A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 32
Complicações


Notas iniciais do capítulo

Se tiver algum sensível, peço para que traga um saco de vômito antes de ler os mitos nas notas finais. O bagulho é pesado.
Boa Leitura.



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Mal o dia amanheceu e terminaram de tomar café e Marcos partiu. Ele não tinha qualquer previsão de retorno. Os outros foram cuidar de seus afazeres ou só procurar o que fazer. Até Jasmine pôde sair do prédio, mas por ordens médicas não faria nada que exigisse muito esforço.

Tyler e Eliot escalavam a parede de lava do muro de escalada. Os dois competiam para ver quem chegava ao topo primeiro. Eliot era o que sempre perdia e dessa vez queria fazer diferente, mas não conseguiu. O maori vencera de novo.

— Cara, como você consegue? – Perguntou, sentando-se na grama após descerem.

— Porque eu já fiz isso várias vezes. Meu tio Ruaumoko sempre me fazia escalar um vulcão.

— Um vulcão?!

— É. E ele ainda arrumava um jeito de me ferrar. O bom é que graças a isso, eu conheci o interior de vários vulcões subersos.

— Cara, que irado! Vou dar um jeito do Sobek liberar a magia de respirar embaixo d’água para mim.

— Valeu pelo voto de confiança.

— Mas se você me deixar sozinho, eu morro.

— É verdade. Aprenda essa magia primeiro e depois venha passar uma temporada lá em casa.

— Vai me levar para conhecer Mordor?

— Se quiser, a gente passa em Valfenda também.

— E ainda sobra tempo para conhecer o Condado e as Minas Tirith.

O californiano e o neozelandês desataram a rir. Encontrar alguém zoeiro que entendia de referências nerds e não se incomodava por qualquer coisa era um desafio, e ao mesmo tempo, Tyler adorava falar de sua terra natal. Agradecia por ter nascido na casa da Terra Média e da liberdade que tinha, como filho de Tangaroa, para visitar os demais países da Oceania.

Quando se fala em Oceania, os grandes nomes que vêm à mente são Austrália e Nova Zelândia, por vezes podem se lembrar de Fiji ou Thaiti. Isso porque o continente da Oceania é formado por arquipélagos com ilhas que mal dá para ver no mapa e mal dá para delimitar suas fronteiras. Outros países independentes, autônomos ou até mesmo territórios ultramarinhos compunham a Oceania.

Samoa, Palau, Samoa Americana, Ilhas Marshall, Ilhas Cook, Kiribati, Vanuatu, Tokelau, Tuvalu, Niue, Tonga, entre outros, Tyler perdera as contas de quantas vezes já os tinha visitado. Como era filho de Tangaroa, fazia as viagens sempre por mar e via os atóis, os recifes, os corais e até os vulcões submersos. A Oceania era palco de vários eventos geográficos, incluindo terremotos, maremotos, furacões, erupções e inundações. Ou se adaptava ou morria.

— Quer treinar? – Perguntou o maori.

— Se a arena não estiver cheia.

— Aí procuramos outro lugar.

Mal se levantaram e começaram a caminhar e ouviram risinhos. Vinham de um grupo de garotas, sendo que umas empurravam as outras e algumas apenas assobiavam. Pouco se importavam de que chalé elas eram.

— A última vez que vi algo assim foi num puteiro que meus tios me levaram e as putas ficaram desse jeito pelo meu tio Haumia.

— Cara, seus tio te levaram a um puteiro?!

— Levaram. Meu pai ficou tão puto que um maremoto quase varreu completamente a região. E depois deu uma puta bronca em mim e nos meus tios e quase arrancou meu couro.

Uma delas se aproximou, enrolando uma mecha de seu cabelo loiro com os dedos. Era bonita, talvez até demais na opinião de Eliot, mas na de Tyler não era tanto. Maoris não ligavam para beleza, tanto que nem possuíam uma deusa do amor e da beleza. Na verdade, os maoris não ligavam para amor ou beleza, tanto que quando Tyler teve sua primeira namorada aos 11 anos, nenhum deles se manifestou ou o encheu de perguntas como os pais de seus colegas faziam e davam vergonha aos filhos. Os únicos que o aconselharam foram Tane e Haumia, na verdade eles tentaram. Tangaroa só se envolveu em seus relacionamentos quando teve seu primeiro rompimento e os outros deuses quando Tyler atingiu a puberdade. E mesmo assim, seu pai era o pior conselheiro que ele conhecia, depois de Tumatauenga e outros deuses.

Filho, você vai ter muito tempo para encontrar alguém que vai estragar sua vida e te dar dor de cabeça. Agora, engole esse choro e vai afundar um barco. Esses recifes não vão se proteger sozinhos.— Este fora o conselho que seu dera após o rompimento de seu primeiro namoro.

A menina se encontrava frente a frente com eles, ainda enrolando a mecha de cabelo e arrumando uma pose que fizesse com que notassem os seios um tanto salientes.

— Vocês são da Embaixada, certo?

— Tenho certeza que o acampamento todo sabe disso. – Não só a garota ficou surpresa como o próprio Eliot.

— Tyler, não seja mau com a menina. Sim, nós somos. Precisa de algo?

— Queria saber como faz para entrar.

— Qual sua mitologia? – Perguntou o maori desconfiado.

— Minha mitologia?

— Tem uma mitologia?

— Não estaria aqui se não tivesse.

— Então não se importaria de dizer qual é. Se for grega, pode ficar em qualquer outro chalé.

— Mas o que há com você, Kyogre jr?!

— Simples, pardal. Não é qualquer um que pode entrar na Embaixada assim do nada.

— Mas a filha da Gaia entrou.

— A filha da Gaia fundou juntamente com as filhas de Odin, Rá e Hel. Se tem algum problema com isso, sugiro que vá discutir com Diana ou Raven.

— Nem para uma visitinha especial?

As outras se aproximaram.

— Nós não queremos fazer parte da Embaixada, só fazer uma visita. – Disse uma morena linda dando uma piscadela.

— Por favor? – Insistiu outra com os olhinhos brilhando.

— E para que querem visitar a Embaixada?

— Tyler, não percebeu ainda? – Perguntou Eliot um tanto malicioso.

— Sim, é para isso mesmo.

