio Scodelario. — Fiz uma reverencia mal feita. — Havia me esquecido do seu sangue azul.

Ele pareceu não gostar da piada e fechou a cara.

Como sempre, eu agindo como um idiota.

Ele tomou rumo até a copa e sem saber o que fazer o segui.

Puta merda!

Essa mesa tem mais cadeiras a que gente na minha família.

— Eu pensei que você morasse sozinho. — Disse ainda envergonhado.

— E moro. Por quê? — Ele indagou.

— É um apartamento muito grande pra morar sozinho.

— Tem a Dona Vitória e a Vênus.

— A Deusa Romana mora aqui com você?

— Acordou cheio das graças hoje hein senhor Marcos? — Ele me fitou com os olhos. — E bem, Vênus é minha gata de estimação.

— Ah, claro! Quem mais poderia ser? — Ri.

— Sinta-se à vontade pra pegar o que quiser. — Antônio disse enquanto despejava suco de melancia em seu copo.

Eu nunca vi tanta comida em um café da manhã. Não sabia nem por onde começar a comer! Será que ele usa um tipo de talher pra cada tipo de comida? Tem taça pra vinho, água, champanhe?

Está ai a explicação pra ele ser meio veado às vezes. É o dinheiro que deixa ele mesquinho e mimado.

Ufa!

Pensei que eu estava me envolvendo com um homossexual.

Nada contra, mas desde que não estejam perto de mim.

Ficamos ali sentados comendo em silêncio até o momento em que Antônio pediu licença pra ir se banhar antes de me levar pra casa.

Voltei para o quarto onde tinha dormido e me troquei.

Já havia bastante tempo que eu meu professor estava se banhando, então, depois de ficar vários minutos esperando resolvi ir conferir se estava tudo bem. Depois de ontem impossível não ficar preocupado.

Impaciente e distraído, fui caminhando até seu quarto torcendo pra não me perder em seu apartamento.

Ao chegar a seu quarto me deparei com uma gata cinza de olhos extremamente verdes sobre a cama que soltou um miado nojento ao me ver. Ela se despreguiçou, mas logo fechou os olhos e voltou a dormir naquele edredom branco.

Fiquei admirado com o tamanho daquele quarto. Cabia uns três do meu ali no meio. Não que eu tenha inveja e tudo mais, mas vivi toda minha vida em uma casa digamos que... humilde. Nunca pensei que estaria dentro de um apartamento como aquele.

Senti meu coração gelar ao ouvir o barulho da porta do banheiro se abrir.

Espero do fundo do meu coração que ele esteja vestido.

MERDA!

Por que diabos ele está só com uma cueca branca?

Que? Como assim eu olhei em direção a suas partes?

— Desculpe! — Me justifiquei rezando para não ficar vermelho. — Você estava demorando, só vim checar se estava tudo bem.

— E está! — Ele disse sorrindo enquanto secava o cabelo na toalha. — É que meu celular tocou antes de eu entrar no banho.

— Ah sim, vou te dar privacidade então. Estarei na sala te esperando.

— Pode ficar, em dois minutos estou pronto. — Ele inclinou o corpo de costas pra mim para pegar uma bermuda em uma gaveta próxima do chão colocando aquelas nádegas em direção a meu rosto.

Tentei desviar o olhar. É claro que consegui desviar, afinal, sou hétero e rabo pra mim é só de mulher.

MERDA!

Quem eu estou tentando enganar?

Enquanto ele vestia a bermuda azul anil suas nádegas balançavam dentro da cueca branca fazendo com que eu respirasse fundo. Vamos esclarecer as coisas: isso só aconteceu porque me lembrou duma negra maravilhosa que saí uma vez, ok? São apenas as lembranças me causando suspiros.

— Vamos? — Ele disse acabando de vestir uma camisa cinza estampada com uma linda sereia negra de cabelos afros vermelhos e calda amarela e uma frase que custei a entender: Save The Mermaids — Please Help Keep Our Oceans Clean!

Ainda acho não há problema algum em eu ir andando.

— Ih! Vai ser teimoso lá na puta que pariu. Aposto que é taurino.

— Leão, por favor.

— Eu não sou teimoso assim!

— Tem certeza? — Eu disse arregalando os olhos indignado.

— Você é de que dia?

— Vinte e dois de agosto.

— Ah, faço sete dias antes.

