Pov Beatrice Prior

Me viro com as mãos dentro do casaco de frio e arqueio a sobrancelha ao olhar para os dois que estão abraçados e escorados no carro. Reviro os olhos mentalmente.

– O que foi? - pergunto sem dar muita importância e então eles se separam. Ela se aproxima enquanto Tobias fica parado no mesmo lugar me encarando, meus olhos não encontram outro lugar a não ser seus olhos castanhos.

– É... Eu queria dizer que sinto muito pelo que aconteceu...

– Não sinta - corto ela com delicadeza e falsidade. Sei muito bem que não lamenta, se minha filha estivesse aqui, o namoradinho dela nem pra ela mais ia ligar, ia adorar ver seu desespero.

– Você está bem? - Tobias se aproxima de mim com os bracos cruzados, ele fica bonito de touca.

– Será que dá pra mudar o disco...? - pergunto dando um leve sorriso e ele também sorri - Eu vou ficar bem, não se preocupe.

– Assim eu espero...

– Você tem que ficar bem. Olha só pra você, tão cheia de vida! - Lauwren se aproxima da gente e tenta entrar na conversa. Olho pra ela com uma das sobrancelhas levantadas e Tobias faz o mesmo - Bem, eu espero que fique tudo bem com você. Eu vou entrar; tenho que ver o meu pai. Vou deixar vocês dois... conversarem– ela sai andando até o portão de casa, me pareceu ter percebido que estava sobrando na conversa. Nem ligo, vai embora mesmo palhaça - penso

Desde quando eu detesto ela?

– À quanto tempo não sai de casa? Você não parece estar tão bem assim...

– Depois de tudo aquilo hoje é a primeira vez. Está no passado mas a dor ainda é bem... presente- ele me surpreende com um abraço bem apertado. Passo os braços pelo seu pescoço e ele agarra minha cintura, não sei se é certo fazer isso na frente da casa da namorada dele, mas novamente: Nem ligo, nunca liguei para o que é certo ou errado.

– Confesso que também estou bem longe ultimamente, não paro de pensar em como você está, se está bem, se precisa de mim pra desabar já que sinto o mesmo que você. Doeu muito perder ela- Ele fala bem perto do meu ouvido. Ouço tudo com os olhos fechados, ele fala tudo o que eu preciso ouvir, exatamente tudo - Eu não paro de pensar como seria minha vida se a nossa filha tivesse viva agora... - se distancia de mim mas coloca as mãos em meu ombro e me olha nos olhos.

– Eu também não paro de pensar nisso. Será que ela iria se parecer com você? Ia ter muita sorte - digo descontraída.

– Mais sorte ainda se fosse com você - olho pra ele que esboça um sorriso malicioso. Ele disse isso com segundas intenções, sei disso.

– Bem... - Me afasto dele - Eu já vou.

– Espera! Queria dizer que... depois de tudo que aconteceu entre a gente, acho que podíamos pelo menos continuar a ser amigos. Eu não quero te abandonar...

– Sempre fui sozinha, se você me abandonar saiba que já estou acostumada - pisco pra ele que não diz nada e dou as costas, continuo minha caminhada pela calçada.

Pov Tobias Eaton

Seus olhos estavam vazios como sua alma. Ela não parece estar bem, mas não quis insistir pra que ela ficasse, estava na cara que precisava ficar sozinha então não quis forçar. Me senti do mesmo jeito quando soube da morte da minha filha que nem mesmo conheci, foi como se eu tivesse perdido minha mãe ou meu pai... foi inexplicável o sentimento.

Continuei parado lá na calçada encostado no meu carro enquanto observava ela se distanciar pela rua.

– Se ela olhar para trás é porque sente alguma coisa– cochicho pra mim mesmo. Continuo olhando, e olhando, e olhando... até que ela dobra a esquina, mas antes olha para trás e da um sorriso.

Acabo sorrindo também, sei que por trás de toda essa máscara durona "não ligo pra nada nem pra ninguém",existe uma garota cheia de sentimentos.

– Agora que ela já foi, será que dá pra gente ir também!? - olho para trás e Marlene está com parte do corpo pra fora da janela do carro. Dou um sorriso e entro - Gosta dela né? - diz colocando o pé no painel do carro.

– Estou com a Lauwren. E tira esse pé daí- ela resmunga e abaixa os pés.

– Ah, qual é Tobias? E aqueles olhares? Você pode até achar que gosta da Lauwren, mas me diz: não sente nada pela outra? Meu deus não tem como alguém gostar dessa Lauwren, ela é muito... muito ela!

– Tem como mudar de assunto? Você não gosta dela e fica de implicância - tento me concentrar no volante.

– Nem precisa mais responder, se entregou já. E quer saber de uma coisa? Ouvi a conversa toda e esse papo de ficarem amiguinhos pra mim é só desculpa pra ficarem se encontrando e se vendo, tá na cara que rola...

– Tá Marlene, chega! Eu estou com a Lauwren, vou ficar com ela. Beatrice já deixou bem claro que não me quer, o máximo que vou conseguir é sua amizade, tenho que me contentar com isso. Agora para de falar nesse assunto, por favor. Voce mesma viu o quanto ela não faz questão da minha companhia.

– Tudo bem, mas você gosta dela e até um cego consegue enxergar isso.

– Mas ela não gosta de mim, não crie expectativas Marlene, eu mesmo já não tenho mais.

Depois da bronca que dei nela, não abriu mais a boca até chegarmos em casa.
Subi para o meu quarto e tomei um banho. Quando sai do banheiro peguei meu celular e nele tinha uma mensagem de Lauwren : "Vocês ficam muito bem juntos."

Não respondi. Apenas bloqueei o celular e me deitei para tentar dormir. Talvez Marlene tenha razão, mas o que eu posso fazer se ela não me quer? Talvez seja só amizade, ou talvez ela só precise de alguém que a entenda e nesse momento eu sou a única pessoa que é realmente capaz de entende-la, estou passando pelo mesmo.

As vezes me pego pensando em como seria formar uma família com ela, eu com certeza teria muita sorte, mas parece que o destino não quis assim e eu vou ter que me conformar.