— Que estamos parecendo meu tio Haumia naquele puteiro? Entendi muito bem.

Eliot não pôde esconder o riso, deixando algumas meninas ficaram confusas e outras furiosas. Uma delas teve uma ideia e soprou um beijinho na direção do maori.

— Isso realmente está igual ao puteiro.

Lógico que Eliot riu e as meninas ficaram furiosas. O egípcio deu um tapão nas costas do maori.

— Você é engraçado. Por que não damos uma volta com as meninas? Podemos mostrar os arredores do prédio.

Eliot litealmente arrastou Tyler para sua ideia. Os dois fram com as garotas até o prédio da Embaixada.

Enquanto isso, Afrodite tinha chamado seu filho Eros para uma missão. A deusa tivera uma grande ideia.

— Eu estive pensando no que fazer e tive uma grande ideia! Os deuses não podem fazer nada contra Arke que não declare guerra contra Morrigan, no entanto, não posso deixá-la sem pagar pelo que fez.

— E o que pretende, minha mãe?

— Ela pode estar protegida, mas não terá amor. Quero que vá e a torne infeliz no amor, atire uma flecha de chumbo, faça-a se apaixonar pela criatura mais horrenda que existe, fica ao seu cargo.

Sem esperar por mais, Eros partiu voou até encontrá-la. Arke não estava com as Morrigan e sim sozinha, ouvindo uma espécie de veado humanoide tocar flauta. Era uma bela música até. A criatura parou de tocar.

— Como sempre, foi maravilhoso, Cernunnos.

— Sim. A música acalma a natureza, revitaliza sua magia e apazigua as almas. Ela pode alterar o estado emocional dos seres vivos e mortos.

— Obrigada por me fazer compainha, mas você não tem mais florestas para cuidar?

— Tenho e não posso me atrasar. As árvores centenárias se deprimem quando ficam muito tempo sem ouvir música e ultimamente Dagda não tem tocado.

— Dagda não tem tocado?!

— Problemas, pelo que eu ouvi, mas isso não cabe a nós, pelo menos por enquanto. Olhe a hora, preciso mesmo ir!

Cernunnos saiu galopando sobre as duas patas que deveriam ser pés. Realmente, curioso na opinião de Eros. Mal ele saiu e uma moça surgiu. Era bela, talvez a mais bela mulher que Eros já vira na vida, mais bela que sua mãe Afrodite e até mesmo sua esposa Psique. O cabelo era meio ruivo, loiro e rosado, seus olhos eram violetas e ela exalava um ar místico e ao mesmo tempo mágico.

— Senhora, Àine. Precisa de meus serviços?

— Preciso que me acompanhe em algo muito importante, mas antes...

A bela mulher assumiu uma postura rígida e lançou alguma magia estranha que revelou a localização de Eros. Arke gritou e se escondeu atrás da celta, aterrorizada.

— Me recuso a acreditar no que estou presenciando.

— Me descobriram. Só vim conversar.

— O Cupido veio até aqui para conversar comigo e a nossa refugiada. Por que não acredito nessa história?

Tão rápido quanto pôde, Eros pegou o arco e a flecha, mas Àine não era qualquer uma. Ela lançou sua magia o grego antes mesmo que conseguisse encaixar a flecha no arco.

— Vou lhe dar apenas uma chance. Se fizer isso de novo, não terá tanta sorte.

De volta ao acampamento, Eliot e Tyler tinham adentrado na Embaixada e encontraram Jasmine e Sienna em um dos sofás com vários livros. A dona dos orbes verdes os tinha arregalado em profundo terror.

— Isso... Sienna...

— O que foi? – Perguntou o maori deixando Eliot e as companhias indesejadas para trás e amparando a grega.

— Mostrei a ela alguns mitos.

— Quais mitos?

— Íon, Quíone, Alcmena, Aura, Medusa, Dafne, Syrinx, Leda, Europa, Erictónio, Antíope, Vali...

— Isso foi cruel. – Disse Tyler indo para o lado da grega. – Jazz, você ta legal?

— Eu...

— Por que e importa tanto com ela? – Perguntou uma das garotas.

— Explique-se. – Exigiu Sienna.

— A ideia foi do Eliot, não minha.

Um vulto preto e laranja saltou das sobras e fez com que todas as visitantes gritassem. Niraj se encontrava rosnando para elas, querendo defender território.

— Niraj, que bom te ver, meu garoto! – Exclamou Eliot acariciando a cabeça do tigre.

— Eliot, tire ele daqui!

— Por quê? Niraj é parceiro.

— Tyler!

— Por que eu faria algo a um grande amigo meu? Niraj é parça.

— Mas que gritaria é essa?

Por um instante, todos congelaram em suas posições. Helena desceu as escadas tão carrancuda que chegava a assustar.

— Expliquem-se.

— Fomos convidadas.

— Por si mesmas. – Contou Tyler.

— Pensei que estivesse do nosso lado. – Disse uma delas de forma tão manhosa que a voz chegou a irritar Sienna.

— Têm 3 segundos para saírem daqui. – Sentenciou Helena.

— E se a gente não quiser?

— Vamos obrigá-las. – Pronunciou-se Sienna.

Algumas agarraram os braços de Eliot e fiqueram biquinho para ele, outras se aproximaram de Tyler, o que foi um grande erro. Sienna fez com que um espírito de orca surgisse e por pouco os dentes do espírito não arrancaram o braço de alguém. Já Helena não fez nada, mas no instante seguinte, Sinnen estava ao lado da amazona.

O pesadelo, o tigre e o espírito de orca puseram as garotas para correr, aterrorizadas com suas visões. O espírito era rápido e nadava no ar, sempre investia e machucava alguém. Já Sinnen preferia cuspir fogo. O acampamento nunca antes vira algo assim, ainda mais um fantasma de orca.

Enquanto isso, Frísio enfrentava um grande problema. Ele estava com Quíron, Árion e algumas amazonas que tinham ido visitar o acampamento. Fiáin e Gaoithe surgirão tão rápido quanto puderam. As amazonas tinham ido ao acampamento exigindo para entregar Árion de volta para elas, por ordem de Netuno.

— E por que eu deveria?

— Os deles ordenaram que o cavalo viesse conosco.