— Eu nem acredito nessa coisa de signo. — Disse, afinal era verdade. — Meu signo é Jesus Cristo.

— Sei. — Ele disse seco.

Fiz carinho no rosto da gata que continuava a dormir sem se incomodar com a nossa presença e comecei a caminhar em direção a saída do quarto.

Fui surpreendido por Antônio passar a mão pelos meus ombros. Sem enteder, o puxei pela cintura e continuamos andando até o elevador.

Seus dedos se encaixavam em meus ombros como asas se encaixavam perfeitamente nas costas dos anjos.

[...]

Ao chegar em casa me deparei com meus pais sentados na porta de casa dando conta da vida de toda vizinhança com os amigos.

Eu definitivamente não queria ser visto descendo desse carro. Se isso acontecesse, em poucos segundos todo o bairro estaria achando que eu estaria envolvido com narcotráfico.

— Antônio? — O chamei com a voz trêmula.

— Sim? — Ele disse abaixando o som que estava tocando O Velho e o Moço do Los Hermanos.

— Se incomoda em me deixar umas duas quadras pra frente?

— Por quê?

— Sou vigiado por satélite da marca Vizinhos Fofoqueiros... Chegar aqui em um carro desse vai dar uma falação.

— Acho isso uma besteira, a vida é sua e ninguém tem que da conta dela, mas se é o que prefere.

— Quer saber? Você está certo.

Quando ele acabou de manobrar o carro em frente de casa vi minha mãe regalar os olhos a me ver descer daquele carro que custava muito mais a que eu ganhava por ano.

Eu torci pra ele não descer do carro e graças a Deus minhas orações foram ouvidas. Bem, não como eu havia imaginado. Torci pra ele acelerar o carro e sumir da minha vida, mas o infeliz me fez o favor de abaixar a janela para acenar para meus pais.

— Bom dia! — Ele disse com aquele maldito sorriso amarelo que deixava minhas pernas bambas. De nojo, é claro.

— Dia! — Meus pais responderam em um único coro.

— Este é um dos meus professores e de Caio. — Disse.

Minha mãe se levantou correndo e veio na direção do carro.

— Sério? Como que conseguiu? Digo, as coisas devem que foram muito difíceis pra você... — Ao ouvir aquilo senti meu estômago revirar.

— Por eu ser negro?

— Sim, digo, não. Isso também... Mas, além disso, é jovem e tem esse carrão.

— Estou atrasado, é melhor eu ir. — Ele buzinou sem graça e acelerou o carro.

— Ué, eu disse algo errado? — Minha mãe perguntou.

— Não mãe, deixa pra lá.

Subi para o quarto o mais rápido que pude e vesti roupas limpas.

Eu queria deixar aquele assunto pra lá, mas não conseguiria descansar a mente sabendo que Antônio poderia estar com raiva de mim.

“Toni, espero que não tenha ficado ofendido ou chateado com minha mãe... Abraço.”.

Fui para o sofá já que não havia mais nada pra fazer e fui surpreendido com o vibrar do celular.

“Fiquei sim. Não obstante não fiquei por mim, e sim, por saber que tem gente com este pensamento retrógrado igual o dela que reproduz esse discurso extremamente racista que deveria ter sido deixado no passado.”

“Ah, mas sabemos que o que ela disse é verdade.”

Nenhuma pessoa branca que vive hoje é responsável pela escravidão, mas todos os brancos vivos hoje colhem os benefícios dela, assim como todos os negros que vivem hoje têm as cicatrizes dela. Disse Talib Kweli, e ele está certíssimo, mas não é por isso ser um fato que eu não tenha capacidade de vencer na vida só por ser negro. Quando me corto, o sangue que escorre é da mesma cor que vai escorrer de você caso também se fira. Minha raça não me faz menor a que vocês, brancos.”

Mano, que cara mais dramático! Eu tenho certeza que minha mãe não fez de proposito, ela só ficou admirada por ele ter conseguido vencer na vida tão rápido.

“Não sei o que dizer.”

“Não precisa dizer nada...”.

“Está com raiva de mim?”.

Ele não me respondeu.

Isso era um sim?

Senti um enorme aperto no peito.

Aquele babaca dono do sorriso mais lindo do mundo não podia estar com raiva de mim, eu não conseguiria lidar com isso.


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Notas finais do capítulo

E agora, José?



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