— Seus deuses, não os meus. Árion ficará comigo.

— Frísio, é melhor dar a elas.

— Para o deixarem preso novamente?

Posso chifrar um cu?

— Por mim pode chifrar quantos cus quiser.

— Fiquem quietos vocês dois. Ninguém aqui vai chifrar nada.

— Do que eles estão falando?

— Sei lá. Deve ser um filho de Poseidon ou Netuno para falar com cavalos.

— Poseidon ou Netuno o caralho! A mãe dele é muito melhor do que esse puto com bafo de peixe.

Isso não vai acabar bem.

Uma delas, com a paciência esgotada, tentou pegar o cavalo, mas Gaoithe a feriu com o chifre. As amazonas desembainharam as espadas e a que foi ferida tentou atacar Gaoithe enquanto as outras avançavam, mas uma projeção de trevo se formou, protegendo a todos. Frísio a recolheu, voltando a ser um trevo de três folhas, trevo este que Arke o entregara junto com os outros dois.

— Não será tão fácil.

Com um estalo de dedos, o celta conseguiu prender a todas em uma espécie de areia movediça, que não estava lá antes. O chifre negro de Gaoithe começava a brilhar.

— Já chega. – Interrompeu Quíron segurando o braço do garoto.

— Vá com elas, Árion.

— É ruim que volto para essas vadias.

— Eu não vou deixa-las o levarem, não sem luta.

— Se lutar, irá trazer problemas ao acampamento.

— Podemos esmaga-los. – Disse uma das amazonas.

— Não ganhariam nem de um jotun se encontrassem um.

— Liberte-as e deixe com que levem o cavalo. Sua mãe pode lhe dar melhores.

— Minha mãe não é seus deuses para me dar melhores. Vocês acham que podem substituir tudo com compensações e riquezas, mas nós não. Cada equino é único do seu jeito, até mesmo Sinnen não pode ser substituído, mesmo que hajam vários pesadelos. Essa é a diferença entre gregos e celtas.

Sangue de Epona. ­— Quíron pensou.

Para Epona, nenhum equino era ruim, todos tinham sua utilidade e seu lugar no mundo e mesmo assim eram únicos. Não era só adorada por cavalos, burros e mulas, mas os equinos mitológicos também gostavam dela. Fiáin e Gaoithe era tão leais a Frísio como eram a Epona e o garoto conseguira conquistar o estábulo inteiro, até mesmo Árion era mais quieto com ele.

— Eu vou. – Disse Árion surpreendendo a todos.

— Eu não posso deixar.

— Jovem Mestre, você se preocupa comigo mais do que qualquer outro aqui já se preocupou. Não se preocupe agora, ficarei bem, assim que o inverno chegar.

O cavalo andou decidido, com fogo no olhar e raiva nas entranhas. Frísio teve que desfazer a areia. Gaoithe reclamava, mas o chifre de Fiáin brilhou e abençoou o cavalo. Já Gaoithe preferiu lançar algo contra as amazonas, mas nada aconteceu.

Nunca estará perdido. Reestabeleci o que os deuses tiraram.

— O inverno está chegando.

Angus dormia em algum canto, como sempre, ma foi só acordar que reparou uma garota ao seu lado possuía ascendência asiática, era bonita até.

— Se está procurando um puteiro, o Chalé de Afrodite é logo ali.

— Não chame as filhas de Afrodite de putas! Você não as conhece!

— Tem razão, seria uma ofensa às prostitutas que ganham a vida honestamente.

A garota só faltou soltar fogo pelas narinas, mas o filho de Anúbis não se importou. Ela teve uma ideia.

— Você é o Angus, certo?

— Não me diga que é uma fã.

— Sou sim. Você luta muito bem.

— Achei que os outros fossem bons lutadores.

— Não são tão bons quanto você.

— Qual seria seu nome?

— Drew. Drew Tanaka.

— Gosta de lutas, Drew?

— Amo!

— Luta bem?

— Não tanto como você.

Um grupo de garotas passou correndo por eles. Atrás dele estavam um pesadelo e um fantasma de orca. Angus não perdeu tempo e usou as sombras para sair dali e e aparecer perto de seus amigos.

— Como vocês se divertem sem mim?!

— Quem manda dormir do dia todo, sarnento?

— Porra, pardal, quando for assim me acorde! E você também, molusco.

— Molusco?

— Moluscos usam conchas.

— Cara, vocês são cruéis.

Não demorou para o Senhor D ver o que estava acontecendo, mas o próprio resolveu procurar abrigo ao ver a orca voadora. Quando Frísio e o Senhor D adentraram no acampamento, eles se depararam com o caos. Nem Nico conseguia parar a orca e nem Percy o cavalo.

Ih, olha o Sinnen.

— Isso não é hora para brincadeiras, Gaoithe.

— Sinnen, venha cá!

— Niraj! Acalme-se já!

O pesadelo parou e foi até o filho de Epona enquanto o tigre foi até à filha de Ganesha. A orca continuou.

— O que aconteceu dessa vez? – Perguntou Parvati com o braço repousado no tigre.

— Não faço ideia. Sinnen?

— Tentaram usar o charme na gente, então levei para conhecerem Niraj. – Confessou Eliot.

— Charme?

— Você é maori, não é afetado por essas coisas.

— E não as percebe também. – Concluiu o celta.

— Porra, que ideia genial! – Exclamou Angus.

— Vocês têm noção do que fizeram?! – Reclamou o centauro.

— A intenção era só mostrar ao Niraj, mas Helena apareceu e sabe como são os pesadelos.

— E colocou aquele bando de vadia pra correr? Cara, eu queria ter estado lá para ver!

— Da próxima vez me fale. – Disse Tyler. – Sienna pegou pesado com a orca e só os inuites sabem lidar com esse tipo de espírito.

— Onde estão as duas? – Quis saber o centauro.

— Na Embaixada com a Jasmine. Ela ainda está em choque pelos mitos que aprendeu.

— Que mitos?

— Íon, Quíone, Alcmena, Aura, Medusa, Dafne, Syrinx, Leda, Europa, Erictónio, Antíope, Vali...

— Vocês não...

— Verei como ela está. – Disse o celta. – Aproveito e peço para Sienna recolher o espírito.

— Andando não vai chegar nunca.

Angus segurou Frísio pelo braço e depois só viram sombras.

Cadê o língua de merda?— Perguntou Sinnen.

As amazonas o levaram.

— Mas não por muito tempo. Amaldiçoei cada uma delas.

— Você não tem jeito, irmão.

— Como deixaram ele ser levado?!

— Não deixamos, ele foi por vontade própria, não antes de eu abençoá-lo para não se sentir sozinho.

— Ele disse mais alguma coisa?

— Só que o inverno está chegando.

Sinnen desatou a rir. Sua risada era grutal e profunda a ponto de arrepiar os cabelos da bunda de quem a ouvisse. A visão de um pesadelo rindo era bizarra e ao mesmo tempo amedrontadora.

Eros voou o mais rápido que pôde para casa. Encontrava-se ileso, ou pelo menos fisicamente. Na porta de sua casa de mármore, viu ser masculino de corpo escultural cujo cabelo castanho que ia até o meio das costas se encontrava um pouco bagunçado, mas que não lhe tirava a beleza de modo algum, a barba se encontrava bem aparada e rala e seus olhos eram da mesma cor que os dos dele. Ele era irresistível, a ponto de despertar a luxúria em qualquer ser que o visse, o que não ajudava Eros nesse momento. E para a desgraça do deus do amor, o homem, que mais parecia a personificação do tesão, estava sem camisa.

— O que em nome dos deuses faz aqui, Himeros?!

— O que foi, irmãozinho, não está feliz em me ver?

— Não tenho tempo para isso.

— Não é o que eu estou vendo.

Himeros lançou um olhar malicioso ao irmão, ou melhor, para as calças dele. Eros corou, tanto pelo olhar quanto pela vergonha, pois havia um notável volume.

— Faça-me o favor! – Agarrou o próprio cabelo e o jogou para trás. – Diga logo o que quer, pois eu tenho que encontrar Psique!

— Pelo visto hoje promete.

— Himeros! E o que veio fazer sem camisa na minha casa?

— Calma, não vim aqui atrás da sua mulher ou da sua filha. Vim atrás de você.

— Para...?

— Tem visto Anteros recentemente?

— Ora, tudo isso para me perguntar sobre Anteros?! Deve estar em algum bar enchendo a cara!

— Pensei que o amor precisasse ser correspondido para crescer.

— Himeros, eu juro que se continuar aqui, eu não respondo por mim.

O volume parecia aumentar e Himeros notara isso. Se perguntava se ele caíra no truque do viagra no lugar da bala como na primeira vez. Anteross quem teve a ideia e Himeros e Photos a executaram. Himeros e Eros eram gêmeos, por esse motivo, o deus do desejo sexual sabia o que irritava Eros profundamente, diferente de Anteros, que só nasceu para que Eros tivesse alguém para crescer com ele, já que Himeros cresceu sozinho. Por essa razão, ele só precisava distraí-lo enquanto Photos, que não era irmão deles e sim filho de Íris e Zéfiro, trocava as balas azuis de um pote por viagra para então deixar com Eros. Aquele dia fora inesquecível.

— Vá procurar sua esposa.

Rapidamente, Eros adentrou em casa, deixando seu irmão sozinho na porta. Jogou o arco em algum canto e a aljava em outro e foi de cômodo em cômodo procurando pela esposa. Encontrou uma bela garota loira de cabelos ondulados e olhos lilases de sombra rosa e batom também rosa. Ela trajava um vestido tomara que caia púrpura justo e longo, braceletes de metal rosa nos braços e antebraços, um colar desse mesmo metal com pedras magenta e um cinto rosa e magenta, além de sapatos magenta.

— Pai, que pressa é essa?

— Hedonê, você viu a sua mãe?!

A deusa do prazer viu a tensão em que se encontrava o pai e em seguida o volume das calças deste.

— Está enfeitiçado?

— Isso não importa. Eu preciso achar sua mãe!

— Está no jardim.

Sem perder tempo, Eros correu para o jardim. O belo jardim tinha as fontes as quais usava da água para banhar suas flechas e pomares. As flores eram lindas, mas quem se importava com isso em uma situação daquelas?! Encontrara Psique, a bela mulher de ondulados cabelos castanhos e olhos lilases que trajava um vestido cuja blusa era rosa quase roxa com a bainha triangular e a saia era roxa com detalhes de ouro. Ela também usava adornos de ouro nos antebraços e um colar de ouro. Tinha pequenas asas de borboleta.

— Psique, finalmente te encontrei!

— Aconteceu algo, meu amor?

Sem cerimônia alguma, Eros a beijou ardentemente. Psique era a mais bela mulher que já vira na vida, mais até que sua mãe, mas isso foi antes de por os olhos em Àine. Àine o enviara de volta à Psique, louco de amores pela esposa. Não era de todo ruim, mas ela garantira que na próxima vez não teria tanta sorte.

Vá para os braços de sua esposa e deixe o coração dessa pobre criatura em paz.

Se meter no coração de Arke seria um erro, um grande erro. Vira o terror em seus olhos e a forma como se escondera. Mas afinal, quem teme o cupido?! Até aquele veado humanoide conseguia por mais medo que ele. De qualquer forma, se chegasse perto da outra novamente, nem Àine e nem mesmo Morrigan estariam satisfeitas enquanto não tivessem sua cabeça, e suas partes íntimas arrancadas também.

— Amor, o que houve? – Perguntou Psique ao quebrar o beijo. – Está estranho.

— Só estou com saudade de você, meu amor. Eu preciso de você, não sabe por quanto tempo anseio por um tempo a sós contigo.

Alguma coisa tinha e isso atiçara a curiosidade de Psique, mas deixaria para depois, pois seu marido a pegou no colo e a levou para dentro. Não podia negar que estava gostando e que estava feliz por Eros separar um tempo para eles ao invés de trabalhar incessantemente como estivera fazendo. Iria aproveitar esse tempo ao máximo, depois descobriria o que acontecera.

Himeros e Hedonê olhavam a cena com sorrisos maliciosos e cara de “hoje tem”.

— Seja lá o que deram ao seu pai, precisa dar um estoque à Psique.

— Tio, por que está sem camisa?

— Mas eu só ando sem camisa. Se por acaso tiver notícias de seu tio Anteros, me contate.

— Pretende algo?

— Não. Faz tempo que ele sumiu e ninguém sabe mais por quais bares anda bebendo. Anteros é um perigo se estiver bêbado e sozinho.

Angus não retornou apenas com Helena e Sienna, ele retornou com Helena, Sienna, Frísio e Jasmine. E ainda trouxe Diana, Raven e Nicolas com ele. Sienna recolheu o espírito, mas não o mandou embora.

— Pode me explicar isso, pulguento? – Perguntou a ruiva.

— Eu só queria que estivesse todo mundo junto para presenciar a treta.

— Como sempre. Por outro lado, estaria dormindo. – Riu Raven.

— Você me conhece, Ray.

— Jazz, você está legal? – Perguntou Nicolas visivelmente preocupado.

— É só muita informação.

— Informação?

— Sienna contou alguns mitos pesados a ela. – Esclareceu Frísio.

— Não sei por que reclamam. Os mitos gregos não terminaram com algum deus tendo os dedos cortados ou mutilando os próprios seios.

— Vai continuar com essa coisa?! – Perguntou o Senhor D saindo do abrigo.

— Tem sorte de não ser um akhlut.

— O que é um akhlut? – Perguntou Tyler.

— É uma orca que se transforma em lobo quando pisa em terra e mata animais e pessoas para comer antes de voltar ao mar. É possível vê-los na forma híbrida também.

— Por que foi perguntar? – Perguntou o deus arrependido da resposta.

— Ainda não contei dos adlets.

— O que é um adlets

— Porra, não pergunta!

— Só quero aprender, Senhor D.

— Uma vez, uma mulher se casou com um grande cachorro vermelho e calvo e dessa união tiveram 10 filhos. 5 foram mandados para além do oceano, que é dito para formarem as primeiras raças europeias e ous outros 5 ficaram na Groenlândia. O que não é totalmente verdade, pois há rumores entre os inuies de que os adlets possam ser ancestrais dos lobisomens.

Sienna dispensou a orca. Mesmo com a plateia em volta tomada com verdadeiras máscaras de terror e alguns curiosos debatendo a teoria recém descoberta, ela se mostrava calma. O cabelo azul parecia flutuar como se estivesse debaixo d’água.

— Os adlets são meio homens e meio caninos, lembram os lobisomens na aparência, mas são muito piores. Se algum de vocês tiver a infelicidade de encontrar um, tentem não lutar, pois será em vão. Eles formam tribos, caçam em grupo, a maioria das vezes à noite, e preferem a carne humana. O que os difere dos lobisomens comuns é o manejo de lanças. Lutar com lanças e garras caninas, assim como as presas é o estilo deles.

Murmúrios se alastraram pela multidão.

— Um ótimo mito.

— Ainda não terminei o mito, apenas deu as características dos adlets.

— Pode continuar.

— Vocês gostam de me traumatizar, não é mesmo?

— O pai da garota teve a carga de alimentar a ninhada. Ele os levou até uma pequena ilha e pediu ao cão para que nadasse até a costa para buscar comida todos os dias, mas ao invés de encher os sacos de carne, ele os encheu de pedras. O cão se afogou e quando a garota descobriu, ela mandou que os adlets roessem as mãos e os pés do pai dela e em seguida os soltou na natureza.

— Tem algum mito inuit que não termine com alguém mutilado? – Perguntou Nicolas.

— Alguns.

— Senhor D, acho que mandamos os campistas de Hermes para uma missão suicida.

— Se sobreviverem, que não me apareçam com uma dessas porras aqui. Já é bizarro imaginar um lobisomem de lança.

A volta para casa de Marcos não tinha sido fácil. Como esperava, tinha que convencer aos deuses maias de não declararem guerra, mas não esperava que os gregos pagassem em cacau. No entanto, alguns teimavam em declarar guerra.

Tohil, um homem grande se cabelo preto, pele queimada de sol e olhos vermelhos, fora o primeiro a votar a favor da guerra. Ele carregava um macuahitl e às vezes pegava fogo. Ah Puch concordara com ele, assim como Jaguar e Camazotz. Jaguar era uma espécie de jaguar humanoide com adornos de ouro e vestimenta tribal, já Camazotz era um morcego humanoide de grandes asas que gostava de arrancar cabeças para usá-las como bola.

Para a sua surpresa, Ixchel votou contra, mesmo antes do recebimento do cacau. Ixchel era uma mulher bonita de olhos castanhos, assim como sua pele. Uma serpente se encontrava enroscada em seus cabelos negros e suas vestes eram vermelhas como sangue. Seu marido Itzamna, um velho senhor com cocar de pássaro também votara contra e ajudava Marcos a convencer aos outros.

Quem teve mais sucesso em convencer aos outros foram Chaac e Ek Chuah. Assim como Tohil, Chaac era um homem grande, porém possuía olhos azuis e sua pele era escamosa como a de uma serpente, além de carregar um machado. Ek Chuah era careca e possuía o rosto pintado como se fosse uma máscara, no entanto era um dos deuses mais importantes, pois não só ea o deus dos comerciantes como era o deus do cacau.

Na mesa elevada estavam os Três Grandes Maias. Tepeu, que usava roupas adornadas de penas e ouro se sentava à direita. Huracán, cuja única perna era uma confusão de ventos que parecia a perna de um furação, se sentava à esquerda. Quem sentava no meio era Gucumatz, que era meio humano e meio serpente e usava um cocar de penas e adornos de ouro. Novamente para a surpresa de Marcos, todos votaram contra, até mesmo Huracán.

A discussão acalorada vinha perdendo as forças. Marcos fazia de tudo para seus tios esquecerem a ideia. Para ele os tios e Jaguar importavam mais que os outros deuses, pois iriam declarar querendo ou não.

Um rangido metálico foi ouvido e praticamente do nada surgiu um dragão de metal. O animal pousou no meio do salão. Nas costas dele, uma figura ergueu os braços em saudação, que mais parecia uma apresentação.

— Cheguei!

— O que faz aqui, Leo?!

— Vim ver no que posso ajudar.

— Mas que porra, é essa?! – Rugiu Huracán em voz grutal.

Só então Leo se deu conta do cenário que se encontrava, mas o circo de horrores não pareceu abalá-lo.

— Cara, por que tem um boneco de anatomia aqui?

— Gosta de anatomia?

Ah puch acertou a cabeça de Leo com seu estômago. Ele iria aproveitar para atacar ao garoto. Marcos só teve tempo de pegar o macuahitl e se postar a frente do grego, mas não recebeu o impacto. Chaac tinha interposto seu machado entre seu filho e Ah Puch.

— Não hoje.

— Cara, que troço gosmento! – Reclamou Leo. – Mas que porra é essa?!

— Cara, você está coberto de líquido estomacal! – Exclamou Marcos começando a rir.

— O QUE?!

— Você tomou um headshot de estômago.

— Cara, que nojo! Tira isso de mim!

Mesmo rindo, Marcos pegou o estômago, que liberou mais líquido e algum conteúdo que estava sendo digerido. Leo ficou verde e só faltou vomitar, mas o maia não ligou e estendeu o órgão para ele.

— Viu só, logo você se acostuma.

— Tira esse troço de perto de mim!

— É só um estômago.

— Nojento!

— Ô moleque, dá para devolver meu estômago?!

— Calma, tio.

Marcos jogou o estômago para Ah Puch, que o pegou no ar. Tohil aproveitou para pegar um coração perfurado e andar até os três deuses e os dois semideuses.

— O que foi agora, Tohil?

— Sinto fogo naquele garoto.

— Hei, não vem com esse papo estranho não!

O deus pegou um coração perfurado, o ergueu e o espremeu como se fosse uma garrafa plástica, bebendo todo o sangue jorrado.

— Eita!

— Não se preocupe. O coração é de uma das criaturas que eu e Parvy lutamos ontem. Eu ofereci os dois a Tohil, assim ele não precisa arrancar o coração do primeiro que encontrar para saciar sua sede.

— Espere aí, é o que?!

— Tohil não está nem aí se é homem, mulher, criança, idoso, cachorro ou gato, ele arranca o coração do mesmo jeito e bebe o sangue. Se eu não oferecer o coração de uma criatura mitológica, ele mesmo vai buscar de um mortal ou animal.

— Contanto que não arranque o meu, está ótimo.

— Leo? – Perguntou o deus da chuva. – O filho do Hefesto e da Esperanza?

— Ele me conhece?

— Leo, esse é o meu pai, Chaac e acho que já conheceu meu tio Tohil. O boneco de anatomia que jogou o estômago em você é meu tio Ah Puch. Aqueles na mesa elevada são os Três Grandes Maias: Gucumatz, Huracán e Tepeu. O vilão do Batman ali é meu tio Camazotz, Jaguar, Akna, Ek Chuah, Itzamna e essa adorável moça é a Ixchel. Eles são alguns dos deuses maias.

— Ah, então esse é o filho da sua namorada. – Disse Ah Puch malicioso.

— É sobre os dois que o trecho da profecia não escrita revelou? – Perguntou Akna.

— Que trecho? – Dessa vez a pergunta partiu de Itzamna.

— “O sangue unirá que os deuses separaram”.

— Não tinha uma treta com a Iris e uma irmã gêmea? – Perguntou Jaguar.

— Cara, está tudo uma putaria da porra que eu não entendo mais nada. – Reclamou Camazotz.

— Quando esse trecho foi revelado, Akna? – Retornou a perguntar Itzamna.

— Há três dias, quando me reuni com Tootega novamente.

— Do que eles estão falando? – Perguntou Leo a Marcos.

— Não faço ideia.

— Fogo e chuva finalmente juntos. – Disse Ixchel aparecendo atrás dos dois. A serpente em seu cabelo não se encontrava agitada. – Me perguntava quando isso iria acontecer. Ah, mas eu queria ver a cara dos gregos quando saiu o resultado!

— Como soube...?

— É difícil esconder algo de Ixchel.

Um campista do acampamento entrou quase morrendo nos salões. Pela fisionomia, dava para ver que se tratava claramente de um filho de Hermes.

— Isso aqui viurou puteiro agora?! – Explodiu Huracán, mas Gucumatz o segurou para não avançar no semideus.

Tohil teria explodido também, mas Ah Puch o segurou, Jaguar tinha os olhos felinos vidrados na carne e a serpente de Ixchel se agitou. Chaac foi o único a pegar um copo e oferecer água ao rapaz, que bebeu como se tivesse acabado de atravessar um deserto.

— Nossa, essa escada mata.

— O que é isso? Uma convenção de gregos?!

— Huracán, acalme-se! – Pediu Gucumatz mais uma vez.

— Obrigado. Caramba!

— Esperava um bando de gente digna do tapete vermelho? – Perguntou Ek Chuah. – Bem vindo ao panteão maia.

— Ou parte dele. – Disse Tepeu. – Ainda não vi Ixtab e outros deuses.

— Ixtab deve estar se pendurando por aí. – Disse Ah Puch com descaso.

— O que veio fazer aqui? – Perguntou Gucumatz, o líder.

— O Senhor D e os deuses gregos me enviaram para anunciar a reunião de pais marcada para amanhã.

— Amanhã?!

— Reunião de pais?!

— E por que a gente não está sabendo disso?! – Perguntaram Marcos e Leo em uníssono.

— Porque decidiram marcar ontem à noite, depois do toque de recolher. Aí eu vim para cá. Qual de vocês é o Chaac?

— Eu e vou a essa tal reunião.

— Vou contigo. – Disse Tohil. – Sabe se lá o que os gregos podem estar tramando.

— Eu também! – Exclamou o morcego.

— Vocês vão traumatizar as crianças.

— Fodam-se as crianças!

— Só um segundo, por que mandaram um filho de Hermes e não uma mensagem por outros meios?

— Eu não sei, mas parecia uma boa ideia conhecer outros panteões. Embora eu tenha errado de panteão na primeira vez.

— Deve ter passado pelos Astecas. – Disse Jaguar. – De qualquer forma, eu preciso falar com eles depois.

— Acho que já podemos voltar ao acampamento, certo? – Perguntou Marcos aos Três Grandes. – Não vai mais ter guerra.

— Vão antes que eu me estresse.

Com o aval de Huracán, os três semideuses subiram em Festus. Leo iria iniciar a decolagem para o acampamento, mas no segundo seguinte, eles estavam rodeados por uma multidão de campistas com direito a um tigre, dois unicórnios e um pesadelo. Os gregos olharam com cara de tacho, tentando entender o que estava acontecendo, já Marcos ria feito uma hiena.

— Desculpe, cara. Não resisti. – Disse mostrando a GodKey.

— O que é isso?

— GodKey. Todos os estrangeiros têm uma. Economiza viagem até a casa dos nossos pais divinos.

— E só me diz isso agora?!

— Marcos, até que enfim você voltou! – Exclamou Eliot.

— O que aprontaram e não me convidaram?

— Longa história. Como foi com os maias?

— Trabalhoso, mas divertido.

— Cara, aquele cara atirou o estômago dele em mim!

— Pelo menos não foi a bexiga.

— De qualquer forma foi traumatizante.

— Vocês podem discutir, mas eu vou é descansar. Só espero que os outros tenham tido mais sorte do que eu.

— Ah é, a reunião de pais.

— Reunião de pais?! – Perguntaram Diana e Raven.

— Chuvisco, que reunião?

— Não contaram? Eles mandaram os filhos de Hermes avisar nossos pais da reunião. Pessoalmente.

— Puta merda! – Exclamou a Ruiva pegando o Godcel e procurando na agenda.

— O que você está fazendo?! – Perguntou o Senhor D.

— Avisando o meu pai, o que mais? Vocês têm noção do tamanho da Bifrost? Não dá para percorrer sem um cavalo. Ah, pai! Finalmente! Pode buscar alguns semideuses perdidos na Bifrost? Sim, estão sem um cavalo. É bom mandar alguém buscar outros em Helheim também. Beijo. Te amo. Resolvido. O que foi?

— Você ligou para o seu pai?

— Alguém quer responder para mim?

— São estrangeiros. – Repetiu um coro.

— É, estão aprendendo alguma coisa. – Novamente o deus foi fuzilado pelo olhar do centauro.

Eros acordou ao cair da noite. O efeito do encanto finalmente passara. Sorriu ao ver Psique dormindo ao seu lado entre as cobertas. Encontrou sua calça, a pôs e caminhou até o banheiro, onde lavou o rosto.

Fracassara na missão dada por sua mãe, teria que contar a ela mais cedo ou mais tarde. Pelo menos passara um tempo bom com a esposa, como há muito tempo não passava. Àine, esse era o nome que invadira sua mente. Fora um truque simples, apenas aflorou o sentimento que tinha por Psique a ponto de nada mais importar para ele. Pelo menos tinha sido boazinha, pois se fosse sua mãe, ele poderia ter se apaixonado por qualquer outra criatura. Sorriu de canto e voltou para a cama. Sua mãe que se virasse.

Ainda naquela noite, Árion estava de volta na cela na ilha das amazonas. O cavalo nunca esteve tão irritado na vida, mas a benção de Fiáin não o escondera do mundo, pelo contrário, aumentara sua “comunicação”.

— O inverno está chegando! – Cantarolava para as carcereiras que o guardavam, fazendo-as bater contra a grade.

Não demorou muito e já começara a ouvir as amazonas reclamarem da queda repentina de temperatura. Depois ouvira reclamarem ainda mais do frio. O ar esfriara dentro da cela, mas ele não se importava. As reclamações voltaram, mas dessa vez a respiração do cavalo condensava na cela. Contou dois segundos antes de esfriar mais e as pedras molharem e mais dois até a água extraída congelar.

Quando chegou a 8, gelo se formou no teto e nas barras e quando contou 9, todo o cenário tinha mudado drasticamente. Gelo e neve por todo lado, um frio de matar, até mesmo o metal congelara. As carcereiras tinham há muito saído, procurando por algo quente. As barras foram partidas, estilhaçadas como um espelho de gelo.

— Por que demorou?

— Precisavam pagar.

— Da forma mais dolorosa. Hei, espere por mim!

Despina tinha saído da masmorra e andava calmamente pelo terreno congelado. Qualquer panta viva morrera, a terra jazia infértil e congelada, as seivas congelaram nas árvores e todo o cenário estava terrivelmente branco. Árion sorriu satisfeito.

— Você se superou dessa vez, irmãzinha. Por quanto tempo?

— Eternamente.

— Agora só falta uma muralha gigante para proteger dos caminhantes brancos. Será que elas viram comida de caminhante branco ou de wendigo?

— Vai nos tirar daqui ou continuar com suas piadas?

— Rir um pouco não faz mal.

Despina montou em Árion e este correu por sobre o terreno e o oceano. Ambos possuíam sorrisos maldosos estampados no rosto. A vingança seria cumprida.


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Notas finais do capítulo

Ruaumoko é o deus maori dos terremotos, vulcões e estações. Ele é irmão de Tane, Tanaroa e Tawiri.
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Mordor, Valfenda, Condado e Minas Tirith são locais da Terra Média em Senhor dos Anéis. A utilização dos nomes é uma referência porque O Senhor dos Anéis foi gravado na Nova Zelândia e os cenários naturais existem, só receberam um pouco da mágica cinematográfica.
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A Oceania não é somente Austrália e Nova Zelândia. A maioria dos países são arquipélagos com ilhas não muito grandes para se destacarem nos mapas.
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Ainda há países que não foram descolonizados na Oceania, servindo de território ultramarinho.
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Niue é uma única ilha, mas foi o primeiro país que implementou wi-fi grátis em todo território nacional e adotou Pokémon em suas moedas.
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Íon foi um rei de Atenas. Seu pai, Apolo, estuprou sua mãe Creusa. É dito que ela abandonou o recém-nascido , que foi recolhido por Hermes e levado ao templo de Apolo em Delfos. Como ela não conseguia engravidar, ela e o marido Xuto foram falar com o Oráculo e, seguindo suas recomendações, adotaram a primeira criança que encontraram, que era Íon.
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Quíone, apesar de ser o nome da deusa da neve, também é o nome de uma mortal. EM seu mito, Hermes a faz dormir durante o dia para possuí-la (no sentido sexual mesmo) e à noite, quem a possui é Apolo. Tem um filho de cada pai e por ter sido possuída pelos dois, se gaba de ser mais bonita que Artêmis, que atira uma flecha em sua língua. Ela morre de hemorragia.
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Alcmena é a mãe de Hércules e esposa de Anfitrião. Enquanto seu marido lutava, Zeus se disfarçou dele e dormiu com ela. O marido descobriu, tentou tacar a mulher numa pira, mas veio um temporal e foi salva, então o jeito foi criar o filho dela. Depois que ela morreu, virou esposa de Radamanto, um dos 3 juízes do inferno.
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Aura era a deusa da brisa e do ar fresco e uma caçadora de Artêmis. Um dia, afirmou que o corpo de Artêmis era muito feminino e duvidou da virgindade da deusa. Aí foi conspiração com Nêmesis e Aura acabou estuprada por Dionísio. Ela se tornou uma assassina doida e matou um dos seus filhos gêmeos, o outro foi salvo por Artêmis e virou atendente de Deméter.
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A Medusa tem duas versões: a górgona que tinha duas irmãs como ela e a de uma sacerdotisa de Atena que se escondeu no templo de Atena para tentar fugir de Poseidon,mas acabou estuprada por ele nesse templo. Atena ficou fula e retirou a beleza dela, a transformando em uma criatura horrenda com cobras no lugar dos cabelos.
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Dafne era uma ninfa pela qual Eros fez Apolo se apaixonar por causa de uma disputa idiota de quem era o melhor arqueiro e em compensação, ele atirou uma flecha de chumbo na ninfa, para que recusasse o deus. Houve perseguição, Dafne pediu para que a livrassem daquilo, virou árvore, mas mesmo assim não teve paz porque Apolo acabou consagrando o loureiro (árvore que ela virou) como sua árvore.
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Syrinx foi uma ninfa que Pã se apaixonou e perseguiu. Também cansada, pediu para que a livrassem e ela virou um punhado de caniços, mas como Pã amou o som que produzia, cortou a planta e fez uma flauta, que batizou com o nome da ninfa.
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Leda foi uma rainha de Esparta que encontrou um cisne e foi brincar com ele. Esse cisne era Zeus disfarçado, depois disso ela chocou 2 ovos, em um nasceram os filhos de Zeus e no outro os do marido dela.
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Europa era a irmã de Cadmo (o marido da Harmonia) que foi sequestrada por Zeus em forma de touro branco e teve 3 filhos com ele: Minos, Radamanto e Sapetão, os três juízes do inferno.
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Erictónio era filho de Atena e Hefesto e fundador de Atenas. Um belo dia, Atena foi para uma ferraria comprar armas e armadura, o ferreiro era Hefesto, que tava mal pelo pé na bunda que tomou da Afrodite, acabou se apaixonando por Atena, tentou estuprá-la, mas como era coxo, não conseguiu alcançá-la e só ejaculou na coxa dela. Ela limpou a coxa, a cola com água caiu no chão e nasceu essa criatura. (que história linda, só faltou o saco de vômito)
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Antíope era a sobrinha de Lico, que era o tio dela e usurpador do trono e mãe de um dos filhos de Zeus. Em uma das vertentes do mito, ela foi estuprada por Epopeu (que deu abrigo a ela, independente da versão) e depois possuída por Zeus, em outra primeiro engravidou de Zeus. (alguém me dê um saco de vômito porque nem eu aguento mais! Sério, haja gêmeos de dois pais, violações e conspirações de trono, nem GoT tem tanta putaria assim)
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Vali, como já exposto o mito há trocentos capítulos, nasceu de Rind, que foi estuprada por Odin, o o propósito de vingar Balder no Ragnarok. Diferente dos mitos gregos, por tal ato, Odin ficou afastado do trono por 10 anos cumprindo pena e quem assumiu o trono durante esse tempo foi Uller.
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Sério, se alguém tiver problemas para dormir ou comer depois de ler sobre esses mitos, pense em coisas melhores como unicórnios coloridos, aquele evento de anime que você não pode ir ou no vídeo do pônei maldito.
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Himeros é o deus do desejo sexual e irmão gêmeo de Eros, mas não cresceu com ele, cresceu antes dele. Eros só cresceu depois que nasceu Anteros.
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Anteros é o deus do amor correspondido e vingador do amor não correspondido e irmão mais novo de Eros e Himeros. Ele nasceu para que Eros tivesse alguém com quem crescer, já que o amor precisa ser correspondido para crescer.
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Photos vezes é posto como filho de Afrodite e vezes como de Iris e Zéfiro. Ele é o deus da paixão e faz parte dos Erotes.
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Hedonê é a deusa do prazer, ela é filha de Eros e Psique.
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Akhlut éuma orca que se transforma em lobo quando pisa em terra e mata animais e pessoas para comer antes de voltar ao mar.
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Adlet é parecido com o lobisomem, mas mais racional. Seu mito está no texto da fic.
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Minha teoria é que os outros 5 que foram para a Europa seriam ancestrais dos lobisomens, mas de tanto se relacionarem com humanos através da linhagem, acabaram não sabendo como controlar a parte lupina, que foi adaptada para poder viver entre os humanos (seleção natural, não faltem às aulas de biologia).
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Jaguar na verdade é como ele é conhecido pelos maias, já que o deus jaguar maia não tem seu nome revelado. Não encontrei seu nome, mas na mitologia Asteca ele é tido como Tepeyollotl.
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Camazotz é um deus maia morcego vampiro, sendo o deus da violência, trevas e sacrifício. Ele é um morcego humanoide que adora beber sangue e arrancar a cabeça das pessoas para usar como bola em seus jogos.
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O Morcego-Humano de Batman foi inspirado em Camazotz.
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Ixchel é a deusa do parto, da medicina e da lua, bem como das inundações. Possuía vários amantes e provocava verdadeiros dilúvios quando estava irritada.
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Itzamna é um deus criador e inventor da escrita e da adivinhação.
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Ek Chuah é o deus dos comerciantes e do cacau. Cacau é importante para os maias.
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Gucumatz, Huracán e Tepeu são os criadores do universo, eles participaram da criação da humanidade em todas as três vezes.
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E é isso. Espero que tenham gostado e fiquem por dentro porque vai aparecer muito deus legal, muita treta e muita informação. Até a reunião de pais.



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